Transilvania Season - Ep 48, Carmen

Agora que Sheftu tinha sido resgatada, existia uma pequena possibilidade da sua existência voltar ao normal. Ou, pelo menos, era isso que Carmen desejava. Como poderia haver paz quando o passado morto e queimado parecia voltar das cinzas? Ela já conhecia bastante do mundo, porém não havia nada como se surpreender novamente. Até onde tudo isto iria?

"Dead Flowers" by Carmen Montenegro

Pronto, assim que pisei o solo de Inverness não podia sentir-me mais em casa e, mais calma. Ou pelo menos assim pensar. Na verdade, Job tinha morrido, Julian andava a solta, o meu diário tinha sido roubado – talvez, por Julian – e, ainda me encontrava a ressacar do salvamento de Sheftu... Sem me esquecer de Vladimor, que simplesmente, pegara em si mesmo e desaparecera da face da terra. Que raio teria acontecido aquele lobo?
Subitamente ao pensar em todos estes problemas, senti-me cansada. Sentia-me cansada a todos os níveis. E, apesar de todos serem importantes o mais gritante e perigoso, era o Julian. Não só Julian mas, também o seu pai, Santiago ou por outras palavras, o meu criador. Nos meus tempos de caçadora, apanhar o gang de Santiago tinha sido o meu grande objectivo, procura-los um por um, obriga-los a confessar o seu paradeiro e assim, destrui-lo. O último do seu grupo que eu tinha morto da maneira mais violenta fora, mesmo Julian. Ele sim, tinha sido uma perfeita morte mas, inconsciente e ingénua, eu não tinha pensado na fúria que Santiago traria a minha pessoa. A morte do seu filho, tinha-o afectado de tal modo que, fora ele a encontrar-me e, como castigo entregou-me a minha nova condição. Preferia que tivesse arrancado o meu coração e comido mas, o destino adora pregar partidas.
Envolta nos meus pensamentos, o calor de Dean despertou-me para a realidade. A sua mão envolvia a minha, enquanto caminhávamos até casa todos em silêncio. Sheftu e Eric iam a frente, todos contentes, qual casal irritantemente feliz. Subitamente, Beth passou por nós a correr e juntou-se ao casal a nossa frente, logo a seguir veio Frankie. Conseguia sentir o seu coração bater depressa.
- Estou apaixonado. - Anunciou Frankie. Os seus olhos brilhavam e o seu coração embatia com toda a força contra o peito. O seu sorriso era mais do que belo, iluminava a noite. Eu olhei para a frente e vi, o olhar breve que Beth lançou para trás.
- Por ela? - Perguntei levantando o queixo na direcção da mulher morena.
- Ela é linda. - Disse Frankie.
- E, tem ar de quem te arranca a cabeça a dentada. - Anunciou Dean divertido.
Frankie sorriu para nós dois.
- Eu adoro amor à bruta. - Tentou ir ao seu encontro mas, Beth voltou-se e emitiu o que pareceu ser um rosnado. Frankie, parou e, esperou que nós o acompanhássemos, para depois caminhar em silêncio ao nosso lado.
- O teu primo tem problemas. - Sussurrei eu a Dean. Ele riu-se e apertou a sua mão entre a minha.
- Não é novidade.
***

Tudo ia bem, marchávamos em silêncio, pela noite já quase coroada pelo dia, apenas faltavam umas meras horas, quando eu parei de repente. Estávamos mesmo em frente a casa mas, eu tinha visto algo que eles não tinham visto.
- ERIC! - Ele, logo que parou voltou-se para mim. Trocamos olhares rápidos e, logo a seguir lembrei-me de Dean e Frankie. - Vão se embora.
- O quê? Porquê? - Perguntou Frankie, na verdade estava mais chateado por não poder ver Elizabeth do que pelo facto de eu o mandar embora.
- Porquê que têm sempre que fazer tantas perguntas?
- Porquê que tens sempre que nos mandar embora?
