Transilvania Season - Ep 49, Sheftu

Parecia ironia, sair de um problema e logo entrar noutro quase tão terrível como estar cativa pelo próprio Criador. Seria uma maldição que lhes colocaram? Talvez seja... Ou simplesmente é algo mais do que as mentes conseguem prever - porém, os corpos sentem por demais. Não era tudo tão simples como parecia ser...

"Strange Feeling" by Sheftu Nubia

Toda a viagem tinha passado num ápice. Rápida demais para que eu tivesse tempo de me sentir realmente cansada, ao mesmo tempo que desejava que chegasse, cada vez mais e mais, a hora de puder descansar corpo e mente… Da única forma que realmente me passava pela cabeça em fazê-lo.
- Acredito que te esqueceste de mencionar que tinhas humanos, além de surdos, loucos junto contigo… - Comentou Elizabeth, aproximando-se de nós. Não tinha ainda entendido bem o que se passava, mas um simples ‘estou apaixonado’ me disse tudo o que precisava para soltar um ligeiro sorriso, para que uma gargalhada ficasse a moer bem lá dentro.
- Não me digas que já tiveste um pequeno momento com o… como hei-de dizer… humano. – Murmurei, sorrindo levemente perante o ligeiro quebrar do gelo que a sua expressão fez, quase que não notaria se a minha ênfase não tivesse sido acertado.
- Claro que não! Por quem me tomas! – Disse-me, observei-a a olhar para o meu lado, segui-lhe o rasto e deparei-me com Eric a olhar-lhe da mesma intensidade. Oh, que dois! Isto ia correr bem…
Podia parecer que ela estava pouco interessada, mas logo o Frankie tentou aproximar-se de nós, ela voltou-se para trás e soltou-se, lembrando-lhe um pouco do perigo que era caso tentasse seguir mais em frente.
- Isto promete… - Disse eu, achando uma enorme piada nestes dois. Seria divertido, logo ela que simplesmente abomina qualquer humano. Podia ter sido por um breve momento, mas tinha a sensação de que ele não lhe era assim tão indesejável…

