Immolation Season - Ep 21, Julian

Agora que Carmen tinha transformado o seu querido humano num vampiro, surpreendendo-o, nada mais havia a fazer senão avançar com uma nova ofensiva. Nada melhor do que um pouco de diversão para que Julian se esquecesse de tudo o que parecia acontecer pelas suas costas. Um dia, seu pai terá o troco.... Um dia, que não hoje.

"Unfinished Businesses" by Julian Carriere

Os meus passos ecoavam no grande salão despido de decoração exaustiva. À medida que me aproximava do grande cadeirão, a conversa que ali tomava lugar, cessou por completo. Todos os olhares convergiram na minha chegada, mantendo-se um ambiente pesado, frio, sombrio.
Meu pai estava no centro, Rania ficava à direita e para minha surpresa Noryeg também se encontrava lá juntamente com a sua guarda maravilha. Muito animadas estas festas em minha ausência. Sabe-se lá o que se passava, o que planeavam.
- Meu pai. - Disse-o baixando ligeiramente a cabeça em tom de respeito.
- Julian, que te traz aqui? Pensei que estivesses de vigia na mansão. Não era suposto teres lá ficado pelo menos até Rania voltar?
- Sim, meu pai. Mas novas importantes, fizeram-me voltar.
- Espero que seja algo, que valha a pena. - Disse-o friamente.
Noryeg tentou esconder um risinho de gozo que lhe escapava perante o que via. Aquelas palavras de meu pai, aquele tom era humilhante para mim. Ele fazia-o em frente de Rania, mas pior que isso era ter Noryeg e os outros também a assistir. Engoli em seco, mantendo a postura, pois sabia que os meus argumentos eram bastante fortes para fazer aquele Noryeg engolir aquele risinho idiota que tentava esconder de forma a evitar a fúria de meu pai. Voltei-me de novo para Santiago e apresentei os factos.
- Ela fê-lo! - Estas palavras chamaram a atenção de meu pai, que agora ouvia-me mais cuidadosamente. - Carmen mordeu o seu humano. Ela transformou-o esta noite. Penso que será altura, assim que houver uma abertura, de atacar.
- Então Carmen, sempre o fez? Carmenzita... Quem te viu, e quem te vê. - Santiago parecia ter-se esquecido de que estava com mais pessoas, pois iniciou ou monólogo de recriminação a Carmen. - Uma caçadora nata, que matava tudo o que era sobrenatural. As perseguições que fez, os números que aniquilou da nossa raça... Quantos morreram nas suas mãos... - E eu fazia parte desses números, e ainda estaria enterrado, senão fosse pela magia de meu pai. - Os pesadelos que viveu quando a transformei... E agora, ela fá-lo também?
Uma pausa em silêncio fez-se notar, enquanto esperávamos que Santiago voltasse a falar.
- Estás certo. É esta a hora de atacar. - O grupo de Noryeg, parecia aprontar-se para batalha uma vez que se ajeitava com valentia. - Não podemos esperar para ter mais um vampiro do seu lado a ajudá-la. Não que isso fosse um inconveniente, mas para quê esperar mais? Preciso de ter aqueles livros. - Voltou-se agora para Noryeg. - A tua guarda deverá ficar de vigilância em volta da casa de aqui em diante. Manterão a discrição, não quero sangue derramado sem ser necessário, pelo menos até eu ter o que quero. - Aquelas palavras eram cortantes, pois não deixavam possibilidade a qualquer desvio. - Julian, tu irás buscar Carmen e trazê-la até mim. - Voltou o seu olhar agora para Rania – Tu irás com Julian hoje, somente para o caso de haver complicações. Depois voltarás para o meu lado.
O quê? O que é que ele queria dizer com “voltarás para o meu lado”? Aquela cabra já andou a desenhar floridos de forma a meter-se na cama com ele? O que esta vaca faz por um bocadinho de poder. Daqui a uns dias vai dizer que vou ter uma nova mamã! Só de pensar nisso até me arrepio.

