Immolation Season - Ep 10, Carmen

Carmen teria de enfrentar a realidade, agora que voltava para a casa - que, ironicamente agora era sua. Já não bastava o problema que agora aparecera com Santiago, o seu amado filho e a outra que os seguia para todo o lado... Agora também Dean tinha de se tornar mais um problema, ele e todos os outros. A sua única vontade era desaparecer de cada um desses problemas. Será que ela iria conseguir?

"I ♥ U" by Carmen Montenegro

Acordei de sobressalto. Os meus olhos focavam o céu já claro da madrugada. Ergui o meu tronco da terra e olhei em volta, à espera de ver qualquer coisa mas, nada…
Levantei-me do chão rapidamente, e tudo permanecia na mesma. A floresta não mudara, tudo se movia conforme a ordem natural das coisas e nenhuma sombra estranha, sinal da magia negra de Santiago, andava por ali.
Percorri o caminho de volta até casa, desta vez vendo muito bem onde pisava e tentando, por todos os meios não me lembrar da noite passada. Demorou menos tempo do que pensava, o regresso a mansão e, assim que estava fora da floresta, vi ao horizonte o sol a nascer devagar. Tinha que voltar para dentro, desta vez dei a volta e entrei pelas traseiras. A porta lá de trás estava sempre aberta, era o caminho preferido de Vladimor, por isso não valia a pena trancá-la.
Entrei, mal o fiz, vi Dean sentado no balcão com um rádio ao colo, eu olhei para ele de soslaio e continuei o meu caminho.
- Não vás muito longe. - Parei ao som da sua voz. Estava frio, conseguia ouvir o seu coração bater fortemente contra o peito. - Onde andaste?
- Por aí?
- Por aí? Hum… Fizeste alguma coisa para além de dar a tua volta?
- Raio de pergunta, Dean.
Voltei ao meu caminho.
- Quero que oiças isto.
Voltei a parar. Girei sobre mim mesma e olhei para Dean, ele desceu do balcão, dirigiu-se a mim e colocou o rádio em cima da mesa, mesmo entre nós. Rodou o botão do volume e cravou os olhos em mim. Depois de muito ruído ouvi uma voz masculina num sotaque cerrado escocês:
- Central, daqui Agente O’Connel 1098, a reportar um 187 na rua Crowning, entre Dashlow e Bernay. Três vítimas, homens entre os 30-40 anos, caucasianos encontrados mortos no meio da rua. Pedimos reforços e ambulância. Escuto. A resposta foi rápida.
- Daqui Central, ambulância e reforços a caminho. Tempo estimado 20 minutos, Agente O’Connel. Escuto.
E, o agente não demorou a resposta.
- Certo, Central. Fim de comunicação.  
Durante toda aquela conversa, Dean olhava para mim com os olhos carregados de raiva. Desligou o rádio e ficou somente a encarar-me.
- Uau…pobres coitados…- Afastei-me do balcão. Eu sabia quem eram aqueles dois, apesar de ter passado grande parte da noite inconsciente, ainda me lembrava do banquete alucinante daquela noite.
- Diz-me que não foste tu.
 A raiva tinha desaparecido, aquele tom era de tristeza e desilusão. Engoli em seco antes de me voltar.
- Não fui eu.
Dean bufou, deu-me as costas e voltou-se para o balcão.
- O que se passa contigo?
- Nada.
Ele voltou-se para mim com rapidez tal que me espantou. Veio até mim com duas passadas, fechou as mãos à volta dos meus braços e abanou-me.
- Nada? Olha para ti! Estás louca desde que encontraste aquele maldito Diário!
Eu larguei-me de Dean empurrando-o contra o balcão.
- Estou a aceitar quem sou, Dean Ross. Uma vampira! Fartei-me de ouvir comentários sobre quem eu sou ou finjo ser e, finalmente aceitei este meu maldito destino! E, como boa vampira que sou, às vezes tenho sede e foi o que eu fiz…fui caçar!
- Mataste-os?
- Não, fomos passear no parque e comer gelados!
Dean mostrou-me um olhar magoado, que eu esforcei-me por ignorar o seu ar magoado.
- Gostava mais de ti como eras antes…
Tomei aquela afirmação como um soco no estômago.
- Oh! Gostavas de mim fraca, confusa, com uma guerra pessoal…
- Com sentimentos, Carmen. - Dean aproximou-se de mim e tocou na minha cara. Eu repeli o seu toque, enquanto o seu olhar ainda estava confuso eu recuei.
- Pois, eu gosto de ti como és também, Dean. Humano! No entanto, isso não chega para não quereres ser vampiro!
Afastei-me de Dean, saí da cozinha com fogo nas ventas, pensei em ir para o meu quarto mas, pensei em Sheftu. O nosso último encontro não correu nada bem e, não queria uma sequela. Que outro local, senão a biblioteca.