***

Continuávamos o nosso caminho até casa, até que uma sensação que ainda não entendia bem, que simplesmente achei que fosse originária de todas estas emoções que floriram ao longo do dia, surgiu do nada...
- ERIC! – Era Carmen que o chamava, o que queria ela desta vez? – Vão se embora.
- O quê? Porquê? – Perguntou Frankie, observando a sua nova donzela, que tentava desprezá-lo por completo, sentindo-se talvez irritada por não o conseguir. Não entendi bem o pedido de Carmen, até que observei a sua expressão, seguindo-se da de Eric. Nada de bom viria… E estes dois estavam demasiado estranhos.
- Porquê que têm sempre que fazer tantas perguntas? – Ripostou ela a Frankie.
- Porquê que tens sempre que nos mandar embora?
Que nem uma louca, ia rogando pragas ao Frankie enquanto tentava levá-lo de lá para fora. Eu observei pela primeira vez Dean desde que tínhamos falado da última vez, ou melhor, combatido naquela luta desigual. Sentia-me ligeiramente feliz por saber que ele permanecia bem.
- Frankie, vamos. – Disse Dean, pegando no primo pelo braço, apesar de estar bastante confuso.
Enquanto eles iam embora, seguimos o nosso caminho rumo à mansão. Eu, Eric, Elizabeth e logo depois Carmen juntou-se a nós. Mas o que mais me espantava nem era a grande antipatia que ela tinha por Beth, toda a natureza que rodeava a casa permanecia morta. Umas congeladas, outras completamente murchas… Como se seguíssemos rumo à verdadeira morte. Aquela sensação estranha parecia aumentar ao mesmo tempo de que a sensação de raiva e destruição aumentava em mim. Era um daqueles vazios que jamais se preenchiam, completamente loucos e demasiado verdadeiros para serem pensados.
Eric observava-me atento, como sempre, à espera que eu pudesse ter algum problema. Afinal de contas, acabara de vir de uma sala de torturas em que todas as minhas forças tinham sido sugadas. Eu estava bem, tentava dizer-lhe, apesar de que a sensação não me dava o tom certo para que ele acreditasse que fosse verdade.
Era desconhecido para mim aquele solo de violino que chegava até nós, vindo de dentro de casa. Meu corpo que estivera tão quente, quase que poderia considerar-me humana, a cada passo que dava ia arrefecendo ao som desta melodia, encantava-me e embalava-me a melodia. Meus sentidos tinham todos sucumbido, deixando-se divagar sobre o som que passava sobre todo o meu ser morto.
Carmen correu para dentro de casa e abriu a porta, mostrando todo o jardim interior destruído, junto das minhas rosas com as suas pétalas manchadas e sujas pelo chão, faziam parte de um tapete, especialmente feito para ela… Deduzi eu.
Seguíamos todos os passos dela, ia rumo ao violino que tocava, a violência de cada nota captava-me cada vez mais, mas a sensação que quase tinha descriminado tinha crescido de uma forma exponencial, quase insuportável. O cuidado era a chave para que nada pudesse realmente acontecer, as defesas teriam de estar activas porque eram más noticia que viriam por aí.
Na sala ao lado, as escadas marcavam um caminho de velas acesas, eram brancas, mas de pureza nada teriam. No cimo das escadas estava o homem que tocava violino de costas, com seus cabelos compridos de escuridão, um corpo de movimentos carregados de força.
Carmen permanecia ligeiramente à nossa frente, mas tinha paralisado por completo perante o que se lhe atravessava à frente. Rapidamente apareceram outros dois, um homem de cabelos loiros do seu lado esquerdo e uma mulher do seu lado direito.
O solo do violino finalmente parara, eu continuava a observar aquele homem do lado direito, enojava-me aquela sensação que aumentava e aumentava a cada momento que permanecíamos ali. Desejei sair, desejei correr dali. Mas não, meus pés permaneceram no mesmo sítio e o olhar, esse, ainda fitava aquele olhar que se atravessava ligeiramente sobre o meu.
Quem és tu? Pensei eu, sem que a sensação que sentira lá fora me abandonasse. O do centro voltava-se lentamente para nós.
Carmenzita! – Exclamou o homem, a sua voz era algo de alucinante. – Há muito tempo que não nos vemos. E, que bela vampira deste.
- Quem é você? – Perguntava Eric. O homem não lhe deu resposta alguma, continuando o seu caminho até Carmen, observando-a com uma intensidade tremenda. – Não ouviu, responda-me!
- Cala-te, fedelho. – Disse o loiro, fazendo com que o meu olhar voltasse novamente para ele, sorria levemente, até que o seu olhar cruzou novamente com o meu. O desejo de seguir em frente e partir-lhe o pescoço estava demasiado forte para fazê-lo, a sensações fortes vêm mortes idiotas. Acalma-te, dizia eu, acalma-te! - Faz as perguntas depois, agora senta-te e deixa os adultos conversar!