Tive que os transportar a todos até à mansão. Noryeg e a sua guarda fixou-se nas imediações da mansão, a uma distância segura. Já nós estavamos agora no nosso local habitual de vigia. Respirei fundo e escutei. Senti Noryeg e os restantes a tomarem o seu lugar, senti Rania ao meu lado a preparar-se mentalmente e fisicamente para o caso de uma batalha iniciar. Estava agitada. A minha atenção depois foi para aquela casa. Estava mais vazia que o habitual. Aquela aura, aquela a que eu já me tinha habituado não estava ali presente assim como Eric que também não dava sinal de vida.
Beth, estava algures no rés do chão. Já o Frankie dormia no primeiro andar.
No quarto de Carmen, lá estava um corpo sem vida, e Carmen... isto já não vai demorar muito.
Olhei para Rania que agora demonstrava um sorriso idiota na cara, e parecia menos preocupada.
- O casalinho que tanto odeias decidiu ir fazê-lo para outro lado!
- Deves achar que tens graça. - Respondi-lhe. - Podes voltar para o castelo. Estamos em maior número, e não haverá problema. - E com isto toquei-lhe na testa e ela desapareceu.
Estava farto de a ouvir, de a ter por perto, de ter que aturar aquela parvoíce toda junta numa única pessoa. E depois eu tinha coisas para fazer. Teletransportei-me até ao primeiro andar, reaparecendo no corredor, junto do quarto de Carmen.
Aproximei-me lentamente da porta do quarto, para depois a abrir devagar. Um ranger ouvia-se à medida que ia abrindo a porta, e depois avancei calmamente na direcção de Carmen. Ao início não percebera que era eu, mas assim que me viu, senti que ela daria tudo para não me ver ali naquele momento. Parei a meio caminho e olhei para a figura de Dean imóvel na cama. Quis tomar aquele momento durante algum tempo, pois em breve estaria de volta para acabar com ele, agora numa luta mais... digamos justa. Hum... senti o olhar de Carmen cravado em mim, e eu apenas pensava que se calhar não ia esperar que acordasses, Dean, para realmente acabar contigo. Agora mesmo seria tão mais delicioso. Mas larguei esse pensamento, pois tinha que levar Carmen a meu pai.
- Olha para ti. - Disse-lhe. - Que tristeza…
- Vieste raptar-me, Julian? - Perguntou Carmen, ainda com ar de desafio.
- Eu? Claro que não. Pensa nisto como um passeio. Vamos passear, Carmen.
- Não vou a lado nenhum contigo.
Aproximei-me um pouco mais.
- Infelizmente, a tua opinião de pouco vale. - Agarrei-a pelo braço e puxei-a com força. Já esperava o que se seguiu, uma tentativa estúpida de escapar. Prendi-a com firmeza para que me olhasse nos olhos - Bem, vamos passear…

