Transilvania Season - Ep 50, Elizabeth

Beth não fazia a mínima ideia que iria ser tão complicada a sua nova vida junto de Sheftu, quem diria que o seu grupo seria tão louco - ou até mais - que o velho reino de Gustav? Mas, a realidade é que não era essa apenas a sua loucura, o que estaria por vir?

"My New Forever After" by Elizabeth Wood

Todos os casais – terei de repetir que estavam enjoativamente felizes e calmos? – Apanharam táxis juntos, embrenhados nos seus pensamentos e confissões secretas, assim que aterrámos na Escócia, parecendo não se querer dignar a oferecer-me um lugar. De qualquer forma, até lhes podia estar grata.
 Entrei num táxi pequeno, conduzido por um homenzinho com cara de rato. Aborrecia-me tremendamente o facto de ele não tremer e ofegar.
 O homem preparara-se para arrancar quando a porta se abriu de novo.
 O outro humano, que me “cumprimentara” no avião, balançou-se ligeiramente na porá e saltou para o lugar ao meu lado, com um sorriso.
 - Os outros táxis estavam cheios – Justificou, enquanto o motorista reclamava sobre a falta de educação dos jovens.
 - E este também – Reclamei, mas o homem com cara de rato já arrancara, ainda a estrebuchar e a fazer as curvas com demasiada brusquidão. Será que seria muito suspeito se houvesse um acidente terrível e eu escapasse intacta? Talvez isso também matasse o humano, que tentava a todo o custo meter conversa.
 - És sempre assim? – E ainda por cima em Inglês. Era a minha língua materna, mas estava habituada ao romeno. De qualquer forma, não tinha a mínima dificuldade em compreender. Eu compreendia diversas línguas, entre elas o espanhol, italiano, turco, alemão, russo e o francês, mas depois de vários séculos de romeno, adoptara essa língua, de modo a que era esse o meu primeiro reflexo: Falar romeno. Parecia que teria de me habituar. – Quero dizer, estás sempre com cara de enjoada?
 Lancei-lhe um olhar penetrante, fazendo-o calar-se, subitamente intimidado. Virou-se para a janela, a ponderar sobre qualquer assunto que me era inalcançável, e eu olhei para a minha janela também, observando o trânsito, semelhante a uma enorme fila de luzinhas, a subir uma ponte. Escócia. Cidades. Inglês. Teria de me habituar a muita coisa.
 Acabámos por chegar ao nosso destino mais rápido do que eu imaginara, paguei ao taxista e sai do veículo rapidamente, seguindo uns bons metros atrás de Carmen e Dean, que pareciam achar que a sua relação era do mais normal que é possível existir. Estava farta de casais daquele género. Ajudara um há poucas horas. Não estaria a contrariar demasiado os meus princípios?
 Frankie seguia ainda mais atrás de mim, com o olhar toldado e um aspecto cúmplice.
 Tudo o que aconteceu a seguir passou-se em menos de cinco segundos.
 Eu deixara-me ficar para trás, Frankie ganhou-me vantagem e, de qualquer forma, um segundo mais tarde tinha-se aproximado demais. Não tive tempo de reacção algum antes de o seu nariz tocar levemente o meu para, depois, fundir os nossos lábios.
 Nesse momento estaquei de imediato, demasiado chocada para reagir, enquanto a sua língua perfurava os meus lábios, chegava à minha… Foram centenas de emoções ao mesmo tempo, um calor estranho que me subia pela coluna e parecia explodir nas minhas faces, a súbita frescura que acompanhava o seu hálito, o sabor escaldante da língua, os movimentos desta dentro da minha boca, e a súbita ânsia e nervosismo que acompanharam tudo isto.
 No entanto, quando as suas mãos chegaram à minha cintura, apercebi-me do que estava a fazer. Pousei a mão no seu peito por um segundo, vendo-o ofegar, e empurrei-o bruscamente para o chão, onde caiu ofegante, mas sorridente.
