Immolation Season - Ep 5, Sheftu

Eric estava inconsciente, breves lembranças pareciam querer trazer algo que Sheftu muito provavelmente jamais desejaria rever... E, já não bastava todos esses problemas, agora Carmen tinha de ser a causa para muitos mais! Além disso, ainda tinha aquele homem. Repulsa, era isso que sentia pela forte ligação que a sua presença causava. Não, ela jamais quereria saber porque isto acontecia. Só queria Eric acordado, apenas isso.

"Perfect Moment to Kill… Maybe not!" by Sheftu Nubia

Poderia parecer completamente estúpida a minha ideia, mas quanto mais tempo passava, mais sentido parecia ter. Tentava recordar-me a cada nova hora a imagem que tinha passado sobre a minha cabeça, uma parede que parecia demasiado normal na minha infância, neste momento conseguia irritar-me profundamente. O que me importava agora uma estúpida parede no vale dos reis?! Há milénios que deixei de fazer parte dessa vida, fugindo de tudo o que tinha sido preparado para mim, na tentativa idiota de salvar a criança que agora estava morta. Morta… Lancei uma risada amarga, observando o homem que permanecia deitado, porque tinha ele de ser tão tolo?
Arriscara a sua vida ao defender-me, mesmo que eu estivesse em perigo da primeira vez, ele não tinha o direito de brincar assim com a sua vida. Pelo menos não estava morto, não estava como eu… Abanei a cabeça na tentativa de afastar a imagem que assombrou a minha mente. Demasiado informativa, jamais desejaria realmente vê-lo como alguém morto. Já me bastava eu mesma.
Porque tinha ele de pegar assim na sua vida, entregá-la a um estranho, tentando manter a existência de pessoas demasiado mortas para merecerem tal sacrifício? Não, a culpa não era dele. Carmen tinha trazido aquelas companhias indesejáveis para perto de nós, e jamais lhe perdoaria por esconder esse facto. Se realmente tinha a sua existência por um fio eu, como a mais velha, deveria de saber. Nem que fosse para estar atenta. Mas não, a idiota da vampira caçadora tinha escondido isso de todos. Fora um erro enorme pertencer a um grupo como este, agora tinha demasiada consciência disso, apensar de já ser tarde demais para desculpas…
 - Shef, viste a Carmen? – Perguntou-me Dean, sem que realmente me desse muito interesse a responder-lhe. Acenei negativamente, sem sequer erguer o meu olhar da mão que eu segurava.
Afinal a ligação não seria assim tão forte, já que nem tinha conseguido chamá-lo, apesar de acabar por vir, ironicamente, perguntar-me pela pessoa que menos me interessa ver no momento.
Apesar de já ter respondido à sua pergunta, ele permanecia na ombreira da porta, não sabia bem ao certo porquê, se estava a querer dizer algo ou se simplesmente tinha-se perdido pelos seus pensamentos… Ou talvez observasse Eric. Levantei o meu olhar de encontro a ele, fitando assim os seus olhos em mim.
- Eu estou bem. – Murmurei, sem saber ao certo se ele tinha realmente ouvido o que eu tinha dito.
- Tens a certeza? – Perguntou-me, mostrando no seu olhar um toque de preocupação.
- Estarei logo melhor quando ele acordar. – Acabei por ceder, apertando um pouco a mão de Eric, enquanto observava o seu rosto inexpressivo.
- Vai tudo correr bem… - Disse-o, com um certo tom de incredibilidade no que dizia. Até eu tinha as minhas dúvidas.
- Assim espero.
- Também eu. – Aproximou-se, colocando a sua mão sobre a minha, tentando libertá-la da mão que eu apertava demasiado.
- Obrigada. – Consegui dizer, levantando-me. A noite se fazia escura demais para mim, principalmente pelo peso extra que conseguia sentir em cada parte do meu corpo. Estava em alerta, apesar de tudo, tínhamos de ter cuidado para o caso dos últimos visitantes tentassem novamente procurar a porcaria dos livros. – Sabes alguma coisa sobre os livros?
O silêncio se fez ainda mais pesado, só a pulsação dele é que determinava a ansiedade que parecia querer crescer nele. Voltei-me e observei-o, não antes de pousar os meus olhos sobre a cama por breves momentos. Desejava tanto que ele se levantasse…
- Que livros? – Murmurou ele, demonstrando a sua capacidade de esconder por completo os sentimentos que floresciam sobre a sua pulsação.
- Recorda-te que eu ouço o teu coração… - Disse-o num tom de acusação, sem que parasse de observá-lo.
