Immolation Season - Ep 11, Sheftu

As emoções eram demasiado verdadeiras, para aquela que jamais ousava voltar a sentir. O passado voltaria, disso ela não teria dúvidas. E, ironicamente, agora Sheftu tinha um relacionamento estranho com Dean. Um caçador, um humano. Pior que isso seria o que ele desejava fazer, e o que tudo isso iria implicar.

"You Can Die But You Can’t Die Forever" by Sheftu Nubia

O tempo parecia eterno, por mais que passassem as horas, era uma sensação de eternidade que passava sobre a minha cabeça no momento. As soluções teimavam em não querer chegar, transformando-se em utopias desejadas por completo em minha vida – caso eu possa chamar desse modo.
O clima pesado deixava todas as emoções perdurarem por mais tempo, prolongando a sensação de culpa. Sim, eu era culpada de toda esta situação como se já não bastasse a sua fraqueza. Tinha de acabar por piorar tudo, despedaçá-lo sem que restasse nada além do erro, aquele que se torna tão derradeiramente eterno.
Dentre gemidos de dor, a sua mão aproximava-se firmemente sobre a minha pele, deixando que seus dedos repousassem sobre a minha face. Dolorosa doçura, aquela que se atravessa sobre o seu olhar que me cativa cada vez mais, Eric…
Não, não quero sentir-te em mim sabendo que te magoei. Dói demais saber que a tua vida é a coisa mais importante na minha morte, dói demais sentir agora os teus lábios que tentam acalmar-me, logo eu… Mesmo fraco, és mais forte do que eu. Nem morrer posso, por mais estacas que tente espetar sobre o meu peito, o coração sobrevive, mesmo morto, mantém-se firme e deixa-me aqui… Odeio-me por amar-te tanto, causa da tua maldição, causa da minha tortura. Gostaria de sorrir por nós, mas eu sinto o que se aproxima. Existe uma enorme neblina, eu sou a causadora, a única culpada pela nossa morte.
 - Não te culpes… - Talvez fosse um sussurro, misturado sobre os nossos lábios, sem que realmente algo fosse dito, não eram necessárias palavras. Tinha de agir, deixar que tudo voltasse ao normal e pudesse finalmente libertar-me de mim. Deixá-lo ir-se, deixando que cada parte de mim se parta por completo. Ficar apenas eu, só, irremediavelmente perdida. – Jamais o faças. – Disse-me, afastando-se de mim o suficiente para que eu observasse o seu olhar sério e magoado. Eram nestes momentos que eu desejava que ele não conseguisse ler a minha mente. Ele queria uma promessa que eu não poderia dar.
Tentei abraçá-lo suavemente, sem que o fizesse gemer de dor, sentindo a sua pulsação ritmada sobre a minha morte gelada. Fechei o meu olhar, enquanto aproximava a minha pele da dele. O seu calor me acalmava e levava-me para um outro mundo em que tudo parecia ter menos importância. Eu ia falar-lhe, meus lábios se entreabriam para que as palavras pudessem ser ditas. Mas foram uns lábios quentes que se aproximavam, cativando e enlaçando todas aquelas letras que se esfumavam sobre a paixão avassaladora deste beijo.
Instintivamente minhas mãos se aproximavam do seu ombro ferido, fazendo-o contrair-se. Era como se parte de mim se desfizesse em mil bocados, entregando-se por completo às lágrimas que se faziam fortes e eternas. A sua respiração se tornou ligeiramente ofegante enquanto o seu coração batia descompassadamente. Eu não sabia o que estava a fazer, apenas o sentia. Sentia também o líquido que escorria sobre o meu rosto, tentando libertar-se e deixar-me livre, nem que fosse por segundos.
Aos poucos, tudo voltou ao normal. A sua respiração se tornava lenta e calma, enquanto o seu coração tocava a sua habitual harmonia que tanto costumava acalmar-me. Deixei o seu corpo nu sobre a cama, coberto pela seda e mantas que o manteriam quente. Não podia deixar que a minha gélida condição piorasse o seu estado. A única coisa que desejava no momento era que ele conseguisse recuperar a sua vitalidade de sempre. Que voltasse a ser aquele idiota que se tinha tornado a minha maior tentação, o meu maior tesouro.

E aqui estava eu, esperando sobre a poltrona que se mantinha perto o suficiente do seu sono velado. Na minha mente criava uma tempestuosa sensação de culpa, fúria e um completo desespero. Que poderia eu fazer mais? Usara a sua vida para que a minha morte permanecesse mais real, transformei-o num ser meio-morto, que mais deseja juntar-se à morte do que permanecer vivo. Só um monstro pode desejar continuar com tudo isto, mesmo sabendo que um simples descuido pode tornar-se letal. Não só para a vida de Eric, mas também para o que resta do ser humano que permanece vivo nas minhas memórias, aquele que agora se desperta a cada lágrima continuada que teima em molhar o meu rosto.
Havia uma presença que se aproximava do meu quarto, um humano que eu tão facilmente reconhecia. Quem diria que eu, Sheftu Nubia do século 2615 do antigo mundo, iria alguma vez nutrir por uma amizade com um ser humano, homem e caçador de seres como nós. Era irónico, jamais iria calcular que algo assim fosse possível comigo.
Rapidamente uma sombra surgiu da soleira da porta. Dean parecia afundado em pensamentos, até que o seu olhar passou sobre o local onde eu estava, transmitindo uma ligeira preocupação. Observou lentamente a cama, em que Eric agora repousava.
- Alguma novidade? – Perguntou-me ele, aproximando-se lentamente de mim enquanto observava o quarto. Como se desse conta que algo estava diferente. Não, não havia nada a ser feito para que a situação melhorasse. Por mais tentativas que pudessem existir.
- Acho curioso… - Comecei eu por dizer, observando os seus movimentos enquanto ele continuava a aproximar-se de mim. Teria ele ouvido a minha voz ao passar perto deste quarto? Rapidamente me imaginei numa daquelas minhas noites…