 Aproximei a biqueira do sapato do local onde o seu coração batia, velozmente. Ninguém reparara que eu fizera aquilo. Podia trespassá-lo, matá-lo, torturá-lo… E só poderiam reclamar depois de já estar feito.
 - Não o vais fazer – Citou Frankie, como se conhecesse os meus pensamentos. Não parecia uma pergunta ou uma confissão atemorizada. Uma simples e confiante afirmação.
 - Como é que podes ter tanta certeza? – Sibilei, cheia de vontade de desfazer as suas mãos a cinzas.
 - Porque gostaste. – Esclareceu, e a biqueira do sapato enterrou-se mais no seu peito, fazendo-o arfar e lutar por ar. – Consegui perceber… - Arfou novamente. – E não vais querer matar-me por isso. Estás furiosa porque gostaste, e não porque eu o fiz… - E acrescentou, depois dos meus olhos faiscarem na sua direcção. – Bem, talvez uma parte se deva a este último facto.
 Tentei afastar os pensamentos de que talvez ele até tivesse razão, mas eles pareciam querer entrar a toda a força, dizendo-me que estava ainda mais furiosa com ele porque ele acertara e não porque o dissera.
 E, depois, lembrei-me de outra coisa. O olhar enigmático que acompanhava a frase.
 Cuidado com o rapaz de cabelos pretos. Mas não lhe faças nada, creio que te arrependerias.
 Talvez eu não me arrependesse, pensei maldosamente, virando e torcendo o sapato, fazendo-o estremecer e gemer de dor.
 Mas, é óbvio, eu tinha conhecimento dos enormes poderes das videntes. Talvez eu me fosse arrepender do que os outros me fizessem. Sim, era isso.
 - Hey! – Chamou ele, baixinho. – Ficas mesmo mais gira sem o ar de enjoada.
 Rangi os dentes, soltando-o bruscamente e deixando-o a ofegar no chão e massajar o peito, enquanto praticamente corria até junto de Sheftu, seguida de perto por aquele que só podia ser Frankie, a sorrir de triunfo.
  - Acredito que te esqueceste de mencionar que tinhas humanos, além de surdos, loucos junto contigo… - Atirei, quando cheguei junto de Sheftu.
 - Estou apaixonado! – Gritou alguém lá atrás.
 Olhei-o friamente, enfrentando os olhares perplexos de Carmen e Dean.
 - Não me digas que já tiveste um pequeno momento com o… como hei-de dizer… humano – Sheftu sorria, e senti-me como se tivesse levado com algo grande e pesado na cabeça.
 - Claro que não! Por quem me tomas? – Exclamei, embatendo com o olhar firme  penetrante de Frankie, atrás de mim, com o esmo sorriso entre o triunfante e o exultante estampado na cara. Que idiota…
 Quem era, pelo menos um pouco, menos idiota do que ele era o primo, que lhe respondia.
 - E, tem ar de quem te arranca a cabeça a dentada. – Provavelmente tinha razão. Teria subido ainda mais na minha consideração se não estivesse a rir-se. Eu compreendia o que era rirmo-nos do sofrimento, mas não me parecia que o riso dele tivesse algo que ver com prazer pelo tormento.
 As passadas de Frankie na minha direcção advertiram-me que, se não fizesse algo de imediato, aconteceria algo semelhante ao que acontecera apenas há alguns minutos. Tentei convencer-me de que o meu medo provinha de não conseguir resistir ao impulso de o fazer num pequeno monte de carvão, quando me virei para trás e lhe rugi, obrigando-o a estacar e a aguardar que Carmen e Dean o acompanhassem.
 - Isto promete… - Murmurava Sheftu por entre dentes. Eu parecia ser a única pessoa a não achar piada nenhuma à brincadeira. Frankie também me parecia aborrecido, mas não pensei que fosse pelas mesmas razões.


 Alguns passos silenciosos mais à frente, apanhei no ar uma sensação diferente. Assemelhava-se a morte… E a aviso. Algo me dizia que havia qualquer coisa errada.
 - ERIC! – Gritou Carmen, completando o meu pressentimento. Ainda consegui apanhar-lhe mais algumas palavras – Vão-se embora.
