Immolation Season - Ep 6, Julian
Mesmo antes de abandonarem a casa que acabaram de aterrorizar, Santiago deu uma missão a Julian e Rania para que nada lhe escapasse daquela casa. Mas a sua curiosidade nunca adivinharia metade do que veria, apenas lhe trariam mais questões que não conseguiria responder. Estava na altura de tentar obter respostas.
"Following Orders" by Julian Carriere
Deixámos para trás uma Carmen aterrorizada, um semi-humano
mais morto que vivo, e a restante audiência tão perplexa que me deixava até a
mim sem palavras. Mas, no meu caso, de contentamento.
O sol não tardaria a levantar-se. Percorremos a primeira
parte da floresta, a passo rápido; sabia porém que em breve teria de teletransportar-nos
de volta ao castelo. Parámos no meio de uma clareira, e assim que preparava
para nos tirar dali, Santiago interrompeu:
- Tu e a Rania ficam de olho na mansão e nos que lá estão.
Quem entra! Quem sai! Quero saber com o que conto e não ser surpreendido com
acontecimentos desagradáveis. Entendido?
- Sim, pai! - Respondi prontamente. Era uma oportunidade
para investigar aquela vampira de cabelos louros... Oh sim... E atormentar a
vivalma de Carmen. Mal, esperava para poder provar o sangue daquele tão “precioso”
Dean, só para a ver espumar de raiva.
- Mas, e o sol? - Perguntou a idiota da rameira.
- Tu trabalharás juntamente com Julian durante as noites. Já
os dias ficarão ao cargo de Julian. -Disse estas últimas palavras voltado para
mim, ao que eu confirmei fazendo uma pequena vénia.
Quão idiota que ela era! Será que não lhe escorria nada
daquela cabeça?! Senhores! Bem vistas as coisas, teria paz durante o dia. Ao
menos isso! Vi os dois desaparecerem à minha frente, enquanto eu voltei-me para
fazer o caminho inverso que fizera há pouco. Estava curioso para saber como
estavam as coisas na mansão...
Caminhava sem pressa, afinal não tinha muito com que me
preocupar. Senti alguém aproximar-se ainda a uma distância considerável, e não
tardei a invocar um feitiço que me poderia ocultar naquela floresta. Vi-a
passar a centímetros de mim. Ia completamente perdida nos seus pensamentos.
Carmen... Vais em direcção à tua morte? Deixei-me apreciar o momento, enquanto
a via afastar-se. Tão determinada... Tão perdida... Sorri malevolamente perante
este pensamento.
Encontrava-me agora em frente à mansão, imóvel. Inspirei
fundo. Estás aí? A interrogação que queima de dentro... Uma vampira de sangue
quente... Cabelos louros como o sol... Quem és tu?
Preparava-me para vê-la mais de perto. Sentir aquela
energia. Mas permaneci onde estava, pois alguém apareceu junto de seu quarto
nesse instante. Seguiu-se um diálogo...
Espera o que é que ela quer dizer com “Ajudas-me a queimar a
raiva”? Terá enlouquecido? O fogo é uma das formas de acabar com um vampiro. E
depois o que é que ela esperava? Que a outra a cobrisse de gasolina e lhe
atirasse um fósforo? Isso era ridículo.
“Tortura-me.” - Disse Sheftu como que a responder às minhas
interrogações. Tortura-me?! Mas qual era a razão para tudo isto? A imagem do
rapaz veio-me à cabeça. Eric. Mas quando é que alguém leva outra pessoa a
querer sofrer desta forma? Eu procurava perceber a razão para ela fazer isto.
Não fazia sentido.
A minha atenção foi roubada pelo calor que vi emanar daquela
rapariga ao lado de Sheftu. Diria que ela era um inferno concentrado numa doce
figura feminina. Hum... A sua arma é o fogo. Uma bruxa com o poder do fogo.
Bem... Poderá ser um problema, mas também um que é fácil de eliminar. Sorri. A
forma como ela atacava Sheftu era ainda mais incrível. E a vampira parecia
intocável. Impossível! Ela devia ser cinzas neste momento! Como é que ela pode
ainda estar de pé? E então a sua energia surpreendeu-me por completo. Mais
poderosa que a lua ou o sol juntos. Seguidamente, tudo parou. Não sei quem é
que estava mais surpreso no meio disto tudo. Sheftu continuava a ser uma caixa
de surpresas.
