Immolation Season - Ep 14, Sheftu

Depois do pedido de Dean, que a fazia voltar aos tempos em que sentira outras coisas - aos tempos em que era bem mais do que aquela pele morta. Eric continuava offline. Beth necessitava de algo, não sabia bem o quê... Certamente não seriam rosas. O que mais Sheftu poderia desejar?

"Choices Happen" by Sheftu Nubia

Continuava a observar a paisagem sobre a minha janela, enquanto pensava no que Dean me tinha dito. Por mais que pensasse, a resposta voltava novamente ao mesmo: eu nunca saberia o que era mais errado. Os tempos não adivinhavam paz, qualquer um de nós poderia ter os seus dias contados.
Como poderia eu saber o que era certo? Toda a minha morte foi construída no que é errado, cada parte de mim foi desfeita com o passar dos séculos. E a prova estava sobre aquela cama, mesmo sem que o meu olhar o alcançasse, ouvia o seu ritmo calmo e a sua respiração leve, mas firme.
Voltei-me, vi Dean sentado perto da porta, encostado à parede. Talvez ainda esperasse a resposta ou simplesmente precisasse de um local para pensar um pouco eu bem sabia o quão complicado poderia ser esta situação, e o seu ponto de vista tinha até uma boa lógica. Um ser humano era mortal, o tempo era algo que corria para a morte. E eu um dia assim o fui, tal como ele, uma humana que tinha a sorte de puder esperar um fim digno.
Minha atenção voltou-se para a porta, onde entrava Elisabeth. Seu olhar passou-se entre Eric na cama, Dean e eu, talvez estivesse à espera que eu estivesse sozinha.
- Pensava que estavas sozinha, mas já vi que ele está aqui. – Disse-me, apontando para Dean com desdém. Logo ele levantou-se, aproximando-se dela com uma expressão intrigada. Não era habitual que alguém o tratasse dessa forma, apesar de tudo, ela acabava por ofender a sua condição: a de um ser humano.
- Não seria tudo mais simples se situações como estas acabassem? – Perguntou-me ele, suspirando profundamente à espera que eu concordasse com ele.
- Porque ainda aqui estás? – Questionou-lhe Beth, extremamente irritada, algo não estava mesmo bem.
Este seria um dia em cheio! Encarar com os problemas dos outros e ainda ser envolvida neles. O quanto já tinha passado desde que a minha morte tinha tido alguma paz? De um certo modo, sentia imensa saudade dessa época, apesar de ter sido há muito pouco tempo.
- Tem calma, Beth… Ele está aqui porque eu quero.
- Já não te basta um humano ali? – Apontou para a cama, fazendo uma breve pausa. – Ainda tens de criar mais amizades com este tipo de coisa?
- Não torno a dizer para te acalmares. Afinal o que se passa para estares assim? – Dean apenas olhava entre mim e ela, como se fossemos um jogo de ténis. Suspirei profundamente ao não obter a resposta dela. Não sabia bem porquê, mas ela não parecia se sentir lá muito bem… O que teria acontecido?
Aproximei-me da cadeira que tinha colocado ao lado da cama, observando por momentos aquele que conseguia tirar-me deste mundo e fazer-me sorrir. O único problema é que agora estava a dormir por minha culpa. Sempre detestei aquela teoria das consequências, mas mais uma vez ali estava. Mais uma vez tentava mostrar-me o quanto podia se tornar real. A poltrona para mim era demasiado leve, tão leve como neste momento tinha a minha cabeça. Nada de Carmen, nada de Dean, nem de Beth… Estava no meu segundo de paz, aquele que se quebrou mal pousei a poltrona frente à janela e me sentei nela, tentando captar novamente aquele leve momento de inconsciência. Mas em vão…

