Transilvania Season - Ep 39, Carmen

Antes que a viagem começasse para tentar reaver Sheftu, Carmen absorvia cada traço de si mesma, antes de ser amaldiçoada por esta eternidade. A realidade, é que mesmo tentando continuar a mesma, parte do que era parecia apenas uma sombra do que acontecia. O seu passado estaria cada vez mais próximo...

"White Shadow" by Carmen Montenegro

12 De Agosto de 1656

Mais um outro que caiu ao chão, encontro-me agora perto do seu corpo totalmente desfigurado. Este tinha dado muita luta e eu fiquei lesionada. Boa, um tornozelo magoado e um ombro deslocado. Fantástico!
Este, pertencia também a comitiva de Santiago. Pergunto-me o que se passa, para ele deixa-los assim para trás como bagas podres. Sei que nunca viajava com muita gente, era discreto, adorava fazer maldade pela calada da noite. Santiago e amigos numa digressão de destruição país fora, os malvados. Iria sofrer. Iriam sofrer um por um. Vou arrancar cada membro, para vingar cada ser humano que morrera as suas mãos.
Tenho que mover-me depressa, não posso deixar o rastro de Santiago arrefecer e ele move-se depressa.
Cuenta de tus días, Santiago.  Conta los bien, que tu fin se acerca.

Fechei o meu diário tirando uns segundos de reflexão. Encostei-o ao peito, e tomei uns segundos para absorver todas aquelas memórias fortes.
Ouvi a porta a bater com força, passos fortes e vozes abafadas ao fundo do corredor. Ele estava chateado. Ele estava magoado, acima de tudo. Vinha ele pelo corredor, conseguia sentir a fúria a borbulhar no seu sangue.
Abriu a porta com alguma brusquidão, não o encarei a principio, permaneci no cadeirão com os olhos pregados no soalho de madeira.
- Estás louca? - Perguntou ele num tom de voz neutro. Eu permaneci quieta. - Acabei de ver na televisão o espectáculo que deste na auto-estrada…Muito bem! Quando pensei que não pudesses fazer nada de louco, começas com isto…
- Não fiz nada.
- Nada? Tu perseguiste um homem pela auto-estrada fora, destruíste uma ponte, causaste acidentes, deixaste um raio de destruição a tua volta e, sem falar na maneira como me trataste.
- Vais começar uma birra? - Dean apanhou aquela frase como um soco no estômago. Aproximou-se de mim e arrancou-me o diário das mãos. Eu nem me levantei. - Desde que o Lawrence te deu esta porra que andas meio parva. Deixa-me ver o que tens aqui…
Levantei-me rapidamente Dean olhou para mim surpreso.
- Dean…
- O que raio está aqui é tão importante para ti!?
As suas palavras magoaram-me muito. Senti vontade de o abraçar mas mesmo assim deixei-me ficar. Estendi uma mão e toquei no seu cabelo cor de areia, ele aceitou o meu toque com um leve arrepio devido a frieza da minha pele. Ele olhou para mim e devolveu-me o diário como quem desiste de uma luta que mal começou, puxou-me para perto num beijo apaixonado que arrebatou  por completo a minha alma, ou o que restava dela. 
- Não te queria gritar.
- Mas gritaste. - Dean tirou algumas madeixas dos meus olhos. - Tu não viste como estavas! Os teus olhos, estavam raiados de vermelho, claramente querias magoá-lo…
- Não gostaste.
- Assustou-me, confesso. - Bateram a porta no momento exacto que eu ia falar. Eric apareceu com o gelo na cabeça e com um ar de pouca paciência, não precisou de falar apenas deixou a porta aberta e depois partiu. Dean voltou-se para mim e beijou a minha testa com carinho. Ajoelhou-se a minha frente, passou as mãos desde o meu tornozelo até ao joelho, onde terminava a minha bota. Mostrou-me o que parecia ser um punhal negro de lâmina reluzente, voltou a guarda-lo na protecção e colocou-o dentro da minha bota. Voltou a levantar-se, olhou-me de cima  abaixo e a seguir,  saiu do quarto.
 Lamento, Dean, eu vou ter que mudar apesar da ideia não te agradar.

