Immolation Season - Ep 25, Carmen

Carmen continuava a tentar escapar das mãos de Santiago e Julian. Será que ela conseguiria obter novamente a liberdade? Talvez o destino não tivesse inteiramente a seu favor. O sol tentaria a sua sorte. Quem venceria esta batalha de mentes? Apenas existia uma realidade: Carmen faria de tudo para conseguir sair-se viva daquele inferno.

"Escape" by Carmen Montenegro

Caí no chão com força bruta. Talvez, nem tenha sido com tanta violência mas, estava tão fraca que parecia que tudo me custava o dobro. Sentia a frieza do chão de cimento, contra a minha pele. Sentia-me tão cansada.
- Hum…- A voz de Julian ecoava pela cave toda. Ergui os olhos para cima e, vi-o a caminhar por cima das campas de Lawrence e, dos pais. - E, eu que julgava que esta cave era maior.
Parou, mesmo em cima da campa de Lawrence. Fez um barulho com a boca, logo depois deu umas quantas passadas e, agarrou-me pelos cabelos, levando-me para cima. Os seus olhos azuis estavam a poucos centímetros de mim. - Os livros?
- Não sei…
Julian empurrou-me e, eu caí com a cabeça no chão. O meu corpo parecia ter o dobro do peso.
- Estás a gozar comigo? ESTÁS A GOZAR? - Senti um pontapé contra a minha barriga que me fez enrolar. A dor parecia mais forte, agora que estava mais fraca e, até algo como respirar tornava-se mais difícil. Ouvi Julian a respirar fundo e, logo a seguir agachou-se ao meu lado. - Porquê que me trouxeste até aqui? Achas que, ao ver a tua casa, iria sentir piedade ou algo assim? - Perguntou Julian irritado. - Eu mato-te. Eu arranco os ossos do teu corpo…
- Espera…- Eu disse. À minha memória vinha uma situação; No meio quarto, a uns bons dias atrás: “Raios! Vais ficar com este trambolho aqui no quarto?” Dean a ir ao encontro da enorme caixa no meu quarto e, da minha boca sair-me um pedido: “ Não. Faz-me um favor, vê se encontras um armazém na cidade e coloca-o lá. Depois, dá-me a chave…” Dean tinha os livros, sabia onde estavam e, supostamente eu deveria receber a chave mas, não a tinha. Se eu não a tinha, e, Dean agora estava morto, apenas outra pessoa poderia ter... - Frankie…
- Quem? - Perguntou Julian aproximando-se da minha cara. Não respondi a inicio, tinha o cérebro num ritmo mais lento que o normal. Julian puxou-me os cabelos e, voltou a encarar-me. - Perguntei: Quem?
- O primo do Dean. - Disse eu. - Frankie.
Um sorriso malicioso instalou-se na cara de Julian. Um sorriso que me meteu medo e, temi pela vida de Frankie nas, mãos de Julian.
Julian olhou para as escadas.
- Ele está em casa?
- Eu não…
- Certo. - Julian largou-me e, dirigiu-se às escadas. O casaco preto a esvoaçar, assim como o seu cabelo loiro. - Não te mexas. Volto já.

Os minutos passaram arrastados, sentia-me cada vez mais cansada e, até os olhos já se tornavam difíceis de se manter abertos. Foi, então que a porta se abriu e, algo pesado veio a descer com um estrondo. Voltei o corpo, mesmo a tempo de ver Frankie a descer aquelas escadas perigosas, às cambalhotas. Caiu no chão de cimento com força bruta tal, que julguei que tivesse ficado momentaneamente inconsciente. Julian, veio logo a seguir, descendo as escadas como se nada tivesse acontecido.
- Pronto, cá estamos…- Disse ele encostando-se a um dos pilares da cave. - Estás vivo, humano?