- E evita brilhar desta vez… - Ouvi ao longe. Parece que iam
para mais uma tentativa, voltando-se a ver os mesmos resultados, minutos
depois. Sheftu ainda inatingível.
- Hey, não podes culpar-me. Sei tanto como tu. -
Desculpou-se Sheftu.
- Pois, eu acho que tenho uma teoria. - Continuou Beth.
Hum... Tens uma teoria? Estou ansioso por ouvir. Contudo parece que não era
agora que ela ia revelar os seus pensamentos. Bem, isso resolve-se com outros
métodos...
Ela abandonou o quarto com intenção de retirar-se para
descansar, seguindo as instruções de Sheftu até ao quarto onde iria dormir.
Quando abriu a porta do seu novo quarto, já eu a aguardava no interior. De pé, à
alguns metros da porta e de frente para esta, pronto a recebê-la. Assim que viu
a minha figura naquele quarto vazio, tentou atacar-me. Contudo um feitiço
impediu que isso acontecesse, tinha no meu alcance a sua pulseira, a sua
personalidade dizia-me que sem ela se tornava comum. Fiz sinal para que ela
entrasse e fechasse a porta. Ela lentamente assim o fez.
- É inútil gritares. Ninguém te irá ouvir! - Confirmei-lhe.
- Não o iria fazer. Vais matar-me? - Perguntou firmemente,
enfrentando-me com o seu olhar. Tinha uma boa personalidade, mesmo ligeiramente
incapacitada, tinha garra. E eu até que gostava disso.
- Ah! Ah! Ah! - Não contive um pequeno riso, que a fez
estremecer um pouco. - Não me parece…
- Então o que queres? - Questionou impaciente.
- Calma, calma! Quem faz as perguntas aqui sou eu.
- Pensando bem, tu estás em terreno inimigo. A qualquer
momento pode entrar por aquela porta – fez sinal com a mão na direcção da
entrada do quarto – alguém e quem estará em problemas serás tu! - Estava para a
interromper, mas ela continuou o seu diálogo. - Sim! Podemos não ser muito
poderosos como tu neste momento, mas uma bala de prata faz um bom serviço. Não
é preciso muito para dar cabo de ti.
- Se alguém entrar por aquela porta a dentro... - Parei um
pouco, tentando controlar ligeiramente o meu espírito competitivo. – Será um
bónus! Porque há já algum tempo que quero provar novos momentos de diversão. E
talvez até prostrar alguém morto, esventrado, ensanguentado no quarto de
Carmen, como um presente de bons inimigos que somos. - A sua expressão mudava
enquanto um ligeiro pavor se apoderava dela – Portanto, achas que terei a sorte
de ele entrar por aquela porta, Elizabeth?
- Como sabes o meu nome? – Perguntou ela, mostrando-me assim
que afinal o pavor vinha das informações que ia a lhe dizer e não das minhas
capacidades. Meu ego não ficava magoado, seria um gosto que teria matá-la e
sentir o seu medo por mim.
O silêncio fez-se sentir no quarto.
- Pois bem... - Recomecei, voltando-me de costas e
caminhando na direcção da janela ao mesmo tempo que organizava as várias
questões que queria colocar a esta rapariga. Foi quando senti um ardor vir de
dentro. Um calor em chamas agrestes que queriam romper do interior, consumir-me
na minha totalidade. A dor aumentava. Voltei-me de novo para Beth que estava
agora bastante concentrada, com o seu olhar posto em mim.
- CHEGA! - Gritei. Ao mesmo tempo uma onda de energia gélida
partiu de mim em direcção à rapariga e toda a extensão daquela metade do quarto,
fazendo Beth embater com toda a força de costas na parede e caindo depois no
chão.
Imediatamente aproximei-me da rapariga, puxei-a
violentamente pelo braço e arrastei-a até um cadeirão para o qual a atirei. -
Não estou com paciência para estas parvoíces. Sejamos rápidos, porque há muitas
coisas que preciso de saber. E fica sabendo que também sou muito bom no que diz
respeito à tortura. Portanto, quanto menos me provocares, menos sofres.
Entendido? - Ela ainda a recuperar do ataque de que fora alvo não respondeu, ao
que me levou a ter que repetir a pergunta: ENTENDIDO?
- Sim...
- Bem... Afinal que teoria é essa, de que falaste há pouco?
- Que teoria?
- Para aquilo que Sheftu conseguiu fazer há momentos atrás.
Que mais podia ser?
- Devolve-me.
