Immolation Season - Ep 16, Carmen

Carmen fizera a sua escolha, jamais daria a sua condição a alguém que amasse. Mas aquele caçador era tão teimoso que só a deixava com uma opção: ter o que ele desejava, mesmo que isso destruísse tudo o que ela acreditava. O mais estranho era a inércia que parecia existir de Santiago, o que estaria para vir? Nunca seriam coisas boas... E a morte chegava, mais uma vez, para ela. Para o seu amado Dean. O que fazer?

"Today, I Killed The One I Loved" by Carmen Montenegro

O dia arrastou-se lenta e pesadamente, permaneci ali encostada à porta durante a manhã quase toda, isto sem falar na tarde. Ouvia os passos de Sheftu, Beth pela casa, as duas numa conversa estranha e sussurrada. Nenhum sinal de Samantha nem Vladimor. Frankie dormia no carro e Dean, tinha ido…hum, sei lá fazer o quê. Mas, tudo isto não era mais estranho que o silêncio de Julian e de Santiago. Muito silêncio, significava que algo grande estava para mim e, ainda nem me tinha esquecido daquele estranho momento na floresta e na cave. Que tinha sido aquilo, um feitiço? Uma ilusão? Talvez alucinação de tanto sangue que ingeri. E, agora lembrava-me. 3 Homens mortos. O sangue daqueles 3 ainda corria nas minhas veias. Nunca fui contra beber sangue humano, sou vampira tenho que o fazer. Nunca conheci nenhum vampiro que não bebesse sangue humano mas, a questão não é essa…Ilusão ou não, Santiago e Julian andam por perto. Principalmente, Julian. Aquele louco arrepia-me.
Quando irá o passado deixar de me perseguir? Quando? Será que nunca vou ter paz? Não, só vais ter paz quando eles morrerem…ou tu. Ideia reconfortante de facto.
Continuei sentada no chão, não me queria mexer estava bem assim. Nem queria imaginar no que aí vinha. Dean. Vampiro. Tudo isso em menos de…hum…três horas para o pôr-do-sol. Boa!
Acabei por levantar-me do chão, com alguma preguiça. Sentia-me muito cansada. Encaminhei-me para a casa de banho, voltei-me para a banheira onde deixei correr a água durante uns bons minutos. Quanto mais quente melhor. Assim que encheu tudo e o fumo saía livremente da água, despi-me. Agora é que reparava o quão sujas estavam as minhas roupas. Que desastre. Tirei-as e meti-me dentro da banheira numa temperatura desumana. Fiquei lá durante, um bom bocado, até a água perder o seu calor inicial e caminhar lentamente, para o frio.
Acabei por sair, eventualmente e, caminhei para o guarda-roupa, depois da roupa interior roxa escolhida, preferi um top roxo, uma camisa de flanela preta e roxa, umas calças de ganga e botas. Logo, a seguir peguei num escova e penteei o meu longo cabelo ruivo, que quando molhado, criava ondas leves. Peguei no cabelo e entrancei-o, no final deixei ficar um elástico roxo. Voltei a casa de banho e, passei um fino risco pelos meus olhos. Por cima e depois por baixo. Os meus olhos cinzentos adquiriam um tom mais vivo.
Banho tomado e tudo mais, saí do quarto. Fiquei parada no topo das escadas e, aquele lustre que tanto gostava continuava ali parado. Desci, aproximei-me e peguei-o facilmente, apesar do peso. Dirigi-me a porta de saída e, deixei-o ali ficar. Quem fosse sair, poderia metê-lo no lixo. Já não era necessário.
Ia voltar para cima, quando algo fez-me parar. Ao lado da porta, havia estas pequenas janelas, que agora estavam escuras para não deixarem entrar o sol. Olhei com atenção, consegui ver uma silhueta por entre as árvores. O cabelo loiro, o casaco preto comprido, a bengala numa mão…
- Julian!
Assim que percebera que eu, o reconhecera. Julian acenou-me com um sorriso maléfico.
Instintivamente lancei a mão à maçaneta mas, parei. Estava sol e não podia sair. Com certeza ele esperava que eu fizesse isso, pois quando olhei para a janela, o seu sorriso tinha aumentado. E, num piscar de olhos, tinha desaparecido.
Ele estava a observar-me. Não deixei que o pânico me assolasse. Não, aquilo era tudo um jogo mental.
Girei sobre mim mesma, atravessei o hall de entrada em direcção à cozinha. Contornei o balcão e, deixei-me cair no chão frio. Só quando levei as mãos à cabeça é que percebi que estava tremer. Julian estava por perto. Porquê que subitamente, sentia um cronometro sobre a minha cabeça?
- Ora aí está algo que nunca tinha visto. Um vampiro a ter um ataque de pânico. - Levantei o olhar e, vi Elizabeth encostada à ombreira das portas das traseiras, com um ar prepotente.
- Não tens nada para queimar?
- Estás a oferecer-te?
- Podes tentar. - Disse eu calmamente, fechando os olhos e encostando-me ao balcão. - Seria bom, sentir algo diferente.