- O meu nome é Frank, beleza loira. - Disse Frank levantando-se com dificuldade. - O que queres de mim? Se achas que tenho medo de ti, estás muito enganado…- O olhar dele parou em mim, abriu os olhos em total espanto. - Carmen? Oh meu…O que se passou contigo?
Avançou até mim mas, Julian agarrou-o pelo pescoço.
- Lamento, a Carmen não pode falar.
- O que foi que lhe fizeste, seu filho da…- Frank mal acabou a frase. Julian empurrou-o contra uma parede com força.
- Quem fala, sou eu. Os livros, mortal.
- Quais livros?
Julian puxou Frankie, voltando logo a seguir a encostá-lo contra a parede com força.
- Vou perguntar outra vez: Onde estão os Livros?
- Devias ir a uma biblioteca…
- E eu devia ter-te morto quando te encontrei na Transilvania. - Disse Julian. - Partir o teu pescoço como um mero ramo…
- O que te impede, loirinho? Estás com medo de partir uma unha?
Julian fechou a mão a volta da t-shirt de Frankie, pronto para maltratá-lo novamente.
- Espera! - Interrompi com um fio de voz. Os dois olharam para mim. - Frank, por favor, diz-lhe onde estão os livros do Lawrence. Eles mataram o Dean.
A cara de Frankie passou de espanto, para confuso. Olhou para mim com atenção, logo depois para Julian que permanecia impávido.
- O quê?
- Eles mataram o Dean. À minha frente. - Aquelas palavras pesavam mais do que o sentimento em si. - Mataram-no!
Frank continuava com um ar de total choque.
- Carmen...
- Eu vi, o Dean morrer!
- Isso é impossível…
- Eu vi, Frank!
- Não, não pode ser…
Foi interrompido, pois Julian atirou-o para o outro lado da sala. Frank caiu no chão como um boneco de trapos, demorou até se levantar e, quando o fez tinha um rasto de sangue a percorrer a sua cara. Desviei o olhar e, controlei a minha sede louca.
- Ouve, pequeno humano, a minha paciência tem limites. - Avisou Julian. Conseguia ouvi-lo a caminhar até Frankie. - Eu quero aqueles livros nem que tenha que sugar todo o sangue do teu corpo...
- Força, cuidado para não te engasgares!
Julian riu-se e, ouvi-o descer as presas, pronto para atacá-lo.
- Não! - Pedi eu, num fio de voz, de costas para aquela situação. - Não o magoes.
- Oh a sério? - Perguntou Julian chateado, a poucos centímetros da cara de Frankie. - E, eu que esperava alguma diversão…
Voltei-me para trás, vi o olhar confuso de Frank.
- Por favor…Os Livros…
Frank olhou para mim, logo depois olhou para Julian.
- Armazém G. a12 chave está no vaso.
- Que simpático. - Ironizou Julian. Voltou-se para mim e abriu um sorriso maldoso. - Vai à frente, Carmen. Tenho que falar com o teu amigo…
- Julian, não…

Apareci em frente ao Armazém G, pronta para cair para trás, perante a minha falta de força mas, fui agarrada por uns braços fortes. Tudo foi tão rápido!
- Anda lá. - Julian arrastando-me pelos braços, aproximou-se do vaso, derrubou-o com um pontapé e no meio da terra viu-se uma chave dourada. - Apanha. - Atirou-me ao chão, os meus joelhos e, mãos rasparam no chão. Apanhei a chave, Julian logo tirou-ma, voltando a agarrar-me no braço. Abriu o cadeado grande que prendia a porta, empurrando-a para cima. Lá dentro residia apenas uma caixa e, nada mais do que uma caixa negra. Reconheci a caixa rapidamente. - Vai buscá-la…
Julian empurrou-me com violência. Entrei no pequeno armazém e, segurei a caixa pesada. Voltei a sair, e assim que me aproximei Julian retirou-ma das mãos com um puxão.
- Muito bem. - Disse ele.
Abanou a caixa.
- Não vais abri-la?
Os seus olhos azuis caíram em mim.