Cheguei lá e, por Deus, ainda estava em pior estado do que me lembrava. O ar da madrugada entrava pelos vidros partidos, varrendo alguns destroços pelo chão. Suspirei cansada. Lamento, Lawrence o estado da tua casa mas, ainda nem tive tempo para cuidar do mundo em que encontro agora.
Não queria ficar ali, não tardava para o sol sair para brindar os escoceses com o seu brilho, por isso o meu lugar não era ali. Lembrei-me, quando olhei para a minha parede, na porta secreta que ali estava. Saltei por cima de todos os destroços e, quando lá cheguei julguei que já não estava lá mas, a rápida mudança de textura denunciou-a. Recordei que a porta se tinha fechado com violência da última vez que ali estive, portanto para abri-la seria mais difícil. Estava com as mãos apoiadas na porta, à procura de uma maneira de abri-la, quando esta se moveu e abriu-se uns quantos centímetros. Puxei-a com força e a porta escancarou-se. Recebi o ar frio que veio debaixo e olhei para trás. Mesmo a tempo! O sol estava a invadir a biblioteca e eu fechei a porta atrás de mim.
Voltei-me, relembrando as escadas que íngremes que iam dar lá para baixo, desci-as mais ou menos com algum cuidado. Assim que cheguei ao fim, graças à minha memória, encaminhei-me para o sítio onde estava o cordel da lâmpada, puxei…
Sentei-me no chão e, fiquei ali a recuperar forças sob a luz ténue da cave. Não sei quanto tempo ali fiquei, a olhar para aquela lâmpada fraca por cima da minha cabeça. Toda a minha energia, tinha sido esgotada. Estava oficialmente, sem um pingo de força no meu pobre corpo.
Num momento estranho, a luz começou a piscar. A lâmpada falhava a sua emissão de luz…aquilo não era bom sinal…
- Tens algo que eu quero. - Aquela frase não era minha mas, saía da minha boca. Ouvia-me a dizê-la mas, não era eu que falava. - Tens algo que eu quero.
- Não sei…o que queres…- Respondi monocordicamente.
- Os livros. - Disse eu novamente. - Do Lawrence.
- Não sei onde estão.
- Sabes sim. Vais dizer-me.
Senti o meu corpo a voltar à posição sentada e, tinha os olhos cravados num ponto da parede de tijolo. Sentia-me mole.
- Saí de mim, Santiago.
- Não, pelo menos até ter o que procuro.
- Eu não tenho.
Breve silêncio.
- Ele sabe onde está…
- Ele quem?
- Ele…

- Carmen! - Fui agarrada pelos braços, e abanada com violência. Reconheci a cara de Dean perante a minha. Estava no chão frio da cozinha e, via Dean debruçado sobre mim. - Estás bem?
Ele ajudou-me a sentar e, senti a dor percorrer a minha cabeça.
- O que aconteceu?
- Caíste redonda no chão. - Explicou-me Dean. - E, depois começaste a falar…- Olhei para ele em surpresa.
- A falar?
- Sim. - Disse ele. - Parecias que tinhas duas vozes dentro de ti. Foi estranho. De certeza que estás bem?
Olhei para Dean e, acariciei a sua cara. Tomei-o num abraço apertado, de impulso, deixando-me ficar com o nariz no seu pescoço absorvendo o seu cheiro, ouvindo o sangue a correr pelas veias…
Meu Dean.
Porque fui assolada com esta sensação de protecção, não sei mas, simplesmente queria abraçá-lo e, não deixá-lo ir.
Os seus braços abraçaram-me também, o seu calor conjugou-se ao meu frio formando um ambiente perfeito. Tudo isto no chão de uma cozinha pouco usada.
- Eu quero que me transformes... - Disse ele numa fina voz, perto do meu ouvido. Abracei-o mais, tentando, mais do que nunca, ficar com o seu cheiro.
- Pelo amor de Deus…
- Porque…- Ele desmanchou o nosso abraço, mas agarrou a minha cara entre as suas mãos, ficando a poucos centímetros da minha cara. Não conseguia ver o verde dos seus olhos, mantive os meus fechados e, apenas ouvia o seu coração e, sentia o seu hálito fresco contra a minha boca. - Porque te amo! Porque quero ficar contigo, gosto de ti! Olha para mim…- Abri os olhos, assolada novamente pela sua beleza e o verde dos seus olhos. - Não vês que és o mais importante para mim?
- Por favor, não…
- E, se aparece novamente um bando de recém-nascidos e, destrói-me em mil bocados. Não acredito que o Lawrence faça a mesma proeza, duas vezes. Quando começar a envelhecer! Vou parecer o teu pai, no pior dos casos, teu avô…- Beijou-me na testa, o seu calor espalhou-se por toda a minha cara. - Quero deixar de ter frio, quando estou contigo. Quero que quando façamos amor, que seja livremente, sem o medo que me possas magoar…
- E eu quero que fiques humano porque gosto de ti assim. Humano! O teu coração a bater, o teu sangue a correr, o teu cheiro…
- O quê? - Perguntou incrédulo, afastando as mãos da minha cara, atingindo-me em seguida um estranho vazio - Eu para ti não sou mais que um saco de sangue?
Trocamos olhares: Eu em espanto e ele de tristeza.
- Não! - Foi a minha vez que tocar na sua cara. - Não. És tudo para mim.
- Deixa-me ser tudo, sendo igual a ti.
- Por favor.
- Qual é o problema? - Disse ele afastando as minhas mãos. - Tu não podes ficar humana, estás morta! Eu posso morrer e, ficar ao teu lado! - Eu não disse nada. Cravei os olhos no chão da cozinha, contando os azulejos brancos. Dean levantou-se, caminhando para a porta mas, antes de desaparecer parou e, voltou-se para mim. - Ouve, vamos esclarecer isto de uma vez por todas: Ou és tu que me transformas ou eu peço a outra pessoa.
Foi a minha vez de ficar tensa.
- Quem?
- Adivinha...
Apenas um nome veio a minha mente.
- Nem pensar.

- Não vejo outra opção. Tu vês?

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