 - O quê? Porquê? – Perguntava Frankie. Cravei a unha na palma da mão para me impedir de gritar o mesmo como um cãozinho abandonado. Sentia-me estúpida.
 - Porquê que têm sempre que fazer tantas perguntas? – Perguntava Carmen, irritada. Frankie não se conteve – como, aliás, já parecia ser um hábito seu.
 - Porquê que tens sempre que nos mandar embora?
 «Sim, porquê?!». Cravei a unha ainda mais no golpe da palma da minha mão, esperando que ninguém sentisse o sangue a escorrer pela minha mão. Limpei-o rapidamente, embora continuasse a aprofundar o golpe.
 Ouvi vagamente Carmen a praguejar, embora estivesse mais focada na imagem de Frankie a ser afastado e empurrado. Para longe. Sempre para longe. Sim, era isso que eu queria. Distância.
 Continuamos a andar, rumo àquela que deveria ser a casa deles. Ou a nossa casa, como agora me via obrigada a chamar-lhe. Carmen juntou-se a nós, com Dean e Frankie a andarem na direcção oposta… Ou, no caso deste último, a serem arrastados na direcção oposta.
 Carmen não parecia satisfeita com o facto de eu estar ali. Talvez soubesse o destino que se reservava a Frankie. Ou talvez não simpatizasse comigo de todo. Ou talvez ambos.
 No entanto, apenas uns passos mais à frente, a minha mente foi afastada do praguejar que eu ainda escutava inconscientemente, devido a algo totalmente novo. Todos pareciam estar ligeiramente horrorizados com a natureza morta em volta da casa, mas eu não. Sentia-me em casa, de certa forma. No entanto, não devia ser normal, tendo em conta que a sensação de aviso premente continuava a socar-me o estômago.
 Nesse momento, uma melodia vinha ao meu encontro. Não era grande apreciadora de música, mas era necessário ter-se os ouvidos cheios de sangue coagulado para não reconhecer o som de um violino. Tocava a solo, com notas furiosas, raivosas, rancorosas… Era a musica perfeita para acompanhar aquele cenário murcho, morto…
 Carmen foi ao encontro da porta da grande casa, abrindo-a. Dentro desta, formando um tapete, estavam várias rosas, também elas mortas e enrugadas. Uau, será que mantinham isto assim o ano todo? Ou, como era mais provável, aquilo não tinha sido feito por eles? Bem, de uma coisa eu não tinha dúvidas: Aquilo fora feito para eles.
 Segui Sheftu e Eric, que por sua vez seguiam Carmen, para dentro da casa. Caminhavam todos lentamente, ainda que atraídos, ao som morto e violento do violino. Quem quer que fosse que tinha feito aquilo, era de longe alguém extremamente teatral. Observei a figura de Carmen à nossa frente. Parecia ter sido tudo engendrado para ela, tendo em conta os seus passos conhecedores e assombrados… Era tudo o que me sentia naquele momento. Uma mera observadora, fora de tudo, limitada a especulações e esperanças, duvidas que me assaltavam, e receios. Ninguém parecia lembrar-se de que eu estava ali sem perceber nada.
 Dentro da sala, segui todos os olhares em direcção às pequenas velas que subiam as escadas, formando uma espécie de caminho.
 Os meus olhos saltitaram de vela para vela, chegando até ao topo das escadas num ápice.
 No topo das escadas, estava o violinista, de costas voltadas para nós, os longos cabelos negros a caírem-lhe sobre as costas – nunca percebera o que é que dava aos rapazes para deixar o cabelo crescer, e foi nessa questão fútil que me concentrei durante alguns segundos, acreditando que as respostas não tardariam a vir. Se não viessem, eu iria exigi-las… Se sobrevivesse alguém a quem pudesse perguntar… Se eu sobrevivesse para perguntar… Não sabia se estavam lá para nos matar ou apenas para chatear um pouco, mas não soava nada bem.