- Não sejas idiota, sabes muito bem que o Lawrence é capaz de ter deixado um feitiço aqui dentro.
- Eu abri a primeira vez. O feitiço foi lançado em mim.
Julian olhou para mim e, bateu-me na testa.
- Tu não entendes nada, pois não? - Perguntou enojado. Agarrou-me pelo braço. - Vamos.
- Onde?
- Bom, eu vou ver magia acontecer enquanto tu, bem vais passar mais uns quantos dias no teu quarto de pedra!
- Eu dei-te os livros, deixa-me ir!
- Se achavas que eu ia cumprir a minha palavra…- Os seus dedos apertaram-se a volta do meu braço. - És mais idiota o que eu pensava.

- Pai! - A voz de Julian ecoava pela sala de mármore. Santiago apareceu de esquerda, acompanhado por Rania e, assim que viu a caixa castanha a sua cara iluminou-se. Rania que vinha a uns metros atrás abriu um imenso sorriso. - Trouxe-lhe um presente.
- Julian…- Santiago correu para o seu filho e, tomou-lhe a caixa das mãos. - Os livros…- A cara de Julian contorceu-se, enquanto o pai se afastava com a caixa entre mãos. - Chegou o momento. Vou finalmente apoderar-me do conhecimento dos povos em África, conhecimento esse que me foi negado! Vou ser finalmente poderoso e, dominar o mundo sobrenatural! - Olhou para mim e, senti-me a encolher no meu lugar. Sentia-me mais pequena e, mais frágil que nunca. - Leva-a para um dos quartos. Ela que tome um banho e, um vestido da Rania.
- O quê? - Perguntou a vampira de cabelos negros, com súbito ar de ofensa. - Porquê um dos meus vestidos?
- Tu és mulher. Tens as mesmas formas que ela.
- E? Nem pensar que vou deixá-la vestir roupa minha!
 Santiago voltou-se para ela e, a vampira recuou uns passos.
- Tienes algun reparo a hacer? No confías en mí?
- Sí, confío pero...
- Pero? - Santiago avançou perigosamente para Rania, com um tom de voz mortalmente suave. - Vás, realmente, contestar mis acciones? Pedir justificaciones? A mí?
Rania estava apavorada, enquanto Santiago se aproximava. Sentia que ele ia atacá-la a qualquer momento.
- Santiago, eu não…
O gesto foi rápido e certeiro, o som fez-me saltar de susto. Uma bofetada sonora, fez-se ouvir quando a mão de Santiago acertou na cara de Rania. Ela caiu ao chão com a mão na cara e ar de choque.
- Que seja a última vez, que me contestas, Rania. Posso sempre mudar de ideias, e devolver-te aquela forma velha e enrugada. - Santiago apontou para a cara de Rania e, vi-a envelhecer a olhos vistos. Rugas, papos, verrugas enchiam a sua cara. A pele tornava-se descaída e, de tom amarelado. Os cabelos embranqueciam ao segundo. Ela tocou na sua própria cara e, desatou a gritar.
- Padre…- A voz de Julian ao meu lado, parecia carregada de revolta mas, ao mesmo tempo ele esforçava-se por manter um tom calmo. Santiago afastou-se de Rania – cujo aspecto tinha voltado à beleza de antes – e, olhou para o filho. - Ela deveria voltar para a cripta e, morrer lá! Era esse o plano! Tu tinhas os livros do Lawrence e eu a minha vingança, pronto.
- Mudei de ideias. - Disse Santiago friamente. - Carmen, vai assistir à minha mudança. É a minha convidada.
- Pensei que me quisesse vingar. Eu morri por causa dela, pai! Ela mandou-o para a escuridão como um rato de esgoto…
- JULIAN! - A voz de Santiago ecoou pela sala, as velas à nossa volta tremelicaram. Até Julian vacilou por segundos mas, logo a seguir voltou à sua postura segura. - Si Lawrence, fuera vivo haría lo que mando sin contestar! Él sí, era digno, no se quejaba! - Santiago acariciou a caixa por debaixo do seu braço. - Hace, lo que mando. Soy tu padre.
