Immolation Season - Ep 13, Carmen
Carmen ainda não conseguia aceitar-se como era - um monstro, e agora Dean desejava transformar-se num. A qualquer custo, nem que tivesse de se aliar à sua pior companheira nos dias de hoje: Sheftu. Mas não era apenas esse o problema, parecia que haviam novas alianças que ela nem imaginara que existissem. Para onde tudo isso a levaria? O que aconteceria ao Dean, seu amado?
"Decisions, Decisions..." by Carmen Montenegro
O tempo passou e eu deixei-me ficar ali, quieta. A pensar e
a pensar. Santiago queria os livros de Lawrence, ele sabia do seu conteúdo e
sabia do poder que aí advinha, por isso não desistiria tão facilmente. E eu nem
sabia onde eles estavam metidos! Sem falar em Julian, que agora regressara dos
mortos com, a sua sede de vingança e a vontade de ver a minha cabeça numa
bandeja redobrada. E, Dean…ele iria pedir a Sheftu para transformá-lo.
Subitamente, tive uma imagem de um Dean sanguinário e mau que nem Sheftu. Não!
Estava na cave. Não, há bocado não tinha cá estado, pelo
menos não fisicamente mas, sim numa espécie de sonho. Outro truque de Santiago.
Filho da mãe, adora brincar.
A porta abriu-se, ouvi passos a descerem as escadas e Frankie
apareceu.
- Olha para ti, toda escondida na cave - Gozou ele. Eu ri-me
e, continuei sentada ao canto.
- Que fazes aqui?
- Vim fazer-te companhia, pá! Achas que ia deixar-te aqui no
escuro, sozinha? - Perguntou. Caminhou e veio sentar-se ao meu lado. - O que te
preocupa?
- O Dean…
- Oh, o louco do meu primo…
Voltei-me para Frankie.
- Tens que fazê-lo mudar de ideias. Mostra-lhe que isto não
é bom! Mostra-lhe o teu lado de caçador!
Frankie encostou a cabeça a parede e fechou os olhos, largou
um suspiro, para depois olhar para mim.
- Ouve, Carmo, o Dean é mais velho que eu, já é raro
tratar-me como um adulto competente e, agora queres que o mande mudar de ideias
em relação a algo que, ele já está mais do que decidido a fazer? - Perguntou. -
É impossível. E, acredita, quando ele me contou pela primeira vez, eu fiquei
estarrecido e sabe Deus as discussões que tivemos para que mudasse de ideias. Mas,
quando ele me explicou que não via outra solução para ficar ao teu lado…eu
compreendi.
- Ele é tua família.
- Certo, é! Por isso, é que não me vou meter. É a escolha
dele e eu já passei por essa fase de dizer que isto é uma péssima ideia e tudo
mais mas, ele não ouve. Nunca ouve! Portanto, prefiro gastar a minha saliva
noutra coisa…
Encostei-me a parede.
- Nunca o fiz.
Frankie olhou para mim.
- Nunca transformaste ninguém?
- Nop.
- Hum…sabes como se faz, certo?
- Não sou idiota, já vi mas, nunca fiz! - Exclamei. - Eu
detestava quem eu era, agora e ainda tenho dificuldades em lidar com isto,
agora imagina transformar outra pessoa? Nem me aceito a mim mesma, imagina
ensinar um outro a fazê-lo.
- Acredito.
- Para além disso, tenho medo que corra mal. Que ele se
esqueça de quem é…ou que eu não pare a tempo de lhe dar o meu sangue…sei lá,
tanta coisa, Frankie! - Exclamei chateada. - Tenho medo de matá-lo mesmo. Nunca
fiz tal coisa.
- Então, sendo assim…- Frankie pigarreou. - Talvez seja
melhor outra pessoa fazê-lo, certo? - Eu abri um sorriso sarcástico. - O que
foi?
- Ele quer pedir a Sheftu.
- Eu avisei-te.
- Não é o conforto que procurava, Frankie.
- Mas, é verdade. - Senti-o a mexer-se. - Se não queres
transformá-lo porque tens medo e, o Dean não quer mudar de ideia, não vejo
melhor solução…
Olhei para ele como se tivesse proferido a maior asneira de
sempre.
- Mas, tu ‘tás doido? Achas que vou deixar a Sheftu encostar
aquelas presas mumificadas no Dean? - Fui outra vez assolada pela imagem do
Dean igual à Sheftu. - E, se ficam os dois iguais? Achas que eu aguento uma
Sheftu II? - Frankie alargou um sorriso. - Não te rias que não tem piada!
Tentou disfarçar o sorriso mas, continuava a ver os cantos
da sua boca elevados.
- Okay, okay mas, ouve, não tens outra solução e olha que
ele vai mesmo pedir a Sheftu, isto se já não pediu! - Largou um sonoro suspiro.
