Immolation Season - Ep 1, Dean

Depois de tudo o que tinha acontecido pela Transilvânia, Carmen tinha-os mandado embora mas, claro que Dean e Frankie arranjaram uma forma de permanecerem por perto. Só não sabiam que não eram apenas flores mortas que permaneciam a casa, muito mais estaria para vir...

"Like It Or Not, I’m One Of You" by Dean Ross

Não faço a mais pequena ideia do que acabou de acontecer naqueles últimos minutos. Recapitulando para ver se entendo: Salvamos a Sheftu, pelo meio matamos uns quantos vampiros, – o que soube muito bem, já agora – quando estamos preparados para nos irmos embora, encontro Carmen ensanguentada debaixo de uma ponte com um ar desnorteado, não me disse o que se passou mas, tenho quase a certeza que foi grave. Quando chegamos a casa de Job, qual é o meu espanto por vê-lo morto e espalhado por todo o lado. A Carmen voltou a ficar apreensiva e ainda mais, quando viu aquela mensagem na parede da casa do Job. Entretanto, a Sheftu trouxe uma nova amiga…a Beth…bom, ela ainda é um enigma. Deixamos o Job e o seu assassinato prematuro à polícia de Transilvânia e voltamos para casa e, foi aí que as coisas ficaram mais confusas. Estava tudo bem. Tudo tão bem! Até Carmen, resolver expulsar-me de novo da sua vista, um hábito que, diga-se de passagem, começa a irritar-me. Por isso, deixei-a pensar que eu e Frankie tínhamos ido embora mas, na verdade, demos a volta.
- Achas isto uma boa ideia? - Perguntou Frankie, enquanto eu agarrava-me às trepadeiras que davam para o quarto de Carmen e subia-as agilmente.
- Claro que não. - Disse enquanto subia.
Sorte a nossa, a janela estava aberta e foi só empurrar. Entrei primeiro e, Frankie veio a seguir. Mal nos colocamos de pé ouvimos um som esquisito.
- Quem é que está a morrer?
Aproximei-me da porta, encostei o ouvido e prestei atenção. Ninguém estava a morrer.
- É um violino. - Ficamos os dois a escutar o arranhar daquelas notas. Sentia imensa fúria em cada arranjo, seja quem for, estava veramente irritado.
Frankie estremeceu, passou as mãos pelos braços num gesto frenético.
- Brrr…está frio aqui dentro…
- Shhh! Pararam de tocar…
Agora ouvia somente vozes abafadas, apesar de longe consegui identificar duas vozes masculinas. Ouvi Carmen a falar e Eric também a retrucar umas quantas vezes. Resolvi abrir a porta e verificar o que estava a acontecer, pedi a Frankie, para ficar atrás de mim, não fazia a mínima ideia do que se passava do outro mas, a curiosidade mal me deixava.
Percorri o corredor que dava até as escadas…
- Pára de gozar e diz-me o que queres, Santiago! - Reconhecia aquela voz. Ela estava irritada, estava à beira da sua boa saúde mental. Parei. Frankie fez o mesmo. Parecia que conseguia sentir a apreensão de Carmen e como a raiva fluía através dela.
Mais conversa, mais frases irónicas carregadas de ameaças. Passei para o outro lado do corredor, avancei em direcção as escadas, agachei-me e espreitei; Eram dois homens, um de longos cabelos negros que deveriam chegar até a meio das costas e um outro de cabelos loiros que davam até aos ombros…
- Dean… - A voz de Frankie chegou-me aos ouvidos. Olhei em frente e vi uma mulher. Era linda, uma beleza de senhora. Cabelos ondulados até aos ombros, com um vestido verde-escuro que lhe assentava na perfeição.
O aperto de Frankie, fez-me voltar atenção a algo se passava lá em baixo. O homem de cabelo preto tinha Eric numa espécie de aperto qualquer. Não conseguia ver nada, o homem era maior que Eric mas, sentia que algo de perigoso se passava. Sheftu tentava soltar-se do aperto repentino da tal Beth, Carmen também queria ajudar mas, tinha sido empurrada por aquele loiro e esse prendia-lhe os movimentos. Senti vontade de me levantar e parar com aquele espectáculo de horror mas, Frankie agarrou-me o braço.
Eric foi largado à força bruta por aquele homem, Sheftu e Beth acudiram-no de imediato enquanto o homem de cabelo preto, se voltava para Carmen ainda caída no chão. Observei enquanto esse tal homem – que parece se chama, Santiago – pisava o peito de Carmen. Mas, que raio fazia eu ali, a vê-la sofrer e gritar? Quis levantar-me novamente mas, Frankie puxou-me com mais força para baixo.
- Os diários? - Perguntou Santiago. Diários? Voltei-me para Frankie com a pergunta escrita na cara e ele também encolheu os ombros.