Roguei pragas a Frankie e a sua infantilidade enquanto o empurrava ou melhor, enxotava-o. Dean olhou para mim com um ar confuso mas, sabia que não era para brincadeiras. Pegou no primo pelo braço.
- Frankie, vamos.
E, os dois andaram na direcção contrária a nossa mansão. Com tristeza, vi Dean afastar-se lendo o ressentimento em cada passo seu. Voltei-me para a frente e, juntei-me a Eric, Sheftu…ah! E a nova aquisição denominada Elizabeth. Ainda estava para descobrir que raio era ela; Muito rosada para ser vampira, muita maldade nos olhos para ser humana…
Estava a divagar. Tínhamos um acontecimento muito mais importante em mãos, naquele momento e, estava mesmo a nossa frente. Árvores mortas. Todas as que rodeavam a nossa casa estavam mortas, felizmente Dean e Frankie não tinham notado, tinham apenas olhos de humanos mas, aquilo estava tudo morto. À medida que entravamos no nosso terreno, a presença maligna era mais do que visível, pois não havia uma única planta viva, estava tudo murcho e algumas delas, congeladas. Estes sinais eram fáceis de reconhecer, quem os vê uma vez, vê-las sempre. Era uma marca que arrepiara-me desde sempre, como alguém conseguia ser tão maléfico a ponto de matar as plantas?
Um som arrepiante veio aos meus ouvidos e a pior das confirmações eu obtive. Era uma melodia carregada de raiva e pesar. Era um solo. Um solo de violino. Carregado de raiva e terror.
Corri para dentro de casa, abri as portas e fui embater com mais flores mortas. As rosas do nosso jardim interior estavam todas crispadas com as pétalas a formarem um tapete sob nossos pés.
O violino continuava a tocar e eu sentia-me guiada por aquele som, sabia quem tocava aquele violino de fora tão violenta mas, mesmo assim avancei enfrentando o medo. Sentia os passos de Eric, Sheftu e Elizabeth na minha retaguarda, também eles curiosos e cuidadosos.
Assim que entrei na sala, a primeira coisa a notar foi na fileira de velas até as escadas, pequenas velas brancas que iluminavam o caminho até ao topo das escadas onde um ser, de costas, tocava o violino violentamente. Facilmente reconheci o seu cabelo negro comprido até as costas, a sua capa também escura toldava-lhe o corpo, mas cada movimento seu via-se era que era feito com força. Para meu espanto, sentia-me totalmente desarmada perante aquele espectáculo meio que horrível. Foi então que, do lado esquerdo apareceu Julian todo sorridente com o seu cabelo loiro caído sobre os ombros, apoiado na sua bengala e, do lado direito apareceu uma mulher, essa nunca tinha visto mas, era dona de uma beleza mortífera.
O solo acabou e o medo abateu-se sobre mim. Dei por mim a desejar que tudo não passasse de um sonho, que nada daquilo fosse real. Que fosse o veneno da outra que ainda corresse nas minhas veias mas, não!
Ele voltou-se devagar, e senti o ar a ser roubado da minha presença. A sua beleza permanecia intacta, os seus olhos de um verde jade mas, raiados de maldade eram o que mais se viam, o cabelo negro apanhado e, um sorriso malvado mas belo. Recuei, aliás, queria eu recuar mas, algo não me deixava: ah! O medo!
Carmenzita! - A sua voz era grossa e fez, com que cada pelo no meu corpo se eriçassem e gritasse de horror. - Há muito tempo que não nos vemos. E, que bela vampira deste.
- Quem é você? - Perguntou Eric. Santiago não respondeu, apenas caminhava até mim com um olhar cheio de malícia. - Não ouviu, responda-me!
- Cala-te, fedelho. - Respondeu Julian lá em cima. - Faz as perguntas depois, agora senta-te e deixa os adultos conversar!
Eric ia responder mas, mandei-o calar com um olhar. A última coisa que queria era Eric e o seu sentido de macho alfa, prejudicarem a vida de todos. Fica quieto!