***

Uma ligeira corrente de ar passou, num momento estávamos no quarto de Carmen, e agora nas imediações do castelo. Arrastei Carmen até ao salão, e o facto de ela estar a fazer-se difícil apenas me deixava mais irritado. Uma vez no salão, lancei-a ao chão na direcção de Santiago e não pude deixar de reparar que ao seu lado estava Rania mostrando-se quase como senhora do castelo. Aquilo deixava-me a ferver por dentro. Mas quem é que ela pensa que é? Soltei-me dos meus pensamentos, assim que Santiago pedira para que eu levantasse Carmen.
Assim fiz. Agarrei os seus cabelos ruivos violentamente e fi-la olhar na direcção de Santiago. Sabia o que se seguiria, um interrogatório pelos livros que ela negava conhecer. Mas meu pai sabia que ela os tinha encontrado.
- … Sabes, o Lawrence, no alto da sua inteligência, lançou um feitiço sobre aquela caixa que  encontraste. Para além de neutralizar qualquer intruso que forçasse a sua abertura, lançaria uma espécie de onda de choque mágica avisando que tinha sido aberto. Foi assim que eu descobri… É um arrepio que não se esquece, Carmen… - Disse Santiago.
- Bom para ti mas, continuo sem saber onde estão!
Esta Carmen nunca sabia quando desistir. Nem mesmo perante o seu criador, meu pai, Santiago. Será que ela desejava assim tanto a morte? É que é o que terá caso continue a omitir a verdade a meu pai.
Santiago dirigia-se agora até Carmen, e era agora que o jogo ia realmente começar.
- Vamos brincar. - Perguntou meu pai a Carmen.
- O quê?
- Sim! - Voltou a colocar-se de pé, encaminhando-se até ao trono. - Julian, quanto tempo lhe dás?
Soltei uma gargalhada. Sem dúvida que o que a aguardava não era algo que qualquer vampiro aguentasse. Aquilo iria soltar a língua de Carmen. Iria fazê-la falar.
- Não mais que uma semana, pai. - Respondi.
- Hum…Rania?
- Com o calor que está, duvido que consiga chegar ao fim da tarde.
Via-se mesmo que Rania não conhecia Carmen. Primeiro, Carmen era uma vampira mais teimosa que a própria morte, e segundo, ela estava bem alimentada para aguentar algum tempo.
- Não. - Disse na direcção de Rania, e depois voltei-me novamente para meu pai. - Ela aguenta, sim. Fez uma chacina lá em Inverness, tem o sangue de três homens a voar nas veias.
Santiago abriu um sorriso de espanto, olhou-a surpreso. Definitivamente esta Carmen estava completamente diferente da Carmen que ele transformara.
- A sério? Estou veramente espantado, Carmen.
- Enfia o espanto num sítio que eu cá sei, Santiago!
Ups. Essa talvez fosse a última coisa que deverias ter dito. Carmen... Carmen... tu não sabes com quem brincas, depois magoas-te. Vi a raiva estampada na expressão de Santiago, e sabia que não vinha aí coisa boa.
- Importaste de mostrar à nossa convidada os seus novos aposentos?
Puxei-a para a levar até ao seu novo quarto, este com uma belíssima luz... Não podia ser mais literal, e foi quando senti que aquele corpo deixara de se arrastar, e vi Carmen com ar decidido afastar a minha mão de seus cabelos e ainda empurrar Santiago. Aquilo deixou-nos em alerta e eu já estava pronto a atacar. Rania então parecia possessa. Mas isso é porque eu sei o que ela queria, queria ver se arrancava hoje mesmo a localização daqueles livros, mesmo que para isso tivesse que matar Carmen umas quinhentas vezes seguidas. O problema, é que o meu pai não está para andar a ressuscitar vampiros vezes e vezes sem conta para gosto daquela rameira.
- Vou-me embora! - Disse Carmen determinada.
 Ao ouvir isto, Santiago lança uma gargalhada que até a mim me gelou por dentro.
- Adoro isto! - Apontou para Carmen todo sorridente. - Esta garra, esta força… Tipicamente espanhola!
- Sabes o que é tipicamente espanhola? Uma estaca nesse peito!
- Força! Julian!
Meu pai estendeu a mão na minha direcção e eu não queria acreditar que ele estava a pedir-me aquilo que eu acho que ele estava a pedir-me. A lança de prata? Mas... se alguém tinha que espetar aquela lança no coração de Carmen era eu. E depois a dúvida, ele ia mesmo fazê-lo? Qual for a sua intenção não vou negar uma ordem sua. Peguei na minha bengala, e entreguei-lha. Ele retirou a lança de prata e foi entregá-la a Carmen. Como podia ele entregar algo que não lhe pertence, ainda mais àquela vampira?
Carmen não aceitou e então eu percebi o que Santiago tinha em mente. Sem perder mais um segundo segurei os braços de Carmen atrás das suas costas, e vi Santiago fazer aquilo que eu ansiara por tantos anos. Devia ser eu a espetar essa lâmina em teu corpo, Carmen. Devia ser eu.
Santiago afastou-se satisfeito com o seu trabalho e Carmen perdia as forças juntamente com o sangue que escorria manchando as suas roupas, e pingando o chão de um vermelho vivo. Era o seu sangue. 
- Pronto, isto irá acelerar o processo. - Disse Santiago enquanto limpava a lâmina com um pano. Depois voltou-se para mim. - Julian, se não te importas…
Santiago dava-me o sinal para levar a nossa Carmenzita para os seus aposentos. Arrastei-a por vários minutos, até ao cemitério onde uma cripta a esperava.
Assim que cheguei, retirei as correntes que cerravam aquele local, para depois abrir aquelas portas à muito tempo sem sinal de serem abertas. Levantei Carmen do chão e fi-la entrar na sua nova morada. As boas vindas foram dadas com um empurrão violento que a fez cair no chão. Ai Carmen, e este é ainda somente o primeiro dia do inferno que vais passar.
Voltei a fechar as portas da cripta, colocando as correntes enferrujadas no seu lugar, e assim que estava para voltar costas e afastar-me a sua voz veio em desespero.
- JULIAN!
Não pude deixar de rir perante aquela situação. A sua figura completamente ensanguentada, uma imagem de uma vampira que estava completamente desesperada.
- Deves estar a perguntar-te, o que é isto…queres adivinhar? - Ela manteve o silêncio, e eu continuei - Estás numa cripta. Uma cripta que esta na minha família por muitos anos.
- Deixa-me sair!
E perder a oportunidade de te ver sofrer o inferno, o mesmo inferno que me fizeste passar quando me cravaste a estaca de prata em meu coração?! Não me parece Carmenzita...
- Não. Vais ficar. E, até podes ficar para veres algo muito especial…- Sorri e olhei por cima do ombro. - O nascer do sol. Adios, Carmen.
Afastei-me com passo lento somente para saborear o pânico de Carmen perante os primeiros raios da manhã que rompiam no horizonte.