 Carmen estacara, algum tempo antes de aparecer mais gente. O primeiro tinha o cabelo loiro – igualmente comprido… - e apoiava-se numa bengala. A outra estava do lado oposto do violinista, de uma extrema e estonteante beleza. Ambos com olhares frios, ou assim me parecia.
 Com uma última nota pesada, a melodia terminou e o silêncio reinou na sala.
 Perguntei-me em surdina porque seria que ninguém corria dali para fora, visto que aquilo não tinha nada bom aspecto. Sentia-me como se tivesse começado a ler um livro a meio, se perceber absolutamente nada da história. Havia apenas a diferença de que eu não podia andar umas folhas para trás para tentar perceber.
 E, da mesma forma que não percebia o que se estava a passar, eu não sentia medo nenhum, enquanto o homem do centro se virava lentamente, porque não sabia se devia. Sabia apenas que algo continuava a dar-me voltas desconfortáveis ao estômago, e não era a refeição de primeira classe do avião.
 - Carmenzita – Sibilou o do meio, com um sotaque espanholado, os olhos verdes a fitarem Carmen. Tal como suspeitara, aquilo era acerca dela - Há muito tempo que não nos vemos. E, que bela vampira deste.
  - Quem é você? – Eric não obteve resposta. O homem caminhava cheio de maldade na direcção de Carmen – Não ouviu, responda-me!
 Seria prudente gritar com ele? Isto, era o tipo de pergunta que alguém que via um filme faria.
  - Cala-te, fedelho. – Ordenava o homem loiro. Pois, talvez não fosse prudente fazê-lo, diria o telespectador - Faz as perguntas depois, agora senta-te e deixa os adultos conversar!
 Eric não se sentou, obviamente, e precisou de um olhar de aviso de Carmen para não se atirar ao homem loiro. Quase como se não ouvisse os outros dois, o violinista continuava a descer as escadas, como se estivesse hipnotizado por Carmen.
 - Que bela mansão. Foi o Lawrence que ta deixou, certo? Ah! Eu sempre soube que aquele jovem tinha posses, nunca me enganei pois, não Julian? – Sussurrava, antes de parecer lembrar-se de que não estavam ali sozinhos – E estes são teus amigos? Amigos vampiros? – Apetecia-me contradizê-lo, dizer-lhe que era bruxa, mas isso não parecia ser relevante e muito menos favorecedor à nossa causa. Para além disso, a função do espectador é ver e não comentar… Bem, talvez no fim do espectáculo. – Para quem dizia tão mal da nossa espécie, até estás muito bem acompanhada, Carmenzita!
 E agora descobrira duas coisas: Primeiro, o homem loiro que se apoiava numa bengala era Julian. E, em segundo lugar, aquele que descia as escadas era vampiro, embora eu não pudesse ter a certeza em relação aos outros.
 - Pára de gozar e diz-me o que queres, Santiago! – E o que ainda avançava na direcção de Carmen era Santiago. Era bom poder tratá-los pelos nomes, embora aquilo fosse algo sem interesse fulcral para a história. Era apenas uma forma de poder pensar neles como mais do que alguém.
 Eric aproximou-se de Carmen, com ar de surpresa patente.
 - Santiago? O teu criador? – Perguntou, ainda admirado. Agora só me faltava descobrir porque raio Santiago, Criador de Carmen, estava naquela casa, à nossa espera, com um violino… Talvez o violino fosse só para o efeito.
 - Qual outro? – Interrogou Santiago - Sou eu o senhor das trevas, que caminha pela noite num silencioso marchar. Sou eu a alma corrupta que vive do medo. Sou eu, Santiago, o vampiro bruxo.
 Que poético. Vampiro bruxo? Disso é que ainda não tinha ouvido falar. Não me agradava Não me agradava nada.
 - Pára com os poemas, a tua época já passou! – Reclamou Carmen, dando voz aos meus pensamentos.
