Immolation Season - Ep 22, Carmen
Carmen continuava nas mãos de Santiago e Julian, que faziam de tudo para que a sua existência se tornasse cada vez mais intragável. Quando Carmen realmente conseguiria livrar-se das travessuras destes dois? Será que Dean se tornaria um passado distante de um corpo morto - mas existente? Por quanto tempo ela suportaria as jogadas daqueles dois?
"Burning Anger" by Carmen Montenegro
SEMANA 2
Não morri. Quase morri mas, não chegou a isso.
Nunca chegara a mais que isso. O sol invadia a cripta todos os dias, o calor
tornava-se insuportável mas, eu conseguia sempre afastar-me o suficiente para
ter um cantinho de sombra. Parecia um animal enjaulado. E, ali estava eu.
Simplesmente, a um canto, de sombra, toda encolhida. O calor atingia o pico,
quando o sol ia alto e isso sim, era quase insuportável. Sentia-me a sufocar,
quente e, pouco ou nada faltava para a minha pele borbulhar de vez.
Foi assim, durante 3 dias. Ninguém me vinha
falar, ninguém me dizia nada e, não podia gritar. De manhã, o sol era tanto que
nem deixava as minhas palavras sair boca, mesmo que alguém me encontrasse eu
não podia sair. E, de noite, ninguém andava pelo cemitério, pelo menos na zona
onde eu andava.
Mas, finalmente, ao fim desses três dias de
ambientação, à tarde, quando o sol não já dormia ouvi passos do lado de fora.
Reconheci Julian.
- Olá. - Disse no topo da sua falsa simpatia. -
Gostas da tua nova casa?
- Vai-te lixar, Julian.
- Nem por isso…- Apoiou-se as grades. - Quem
está lixada aqui és tu.
- Eu não sei dos livros! Isto é estúpido, por
isso deixa-me sair, raios!
- Mesmo que não soubesses dos livros, achas
que iria deixar-te sair assim? Depois, do que me fizeste? Mataste-me.
- Queres que peça desculpa? - Perguntei
irónica. Julian olhou-me de cima abaixo.
- Eu vi as notícias, matas-te três gajos, não
foi? - Perguntou sorridente. - Estás cheia de força, junta ainda o sangue
daquele humano teu, certo? - Não respondi. Julian sorriu e afastou-se das
grades. - Adeus, Carmen. Dorme bem.
Senti vontade de lhe partir o pescoço, ainda
mais! Encostei-me a parede do fundo e, deixei-me escorregar até ao chão. Quanto
tempo iria passar aqui?
SEMANA 4
Os dias passaram lentos e solarengos e, a
fraqueza começava a tomar conta do meu corpo. Antes, quando o sol entrava,
sentia-me fraca mas, agora mal me conseguia mexer. Ocupava o meu canto de sempre,
perto de um dos caixões, no canto mais recôndito mas, mesmo assim sentia-me
cada vez mais fraca. O sangue daqueles que eu tinha matado, escoava-se de mim a
cada respiração. Suores frios desciam pelo meu corpo, a minha roupa, antes
limpa, agora estava imunda e molhada. Tinha as calças sujas, a camisa rasgada
e, já não tinha trança quase.
A minha respiração era pesada, a pele estava
vermelha e, mal conseguia manter os olhos abertos. Fiquei assim durante uns
bons dias. E, novamente, ao início da noite, Julian vinha fazer-me as mesmas
visitas.
- Olha, para ti… - Dizia-me sorridente. - Isto
deve ser mesmo quente, hein?
- Não sei...onde...estão...
- Hum...talvez não mas, até sabermos o que
fazer contigo… Não sais daqui…
- Não vergo.
- Não? De certeza? - Perguntou sorridente.
Olhei para Julian, ele tramava alguma, quase de certeza. - Estás com fome?
Estava sim. Estava fraca e, a força do sangue
daqueles três e de Dean, já quase tinha desaparecido. Julian tirou do bolso,
uma garrafa com um líquido vermelho, passou a mão pelas grades e agitou a
garrafa. O líquido balançou ali dentro. E, dei por mim a lamber os lábios de
sede.
- Não.
- A tua respiração diz o contrário. - Respondeu
Julian. Abanou novamente a garrafa mas, não me mexi. Ele passou a outra mão,
abrindo a tampa e, logo a seguir, deixou cair umas gotas no chão.
Fui levada pelo impulso e, dei por mim a sugar
as gotas do chão. Julian riu-se e eu parei. A que ponto tinha chegado? Ao ponto
que Julian queria. Agachou-se à minha frente mas, mantive os olhos no chão. - Olha
para ti, caída aos meus pés…como um bicho que és…fica-te bem…- Lancei-me contra
as grades, com um súbito acesso de raiva mas, a mão de Julian foi mais rápida e
apertou o meu pescoço. Aproximou a minha cara das barras de ferro. - Não me
assustas, bicho.
Largou-me e eu caí para trás, cansada demais
para dar resposta. Ouvi-o levantar-se, logo a seguir afastar-se com as pisadas
a ecoarem na gravilha. Fiquei deitada no chão. Não sabia quanto tempo mais,
iria ficar ali.
SEMANA 6
Não suportava mais. O sol estava a nascer,
novamente e eu tinha que ir para aquele canto mas, não me conseguia mexer. Os
meus músculos estavam parados. O sol ia enchendo a cripta aos poucos e, eu
tentava arrastar-me para o canto. Quando lá cheguei, fiquei parada e, apesar do
sol estar a milímetros de distância do meu pé, eu senti o seu calor, não me
mexi. Estava tão cansada.