Parecia haver uma certa luta interior, até que finalmente o seu corpo moveu-se novamente, não para me responder ou algo parecido, mas para sair do quarto. E eu não o travei, não tinha muita importância, acabaria por saber do que seriam esses livros. O mais importante estava neste momento inconsciente de tudo… Perguntava-me o que lhe passaria pela mente neste momento…

As horas permaneciam demasiado lentas, era a espera que me matava a paciência lentamente. Como poderia eu saber o que fazer? Meus olhos pousavam suavemente sobre o seu rosto, uma respiração leve fazia com que o seu peito erguesse levemente, como se simplesmente dormisse, um eterno sono que teimava em não querer acabar.
Pensei em abanar o seu corpo para que acordasse, gritando com todo o ar dos meus pulmões para que ele voltasse para mim. Nada serviria, por mais que tentasse, nada fazia com que ele abrisse os seus olhos. Sentiria ele dor? Sua expressão permanecia impassível, sem que pudesse sequer saber se chegaria mesmo a levantar-se mais alguma vez.
Parecia ridículo deixar que o pouco sangue que circulava em minhas veias fluísse sobre a minha face, ainda mais ridículo era agarrar a sua mão e indo apertando, à espera que houvesse alguma resposta. Mas eu o tentava mesmo assim, eu deixava que cada parte daquela esperança humana, ridícula, pudesse alastrar-se pelas minhas acções noite dentro.
Recordei-me das manhãs em que acordava, suavemente e feliz. Muitos desses dias, ao som da voz de minha mãe, que começava a sua habitual manhã enquanto tratava das suas flores. Fechei o meu olhar, recordando-me dessa melodia, ecoando aos poucos pela minha voz, tentando fazer com o tempo passasse.
Acrescentava novos tons, enquanto formava lentamente pelos meus lábios as sensações. Eu talvez estivesse louca, nada disso me importava neste momento, apenas desejava que a falta que ele me fazia acabasse logo de uma vez, que o tempo pudesse curar. Soltei um breve sorriso seco ao pensar nisso, há muitas coisas fáceis de esquecer ou de simplesmente oprimir, mas esta não era definitivamente uma delas.
Uma sensação forte apanhou-me de surpresa, apesar de o sentir, permaneci imóvel.
- Não deverias dar-te ao trabalho de ficares aí. – Ouvi aquela voz, aquela irritante voz que me fazia querer gritar. Porque teria ele voltado?! Porquê! Eu nada disse, não movi sequer um músculo. Mas minha boca se fechou, deixando que a melodia acabasse.
Sentia-o aproximar-se, conseguia até ter a certeza que a minha raiva voltava completamente descontrolada.
- Vai-te! Desaparece daqui! – Falei calmamente, tentando controlar-me.
- Não antes de falar-te.
- Não quero ouvir nada do que digas. – Fiz uma leve pausa bufando. – Vai-te antes que te trate como inimigo que és!
- Não sou teu inimigo. – Sua mão aproximou-se do meu ombro. Afastei-me com toda a rapidez possível, observando-o a olhar-me da mesma forma que da última vez.
- Vai-te daqui! – Gritei mais uma vez, na esperança que ele se fosse. Mas nada aconteceu, continuou quieto, observando-me.
- Vou provar-to. – Disse, dando um passo para mim. Recuei um passo, começava a pensar em atacá-lo, mesmo que me matasse.
Não, não podia. Observei Eric, sentia-me preocupada com a sua segurança, caso eu perdesse ele acabaria por ficar em risco. Quando meus olhos se voltaram novamente para Julian, este observava-o com um leve sorriso no rosto. O que aumentava em mim a vontade de acabar com ele. Era nosso inimigo, desde o primeiro momento. A nossa posição estava comprometida, tinha de arranjar alguma forma de nos tirar daqui, tentar escapar. Eu não estava preparada para outra batalha, sentia-me cansada dos problemas.
- Bem… - Começou ele por dizer, voltando-se novamente para mim. – O teu humano acabará por ficar bem. Meu pai apenas lhe tirou os poderes. Não que da próxima vez o vá poupar, mas estás avisada. Deves sair daqui.
- Vai-te! Desaparece daqui! – Gritei, aproximando-me dele demasiado descontrolada para que pudesse pensar claramente. Seu olhar pareceu iluminar-se ligeiramente, correu e desapareceu sobre a mesma janela em que tinha entrado.
Não conseguia pensar direito, a única coisa que desejava era correr atrás daquela coisa e matá-lo, acabar com tudo isto de uma vez por todas! Estava cansada de existir, tantos milénios de guerras, mortes, problemas… Era assim tão difícil ter um pouco de paz?! Claro, a maldição continuava a assombrar-me, por mais que o tempo passasse. Eu não deixava de ser maldita pela minha condição.
