Immolation Season - Ep 19, Carmen
Se Carmen acreditava que a morte de Dean era o que mais a preocuparia de momento, estava muito enganada. O seu sexto sentido sempre tinha razão, quando achava que Santiago se mantinha muito quieto. Porém, nunca poderia imaginar que tudo aconteceria quando ela menos esperava...
"Gone" by Carmen Montenegro
Estava feito. Estava feito e não havia volta a
dar. Ali estou eu, no meu quarto enquanto Dean jaz morto na minha cama.
Finalmente, ele quis aquilo que tanto pediu. Dentro de poucas horas ele
torna-se num vampiro. O seu sangue continuava a correr nas minhas veias,
conseguia senti-lo ainda em mim em toda a sua essência humana, eu é que o
tinha…
Não me levantei desde que Dean dera o seu
último suspiro, ocupei o meu lugar numa cadeira ao canto do meu quarto, vendo
as horas passar lentamente à espera de um movimento de qualquer coisa.
Aconteceu uma coisa mas, não o que eu queria.
A porta do meu quarto abriu-se lentamente
rangendo a cada ângulo, rodei a minha cabeça para ver quem entrava e não
distingui mais do que uma sombra ao início. Vinha até mim num passo lento, todo
vestido de negro com o seu casaco comprido até aos joelhos sobre calças pretas.
Trazia numa mão a sua bengala com o símbolo de um lobo, um grosso anel no dedo
anelar. Entrou no quarto e pude ver a sua palidez reluzente à luz da noite, os
olhos azuis perfurantes e o cabelo loiro penteado para trás. Parou junto à
cama, prestando atenção ao corpo de Dean ali estendido. Observou aquela cena
durante uns segundos antes de se voltar para mim.
Eu quando o vi, nem me mexi. Afinal, era uma
questão de tempo até ter a sua presença na minha casa. Mesmo à luz da lua
conseguia ver um sorriso branco e predador a abrir-se.
- Olha para ti. - Disse-me. - Que tristeza…
- Vieste raptar-me, Julian?
- Eu? Claro que não. Pensa nisto como um passeio.
Vamos passear, Carmen.
- Não vou a lado nenhum contigo.
Senti-o aproximar-se, passos que ressoavam no
soalho juntamente com aquela bengala idiota. Julian parou mesmo ao meu lado mas,
eu nem ergui o olhar para olhá-lo.
- Infelizmente, a tua opinião de pouco vale. -
Senti a sua mão fechar-se à volta do meu braço e a puxar-me. Ainda tentei
lutar, mas Julian prendeu-me os movimentos de modo a que não fitasse nada a não
ser os seus olhos azuis. - Bem, vamos passear…
***
Aterrei no chão com toda a força, sentia uma
sensação de vertigem que não me deixava focar a imagem à minha frente. Fui
puxada para cima com violência e arrastada. Conseguia ver que caminhava sobre a
relva verde, e seja onde for que estivesse, era Verão, a noite estava quente.
Caminhamos, não sei durante quantos minutos, até que fui atirada novamente para
o chão, desta vez não era relva mas, sim chão cimentado.
- Levanta-a, Julian. - Uma mão fechou-se em
volta do meu cabelo, puxando-me para cima. Foi então, que vi Santiago sentado
num trono, literalmente num trono! Esta majestosa cadeira, estava forrada a
veludo vermelho e Santiago estava nela sentado com um fato negro, que quase se
confundia com o negro dos seus cabelos. Tinha um ar calmo e pensativo mas, não
menos feroz. O local estava rodeado de velas que, apesar do número, não davam àquele
lugar um ar mais acolhedor. Rania estava ali também, ao lado do trono com um ar
superior, como se fosse dona e senhora.
- O que queres, Santiago?
- Os livros, Carmen.
- Não sei de livro nenhum!
Santiago largou um suspiro pensativo, juntou
as pontas dos dedos e olhou-me com os olhos a brilhar.
- Eu sei.
- Sabes o quê?
- Que foste tu que os encontraste. - Santiago sorriu levemente. Aquele sorriso
que não via há anos ainda causava-me arrepios. - Sabes, o Lawrence, no alto da
sua inteligência, lançou um feitiço sobre aquela caixa de encontraste. Para
além de neutralizar qualquer intruso que forçasse a sua abertura, lançaria uma
espécie de onda de choque mágica avisando que tinha sido aberto. Foi assim que
eu descobri… É um arrepio que não se esquece, Carmen…
- Bom para ti mas, continuo sem saber onde
estão!
Santiago levantou-se, desceu o pequeno lance
de três degraus e aproximou-se de mim numa marcha apreensiva. Agachou-se à
minha frente e olhou-me de cima abaixo.
- Vamos brincar.
- O quê?
- Sim! - Voltou a colocar-se de pé,
encaminhando-se até ao trono. - Julian, quanto tempo lhe dás?
Ouviu-o a rir-se todo contente.
- Não mais que uma semana, pai.
- Hum…Rania?
A mulher observou-me durante uns segundos e
sorriu.
- Com o calor que está, duvido que consiga
chegar ao fim da tarde.