Regressava agora ao Castelo, somente para encontrar o salão ainda mais silencioso que o costume. Encontrei Rania junto de uma mesa alta olhando fixamente para o meu bastão. Era como se estivesse hipnotizada por aquele objecto ali à sua frente. Como se este absorvesse toda a sua atenção. Os seus dedos, deslizaram delicadamente sob a figura de prata em forma de lobo, e os seus lábios pareciam ter murmurado algo que não consegui ouvir. Quando finalmente deu por mim, já eu estava a um passo dela.
- Ah! Estás aí! - Disse ela surpresa por me ver. - Santiago disse para te entregar isto.
- É muito atencioso da tua parte ficares de olho nisto. – Disse ao mesmo tempo que pegava no meu bastão – não vá alguém roubá-lo, não é verdade?
Sabia que estava a espicaçar, mas era para ver se ela se desbocava. Contudo, ela manteve a sua postura inalterada.
- Então e Santiago saiu?
- Sim, depois que saíste com aquela coisa, ele disse que tinha algo a tratar.
Fiquei em silêncio por um momento. Estaria ela a esconder algo? Bem.. o que quer que ele tivesse ido tratar, pelo menos posso também eu colocar uma pedra sobre os meus assuntos pendentes.
- Pois bem, nesse caso, também vou sair.
- Onde vais?
- Tenho um assunto pendente, que preciso de concluir. - Sorri malévolamente. - Mas não te preocupes, estarei em casa para jantar. - Ironizei.
E abandonei a sala sem mais uma palavra, mesmo quando ela tinha um milhão de questões a fazer-me.

Noryeg continuava de vigia à mansão com a sua guarda, como previsto, mas só reconheci aquela vampira do outro dia. Provavelmente reduziam a quantidade de guardas durante o dia, por causa do sol.
O quarto continuava como na noite anterior, em que nada havia sido mudado de lugar. A escuridão era apenas quebrada pela pouca claridade vinda da parte superior da janela. Lá em baixo também se ouviam passos, mas de resto a casa estava tão habitada como na última vez que ali estivera.
Contornei a cama e observei o meu assunto pendente...
- Dean... - O silêncio como resposta era já esperado. Ele ainda não terminara o processo de transformação, e ainda não voltara à sua nova vida. - Para ser sincero, há coisas que muitas vezes devem acabar e não deixarem-se prolongar infinitamente...e eu não tenciono ter mais uma pedra no sapato. Reflecti e penso que é muito melhor acabar contigo hoje. - Fiz uma pequena pausa, enquanto me aproximava da sua figura imóvel naquela cama. Lentamente retirei a lança de prata que reluziu na pouca luz que iluminava o quarto. - Mas se vermos bem, até estou a fazer-te um favor. Pois senão vejamos, Carmen é minha prisioneira, e em breve estará morta. Não queremos acordar para uma vida eterna sem o amor da tua vida, pois não? Dessa forma, penso que até devias agradecer-me, pelo que te vou fazer. - Sorri com malícia.
Elevei a lança de prata no ar, com mira ao coração daquele ex-humano, e estava agora pronto a dar o golpe final.
- Bem, Dean. Foi um prazer. - Ironizei, e lancei com toda a força a lança no seu coração de forma a perfurá-lo de um lado ao outro.
O que aconteceu a seguir nem eu consigo explicar. Assim que a lança estava para atingir o seu peito, uma onda de energia arremessou-me violentamente contra a parede do quarto. A lança de prata, caiu a alguns centímetros de mim, fazendo um barulho metálico assim que embateu no chão.
Embora em choque e confuso, reagi imediatamente levantando-me para enfrentar o que quer que tivesse feito aquilo. O meu instinto foi olhar para a cama, mas para minha surpresa, Dean continuava imóvel como antes. Nem um sinal de que tinha sido ele. Mas então o que tinha acontecido? Seria a ligação com Carmen tão grande, que esta o protegesse até quando estava tão longe?

Olhei em volta de todo o quarto, procurando outra possível explicação, mas nada. Não havia ninguém. Tinha os meus pensamentos a correr a uma velocidade estonteante à procura de uma resposta, quando fui interrompido pelo som de passos, do outro lado da porta do quarto. Frankie... Olhei novamente na direcção de Dean: - Bem, infelizmente isto vai ter que ficar para outro dia, Dean. - Peguei lança, voltei-a a colocar no meu bastão e desapareci dali.

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