Deixei finalmente a cadeira descansar de mim, ao aproximar-me mais do seu corpo imóvel. Minha cabeça descansou sobre o seu peito ritmado, enquanto a minha mão passava sobre a sua pele, não tão quente quanto eu desejava que estivesse. Seu rosto sereno assustava-me. Como poderia eu saber o que acontecia se nem a sua própria cara mo dizia?
Permaneci inquieta, enquanto a sua vida continuava a meu lado, não sabendo eu por quanto tempo. Temia perdidamente que isto tudo acabasse, que finalmente soubesse que o fim estava próximo. Talvez fosse o medo, talvez fosse a realidade. Tentei calar os meus pensamentos, concentrei-me sobre a sua pulsação e permaneci assim, deixando que o ar nos meus pulmões deixassem parte das minhas memórias fluírem, era a melodia da minha mãe que me acalmava levemente. Ele que acordasse, era a única coisa que realmente me importava…
- Dormiste bem? – Perguntei eu, sentando-me na cama, observando a porta, antes que Elizabeth realmente tivesse entrado.
- O quarto era um pouco… Confortável demais. Para ser realista.
- Dormiste pouco… - Comentei, observando a sua ligeira expressão. Parecia pensativa.
- Não costumo dormir muito. – Seus olhos passaram dos meus para Eric, antes que continuasse. – Acredito que não seja hoje que me mostrarás a cidade…
Eu sorri, apesar de tudo, ela conseguia de uma certa forma compreender-me. Eu o sabia, e talvez fosse a única coisa que nos fazia pensar do mesmo modo.
- Não. – Fiz uma breve pausa, suspirando enquanto pensava nas poucas horas que ainda tinham passado. – Acredito que não necessites muito de mim para o que vais fazer, fica para outro dia. Pode ser?
- Eu acredito que… - Parecia pensar um pouco no que desejava dizer, como se não soubesse ao certo como formular o que estava na sua cabeça. – Claro, depois me mostrarás a cidade com mais calma.
Ficou por uns momentos imóvel, certamente presa a algum pensamento que a sua mente tivesse a formular. Pouco depois saiu, deixando-me ligeiramente culpada por tê-la trazido. Porem, nunca tinha pensado que tal coisa pudesse acontecer.
Não conseguia mais estar quieta, levantei-me e fui lavar o meu rosto ligeiramente manchado pelo sangue seco, aproximei-me novamente do raio da cadeira, respirando fundo ao segurar mais uma vez a sua mão na tentativa idiota de receber alguma reacção dele.
Fechei os meus olhos numa tentativa de manter a minha pele limpa ao tocar na sua pele da mão com os meus lábios. Senti uma presença, ao mesmo tempo que a raiva voltava a querer tomar o controlo de mim.
Era Carmen, com um sorriso irónico que só me fazia vontade de acabar com ela logo de uma vez. Como se isso conseguisse trazê-lo de volta. Aproximei-me dela, encostando-a à parede, vendo agora aquela sua cara bem mais de perto… Não era assim tão mau deixar que a minha ira desse cabo daquele seu sorriso, não havia maior prazer.
- Olá, Sheftu!
- CALA-TE! – Gritei. Seu sorriso aumentou ainda mais. Ela não parecia estar normal, aquela sua idiotice habitual parecia ainda ter aumentado mais.
- Espera…estás chateada?
- A culpa é tua! – Tentei controlar-me, mais mortes não iriam levar a lado algum.
- De quê, Shef? – Disse ela, irritando-me cada vez mais… Como era simples acabar com ela, como me daria prazer arrancar-lhe aquela cabeça fora! Mas não! Não o podia fazer, tinha que ter calma. Afinal de contas haviam prioridades.
- Do Eric estar como está!
- Humm… Não me lembro de ter pedido ao Eric para defender-me. Eu sabia que a sua atitude de macho alpha iria metê-lo em problemas um dia… - A forma como ela falava dele conseguia realmente reavivar o pior em mim. Eu tentei, por mais que me doesse, por mais difícil que fosse. Minha mão aproximou-se daquela sua cara idiota, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e começasse a rir-se. Estaria louca? Talvez desejasse realmente que eu acabasse com ela de uma vez por todas… E eu queria isso, desejava acabar com tudo isto. Não que os problemas desaparecessem, mas suavizariam na minha mente…
Nem tinha dado conta que estávamos no corredor, apenas aproximei-me dela e ergui o seu corpo contra a parede. Ela continuava com aquele sorriso, dando-me cada vez mais vontade de acabar com a sua existência. Não doeria nada, pelo menos para mim.