 - Sabes o que sempre adorei em ti, Carmen? Tu alma! Lutadora, forte, corajosa…Simplesmente atraente. – Santiago estava agora a escassos metros dela, percorrendo a linha do queixo dela com os dedos brancos mortiços. Era a altura e que o telespectador nervoso havia de gritar «FOGE!!». Apetecia-me gritar isso também, mas o mais provável é que as coisas não me corressem bem, e Carmen não era estúpida o suficiente para tentar fugir quando sabia que isso não iria resultar.
 - Saí daqui e enfia-te no buraco do qual saíste antes que te enfie uma estaca no sitio onde algum dia tiveste um coração! – Avisou Eric, fazendo com que Santiago sorriso, concordando com os risos dos outros dois, no topo das escadas.
 - Precisamos de cães de guarda, Carmenzita? – Perguntou Julian, saltando para se colocar ao lado de Santiago. - Oh! Desculpa enganei-me, não és um cão…és um cachorro!
 Riram-se em concordância.
 - Carmen, já vi que tens amigos muito próximos a ti. Dá-me o que procuro e desejo, e eles vão sobreviver.
 - Não tenho o que queres. – Ripostou Carmen-
 - Porquê que tens que mentir? – Lamuriou-se Santiago - Eu sei que os livros estão por aqui, eu sei que ele tos deixou. Eu sei tudo….
 - Se sabes tudo, porquê que não vais tu a procura? – Julian rosnou, mas Santiago travou-o com um movimento, aproximando-se ele próprio de Eric. Não me parecera inteligente.
 Pousou-lhe a mão no peito, fazendo com que Eric ofegasse e aumentasse bruscamente o ritmo da respiração, empalidecendo.
 Rapidamente, impedi que Sheftu se aproximasse. Acabariam os dois caídos no chão, e isso não seria bom. Em parte porque ainda queria saber o que se passava, embora suspeitasse que Sheftu não sabia muito mais do que eu. Do mesmo modo, Julian prendeu Carmen ao chão, impedindo-a de se aproximar. Ao mesmo tempo que piorava a situação para Eric, ajudava Carmen, o que era algo difícil de se resolver.
 Eric caiu ao chão assim que Santiago lhe tirou a mão do peito. Estava imóvel, mas vivo. Sobrevivera.
  - Silêncio, finalmente! Onde ia? Oh…certo! Julian... – Julian saiu de cima de Carmen, e Santiago moveu-se de um corpo para o outro, colocando o pé sobre Carmen – Os diários?
 - Não sei! – Ripostou Carmen, embora algo me indicasse que ela sabia. Berrava de dor. Oh idiota, se não a deixares parar de gritar também não vai falar!! Ouvira Gustav dizer-me isso várias vezes. – Embora se a parte do idiota – durante os meus primeiros anos, em que matara mais gente por engano do que propositadamente – e senti um peso estranho no peito ao aperceber-me, com saudade, de que eu é que costumava estar naquela posição. Eu costumava ser a odiada, não o mero espectador indefeso!
 - Vamos brincar de mentirinha, Carmen? - Desafiou. - Olha, que sou muito mais forte neste jogo do que tu.
  - Vou dizer o mesmo que disse ao teu filho: Mesmo que soubesse dos livros, tu serias a última pessoa a quem diria. Respondeu Carmen, o mais furiosa que podia para alguém que está estatelado no chão com um pé enfiado no peito… Estivera na posição de Santiago à apenas alguns minutos. Mas Frankie não estava furioso, e eu estava ainda mais zangada do que ele, se é que isso é concebível.
 Julian ria-se.
  - Mata-a de uma vez, Santiago. – Disse-lhe.
 - Ele não me vai matar. Eu posso estar a mentir e saber onde estão os livros, mas se pores fim a minha existência…ficarás sem saber. – Desafiou Carmen. Era, sem dúvida, bastante corajosa. Um bocadinho para o doida, mas corajosa sem dúvida.
 Santiago, furibundo, agarrou-a pela garganta e encostou-a com força à parede.