Santiago descia as escadas devagar, segurando o violino na mão esquerda. 
- Que bela mansão. Foi o Lawrence que ta deixou, certo? Ah! Eu sempre soube que aquele jovem tinha posses, nunca me enganei pois, não Julian? - A sua voz saia sussurrada e era terrivelmente assustadora. Santiago olhou em volta, admirando a beleza da casa a luz das velas. Consegui ver Julian no topo das costas a contorcer-se. Mas, Santiago continuou o seu percurso até mim. - E estes são teus amigos? Amigos vampiros? Para quem dizia sempre tão mal da nossa espécie, até estas muito bem acompanhada, Carmenzita.
- Pára de gozar e diz-me o que queres, Santiago! - O meu grito ecoou pela casa e apanhou-o de surpresa. A princípio Santiago arregalou os olhos mas, logo a seguir continuou a sua marcha até mim.
Eric juntou-se a mim surpreso.
- Santiago? O teu criador?
- Qual outro? - Perguntou o vampiro milenar numa marcha lenta. - Sou eu o senhor das trevas, que caminha pela noite num silencioso marchar. Sou eu a alma corrupta que vive do medo. Sou eu, Santiago, o vampiro bruxo.
- Pára com os poemas, a tua época já passou! - Disse eu.
- Sabes o que sempre adorei em ti, Carmen? Tu alma! Lutadora, forte, corajosa…Simplesmente atraente. - Quando dei por mim, já Santiago estava a poucos metros de mim. Esticou a sua mão esquelética de unhas compridas e, percorreu a linha do meu queixo. Os seus olhos mostravam puro desejo. Afastei a sua mão da minha cara com violência.
- Saí daqui e enfia-te no buraco do qual saíste antes que te enfie uma estaca no sitio onde algum dia tiveste um coração! - A voz de Eric chegou aos meus ouvidos. Julian lá no topo das escadas riu-se, assim como a mulher do outro lado. Santiago ergueu o canto dos lábios num sorriso maldoso.
- Precisamos de cães de guarda, Carmenzita? - Perguntou Julian lá em cima. Deixou-se cair do primeiro andar até ao rés-do-chão, num salto cheio de mestria. Aproximou-se do pai, ficando do seu lado direito. Que dupla maléfica. - Oh! Desculpa enganei-me, não és um cão…és um cachorro!
Santiago riu-se.
- Carmen, já vi que tens amigos muito próximos a ti. Dá-me o que procuro e desejo, e eles vão sobreviver.
- Não tenho o que queres.
- Porquê que tens que mentir? - Perguntou Santiago fingindo tristeza. - Eu sei que os livros estão por aqui, eu sei que ele tos deixou. Eu sei tudo….
- Se sabes tudo, porquê que não vais tu a procura? - Julian rosnou em direcção a Eric mas, Santiago parou-o. Santiago olhou para Eric de cima abaixo, parecia uma cobra pronta a lançar o seu ataque e, aproximou-se do semi-vampiro. 
Com rapidez, Santiago, pousou a mão no peito de Eric. O meu ex. começou a hiper ventilar a medida que a palidez lhe assentava na cara. Escrevia-se na sua face uma imagem da dor que poucos saberiam qual seria. Santiago absorvia-lhe todo o seu poder!
Corri para tentar evitar o pior mas, fui derrubada por Julian que me prendeu ao chão. Sheftu tentou ir ao encontro de Eric mas, os braços fortes de Elizabeth seguravam-na, ao menos era sensata!
Quando acabou Santiago, afastou a mão do peito de Eric e, ele caiu ao chão pesadamente. Mal, se mexia parecia morto mas, conseguia sentir o seu coração bater lentamente.
- Silêncio, finalmente! Onde ia? Oh…certo! Julian... -  Julian saltou de cima de mim mas, não cheguei a levantar-me do chão, o pé de Santiago colocou-se em cima do meu peito. - Os diários?
- Não sei!
Fui percorrida por uma dor interior novamente, um fogo que me queimava por dentro, não consegui deixar de berrar.