Passaram segundos, até Julian se mexer. Trocou olhares furiosos com o pai, e teve de ser Santiago a intensificar o seu olhar para que Julian me agarrasse no braço com força. Levou-me pela direita, através de corredores iluminados com tochas incandescentes, viramos à esquerda e, continuamos por um corredor mal iluminado. Logo a seguir, Julian obrigou-me a subir umas quantas escadas, mas eu mais tropeçava sendo arrastada por ele do que, realmente, subia. Levou-me ao fundo do corredor, onde estavam dois humanos de fatos negros, estalou os dedos e, antes de chegarmos a porta abriu-se e, fui atirada para dentro do quarto.
A dor percorreu-me com violência, sentia os meus ossos a estalar e, a sede era demais para suportar. Julian andava pelo quarto, batendo com as portas da janela enquanto as trancava por dentro mas, não baixava os estores – lá por ter mudado de sítio, não significava o fim da tortura. Escancarou as portas do guarda-fato e, de lá tirou um vestido azul-escuro e, atirou-o uns metros à minha frente.
Eu nem me atrevi a olhar para a sua cara, apenas cravava os olhos no tecido azul-escuro à minha frente.
Segundos depois, Julian saiu batendo com a porta, deixando-me sozinha.
- 15 Minutos. Mais do que isso, entrem e, arrastem-na até lá abaixo.
Fui até à casa de banho, acendi a luz e assustei-me com o meu reflexo. Estava pálida, mais do que o normal devo dizer. O meu cabelo estava uma desgraça, sujo e cheio de nós. Exibia cortes, arranhões e, nódoas negras por todo o corpo, sem contar na sede. Essa que arranhava a minha garganta com violência bruta. Eu precisava de sangue. Precisava de beber.
Despi a roupa que trazia, com dificuldade, cada gesto custava imenso. Tirei todas as minhas roupas sujas e manchadas ao chão agarrando em seguida o vestido azul. Não tinha alças, apenas um corpete preto, terminando numa longa saia que mal me deixava ver os pés. Peguei no cabelo, passei-o por água e, logo a seguir envolvi-o numa trança prendendo o final com um gancho que estava por ali caído.
Olhei-me ao espelho, tinha um aspecto ridículo. Levei a mão à barriga repentinamente, tinha tanta sede!
Bateram à porta com força bruta.
- Sai daí! - Ordenou uma voz grossa. E, imediatamente tive uma ideia. Coloquei-me ao lado da porta e, agarrei um candeeiro. Voltaram a bater. - HEY! Saí daí, ruivinha! - Esperei uns segundos e, logo a seguir a porta abriu-se. Eu fiquei tapada, encostando-me mais a parede. Os dois entraram olhando em volta. - Onde é que aquela cabra se meteu?
Agarrei o candeeiro com força e, atirei à nuca de um. Ele cambaleou para a frente, enquanto esse lutava para ter equilíbrio eu avancei para outro, saltando-lhe para cima e, logo a seguir mordendo-lhe o pescoço. O seu sangue tocou nos meus lábios, enchi a boca, engolindo logo a seguir aquele doce, doce, doce líquido. Levei um puxão pela cintura mas, logo me soltei. Voltei para o outro guarda, dei-lhe uma cabeçada e, agora com mais força do que antes, levei a mão ao seu peito. A minha mão trespassou-lhe o peito, senti o coração entre os meus dedos, agarrei e, logo a seguir puxei-o. O humano caiu para trás, quase instantaneamente. Voltei-me para aquele que estava no chão, contorcia-se de dor, agarrando o pescoço. Agarrei-lhe a mão e, afastei.
- Calma, calma…Já vai acabar…

Subitamente, sentia-me mais como eu mesma. Olhei para a janela ainda sob a cor da noite, podia fugir e tentar voltar para casa ou, olhei para a porta aberta, podia acabar com esta situação de uma vez por todas. 