- Eles agora estão muito amigos.
Perscrutei a cara de Frankie com curiosidade. Dean e Sheftu
amigos? Ela que no início queria a cabeça dele? Eu ainda não tinha engolido a
súbita amizade daqueles dois, simplesmente não a aceitava e irritava-me
bastante.
- Amigos, não é?
- Hum hum…
- Tantas pessoas para fazer amizade, vai-me escolher aquela
loira das pirâmides! - Suspirei. Peguei no meu cabelo e comecei a enrolá-lo no
dedo. Senti o olhar de Frankie sobre mim, novamente com um sorriso nos lábios. -
O que foi?
- Sabes no quê que eu acredito, piamente? Que tu e a Sheftu
um dia, não muito longe, vão ser as melhores amigas.
Eu olhei para ele com espanto, depois larguei uma sonora
gargalhada.
- Oh Frankie! Também deixas bolachinhas e leitinho para o
Pai Natal?
- Olha, pode acontecer…
- Nunca vai
acontecer. Há probabilidades de uma bomba atómica cair em cima de nós agora, do
que eu e a Sheftu sermos amiguinhas e brincarmos às casinhas, num futuro
próximo. - Respondi secamente. Só de imaginar já me vinha a bílis à boca.
Caímos os dois no silêncio, apenas ouvia o coração de Frankie martelar contra o
seu peito e o sangue a voar nas suas veias.
Frankie levantou-se
de um salto.
- Vamos embora.
Mantive-me no meu lugar.
- Vamos aonde?
- Lá para cima! Nem pensar que vou deixar-te ficar aqui
sozinha.
Quando chegamos lá acima, Frank logo se moveu depressa.
- Onde vais?
- Eu? Dormir! - Exclamou. Encaminhou-se para a porta de
saída.
- Frankie, há quartos lá em cima.
- Nãh, prefiro dormir no meu carro. - Voltou-se para mim e
caminhou de costas. Mandou-me um beijo sonoro e saiu porta fora.
Girei sobre mim mesma e subi as escadas, que davam para o
andar de cima. Percorri o corredor que estava em silêncio, virei à direita mas,
ao invés de entrar no meu quarto, apanhei uma conversa.
- O que foi que ela disse? - Perguntou a voz de Sheftu. Eu
encostei-me a parede. Conseguia distinguir o bater de coração de Dean, sentia
Sheftu ali perto, Eric apesar da sua presença ser quase invisível e mais uma
pessoa…
- Ela teima, em não transformar-me. - Respondeu Dean.
- Não admira, é uma péssima ideia. - Ah! Já sabia quem era.
Elizabeth ou Beth, o cão de guarda de Sheftu. - Sinceramente, eu não vos percebo…-
Apanhei um tom de reprovação.
- O que tem? - Dean estava pronto para o ataque.
- É estúpido! Desde quando isto acontece…
- O quê?
- Beth…- Sheftu avisou-a.
- É verdade! Humanos a namorar vampiros. Isto vai de mal a
pior…
O coração de Dean batia forte contra o seu peito.
- Lamento, se nem todos podem ser amargos e ressentidos como
tu. - Eu ri-me perante aquela resposta.
O silêncio breve de Beth mostrava perigo.
- Não me conheces.
- Não tenho tenções de o fazer.
- Chega! - Não sei o que tinha acontecido mas, o coração de
Dean continuava a bater com força. Havia tensão no ar. - Deixa-nos, por favor.
Vai acalmar-te.
Vi a sombra de Beth, aproximar-se da saída e, tratei de
entrar no quarto rapidamente. Meti-me atrás da porta, enquanto ela passava.
Contei até 10 para dar tempo para que se afastasse. E, quando não conseguia
senti-la mais, saí detrás da porta novamente, para o corredor.
- Ela não vai mudar de ideia, Dean. A Carmen pode não estar
no topo da minha pirâmide de considerações mas, uma coisa posso dizer que
admiro nela é o facto de ser tão obstinada. Quando mete uma ideia na cabeça não
desiste…
- Não é ser obstinada mas, sim teimosa, arrogante e dona da
verdade.
- Se, tu o dizes, Dean.
Ouvi-o o suspirar pesadamente.
- Ela não o vai fazer, pois não?
- Conhece-la melhor que eu, diz-me tu.
Os seus passos ecoaram pelo quarto, o seu coração batia mais
devagar.
- Não, não vai…- Respondeu para si mesmo. Estaria Dean a
desistir ou a preparar terreno para o passo seguinte? - A não ser que…- Oh não!
- Que tu o faças.
Sheftu permaneceu em silêncio durante eternidades. Conseguia
imaginar a expressão na sua cara, puro espanto!
- Estás maluco?