- O quê? – Perguntei-lhe divertido, aproximando a pulseira
dela, enquanto ela tentava pegar, afastando-a novamente dela. – Se a queres
terás que me dizer o que eu quero…
- Não entro em chantagens. – Respondeu-me, fazendo com que a
sua mente fosse invadida por mim. As suas memórias a traíam. Como era tão
simples ter o que eu queria.
- Tenho tudo o que preciso, pequena! - Senti um tremor da
parte dela ao ver que me aproximava. - Está na hora de descansares. Não te
preocupes, tudo isto não passará de um pesadelo. - Toquei-lhe com o meu dedo
indicador na sua testa, e ela caiu num sono profundo. Peguei nela e levei-a até
a cama onde a deitei. - Um pesadelo que será para meu bem, esquecido. A tua
proximidade de Sheftu poderá ajudar-me no futuro. Portanto deves viver.
Estava ainda a considerar a informação que tinha obtido,
quando a voz de Sheftu captou novamente a minha atenção.
- Sabes alguma coisa sobre os livros? - Perguntou ela a
Dean. O que se seguiu foi um tesouro entregue numa bandeja à minha pessoa. O
coração de Dean denunciava-o por completo. E nem a sua resposta conseguiu ser
suficiente, perante o seu ritmo cardíaco.
- Que livros? - Perguntou ele.
- Recorda-te que eu ouço o teu coração… - Disse Sheftu num
tom de acusação.
Precisamente, humano! Não podes enganar um vampiro assim tão
facilmente. Ele deixou-a sem dizer mais nada, e eu segui-o durante algum tempo.
A vontade de o despedaçar era tão grande. No entanto lutei contra essa mesma
vontade, porque correria o risco de denunciar a nossa missão.
Aproveitei o facto de Sheftu estar agora sozinha, para
finalmente conhecê-la pessoalmente. Estive demasiado tempo a observá-la sem
saber ao certo se realmente Dean sabia de alguma coisa. Mas Carmen jamais
deixaria que o seu humano se envolvesse em algo que pusesse em causa a vida
dele. Ela sempre se sentiu demasiado humana, e eu não compreendia como.
Sem mais esperar, teletransportei-me para o quarto onde ela
estava. O quarto tinha um ambiente sombrio e pesado. Reparei que o rapaz que
nos enfrentara ainda permanecia inconsciente, e a rapariga que eu procurava
estava a seu lado.
- Não deverias dar-te ao trabalho de ficares aí. – Disse
calmamente. Aproximei-me devagar, sentindo aquele estranho calor nela aumentar.
Isso deixava-me ainda mais curioso.
- Vai-te! Desaparece daqui! – Respondeu calmamente. Contudo
sentia que aquela calma não era genuína, ela fumegava por dentro, de raiva...
Mas eu não poderia perder esta oportunidade. Torna-te amigo do teu inimigo,
culpando quem para isso for preciso... E se para perceber a origem desse poder;
se para o compreender e tê-lo para mim terei que jogar, nesse caso, jogarei.
- Não antes de falar-te. - Disse-lhe prontamente.
- Não quero ouvir nada do que digas. Vai-te antes que te
trate como inimigo que és!
- Não sou teu inimigo. – Disse-lhe com uma voz inocente e
aproximando a minha mão do seu ombro. Eu estava a jogar os meus trunfos. Não
demorou sequer dois segundos para que ela se afastasse e mostrasse o mesmo
olhar el matador de antes.
- Vai-te daqui! – Gritou.
Permaneci no mesmo lugar, mesmo perante aquela ameaça. - Vou
provar-to. – Disse, dando um passo na sua direcção. Vi-a recuar, talvez por
medo. Contudo depois percebi alguma hesitação da parte dela. Estaria ela a
pensar atacar-me? Sorri perante tamanha ousadia. Hum... Antes que ela se magoasse,
achei por bem continuar a minha jogada.
- Bem… O teu humano acabará por ficar bem. Meu pai apenas
lhe tirou os poderes. - Nas minhas mãos estaria morto claro! Pensei enquanto
falava… - Não que da próxima vez o vá poupar, mas estás avisada. Deves sair
daqui. - Afastá-la de Eric, e tirá-la do alcance de Santiago eram duas coisas
que me importavam neste momento. O meu pensamento foi interrompido pela
tempestuosa atitude de Sheftu:
- Vai-te!
Desaparece daqui! – Gritou.
Saí, sabendo que esta não ia ser uma batalha fácil. Ela era
fogo! Um poder incrível que deixava-me completamente hipnotizado.