***

Quando chegamos a sala, Job estava debruçado sobre uma mesa que dava luz, Eric estava ao seu lado. Aproximei-me da mesa, seguida de Dean mas, Job nem se dignou a olhar-me.
- Vou ignorar o facto, do meu Porsche ter sido destruído, por mais que me doa na alma. - Anunciou. - E, vou concentrar-me no nosso objectivo.
Agachou-se e, quando se levantou, trazia com ele um rolo de papel enrolado. Desenrolou e, estendeu sobre a mesa um mapa.
- O que é isto? - Perguntou Dean aproximando-se.
- É o Castelo onde está a Sheftu. E, aqui meus amigos, vocês podem ver como a arquitectura da Idade Média na Transilvânia é completamente diferente do resto do mundo. Este castelo tem uma muralha fortíssima a volta, tem quatro torres e um portão, oh claro sem esquecer que cada um destes pontos é vigiado. Dentro, temos um aldeia…
- Aldeia? - Perguntou Dean. - Com humanos?
- Sim, são poucos mas, são humanos que se oferecem voluntariamente para servir de alimento aos vampiros.
- São muitos?
- Mais do imaginas.
- São normais? - Perguntei eu. -  Simplesmente, são humanos que sabem que estão rodeados de vampiros, e convivem com isso?
- Bom, o ambiente no castelo é da Idade Média, ou seja os humanos, vestem-se e agem como se estivessem nessa altura. Tudo foi construído para que parasse no tempo. Não conhecem outra realidade, portanto para eles, os vampiros são como deuses. Para eles é um privilégio… - Como era possível alguém sentir-se assim? Feliz e honrado por servir de alimento a nós, vampiros, seres maléficos por natureza? Pobres almas. - E, no meio desses humanos, há os Batedores.
- Batedores?
- Sim, são os únicos que podem sair da aldeia e que procuram sangue novo, também são eles que mantêm as aparências do castelo e fazem de tudo para que a verdade não saía. - Job olhou para mim. - O jovem do cabelo azul era batedor.
Pronto, definitivamente não senti pena alguma daquele idiota de crista azul.
- Mais alguma coisa, Job? - Perguntou Eric.
- Hum…Pois, o castelo ou o ninho disfarçado de castelo, fica no cimo de uma subida. E, claro, está também protegido!
-  Okay, a Sheftu está aqui dentro, a pergunta que vos deixo é: Como raio vamos entrar?
- Podíamos entrar pela porta da frente. - Disse Dean. - Bem armados conseguíamos derrota-los.
Para meu espanto, Eric concordou.
- É uma opção.
- Sim. Não devem ser muitos, certo?
- Pois, olha que não sei. Quem diz 10 diz 100…
- Sim, mas conseguimos.
- É uma ideia idiota. Suicida. - Disse eu. Tanto Dean como Eric olharam para mim surpresos. - Imagina: tu, o Frankie, o Job e o Eric a entrarem pela porta da frente!
- O que tem? - Perguntou Dean.
- Vocês querem salvar a Sheftu ou servir de jantar? Porque só pode ser isso que vocês querem, ao pensar que quatro humanos – e, sim Eric, isso vale para ti também porque afinal tens uma parte humana – conseguem entrar num castelo de vampiros, matá-los, resgatar a Sheftu e ainda sair do castelo ou melhor, do país vivos!
- Estás a ser dramática!
- Podem matar-nos também!
- Carmen…
- Ela tem razão…- Disse Eric. Todas as atenções se viraram para ele. - Não durávamos dois minutos lá dentro, nem com todas as armas!
Dean bufou chateado.
-  Obrigada, Eric!
-  Ouve-me, Dean. Eu consegui alguma informação sobre o jovem do cabelo azul. E, parece que há uma entrada.
- Há? - Perguntou Job. - Nunca ouvi falar disso.
Eric aproximou-se do mapa do castelo, procurou por segundos e, a seguir pegou numa caneta que ali estava perto e riscou.
- É um túnel.
- Um túnel?!