- Não sei! - Foi a resposta de Carmen. Era uma resposta verdadeira mas, mesmo assim as perguntas não tinham acabado. Logo a seguir, ela largou um berro que até a mim doeu. Doeu-me no espírito. Na alma. Carmen estava a sofrer.
- Vamos brincar de mentirinha, Carmen? - Perguntou Santiago numa voz calma e assustadora. - Olha, que sou muito mais forte neste jogo do que tu.
Os segundos passavam lentamente, mas quando vi Carmen a suspirar sabia que vinha aí uma resposta torta.
- Vou dizer o mesmo que disse ao teu filho: Mesmo que soubesse dos livros, tu serias a última pessoa a quem diria.
O riso do gajo loiro invadiu a mansão. Era uma gargalhada cheia. Olhei para a jovem morena nas escadas e ela também abriu um sorriso engraçado.
- Mata-a de uma vez, Santiago.
- Ele não me vai matar. Eu posso estar a mentir e saber onde estão os livros, mas se pores fim à minha existência…ficarás sem saber.
Foi aí que Santiago pegou-a pelo pescoço e encostou Carmen contra parede, ela absorvia bem o impacto mas, não significava que não estivesse a sofrer. Aquele aperto era forte demais. Meu Deus, conseguia sentir esse aperto a volta do meu peito. Eu queria salvá-la! Raios, Frankie, pára de agarrar-me!
- OS DIÁRIOS, CARMEN?!
Parei. Diários? Olhei para Frankie, recuei uns passos até ficarmos longe da mulher nas escadas.
- Lembraste dos livros que a Carmen me deu?
- Aqueles livros velhos do Lawrence?
- Esses… Onde estão?
- No mesmo sítio. Não lhes mexi.
- Óptimo!
- Quando é que vais contar a Carmen que só tu podes perceber o que está lá escrito?
Olhei para Frankie, rapidamente a conversa que tive com Lawrence no quarto de hotel veio à minha cabeça mas, uma voz trouxe-me a realidade.
- Santiago! - Uma voz feminina fez o meu sofrimento parar. - O sol…
O silêncio inundou a casa, não havia gritos, apenas sussurros, e depois passos a afastarem-se. Logo a seguir a porta bateu com força, costa estava livre logo levantei-me e avancei para as escadas. O que vi deixou-me confuso: Eric estava rodeado por Sheftu e Beth que tentavam erguê-lo mas, estava de tal modo fraco que nem se conseguia levantar. Tive um leve vislumbre da sua aparência e senti-me a congelar, Eric estava pálido como uma folha de papel com uma substância verde a sair-lhe da boca.
O meu olhar desviou-se para Carmen, que permanecia deitada de olhos no tecto.
- Frankie, dá-lhes uma ajuda, sim? - Frankie desceu as escadas rapidamente, aproximando-se de Sheftu e Beth. Não demorou até trazer Eric aos ombros para cima, seguido pela vampira e pela outra, que ainda era um enigma para mim. 
Desci as escadas, peguei Carmen pelo braço e puxei-a para cima, ela logo afastou o meu braço afastando-se de mim num passo rápido. Segui-a enquanto ia porta fora para a noite fria de Inverness.
- Carmen… Carmen…
- O QUE FOI?!
Voltou-se e vi a irritação escrita na sua cara, os seus olhos estavam vermelhos.
- Não vou falar no que aconteceu ali… - Ela voltou-me as costas e, começou a andar novamente com a fúria como combustível. Mantive-me no meu lugar.
- Queres que te agradeça?
Raios, aquela raiva toda não estava a meu favor mas, não podia esperar!
- Temos que conversar. - Ela parou mas, não se voltou. - Tínhamos um acordo, lembraste?
Ela girou sobre si mesma.
- Estás a falar a sério, Dean? Vais falar sobre isso agora?
- Acordamos que iríamos falar sobre isto mal, a Sheftu estivesse em casa sã e salva…
- Só podes estar a gozar!
- Carmen, eu não posso esperar. Não posso!
 Ela ficou à minha frente em segundos e empurrou-me. Eu caí de costas no chão e Carmen sentou-se em cima de mim.
- Queres virar vampiro, então?
- Sim!
- Porquê? Queres morrer assim tanto…? Porquê que não saltas de uma ponte ou metes-te à frente de um comboio…?
- Porque eu quero passar a eternidade contigo, Carmen! - Agarrei-a pela nuca e puxei Carmen para mais de perto. - É contigo que eu quero ficar, minha louca! Eu não posso, nem quero ficar com outra pessoa…ou és tu ou mais ninguém!
- És louco! Tu és um louco irracional que nem imagina nas consequências daquilo que pede!
- Porquê que não queres transformar-me?
- Porque já basta as pessoas que matei enquanto era viva!
- Deita o teu passado fora, eu sou o teu futuro!
- Um futuro morto!
Os seus olhos cinzentos percorreram-me de cima abaixo, ela afastou o meu aperto e caminhou na direcção contrária rapidamente. Sentei-me no chão.
- Onde vais?
- VOU DAR UMA VOLTA!
- Carmen, o sol está quase a nascer…
Ela não me ouviu, apenas continuou a andar.