Elisabeth continuava imóvel, com os seus braços cruzados sobre o seu peito que arfava de raiva. Mas o que raio se passava com ela?! Prioridades… Era nisso que tinha de pensar agora.
Meu olhar se atravessou imediatamente dela para Dean. Ainda esperava pela minha ideia, por alguma razão, continuava a pensar… E, sinceramente, isso não me alegrava nada. A teimosia era algo que tínhamos em comum e eu sabia que ele não acabaria este dia sem que conseguisse o seu objectivo. Era um acto de coragem, porém, de uma tremenda e profunda loucura que o ia levar certamente à morte. O que era exactamente o que ele queria.
Mas certamente Carmen jamais aceitaria a sua decisão.                                           
- O que foi que ela disse? – Perguntei-lhe, segurando as minhas mãos uma na outra.
- Ela teima em não transformar-me. – Respondeu-me exactamente o que eu calculava. Beth revirou o olhar, sem conter a sua irritação, hoje seria complicado ser-se humano perto daquela bruxa irada.
- Não admira, é uma péssima ideia. – Suspirou profundamente, como se estivesse a falar com um idiota, e talvez seria mesmo isso que lhe passava pela cabeça. - Sinceramente, eu não vos percebo…
- O que tem? – Disse ele, rispidamente.
- É estúpido! Desde quando isto acontece… - Começou ela por dizer, sendo logo interrompida.
- O quê? – Perguntou-lhe, começando por alterar-se também. Os ânimos estavam exaltados e Dean sentiu na pele o que, em tempos, eu tinha pedido para sentir. Mal tudo começou, levantei-me e toquei no ombro dela. Um ser humano nunca teria energia suficiente para aguentar com as sequelas por muito tempo, estava na hora de pará-la.
- Beth…- Avisei-a observando o seu olhar profundamente, a raiva ia diminuindo lentamente e então ele ficou livre. – Deixa-nos, por favor. Vai acalmar-te.
Observei-o por momentos, vendo o característico sorriso que tentava demonstrar confiança. Mas tanto ele como eu sabíamos que isso não era verdade.
- É verdade! Humanos a namorar vampiros. Isto vai de mal a pior… - Continuou ela, um pouco mais calma. Porém a tensão continuava demasiado pesada…
- Lamento, se nem todos podem ser amargos e ressentidos como tu. – Respondeu-lhe Dean, intrigado com toda esta situação. Tanto como eu. O que passaria pela cabeça de Beth? Brevemente teria uma conversa com ela, mas não agora.
- Não me conheces. – Ripostou-lhe ela.
- Não tenho tenções de o fazer. – Continuou ele, desencadeando nela a raiva novamente. O corpo dele começou a curvar-se, mas nenhum gemido saía dos seus lábios. Eu bem sabia que ardia por dentro, sentindo cada parte de si a ferver, deixando que tudo deixasse de ter qualquer sentido sem ser aquela dor picante e forte que se tornava universal em cada célula dele. Cada pedaço de si iria gemer, cada parte do seu corpo iria ficar marcado demais caso não parasse a tempo. Meu agir foi rápido, mas não o suficiente para travar parte do que lhe estava a acontecer.
- Chega! – Exclamei, segurando fortemente o seu pulso, onde ela tinha a sua pulseira. Ela bufou, e olhou para mim. Por segundos vi que ela ponderava a atacar-me para puder acabar o que tinha começado, eu apenas esperei. Ela acabaria por se acalmar, apesar de neste momento não ser possível sequer ouvir-me direito. - Deixa-nos, por favor. Vai acalmar-te.
Saiu rapidamente pela porta, sem sequer olhar para trás. Eu bem sabia que as coisas iriam piorar, ou, simplesmente, ela fosse causar algum acidente perto da cidade para tentar acalmar-se. Caso me esperasse, eu mesma a ajudaria a libertar-se um pouco de tudo o que se passava com ela, liberta-la do que raio se passava com ela.