Novamente, o sol atingiu o pico e, eu senti-me
a sufocar. Por mais que me encolhesse no canto, não conseguia deixar de sentir
o calor. Novamente, o dia ia pôr-se mas, desta vez parecia ser diferente. Havia
uma estranha cor no ar, era o quê…? Roxo…? Não sei…tudo tinha uma tonalidade
estranha. Uma luz arroxeada, entrou pela minha cripta adentro.
E, o silêncio. Claro, era um cemitério e não
havia nenhuma barulheira mas, aquele era estranho. Muito estranho. Demasiado.
Então, as grades da minha cripta, simplesmente
escancararam-se. Umas sombras, entraram à força toda na cripta. Não via nada,
para além de umas estranhas sombras mas, tudo aquilo parecia simplesmente
irreal.
Senti um estranho aperto nos meus braços.
- CARMEN!
- Tentei reconhecer a voz que vinha até aos meus ouvidos mas, ainda nada.
Olhei para a cara à minha frente e, não reconheci os traços. Seja quem for
tinha uma conversa acérrima com uma segunda pessoa. Não percebia nada.
Senti-me a ser puxada pelos braços, o chão
fugiu-me e dei comigo em pé mas, a minha fraqueza era tal, que mal me conseguia
mover. Praticamente, era arrastada. Saímos da cripta, percorremos toda aquela
extensão de labirintos de criptas e estátuas. Nunca percebi quem me levava.
- Espera, espera…- Paramos de andar e,
senti-me a cair. - Carmen? Carmen? Olha para mim. Olha!
Levantei os olhos e bati num olhar verde jade.
Demorei até perceber.
- D-Dean?
- Sim!
- M-Mas, o que fazes-s aqui?
- Vim buscar-te! - Mesmo assim, não percebia.
Faltava alguma coisa. Era muito estranho. - Vamos, tens que correr.
Voltaram a erguer-me do chão mas, penso que
não demos mais que 20 metros quando paramos abruptamente. Dean afastou-se de
mim com brusquidão e eu caí ao chão, outra vez.
- Tentativa de fuga? - Perguntou uma voz
conhecida. Um leve sotaque espanhol. Uma mão fechou-se à volta dos meus
cabelos, o meu braço foi puxado atrás das minhas costas e, a seguir fui
levantada do chão. Por estar sem beber há tanto tempo, sentia-me fraca e,
qualquer dor era mais intensa. - Porquê? Não gostas da tua nova casa?
- Larga-me…
- E, nem estavas a fugir sozinha! - Exclamou.
Olhei em frente e, vi Dean agarrado.
- Não! - Exclamei. - Por favor…
- Espera…- Santiago empurrou-me, eu caí nos
braços de Julian, que me agarrou ainda com mais força.
- Detesto que me enganem…- Disse Santiago.
Aproximou-se de Dean e, sentia-me totalmente assustada. Santiago vestia-se de
preto com o cabelo comprido e os seus olhos exibiam um estranho brilho. - E,
quem é este?
Agarrou Dean pelos cabelos e eu tentei alcançá-lo.
- Não…
- Ohhh…- Os seus olhos abriram-se ao
lembrar-se. - É o TEU humano. Hum…Dean,
não é?
O meu humano demorou a responder, teve que
levar um abanão de Santiago.
- Sim. - Ele respondeu.
- Humm... - Santiago agarrou-o pelas bochechas
e olhou-o nos olhos verdes. - Vieste buscá-la?
- Sim.
- Humm…Má ideia…- Imediatamente, Dean começou
a vomitar largas quantidades de sangue. Santiago largou-o e, deixou-o cair no
chão a engasgar-se no próprio sangue.
- PÁRA! PÁRA! EU DIGO! - Gritei mas, mal as
palavras saíram da minha boca eu quis morder a minha língua. Dizer, o quê? Eu
não sei nada! - EU DIGO ONDE ESTÃO OS LIVROS!
Dean parou de tossir, Santiago olhou para mim
surpreso e, o aperto de Julian intensificou-se.
- Vais dizer-me?
- Sim! Sim, vou...
- Estás a tentar salvá-lo? - Perguntou Julian,
a sua voz perto do meu ouvido fez o meu coração saltar. Ignorei-o. - Não
resulta sabes…
- Querem os livros ou não?
- Onde estão? - Perguntou Santiago com voz
grossa.
- Em casa. - Respondi. - Inverness. - Eu olhei
para Dean, ele estava caído no chão, sem movimento e com a t-shirt branca suja
de sangue. A mão de Santiago, fechou-se à volta do pescoço de Dean e ergueu-o
do chão. Agarrava-o somente com uma mão e, deu um aperto mais forte, ouvi o som
do pescoço de Dean a partir sobre seus dedos. - AHHH!
- CALA-TE! - Santiago largou Dean e este caiu
no chão, sem qualquer fio de vida. Ele estava morto. Dean estava morto! O meu
mundo parecia cair, sobre mim mesma. - Julian!
- Sim, pai?
- Vai com ela. - Santiago avançou para mim com
os olhos a brilhar de maldade. - À mínima tentativa de fuga, parte-lhe as
pernas.
Santiago desapareceu, e deixou-me ficar com
Julian. Eu larguei-me de Julian e lancei-me ao chão, perto de Dean. Os seus
olhos não tinham vida, o sangue ensopava o chão e o seu coração não batia.
- Anda
lá…- Julian puxou-me pelos cabelos e, voltei a erguer-me. - Vamos voltar a
casa.
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