Observei o Eric, dotado de movimentos estúpidos. Até Carmen, que estava ligeiramente à nossa frente, lançou-lhe um olhar advertindo-o de que não seria uma boa hora para começar com os seus ideais.
O outro homem permanecia a descer as escadas, rumo ao seu objectivo: Carmen. 
- Que bela mansão. Foi o Lawrence que ta deixou, certo? Ah! Eu sempre soube que aquele jovem tinha posses, nunca me enganei pois, não Julian? – Sussurrava ele, continuando os seus passos lentos, observando a casa com a luz que as velas davam. – E estes são teus amigos? Amigos vampiros? Para quem dizia sempre tão mal da nossa espécie, até estas muito bem acompanhada, Carmenzita.
- Pára de gozar e diz-me o que queres, Santiago! – Gritou ela, farta dos jogos idiotas daquele homem, aquele que pela forma de se apresentar só poderia ser seu criador. Surpreendeu-o a coragem que ela teve, que até o deteve por breves momentos, mas logo retomou os seus passos para junto dela.
- Santiago? O teu criador? – Perguntava Eric, surpreso, demasiado perto de Carmen. Não, isto não me estava a cheirar nada bem… Sai daí, sai que ainda irá correr mal.
- Qual outro? – Perguntou o vampiro na sua marcha lenta. – Sou eu o senhor das trevas, que caminha pela noite num silencioso marchar. Sou eu a alma corrupta que vive do medo. Sou eu, Santiago, o vampiro bruxo.
- Pára com os poemas, a tua época já passou! – Ripostou Carmen.
- Sabes o que sempre adorei em ti, Carmen? Tu alma! Lutadora, forte, corajosa…Simplesmente atraente. – Pouco faltou para que estivesse finalmente perto dela, passando as suas unhas sobre o seu rosto, desejando-a… Ah, típico! Ainda nem conhecia aquele homem e já o odiava. Mais uma vez meus olhos passaram sobre aquele loiro, incomodava-me profundamente a sua presença, não sabia bem o porquê. Carmen afastou a cara do vampiro com violência, o que certamente o irritaria. Eric, sai daí, eu to peço…
- Saí daqui e enfia-te no buraco do qual saíste antes que te enfie uma estaca no sítio onde algum dia tiveste um coração! – Defendeu-a Eric, não… Seu idiota! Devias ter recuado, recua! Risos, era o que se ouvia do topo das escadas, daquela coisa loira e daquela mulher. Ah, que ódio! O outro, perto de Eric, sorriu maldosamente. Seu idiota, sai-me daí!
- Precisamos de cães de guarda, Carmenzita? – Perguntou o loiro, saltando de imediato até ao rés-do-chão, colocando-se ao lado do outro, demasiado perto daqueles dois. Eric, sai-me daí, eu te imploro… Ouve-me seu idiota! - Oh! Desculpa enganei-me, não és um cão…és um cachorro!
O criador da Carmen riu-se.
- Carmen, já vi que tens amigos muito próximos a ti. Dá-me o que procuro e desejo, e eles vão sobreviver.
- Não tenho o que queres.
- Porquê que tens que mentir? - Perguntou Santiago, criando uma sensação teatral. O que queriam eles? Dá uns passos para trás Eric, fá-lo por mim… Ouve-me! – Eu sei que os livros estão por aqui, eu sei que ele tos deixou. Eu sei tudo….
- Se sabes tudo, porquê que não vais tu à procura? – O loiro rosnou para Eric, mas o outro parou-o antes que fizesse algo. Aproximou-se dele, observando-o por completo. Não estava a gostar nada disto… Eric, sai daí! Mas nada, não se movia sequer.
Santiago pousou a mão sobre o seu peito – o meu peito – e Eric começou a hiperventilar, não conseguia ver a sua cara, por mais que desejasse mover-me o outro loiro observava a situação com um sorriso enquanto o de cabelos negros continuava com aquelas suas mãos nojentas em cima dele.
Tentei aproximar-me, acabar com toda aquela situação, mas Elizabeth segurava-me em seus braços, murmurando umas palavras, talvez para que me mantivesse presa com mais facilidade. Observava tudo aquilo com a certeza de que mal ela me largasse algo iria acontecer, nem que a minha própria vida dependesse disso.
Carmen também tentou aproximar-se mas o outro derrubou-a, prendendo-a ao chão. Eu conseguia sentir o calor a entranhar-se novamente em mim e fluir sobre as minhas veias mortas, todo o meu corpo ia aquecendo ao longo dos momentos. Conseguia sentir a minha respiração pesada e o meu olhar pousava sobre aquele idiota, o criador de Carmen.
Este que afastou a mão do peito do Eric, fazendo com que ele caísse do chão que nem um corpo morto, sentia os seus batimentos resistirem fracamente sobre o seu corpo. Mas não estava em paz, eu queria sair daqui, queria vingar-me, queria destrui-los ou destruir-me a mim. Tanto faz, desde que justiça fosse feita!