- Oh Sheftu…
- “Oh Sheftu” nada! Tu és meu amigo, tudo certo mas, daí a
transformar-te? Não és meu, és da
Carmen!
- Formalidades.
- Não, regras! - Exclamou Sheftu. - É a ela que cabe esse
feito e não a mim. Seria…- Ela calou-se abruptamente…
- Seria?
- Traição! - Exclamou. - Tua para com Carmen e minha para
com Eric. Nem pensar! Pede a outra pessoa.
- A quem? À Samantha? - Exclamou chateado. - Ela anda com a
cabeça sabe-lá-Deus aonde, como poderia pedir a ela? O Lawrence está morto e,
para além disso dispensaria mais ligações com ele…
- Como assim?
O coração de Dean bateu mais depressa. Ele escondia qualquer
coisa.
- Esquece! - Exclamou. - Por favor. Não me obrigues, a andar
por aí a oferecer o meu pescoço! Peço-te porque és minha amiga.
O silêncio de Sheftu, dizia-me que ponderava. Ela estava
mesmo a pensar em transformá-lo. A imagem de um Dean igual à Sheftu assolou-me.
Não podia permiti-lo. Se, Sheftu, transforma-se Dean ia tornar-se como ela!
Não! Mas, se a Sheftu, fosse de facto alguém com tacto, diria que não. Diria:
Raios, não! És da Carmen, resolve com ela.
- Tudo bem.
O quê?!
- A sério?
- Tudo bem. - Anunciou Sheftu. - Agora, tu entende-te com
ela. Não quero aquela ruiva perto de mim, senão para além de seres vampiro
viras viúvo.
Avancei corredor fora e bati na porta. Senti-a partir sobre
a pressão do meu soco.
- ESTÁS A GOZAR?! - Tanto Dean e Sheftu olharam para mim. - ELA?!
- Ela está mesmo aqui. - Respondeu Sheftu calmamente, sentada
no cadeirão junto a janela.
- Faz-me um favor e, cala-te por uma vez, que isto nada tem
a ver contigo!
- Então, sai do meu quarto.
Olhei para Dean e saí do quarto disparada. Entrei no meu
quarto e fiquei a sua espera de braços cruzados. Não tardou a aparecer, com
passo lento e ares de importância.
- O que foi?
- Não acredito, que vieste pedir a Sheftu.
- Eu disse-te. - Respondeu-me na maior das calmas. - Olha,
eu não estou contente. Preferia que fosses tu a fazê-lo, afinal, é por ti que
faço mas, tu não cedes…
Sentei-me na cama com a cabeça entre mãos. Tentava
controlar-me, perante a ideia de dar um enxerto a Dean. Ouvi-o fechar a porta,
logo a seguir caminhar para mim e ajoelhar-se a minha frente. Agarrou as minhas
mãos, senti o calor das suas mãos e, apesar de recusar o seu contacto a início,
ele agarrou-mas com firmeza. Levou as mãos ao seu peito e a seguir olhei no
fundo dos seus olhos verdes. Não consegui resistir a sua beleza. Ele era
simplesmente belo, por dentro e por fora. Aproximei os seus lábios dos meus e
beijei-o.
- Carmen, por favor… - A sua voz intercalava os nossos
beijos. Suave, rouca, acompanhando os seus beijos pelo meu pescoço abaixo e
tocando pelo meu corpo. - Eu vou continuar o mesmo. E, sinceramente, quero que
sejas tu. É por ti que vou fazer…
Separei-me dele e sentei-me direita. Percorri a sua cara com
a minha mão, a linha da cara, o queixo, os lábios…
- Merda....
- Isso é um sim?
- Antes eu que a Sheftu.
- A sério?
Dean abriu um sorriso. Ia beijar-me mas, afastei-o.
Levantei-me, e abri a porta para que ele saísse.
- Não estou feliz com isto. Apenas, o faço para que a Sheftu
não o faça, apesar da vossa estranhíssima amizade, ela nada tem a ver com o
assunto. - Olhei para Dean, mostrei-lhe o meu maior descontentamento.
Ele levantou-se.
- Carmen, vá lá…
- Importaste de sair? Eu tenho que me preparar para isto e,
tu devias fazer o mesmo. - Disse. Dean passou por mim mas, antes de sair
deixou-me um beijo na cabeça e largou-me umas palavras mágicas expressando o
seu amor mas, não lhe dei resposta verbal. Ele sabia, consegui ver nos seus
olhos.
Assim que saiu do quarto, eu caí no chão,
encostada à porta. Não tinha tenções de me mexer. Apenas uma frase passava em
rodapé na minha cabeça, na voz da minha consciência. “Dean, vai ser vampiro. E,
tu vais fazê-lo. Bom trabalho!” Oh, sim! Bom trabalho, Carmen!
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