 - Que sou eu para ti? UM IDIOTA?! – Deixou-a cair e deu-lhe uma estalada na cara antes, provavelmente, que ela pudesse confirmar. Depois, voltou a encostá-la à parede, com brusquidão - Lembraste como foi no dia em que te transformei? A dor, o medo e o que te fiz passar? Isso eras tu humana, e eu não dei o melhor de mim afinal, nessa condição podes suportar certa quantidade antes de morreres mas, agora como vampira…
  - Como eu disse: Não vais matar-me. Sou muito valiosa para ti. – Afirmou, sorrindo.
  - OS DIÁRIOS, CARMEN!? – Exigiu Santiago, a perder as estribeiras.
 Carmen riu-se e Santiago esbofeteou-a.
 No entanto, antes que pudesse prosseguir, a mulher no topo das escadas falou.
 - Santiago! O sol…
 Santiago agarrou os cabelos de Carmen e puxou-a para si, sussurrando:
  - Vais dar-me os diários do Lawrence, nem que tenha que torturar todos os teus amiguinhos à tua frente! Vais banhar-te no sangue deles, vais carregar a culpa da sua morte e sofrimento até ao fim dos teus dias. Vais desejar nunca teres sequer nascido, depois do que eu te fizer, se não me deres os livros, Carmen. No te metas comigo!
 Largou-a e dirigiu-se para a porta, seguido pela mulher e por Julian, que sorriu para Carmen como o verdadeiro bastardo que era.
 - Não vás a lado nenhum… - Avisou, e saiu.
 Carmen estava no chão, a fitar o tecto. Libertei Sheftu e acompanhei-a, em silêncio, para junto da figura inconsciente de Eric.
 - Porque tinhas tu de me agarrares daquela forma? – Perguntou irritada.
 - E querias que te deixasse fazer uma loucura? Não estás completamente recuperada para te armares em heroína.
 - Não tinhas o direito de o fazeres – Continuou.
 - Como queiras – Rematei.
 - Ajuda-me aqui a acordá-lo – Pediu.
 Sorri.
 - Com todo o gosto – Algo tilintou de forma alegre no meu pulso, em resposta.
 - Nem penses fazer isso!
 E adoptou uma táctica diferente, dando-lhe um estalo leve na cara. Achas que isso o vai acordar?
  - Talvez o melhor seja mesmo acordá-lo à minha maneira. – Sorri-lhe ainda mais.
 - Não sejas assim – Admoestou.
 Passado pouco tempo, Eric começou a voltar a si, enquanto eu ajudava Sheftu a levantá-lo, ainda desnorteado e algo confuso.
 Segui o seu olhar até Carmen, ainda deitada no chão e, depois, até ao outro extremo da sala, onde estavam Dean e Frankie, confusos e atarantados.
 Sheftu permaneceu com Eric, enquanto eu fitava Frankie. O seu olhar tremeluzia entre Carmen e Dean, claramente perturbado com a situação do primo e da namorada, e tornava-se ávido quando olhava para Sheftu, que tentava devolver o equilíbrio a Eric. As minhas mãos permaneciam no ar, impotentes, enquanto eu olhava para ele, que falava com Dean em voz baixa, talvez numa tentativa de o acalmar.
 Correram ambos até Carmen, sem que eu conseguisse deixar de os olhar enquanto murmuravam qualquer coisa para ela também. Nem um único olhar na minha direcção, e aquilo perturbava-me mais do que seria de esperar.
 Daquela vez, nem espetei a unha no golpe que começava a sarar, quando deixei cair as mãos. Porque é que não olhava para mim?
 Não demorou muito até que, com um ar bastante preocupado, o seu olhar varresse o resto da sala. E, quando encontrou o meu, despedaçado, ficou subitamente aliviado, iluminado. Abafou uma gargalhada ao ver-me ali, desalentada, fazendo-me arrepender de imediato.
 Suspirei, sentando-me no chão com a cara entre as mãos. No rescaldo eu já não era impotente, mas também não fazia nada. Não sabia o que é que se tinha passado, mas afinal a vida daquele grupo não era assim tão entediante.
 Teria de me preparar para o que ali vinha.
 Afinal aquilo era a minha nova eternidade.

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