Era um som alto e firme que se ouvia sobre a noite, seguiu eu, correndo com os meus pequenos passos, sorrindo e procurando aquela doce voz que iluminava a noite. Há muito tempo que não conseguia ouvir claramente esta melodia, não estivesse ela morta há tanto que minha mente a escondia sobre as minhas velhas sensações. Quem diz que um vampiro não se recorda do passado mente. Nós é que não o queremos recordar, deixar que a antiga liberdade nos deixe mais conscientes desta nossa eterna prisão.
A melodia parou no momento em que seu sorriso se voltou para mim. Seus braços se abriram e eu corri, encontrando-me em seus braços. Então nós dois nos voltamos para as estrelas, sentados sobre uma muralha, rodeados de beleza e saudade. Sua voz se fez firme, ao longo da minha que tentava acompanhá-lo. Não existiam palavras, não existiam memórias, apenas duas vozes que me transportavam para um outro tempo.
Algo quente passava sobre a minha pele, descendo sobre as maçãs do meu rosto. Apenas a minha voz se ouvia agora, enquanto meus passos decididos avançaram pelo vale dos reis, parando sobre uma parede que me parecia familiar. Senti um abraço forte, depois de um leve abanão que tentava levar-me para longe, mas eu não queria, tinha de seguir em frente, mesmo que não soubesse porque eu estava ali.
- Agora é a tua vez… - Era um sopro do vento que me rodeava, fazendo com que gemesse enquanto meu corpo estremecia, sentindo cada vez mais um abraço forte.
- Estás bem? – Perguntou-me uma voz, fazendo com que o meu olhar se abrisse de novo para a realidade. Era Dean que agora falava, repetindo novamente a pergunta, continuando a segurar os meus ombros com segurança. Seu sangue pulsava nas suas veias num ritmo calmo, mas que era o suficiente para me dizer que não era mais humana.
- Estou, dentro dos possíveis. – Disse-o. Sua mão passou sobre a minha face, seus dedos moveram-se rapidamente para a sua língua, arregalando os olhos, surpreendido. – Sim, são lágrimas. – Fiz um breve silêncio e suspirei. – Não, eu não sei o que se passa comigo. Ando à luz do sol sem qualquer problema, estacas de madeira mal me magoam e muito menos com pontas de prata. Não sei o que sou nem posso te dizer o que aconteceu.
- Mas isto é incrível! – Disse ele, afastando-se e andando de um lado para o outro como se estivesse a pensar em algo.
- Incrivelmente insano. Tens de me prometer que ninguém fica a saber disto. Não quero que saibam todas estas mudanças que estão a acontecer. Não tenho resposta a tantas perguntas que se formam sobre a minha cabeça e só quero paz.
- Tudo bem. Podes contar comigo. – Seu sorriso cresceu quando parou à minha frente, estendendo a sua mão para que eu me levantasse. – Mas também não podes ficar aqui à espera das respostas. Eu ajudo-te a encontrá-las.
Meu olhar se moveu para o Eric que permanecia deitado sob os lençóis, tanta coisa que já tinha acontecido desde que ele tinha estupidamente entrado na minha vida. Não o podia deixar sozinho, não depois de tudo o que tinha acontecido, ele ainda não estava recuperado.
- Eu sei que não o podes deixar assim sozinho, mas nós arranjaremos uma forma de resolver tudo. – A sua voz fez-me observá-lo novamente. Havia algo que ele não me tinha dito ainda.
- O que se passa? Pareces estranho…
- Preciso da tua opinião. – A sua expressão mudou completamente, algo naquela cabeça não estava bem.
- Não sei porquê, mas parece-me que é algo que a tua Carmen não gostará muito. – Fez-se um silêncio, até que eu continuasse. – O que se passa pela tua cabeça, Dean?
- Decidi que não quero ser mais fraco. Prefiro juntar-me a vocês e puder ajudar sem que me torne sempre um alvo a abater.
- Tu sabes o que lhe estas a pedir, Dean? Ela se pudesse tornaria a ser humana, e tu estás a querer tornar-te o que ela mais detesta.
- É a única opção que acho acertada… Tu não?
Não consegui responder. Essa pergunta fez-me pensar no Eric. E se fosse ele? O que eu diria? Não é simples pensar em que alguém poderá tornar-se imortal e permanecer do nosso lado para sempre. Mas estará morto, apesar de ser quase o mesmo existirão sempre partes que morrem junto com o corpo. Eu não sei… Será que é o mais acertado? Ser egoísta é querer a morte de alguém para que seja eternamente nosso. Mas que sequelas traria esse risco? Sempre existiram consequências… Sempre.

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