- Ela não vai mudar de ideia, Dean. A Carmen pode não estar no topo da minha pirâmide de considerações mas, uma coisa posso dizer, que admiro nela é o facto de ser tão obstinada. Quando mete uma ideia na cabeça não desiste…
- Não é ser obstinada mas, sim teimosa, arrogante e dona da verdade. – Eu sabia que em parte era verdade o que ele dizia, mas não podia apoiá-lo, não com Carmen tão perto. Já bastava o que estava a ouvir, não queria certamente atirar-me a ela como da última vez. Já tinha a minha dose de consequências por hoje. O meu olhar escapou mais uma vez para a cama, fazendo com que as minhas mãos se apertassem mais.
- Se, tu o dizes, Dean. – Suspirei, sentia-me cansada deste dia…
Voltei para perto da janela e sentei-me mais uma vez. Porque o dia não podia terminar mais cedo? Era um sonho que se tornaria realidade… Ele também suspirou, talvez ele mesmo já tinha pensado nessa situação. Ou então tivesse uma outra hipótese. Afastei rapidamente da minha cabeça a ideia de ajudá-lo, não seria correcto.
- Ela não o vai fazer, pois não? – Era mais uma afirmação do que uma pergunta.
- Conhece-la melhor que eu, diz-me tu. – Seu olhar tornou-se reflectivo, seus passos começaram a mover-se pelo quarto. Só esperava que a Carmen conseguisse superar tudo e ajudá-lo, não era uma questão de infantilidade, era algo muito mais universal que isso. Ela podia ter consciência disso ao ouvi-lo, ao sentir tudo o que ele neste momento lhe mostrava, mesmo que inconscientemente.
Os seus passos ecoaram pelo quarto, o seu coração batia mais devagar.
- Não, não vai… - Rapidamente a sua expressão alterou-se, como se lhe tivesse ocorrido uma ideia melhor. E eu não gostava muito da sua expressão… - A não ser que… - Parou por momentos, aproximando-se mais um pouco. Definitivamente não seria uma boa ideia. Prendi a respiração por momentos - Que tu o faças.
Fiquei completamente imóvel, o ar decidiu não entrar mais sobre os meus pulmões. Veio-me à cabeça Henry, quando decidi fazer com ele o que Dean me pedia. O seu sorriso ainda conseguia perturbar-me, aquele que deixou em mim quando seu corpo simplesmente abandonou o mundo de vez. O que tinha eu feito? Fora um erro que lhe custou até a própria morte. Tentei tirá-lo da minha cabeça, principalmente seus últimos momentos. A minha tentativa de acabar comigo tinha simplesmente falhado, nem para desaparecer de vez servia…
Minha atenção voltou-se para Eric, prostrado entre os lençóis, que se tornara o meu próximo erro. Deran permanecia frente a mim, à espera da minha reacção.
- Estás maluco?
- Oh Sheftu… - Começou ele por pedir suavemente.
- “Oh Sheftu” nada! Tu és meu amigo, tudo certo mas, daí a transformar-te? Não és meu, és da Carmen!
- Formalidades. – Refutou ele.
- Não, regras! – Disse, com uma leve esperança que ele compreendesse os problemas que iriam surgir daí. - É a ela que cabe esse feito e não a mim. Seria… - Minha mente perdeu-se rapidamente, ao recordar-me do que tinha acontecido da última vez que Eric tinha acordado, essas imagens teimavam em não sair da minha maldita cabeça! E agora, estava ali ele, novamente inconsciente naquela cama, por minha culpa.
- Seria? – Repetiu Dean, esperando que eu prosseguisse.
- Traição! – Fiz uma breve pausa para que ele pudesse ter tempo para conseguir entender a situação. - Tua para com Carmen e minha para com Eric. Nem pensar! Pede a outra pessoa.
- A quem? À Samantha? – Disse, completamente recoltado. - Ela anda com a cabeça sabe-lá-Deus aonde, como poderia pedir a ela? O Lawrence está morto e, para além disso dispensaria mais ligações com ele…
- Como assim? – Não sabia bem porquê, mas ele parecia ter algo a me contar e que era importante. Mas demoraria o seu tempo a fazê-lo. E tempo era o que não me faltava, até que passava muito lentamente… Demasiado até…
- Esquece! – O que era mais uma confirmação de que existia algo mal esclarecido, juntamente com a sua pulsação acelerada. - Por favor. Não me obrigues, a andar por aí a oferecer o meu pescoço! Peço-te porque és minha amiga.
A minha parte humana, por mais ínfima que fosse, queria ajudá-lo. Afinal de contas éramos amigos, isso tinha de valer alguma coisa. A Carmen podia odiar-me, e talvez este fosse o pequeno rastilho para alterar a sua opinião sobre tudo isto… Era possível que fosse uma boa ideia. Caso não resultasse, levaria a minha decisão até ao fim.
- Tudo bem. – Disse-lhe, suspirando profundamente sem olhá-lo de frente. Estava disposta a matá-lo se ela não o fizesse por ele.
- A sério? – Perguntou-me, mostrando a sua alegria ainda meio decrescente.
- Tudo bem. – Repeti, mais firmemente e olhando-o nos olhos. Ouvi de longe um grunhido de raiva. Pelo menos parte da ideia funcionava, ela continuava a odiar-me. - Agora, tu entende-te com ela. Não quero aquela ruiva perto de mim, senão para além de seres vampiro viras viúvo.
Fora a gota de água e eu sabia disso. Não tardou muito até que ela aparecesse completamente cega pela raiva, capaz de explodir sobre nós os dois. Já não haveria porta para a próxima vez, além das paredes ainda mostrarem a última linda conversa que tínhamos tido.
- ESTÁS A GOZAR?! – Observei-a atentamente, talvez mudasse mesmo de ideias. Por ela nunca haveria sequer uma amizade entre nós. - ELA?!
- Ela está mesmo aqui. – Disse, para que o Dean tomasse consciência dos problemas que agora teria de enfrentar, e também um pouco para picá-la. Quanto mais irada, mais rapidamente o diria. Apenas um pouco de pressão e tudo mudaria.
- Faz-me um favor e, cala-te por uma vez, que isto nada tem a ver contigo! – Respondeu-me torto, pronta para mais uma briga. Não, não estava com paciência para tudo isto.
- Então, sai do meu quarto. – Seu corpo enraivecido rapidamente afastou-se, saindo por cima da porta. Dean continuava ligeiramente imóvel e olhou para mim. – Boa sorte com isso… Espero que consigas o que queres.
- Obrigado Shef… Por tudo.
- Vai lá… - Sorri-lhe, vendo-o sair.

Só me restava esperar para ver o que iria acontecer. Agora era a altura para outros problemas. E este dia que nunca mais acabava! O próximo problema tinha um nome muito característico, tão característico como enfurecido: Elizabeth

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