- Vamos brincar de mentirinha, Carmen? - Perguntou Santiago numa voz calma e assustadora. - Olha, que sou muito mais forte neste jogo do que tu.
Tomei uns segundo para respirar.
- Vou dizer o mesmo que disse ao teu filho: Mesmo que soubesse dos livros, tu serias a ultima pessoa a quem diria.
Julian riu-se no topo da sua maldade e trocou olhares com o pai.
- Mata-a de uma vez, Santiago.
- Ele não me vai matar. - Disse eu olhando para o verde jade de Santiago. - Eu posso estar a mentir e saber onde estão os livros do Lawrence, mas se pores fim a minha existência…ficarás sem saber.
Num gesto rápido, Santiago ergueu-me do chão pelo pescoço e encostou-me a parede com força bruta. Senti a dor do impacto percorrer todo o meu corpo. O seu braço estava encostado a minha garganta impedindo o ar de passar, apenas separa-nos uma fina camada de ar.
- Que sou eu para ti? UM IDIOTA?! - Largou o meu pescoço e senti a força de uma valente chapada vinda de esquerda. Desnorteou-me por segundos mas, antes que colocar o sentido no lugar voltei a ser empurrada contra a parede. - Lembraste como foi no dia em que te transformei? A dor, o medo e o que te fiz passar? Isso eras tu humana, e eu não dei o melhor de mim afinal, nessa condição podes suportar certa quantidade antes de morreres mas, agora como vampira…- O seu aperto aumentou.
- Como eu disse: Não vais matar-me. - Abri um sorriso presunçoso. - Sou muito valiosa para ti.
Santiago puxou-me pelo pescoço e, logo a seguir voltou a enfiar-me na parede.
- OS DIÁRIOS, CARMEN?!
Larguei uma gargalhada estridente, não sei porquê, simplesmente comecei-me a rir. Talvez, porque estava a ver o meu futuro mesmo ali e adivinhar o meu final. Senti o impacto da mão de Santiago na minha cara, dado por uma valente bofetada, com certeza a sua tortura não fica só por ali. Cravou os seus olhos verdes nos meus e, comecei a sentir-me estranha por dentro, como se fosse vomitar…
- Santiago! - Uma voz feminina fez o meu sofrimento parar. - O sol…
Aquela sensação estranha cessou e o meu criador, aproximou a sua cara da minha, agarrou uma mão cheia dos meus cabelos e puxou para mais perto. Estava a poucos centímetros dos seus lábios pútridos e, podia ver mais que nunca a raiva que se formava nos seus olhos.
- Vais dar-me os diários do Lawrence, nem que tenha que torturar todos os teus amiguinhos a tu a frente! Vais banhar-te no sangue deles, vais carregar a culpa da sua morte e sofrimento até ao fim dos teus dias. Vais desejar nunca teres sequer nascido, depois do que eu te fizer, se não me deres os livros, Carmen. - Puxou-me os cabelos com força. - No te metas conmigo!
Largou a minha cabeça com força e a seguir encaminhou-se para a porta, seguido da mulher de beleza invejável e, por fim Julian que fez questão de me sorrir.
- Não vás a lado nenhum…
Logo a seguir desapareceram. Pouco a pouco fomos ganhando movimentos, Sheftu largou-se de Beth e correu para junto de Eric socorrendo-o, as duas mantinham uma conversa mas, eu não escutava ainda permanecia deitada de olhos no tecto rachado da mansão. Olhei para o lado e, no topo das escadas vi, Dean e Frankie os dois a olharem para a situação com um ar de espanto. Sinceramente, nem me mexi. A minha cabeça movia-se devagar mal, conseguia respirar. Santiago estava de volta. Julian vinha com ele. Os dois queriam os livros de Lawrence, e, estavam prontos a tudo para obtê-los. Então, uma pergunta formou-se na minha cabeça, enquanto olhava para Sheftu que fazia os possíveis para Eric se colocar de pé. Até que ponto estaria eu a ir, para salvá-los? 

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