- Vocês, vampiros, são esquisitos, mas, quem sou eu para negar alguma coisa.
 Aposto que Santiago e Julian trar-me-iam de volta, só para terem o gozo de me poderem queimar outra vez. Fiquei parada, à espera do tal calor que Elizabeth tinha para oferecer mas, então eu ouvi o som de algo a cair. Quando abri os olhos, Elizabeth estava no chão. Aproximei-me dela e toquei-lhe na cara, estava fria. - Elizabeth?
Ela respirava ofegantemente, tinha as mãos a tremer.
- O que aconteceu?
- Eu tentei mas…Ele não me deixou.
- Ele? Ele, quem?
- Eu. - A voz de Julian ecoou na minha cabeça. - Ninguém te magoa, a não ser eu.
 Não deixei aquela voz assustar-me. Respirei fundo e ajudei Elizabeth a recompor-se.
- Larga-me! - Exclamou. Logo a seguir, empurrou-me ao encontro do balcão. E, saiu disparada.
Julian era poderoso. Conseguia meter-se na minha mente, na mente de Beth, criar ilusões…Se ele era assim, Santiago, deveria ser a morte em pessoa.
Frankie, apareceu logo a seguir, vinha com um ar ensonado. Tinha dormido pouco, não mais que três horas. 
- Hum…Carmen, o Dean diz que está pronto.
Eu suspirei. Era apenas uma questão de tempo.
- Tudo bem. - Saltei do balcão e saí da cozinha.
- E ele pediu a presença de todos.
- Todos? Subitamente, virou uma Convenção? - Revirei os olhos e saí da cozinha deixando Frankie, uns metros atrás. Subi escada acima, corredor, até ao meu quarto e quando cheguei. - Vamos ter público?
Sheftu, estava de pé, junto a Dean.
- Eu quero que fiquem.
- Pois, eu não.
Eu e Dean trocamos olhares, ele sabia bem que eu podia recuar e eu sabia que Sheftu, ali ao lado, poderia fazê-lo no meu lugar.
- Por favor?
Não tinha escolha.
- Tudo bem. Se é o teu último desejo.
- Sim.
Dean sentou-se na cama, olhou para todos os presentes e depois para mim. Eu avancei para ele, sentei-me no colo e encarei-o por segundos. Queria guardar cada pedaço da sua cara, quando ainda era humano. O tom de pele moreno, os olhos verdes jade, a boca rosada, a barba por fazer.
O seu coração batia depressa. O sangue voava pelas suas veias, por isso, acabaria depressa.
Queria acalmá-lo primeiro, por isso comecei a beijá-lo. Os lábios, o queixo, a face, a linha do maxilar, a orelha até que desci até ao pescoço, onde conseguia ver a artéria a pulsar contra a pele.
Suspirei, preparando-me. Fiz descer as minhas presas e, logo a seguir mordi-o. Dean berrou de dor, o meu morder tinha sido mais profundo que os outros e, desta vez era mais doloroso. Ele contorcia-se de dor mas, permaneceu sentado apesar de tudo.
A pouco e pouco, conseguia sentir a sua vida a escorrer pelo sangue, e o seu corpo foi caindo para trás enterrando-se o colchão. Ele foi ficando cada vez mais quieto. O coração batia cada vez mais devagar mas, tinha a que abrandá-lo mais, pelo menos fora o que eu vi das outras vezes. À medida que o seu corpo ia enfraquecendo e, os seus gemidos de dor, não passavam de respiração mais pesada, eu deixei-o cair para trás.
Estava na altura. Levei o meu próprio pulso a boca e mordi-me. Aproximei o meu pulso da sua boca e deixei cair algumas gotas. Dean bebeu, sem nunca tirar os olhos de mim mas, conseguia ver a sua vida a escoar-se a cada segundo.
- Carmen, já chega. - A voz de Sheftu, trouxe-me à realidade. Retirei o meu pulso da boca de Dean e levantei-me. A princípio nada aconteceu mas, depois Dean começou a contorcer-se de maneiras impossíveis, a berrar de dor, abanando-se todo. A cara enrubesceu, conseguia ouvir o seu coração bater desenfreado mas, com nenhum sangue para bombear. Ouvi o som dos seus ossos a estalar. Dos músculos a contrair. E ele simplesmente berrava de dor.
Olhei para Frankie e, pela primeira vez, vi-lhe o horror na cara. Ele nunca tinha visto.
As convulsões de dor de Dean, não duraram mais que dois minutos. Depois, ficou simplesmente silêncio e ele caiu na inconsciência. Agora, era só esperar; Uma hora, cinco horas, uma semana, quem sabe um mês. Nunca se sabe.
Assim, que estava feito, Frankie saiu do quarto. Elizabeth seguiu-se, em completo silêncio, talvez choque. Sheftu ficou ainda um bocado, olhava para Dean e depois para mim. Julguei vê-la combater o impulso para me falar mas, logo saiu fechando a porta à chave.
E eu, como que sonâmbula, sentindo-me vazia, fria, morta – ainda mais – sentei-me no cadeirão no canto do quarto. Dean não mexia. Não respirava. Não dava sinais de vida.
Agora, era só esperar pelo novo Dean e, desejar, estar cá para vê-lo acordar.

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