Preparava-me para sair quarto fora, quando Julian apareceu ao fundo do corredor. Trazia um fato negro, com uma gravata vermelha, o cabelo para trás, caindo pelas costas, até de longe os seus olhos brilhavam como safiras azuis. O seu olhar passou do meu vestido azul manchado de sangue, para os corpos no chão e abriu um sorriso.
- Uau...Lá se vão os nossos guardas.
- Podes lutar agora ao mesmo nível. Já estou forte.
- Isso seria interessante.
- Arranco-te a cabeça, outra vez. 
Julian observou-me durante segundos.
- Tens a certeza disso? - Senti o mesmo que um soco no estômago, que me fez curvar e uma vontade estranha de vomitar. Um rio de sangue escuro saiu da minha boca por vontade própria. O mesmo sangue que tinha bebido ainda há bocado, saía todo. - Parece que não. Levanta-te, Carmenzita.
Não me levantei sozinha mas, sim com ajuda de uma força invisível. Encarei Julian que continuava no seu lugar ao fundo do corredor, agora com um brilho vencedor nos olhos. Fez sinal com o dedo, senti-me a mover enquanto ia levitando até ele. Parei a poucos centímetros e, Julian olhou-me de cima abaixo.
- Que figura! - Exclamou chocado. Agarrou-me pelo pescoço. - Não voltes a fazer uma dessas. - Empurrou-me contra a parede e, apontou para as escadas. - Desce!
Eu não me mexi, por isso, Julian agarrou-me pelo braço e puxou-me escadas abaixo.
Percorremos o mesmo caminho de volta, e enquanto era arrastada sentindo novamente as fraquezas tomarem conta do meu corpo quando paramos abruptamente.
- Julian…- Disse uma voz feminina. Eu levantei os olhos e vi à minha frente, Rania num vestido preto sem alças e brilhante. Trazia o cabelo negro apanhado no topo da cabeça, maquilhagem simples mas que realçava a sua beleza. - Precisamos de falar.
Julian respirou fundo mas, não me largou.
- Porquê?
- Porque é importante. - Olhou para mim e, para o meu vestido ou melhor o seu vestido, completamente manchado de sangue. Aproximou-se, levantou a mão preparando para desferir uma valente bofetada, fechei os olhos à espera o impacto mas nada veio. Fui largada, contra a parede abri os olhos e, vi Julian a segurar Rania pelos pulsos.
- Não lhe tocas.
- Olha o que ela fez ao meu vestido!
- Não me interessa, não tocas um dedo na Carmen, ouviste?
- Compaixão? Para com ela?
Julian analisou-a por segundos, e logo depois empurrou-a violentamente e Rania bateu contra a parede. Julian voltou a agarrar-me no braço.
 - Vamos embora. - Continuamos a andar corredor fora e eu não soube o que disser. Julian acabara de me defender? Porquê? Ele logo respondeu. - Não foi por ti. Ela irrita-me. - Deu-me um empurrão, para que andasse a sua frente. - Vamos. Sabes o caminho!
Percorri o caminho todo até aquela sala grande, passando pelas tochas e, o corredor de mármore. Quando cheguei à tal sala onde estava o trono de Santiago eu parei. Quase não reconhecia, estava completamente rodeada de velas brancas que emanavam um leve cheiro a baunilha e formavam uma estranha espiral no chão. Consegui ver também, três grandes taças, uma de ouro, outra de bronze e uma de prata.
Julian passou por mim, arranjou uma cadeira e, perto da espiral feita de velas. Bateu no assento e sorriu-me.
- Madame. - Aproximei-me da cadeira e, sentei-me. Todo o meu corpo abateu-se sobre aquele objecto de madeira, senti-me muito mais pesada como se a gravidade toda caísse em cima de mim.