- Viste o que eles fizeram ao Eric? Ele está sem poderes! Inconsciente, por tua culpa!
- Repito: Eu não pedi a ajuda de ninguém, é o que dá o Eric armar-se em.., - A sua frase foi abafada pela minha ira, só pensava em acabar com ela logo de uma vez, para que ela parasse com toda esta idiotice! – Wow! Estás mesmo chateada!
- A última coisa que precisamos é de desgraça nesta casa, Carmen. Principalmente trazida por ti e pelo teu passado mal resolvido! – Senti-me bem ao arrancar o seu sorriso idiota com as minhas palavras, afastou-se de mim. Conseguia ver o quão alterada estava, não parecia que estivesse no seu perfeito juízo. E o seu passado era a chave para toda esta loucura..
- “Desgraça”? Falemos disso então! Quem foi que trouxe os recém-nascidos para cá? Uh! A Pan! Porquê? Porque ela queria matar-te! Portanto, quem começou a onda de desgraças aqui foste tu, múmia. – Cuspia as palavras maldosamente, fazendo com que parte da minha ira se desvanecesse. Não podia pensar em vinganças enquanto o Eric permanecia naquele estado. – Tivemos de ir até ao outro lado do mundo para ir salvar esse teu couro ingrato do teu passado mal resolvido!
- Nunca pedi que fossem buscar. – Respondi prontamente, recordando-me dos últimos acontecimentos. O que Ian tinha feito, das sessões de tortura… Dora, Henry…Kiya. Demasiado doloroso, demasiado recente para que aceitasse tudo.
- Oh a sério? Então, volta para lá! VAI! Menos gente mais espaço!
- Carmen, por favor… - Frankie tentava acalmar o clima, como se fosse possível! Usava o meu passado para justificar toda esta situação… Por mais que tivesse acontecido, jamais escolheria ver Eric assim… Preferia permanecer lá eternamente, mas não era essa a questão. Desta vez a culpa não era minha! – Não se chateiem…
- Isto nada tem a ver comigo. O Eric perdeu os poderes, Carmen! – Recordei-me da súbdita personagem no meu quarto, que me dizia para desaparecer. Jamais deixaria as coisas nesta situação. – Por causa do teu passado!
- O meu passado?! – Começou ela a dizer. – Queres que chore pelo Eric estar assim? Não me lembro de ter pedido a sua ajuda! É bem feito que fique sem os poderes, para ver se acorda e se mete no seu lugar.
INGRATA! Era a única coisa que conseguia pensar sobre o que ela tinha acabado de dizer, voltei-me para ela e acertei com a minha mão fechada sobre aquela cara ingrata! Quem pensava ela que era?! Ele tinha tentado ajuda-la e ela ainda dizia isso!
Da sua boca saiu apenas sangue, dirigido a mim, atingindo-me directamente sobre a roupa. Quem raio pensava que era ela?!
- Carmen, pára com isso! – Ouvi Dean dizer, tentando acalmar aquela vampira egoísta.
Observava o seu sangue sobre mim, enquanto ainda ouvia as suas palavras mal-agradecidas na minha memória sobre um homem que nem se podia defender! Ele estava assim por tentar ajudá-la, não que tivesse sido uma boa ideia, mas mesmo assim! Tinha tentado ajudar aquela idiota!
Peguei no seu corpo que ainda estava no chão, aprofundando-o mais sobre ele, levando com uma cabeçada dela que me deixou meia aturdida por momentos. Voltei a olhar-lhe, agarrando-lhe o pescoço e levanto-a contra a parede. Empurrou-me, fazendo com que caíssemos, devolvi-lhe o ataque, estando novamente em cima dela, segurando-lhe a vida pelo pescoço, tentando raciocinar.
- Estou prestes a partir-te o pescoço. – Disse-lhe, tentando acalmar-me. Não tinha que ser assim, apesar de ser ingrata não merecia acabar desta forma.
- Força. – Incitou-me. – Mostra-me do que és capaz, Sheftu.
Eu ri-me, continuava a ser a mesma idiota de sempre, mas tinha que assumir que tinha fibra. Era uma pena que tudo acabasse assim, mas pelo menos não sofreria muito. Eu trataria disso.
- CHEGA! – Berrou Dean, segurando-me pelos braços enquanto eu tentava pensar em alguma razão para parar. E eu a encontrei. Ela não merecia acabar assim, por mais ingrata que ela fosse. Afinal de contas, tinha já bastantes pessoas que desejam ter a sua cabeça nas mãos… – Chega, Carmen.