Voltei para dentro mas, antes de fechar a porta atrás de mim, vi Sheftu de braços cruzados.
- A Carmen?
- Saiu. - Respondi. Olhei com atenção, pude ver a irritação escrita na sua cara, estava veramente irritada. - O Eric, como está?
Sheftu engoliu em seco.
- Vim pedir-te ajuda, conheces alguém que possa ajudá-lo? - Perguntou-me preocupada, conseguia ver que era uma prova à sua sanidade mental. - Ele está mesmo mal, Dean.
- Lamento, Shef mas, não conheço ninguém…
Ela levou as mãos a cabeça, agarrou no cabelo e colocou-o atrás das costas, caminhando na direcção contrária mas, parou repentinamente.
- Quando a ruiva voltar, diz-lhe para ir ter comigo ao quarto. Preciso de falar com ela…
- Sheftu, a culpa não dela.
- É de quem então? Foi ela que trouxe aqueles dois até aqui! Especialmente aquele… - Calou-se abruptamente. Voltou-se e desferiu um valente soco que desfez a parede em pequenos pedaços, voltou-se para mim com os olhos enraivecidos. - Faz o que te pedi, sim? Obrigado.
Sheftu partiu em toda a sua fúria, levando tudo à sua frente. Eu segui o mesmo caminho que ela mas, ao invés de encontrar o hall vazio, encontrei Frankie sentado nas escadas com um ar pensativo. Aproximei-me do meu primo e ele levantou-se.
- Tu podes ajudar o Eric.
- Do quê que estás a falar?
- Os livros, Dean. Tu viste a quantidade de feitiços que tem lá dentro, aposto que deve ter um de regeneração e…
- Chega, Frank! - Interpelei-o. Comecei a subir escada acima. - Nem pensar que vou tocar naquilo.
- Porque não?
- Porque é magia! Eu não mexo com magia, primo.
- Mexes com vampiros mas, não com magia? Que raio de lógica é essa, Dean?
Voltei-me para Frankie repentinamente.

- É a minha lógica! Não mexo naqueles livros, lamento mas não o faço. - Retomei a minha caminhada escadas acima. Eu agora tinha algo mais em mente, tinha que provar a Carmen que queria ser um vampiro e que podia sê-lo. Quer queira, quer não, eu iria ser como eles, já estava decidido.

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