Vi-me sozinha com Julian. Estava na hora de usar a mente, já que não tinha força. Um confronto mental. Tinha cartas a jogar. Eu sabia que Julian estava tão violento, porque lhe faltava algo. Algo que ele estimava muito e, que conseguia adquirir com aqueles Livros de Lawrence, por isso estava tão empenhado em tê-los. Havia algo para ele, para além da obediência ao seu querido papá. Ele queria algo para si. O problema é que Santiago, não iria dar-lhe o que ele queria.
- Onde é que ele está? - Perguntei olhando em volta.
- Não está aqui. - Respondeu secamente.
Olhei para Julian enquanto andava, com as mãos nos bolsos e ar pensador. Lembrei-me das palavras de Lawrence escritas nos seus livros, lidas pela voz do meu querido Dean: Ele parece ter um ódio aceso com o Fiel Lobo, os dois disputam o lugar de braço direito do Rei. Fala de lutas constantes, brigas e como que, se quisesse, matá-lo-ia rapidamente…
- A quanto tempo não te transformas em lobo, Julian?
Ele parou de andar. Girou sobre si mesmo lentamente e, ergueu a sobrancelha lentamente.
- Desculpa?
- Vou arriscar e dizer, que desde que morreste? Certo? E, mesmo agora depois de teres voltado à vida, ainda consegues transfigurar-te? - Julian não me respondeu. - Se bem me lembro, julgo que foi isso que fez com que eu te caçasse. Isso, e querer o teu pai morto, obviamente. Foste um isco e ao mesmo tempo, um belo item de colecção.
- Ressuscitei dos mortos e, não possuo todos os meus poderes. - Caminhou para mim. - Especialmente, esse.
- Sentes saudades?
Ele parou e, olhou para mim com os olhos aliciantes. 
- Porquê a pergunta?
Cruzei as pernas sob a enorme saia.
- Porque eu sei que isso era parte de ti. Deves sentir-te vazio, sem essa habilidade. - Julian não respondeu, apenas me observava. - Pergunto-me se, com aqueles livros, não há como…
Uma mão agarrou o meu pescoço, os dedos fecharam-se como grampos no cabelo.
- Não sei que jogo queres fazer comigo…Não resulta…Fica calada! - Largou-me contra a cadeira e esta abanou sob o meu peso. Nem pensar que eu ia desistir, tinha que conseguir uma fissura naquela armadura.
- Fala com o Santiago. Pede-lhe para te deixar ver os livros…- Conseguia ver a cara de Julian contorcer-se de raiva. Eu sabia que Santiago nunca iria escutá-lo e que Julian era um obstinado, que quando queria uma coisa não largaria. Pai contra filho. Como duas crianças a querer partilhar um brinquedo. E, enquanto eles brigavam eu apenas tinha de sair de fininho, fugir. - E, talvez ele consiga…
  - Não comeces um jogo que não podes ganhar, Carmen.
Conseguia ver a ideia fermentar na sua cabeça, lentamente.
- Pensa bem, fala com ele. Imagina-te novamente com todos os teus poderes! Aposto que, com os Livros, Santiago consegue arranjar-te isso, muito facilmente.
Mas, era claro que Santiago não ia deixar. Claro! Santiago era orgulhoso e, metia-se em primeiro lugar antes mesmo do próprio filho. Santiago queria os livros para si mesmo e, nem pensar que ia partilhar um terço da sua magia com o filho! Principalmente, quando ele estava fraco e submisso como Julian estava.
O confronto entre os dois, levaria a uma luta sangrenta, enquanto isso…eu fugia.
- Queres os teus poderes de volta, certo? Queres voltar a ser o mesmo Julian de antes, certo?
Julian aproximou a sua cara da minha, os olhos azuis fizeram-me encolher no meu lugar.
- Eu vou ter os meus poderes de volta…
O laivo de pura maldade apareceu nos seus olhos.
- O que queres dizer?
Julian bateu-me na testa com os dedos.

- Tu realmente, não entendes nada de nada.

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