***
O resto do dia não trouxe grandes novidades. A Carmen ainda
andava algures por aí. Talvez até já fosse pó, sabe-se lá!
E agora, com o cair da noite, não tardaria para que chegasse
a minha companheira de missões, Rania.
- Alguma novidade? - Perguntou, assim que se aproximou.
- Hum, nem por isso. - Menti. - E pelo castelo? Novidades?
- Hum... Não, nada. - Disse o mais claramente possível,
embora engasgando-se um pouco na resposta.
- Vá! Somos ou não uma equipa, Rania? - Disse-lhe com um
sorriso amigável nos lábios.
- Bem... - Hesitou por momentos. - Ok, eu conto...
Realmente, é tão fácil arrancar a verdade desta gentinha com
ânsia de poder. Sinceramente!
- E então, quais são as novidades? - Perguntei gentilmente.
- Bem... Não é assim nada de especial. - Reparei que seu
rosto parecia corar um pouco, assim como um sorrisinho idiota se formava em
seus lábios. - Lembraste do Baron Noryeg?
Novamente este nome? Era passado, e estava tão bem
enterrado... Podia lá ficar... Um vampiro rico, de uma família poderosa, e que
sempre teve um grande poder encantatório em todos os que o rodeavam. Boa
aparência, bom falador... Basicamente, um menino da mamã, que teve a sorte de
se transformar em vampiro. -Vagamente. O que é que ele tem? - Respondi-lhe.
- Parece que pediu uma audiência com Santiago.
- A sério? E o que é que…
Eu ia perguntar em que é que consistia essa audiência, mas a
nossa conversa foi interrompida com o regresso de Carmen, que vinha toda
ensanguentada. Uma boa refeição, deduzi, visto que o sangue era humano. Ao
menos não se transformou em pó, concluí.
- Será que é agora que recomeça a animação nesta casa? -
Rania sorriu maleficamente perante a sua própria questão. Eu sorri também.
O feitiço que lançara, protegia-nos a mim e à Rania de
sermos detectados, tanto por humanos como por vampiros ou outras criaturas. E
esperávamos em breve que esta minuciosa escuta, tivesse benefícios. No diálogo
que se seguiu entre Carmen e Beth sobressaltei-me com a expressão: “guardiã de
Sheftu?”. A princesa de cabelos dourados tinha uma guardiã? E por que é que
Carmen era tão fria com Sheftu? Será que a discórdia e ruptura deste grupo era
já existente? Isso facilitaria muito mais as coisas. Se soubessem os segredos
uns dos outros, poderia conseguir-se respostas sem grandes perdas para o nosso
lado. A dúvida ficou a pairar na minha cabeça, uma vez que minutos depois,
Carmen já aceitava Beth.
Fui arrancado do meu pensamento com a batalha que se seguiu
– Carmen e Sheftu... A culpa... de quem magoou Eric... Não consegui resistir e
ri alto, obviamente que com os feitiços só a Rania me ouviu. Mas a forma como o
riso ecoou no vazio da noite... Um riso frio e de puro divertimento.
- Tu estás a adorar isto, não estás? - Questionou Rania.
- Como não poderia estar? Esta situação é deveras
enriquecedora para o nosso lado. - E elas odeiam-se. Sheftu não pode ver Carmen
à frente. Uma alma que partilha o mesmo ódio que eu...
A discussão ainda teve os seus momentos interessantes. Carmen
fechou-se no quarto, segundos depois, de forma tempestiva, mas não demorou
muito para que a víssemos junto da janela e a saltar para o jardim. Ela ia com
certeza afastar-se de novo da mansão. Depois dos tempestuosos argumentos
trocados há poucos minutos, ela provavelmente queria estar só. E esse era o
momento porque esperávamos.
- Rania! Vai e avisa Santiago. Diz-lhe o que aconteceu por
hoje, está aqui tudo o que ele necessita de saber. – Disse-lhe entregando uma
velha pele humana, na qual apareceriam as minhas palavras mal Santiago a
segurasse. - Eu ficarei aqui para o caso de haver mais desenvolvimentos.
Contudo, se meu pai precisar de mim, diz-lhe que estarei à sua disposição. - A
estas últimas palavras, Rania torceu o nariz, talvez desacreditando o que tinha
acabado de ouvir. Mas não havia tempo. Tínhamos que agir. - Rania, vai!
O silêncio da noite abateu-se juntamente com uma escuridão
que em breve envolveria Carmen no pior dos seus pesadelos.
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