- Silêncio, finalmente! Onde ia? Oh…certo! Julian... – O tal Julian saiu de cima dela, ocupando-se agora o outro idiota dela, com o seu pé sobre o seu peito. O loiro passou, uma outra vez, o seu olhar sobre o meu, ficando cativo, irritando-me profundamente ao fitar-me, fazendo com que o calor aumentasse cada vez mais. – Os diários?
O que és tu? Como fazes isso?
Ouvia as palavras, mas ninguém parecia dizê-las, apenas aquele idiota – Julian – continuava a observar-me. Fechei os meus olhos, se não conseguisse controlar-me, a loucura iria tomar o poder e não o podia permitir.
- Não sei! – Berrou Carmen, continuando com os seus berros que transmitiam dor. Eu observava o Eric, que continuava pelo chão, inconsciente.
- Vamos brincar de mentirinha, Carmen? - Perguntou Santiago calmamente. - Olha, que sou muito mais forte neste jogo do que tu.
- Vou dizer o mesmo que disse ao teu filho: Mesmo que soubesse dos livros, tu serias a última pessoa a quem diria. – Disse ela, cheia de coragem. Tinha de admitir que havia algo que tínhamos em comum. O loiro deixou de olhar-me, trocando de olhares com o outro.
- Mata-a de uma vez, Santiago. – Disse ele, desejoso certamente que a vida de Carmen chegasse ao fim.
- Ele não me vai matar. - Disse-lhe ela, olhando para o homem que estava à sua frente. – Eu posso estar a mentir e saber onde estão os livros, mas se pores fim a minha existência…ficarás sem saber.
Rapidamente, Santiago ergueu-a do chão pelo pescoço, encostando-a à parede com força, nascendo dela uma expressão de dor. O seu braço Encostava-se à sua garganta, deixando o ar de passar.
- Que sou eu para ti? UM IDIOTA?! - Largou-lhe o pescoço, batendo-lhe com força, deixando-a desnorteada, empurrando-a mais uma vez conta a parede. – Lembraste como foi no dia em que te transformei? A dor, o medo e o que te fiz passar? Isso eras tu humana, e eu não dei o melhor de mim afinal, nessa condição podes suportar certa quantidade antes de morreres mas, agora como vampira… - Apertou-a ainda mais.
- Como eu disse: Não vais matar-me. – Sorria ela presunçosamente. - Sou muito valiosa para ti.
Santiago puxou-me pelo pescoço e, logo a seguir voltou a enfiar-me na parede.
- OS DIÁRIOS, CARMEN?! – Uma gargalhada estridente saiu da Carmen, levando mais uma bofetada forte, desnorteando-a por momentos.
- Santiago! – Começou por dizer aquela outra mulher, chamando a atenção daqueles outros dois. – O sol…
O outro aproximou a cara de Carmen, agarrando nos seus cabelos, puxando-a para mais perto, a poucos centímetros da sua face, dele emanava raiva pura. Aquela que neste momento em mim crescia como fermento.
- Vais dar-me os diários do Lawrence, nem que tenha que torturar todos os teus amiguinhos a tua frente! Vais banhar-te no sangue deles, vais carregar a culpa da sua morte e sofrimento até ao fim dos teus dias. Vais desejar nunca teres sequer nascido, depois do que eu te fizer, se não me deres os livros, Carmen. - Puxou-lhe os cabelos com força. - No te metas comigo!
Largou-lhe a cabeça com força, caminhando de seguida para a porta. Logo depois saía a mulher e o idiota loiro, que sorriu à Carmen.
- Não vás a lado nenhum…
Mal desapareceram, tentei novamente libertar-me dos braços de Elizabeth que agora permanecia calada. Quando me libertei, corri para perto do Eric, ainda inconsciente, tentando fazer algo por ele. Carmen permanecia ainda completamente imóvel.
- Porque tinhas tu de me agarrares daquela forma? – Perguntei a Beth, incrivelmente irritada com o que ela tinha acabado de fazer.
- E querias que te deixasse fazer alguma loucura? – Respondeu-me, não dando muita importância ao que lhe tinha acabado de dizer. – Não estás completamente recuperada para te armares a heroína.
- Não tinhas o direito de o fazeres.
- Como queiras.
- Ajuda-me aqui a acordá-lo. – Pedi-lhe.
- Com todo o gosto. – Começou ela por sorrir começando a concentrar-se.
- Nem penses fazer isso!
Dei-lhe um estalo leve na cara, a tentar acordá-lo, mas sem grande sucesso.
- Talvez o melhor seja mesmo acordá-lo à minha maneira. – Sorria-me Beth.
- Não sejas assim.
Não demorou muito até que ele realmente tomasse consciência, tentava levantá-lo. As pulsações de Dean e Frankie chamaram-me à atenção, a olharem para tudo, completamente espantados. Carmen permanecia quieta, talvez ainda a assimilar tudo o que tinha acontecido.

Por mais que tentasse negar, havia algo que me tinha perturbado imenso com esta tão atenciosa visita. Poderia ser o instinto ou algo mais que estava em alerta vermelho, mas certamente essa sensação não me iria deixar muito tempo em paz.

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