- Eu ouvi da primeira vez, Dean! – Respondeu-lhe, enquanto me observava atentamente.
- O QUE FOI?! – Berrei, na esperança que ela acordasse de uma vez. Como podia ela ter mudado tanto? Era uma completa idiota, mas ao ponto de se ter mudado completamente… Nem parecia ela que estava à minha frente.
- Sabes, estou a pensar se, quando chegar a altura, vale mesmo a pena salvar-te uma segunda vez. – Ao dizê-lo, afastou-se de Frankie, passando por nós com aquela sua cara parva, continuando o seu caminho para bem longe daqui.
Eu não compreendia nada do que se tinha acabado de passar, os braços de Dean ainda me seguravam, parecia que o tempo não tinha passado.
- Estás bem, Shef? – Perguntou-me Frankie, aproximando-se e colocando a sua mão no meu ombro enquanto Dean finalmente me libertava.
- Estou, dentro dos possíveis… - Voltei-me rapidamente, conseguindo ainda apanhar a expressão preocupada de Dean. – E tu, estás bem?
- Não sei, Shef… Não sei. – Acabou por dizer, depois de uns momentos de silêncio. Afastei-me ligeiramente, apoiando-me à porta. Quase que tinha perdido a cabeça! Definitivamente estes não eram bons dias para mim… Ainda estava tudo tão vivo na minha mente!
Frankie passava o seu olhar entre mim e Dean, talvez tentando entender qual de nós estaria mais preocupado. Ou simplesmente não fazia a mínima ideia do que dizer ou fazer neste momento.
- Sabem que mais… - Começou ele por dizer. – Agora vinha mesmo a calhar uma boa bebida… Vamos?
Dean nem reparara muito no que ele tinha dito, por isso Frankie repetiu o convite. Vi-o recusar, dirigindo-se para o quarto de Carmen, fechando a porta com bastante força.
- E tu, sei que não é algo que bebas com regularidade… Mas podias vir.
- Não, Frank… Preciso de ficar por aqui.
Ele observou um pouco a porta, talvez na esperança que o seu primo voltasse. Mas isso não ia acontecer, pelo que eu conhecia dele.
- Podes ir, eu fico com ele. – Tentei acalmá-lo, ele observou-me atentamente e nem se moveu. Eu precisava de falar com Dean, e não queria que ninguém nos incomodasse… - Acredito que possas encontrar a Beth por aí, ela não demorou muito a sair… Talvez ainda a encontres.
Jogo sujo, eu sei. O que importava era que tinha dado o efeito pretendido. Sua expressão iluminou-se um pouco, ligeiramente preocupada, mas eu acabei por convencê-lo a ir-se.
Não precisava de bater à porta, eu o bem sabia. Mesmo assim, decidi fazê-lo. Sua voz pediu que eu entrasse, acedi ao seu pedido. Estava a observar a janela, sem sequer se virar por um momento. Estaria ele preocupado com aquela idiota? De uma certa forma eu o compreendia.
Aproximei-me o suficiente para passar a minha mão sobre o seu ombro, estava tenso demais para falar, demasiado afundado nos seus pensamentos e preocupações. Ele necessitava de falar, mas primeiro tinha de se acalmar.
Movi o seu corpo, abraçando-o com força enquanto ele combatia essa aproximação. Aos poucos foi-se deixando ficar, até que o silêncio podia acalmar os dois. Brevemente chegaria a hora de enfrentar novamente os problemas, tínhamos de estar preparados para todas as consequências. Por mais que ele negasse, estávamos juntos nesta situação. Ele acabaria por saber disso tão bem como eu.
- Vem para o meu quarto… - Comecei eu por dizer, depois de afastar-me do seu corpo. Ele me observava, sem que dissesse nada. – Não quero deixar Eric desprotegido.
Comecei a caminhar, até que cheguei à porta e observei-o. Estava a olhar novamente para a janela, por momentos pensei que ele ficasse mesmo lá, até que o seu corpo decidiu seguir-me. O seu olhar mostrava demasiadas emoções, mas uma delas era a determinação. Essa, eu conhecia. Começava a preocupar-me um pouco com o estado dele. Demasiado humano para conseguir ir em frente com todos estes problemas, só esperava que conseguíssemos superar tudo. E que aquela idiota nem pensasse em deixar Dean assim! Como era ela capaz?! Não estava definitivamente nos meus dias e, pelo que parecia, ele também não tinha tido muita sorte…

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