- Não. - Negou-se Julian. - Ela aguenta, sim.
Fez uma chacina lá em Inverness, tem o sangue de três homens a voar nas veias.
Santiago abriu um sorriso de espanto, olhou-me
de cima abaixo.
- A sério? Estou veramente espantado, Carmen.
- Enfia o espanto num sítio que eu cá sei,
Santiago!
Subitamente pareceu que tinha voltado ao dia
em que me tinha transformado naquilo que sou hoje, ele tinha o mesmo olhar e a
mesma sede de morte, disfarçada pela voz suave. Girou sobre si mesmo e, encarou
o seu filho que ainda agarrava os meus cabelos.
- Importaste de mostrar a nossa convidada os
seus novos aposentos?
Julian puxou-me mas eu finquei os pés no chão,
afastei a sua mão dos seus cabelos e enfrentei o seu pai com um valente
empurrão que fez com ele recuasse alguns passos. Rania pôs-se alerta e Julian
em modo ataque.
- Vou-me embora!
Santiago largou uma alta gargalhada que ecoou
pelo recinto todo.
- Adoro isto! - Apontou para mim todo
sorridente. - Esta garra, esta força… Tipicamente espanhola!
- Sabes o que é tipicamente espanhola? Uma
estaca nesse peito!
- Força! Julian!
Santiago estendeu a Julian a mão, à espera de
qualquer coisa…Vi o vampiro loiro a hesitar mas, logo entregou-lhe a sua
bengala. Santiago abriu-a e tirou de lá uma lança de prata muito parecida a que
eu tinha quando era mais jovem. Santiago rodou-a na sua mão e entregou-ma,
estiquei a mão mas, logo parei.
Muito fácil.
Senti os braços ficarem presos, atrás das
costas e a lança de prata trespassou a minha barriga. O ar ficou-me preso na
garganta, enquanto olhava para Santiago que tinha os olhos a brilhar de
maldade. A sua lança rodou dentro da minha barriga e a seguir foi retirada
lentamente. Engoli o grito de dor, nem pensar que ia dar essa satisfação a
Santiago, nem pensar que ele ouvir-me-ia gritar. O meu corpo desmoronou ao
encontro do chão mas, os braços seguraram-me, tentava obter o meu equilíbrio e
encontrar o meu centro mas, não conseguia.
- Pronto, isto irá acelerar o processo. - A
sua voz estava próxima do meu ouvido. - Julian, se não te importas…
Senti-me a ser arrastada novamente, os pés
rolavam pela relva enquanto era levada para longe. Dei-me conta que começava a
ver muitas placas de pedra, até que paramos e Julian deixou-me no chão
novamente. Não me conseguia mexer, o sangue escorria pela minha roupa,
ensopando o chão à minha volta ao mesmo tempo que me deixava cada vez mais
fraca. Olhei em frente e vi uma estátua alta, parecia ser uma mulher de joelhos
envolta em panos, tão bem moldados que pareciam reais, com um ar soturno e
sofredor como se estivesse prestes a entregar-se ao choro. Choraria por mim?
Seria merecedora das suas lágrimas? De algumas lágrimas?
Conseguia ouvir o som de correntes, logo a
seguir o que pareciam ser metal a ranger. Um bafo quente e húmido bateu-me nas
costas.
Fui erguida do chão, arrastada durante uns
segundos e depois fui, literalmente, empurrada contra o chão cimentado. Rolei
sobre mim mesma e encarei o tecto de pedra, cheio de trepadeiras e musgo. Olhei
para o lado onde vi três longas prateleiras com caixas longas e rectangulares
em cima cheias de pó trepadeiras. Ouvi novamente o som metal a ranger,
sentei-me rapidamente ignorando a dor na minha barriga. Julian estava do outro
lado desses portões, fechando-os com força tal que os fez ranger.
- JULIAN! - Berrei. Levantei-me e corri, os
poucos metros que iam do meu lugar até à porta e agarrei-me aos portões. Foi ai
que vi bem onde estava, à minha frente placas e placas de betão sem fim
estendiam-se por um manto verde. Um extenso cemitério, abrigado à luz da
madrugada.
Do outro lado, Julian só se ria divertido com
a minha prisão.
- Deves estar a perguntar-te, o que é
isto…queres adivinhar? - Não disse nada. Bem, sabia onde estava e não adorava
aquela situação. Julian continuou. - Estás numa cripta. Uma cripta que esta na
minha família por muitos anos.
- Deixa-me sair!
- Não. Vais ficar. E, até podes ficar para
veres algo muito especial…- Sorriu ainda mais e olhou por cima do ombro. - O
nascer do sol. Adios, Carmen.
Afastou-se com os pés a soarem abafados no
pavimento. Ao longe conseguia ver os primeiros raios de sol a erguerem-se no
horizonte. A cripta ficava mesmo de frente para o sol, logo aos primeiros raios
aquilo ficaria inundado pela luz do sol e, se a luz não me chegasse, o calor
era o meu próximo problema.
Vi com
horror os raios a aparecerem a cada segundo. Oh Deus… Que a minha morte, não
seja aqui nem agora…
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