- Sim. Não é fácil, fica a uns metros daqui. Vi o local na cabeça do puto de cabelo azul. - Eric demorou um segundo a organizar as ideias…- Poucos sabem que ela existe, é mesmo só reservada aos Batedores. -  Parecia ter dificuldades em falar. - Arranja-me um mapa da cidade, Job...
Rapidamente Job apareceu com um mapa de Transilvania e, Eric correu os olhos rapidamente a procura. E parou subitamente, na parte histórica de Transilvania. Ficava um pouco do local onde nos encontrávamos. 
- Aqui…
- Uma entrada? - Perguntou Dean. - Isso é um jardim!
- Dentro do jardim há uma gruta...Vai dar a…um…vai dar a um túnel…- Eric levanta os olhos para mim e, subitamente vejo-o muito pálido. Apresso-me a ajuda-lo, no exacto momento em que ameaça desfalecer. Consigo segura-lo mas, não aguento com o seu peso e os dois caímos.
- Eric?
- Sinto-me tonto.
- Deve ter sido da pancada. Vem, senta-te.
 Fi-lo sentar-se num cadeirão, enquanto o observava atentamente. Nunca tinha visto Eric tão vulnerável antes. Desde que Sheftu desaparecera, atravessara por todas as fases desde insanidade, a depressão, ficou psicótico e agora está assim, fraco. Eric, nunca ficaria assim por uma pancada na cabeça! Estaria a falta de Sheftu a afecta-lo?
Eric olhou para mim e, o seu olhar não me deu resposta alguma. Apenas sorriu-me como sempre.
- Não te preocupes comigo. - No entanto, o seu olhar mostrou ofensa e olhou para Dean que estava ainda no seu lugar de braços cruzados. - Bom saber que te preocupas.
Dean revirou os olhos e voltou a concentrar-se no mapa.
- Podes continuar ou achas que vais desmaiar outra vez?
- Dean…- Repreendi.
- É uma espécie de passagem secreta. Apenas os batedores a usam, é um meio de entrada e saída da aldeia. - Eric sobrepôs-se a mim com uma voz firme. - Começa no jardim e vai até ao castelo. Tem como saída uma porta que fica mesmo no centro do castelo. O túnel, não é um túnel normal.  É longo, sempre a subir, escuro, húmido e, labiríntico. A porta, que está no fim, está trancada e, só se abre por fora. Provavelmente guardada por um forte vampiro com poderes.
- Tudo isso estava na cabeça dele? - Perguntei eu.
- Sim.
- Bom, a melhor maneira é eu entrar pela frente enquanto outros vão pelo túnel.
- O quê? Isso não faz sentido! Porque iríamos nós pelo túnel?! - Perguntou Dean.
-  Para vossa protecção! - Exclamei. - Ou queres morrer?
- Queres mesmo que responda?
Respirei fundo, não queria chatear-me, pelo menos não com Dean. E, esta discussão sobre morrer ou viver estava a irritar-me. Dean não desviou o olhar de mim. Humano teimoso!
- Eu vou pela porta da frente, tento eliminar o maior número de vampiros possível e, enquanto isso vocês seguem pelo túnel. Abro a porta e depois procuramos a Sheftu.
- Isso é estúpido. - Respondeu Dean. - É estúpido e louco!
- É seguro. - Ele ia voltar a barafustar, quando a porta se abriu de rompante e Frankie apareceu aos tropeços. Vinha com o coração aos pulos e a cara vermelha. - Frankie?
- Carmen, eu preciso de falar contigo.

`***

Frankie tinha-me arrastado para fora do apartamento de Job, estávamos nas escadas do prédio, quer dizer, eu estava sentada nas escadas enquanto Frankie, andava de um lado para o outro. Contorcia as mãos e estava tremendamente nervoso.
- Frankie, acalma-te.
- Não me lembro…Não me lembro de nada!
Levantei-me e fiz parar o seu percurso. Separei as mãos, que já estavam vermelhas e, segurei-as entre as minhas.
- Respira fundo. - Frankie inspirou e expirou várias vezes. Consegui senti-lo a tremer como uma vara verde. Onde se tinha metido o Frankie divertido? - Conta-me com calma.
- Quando tu expulsaste a mim e ao meu primo do teu carro, nós fomos para um bar. O Dean estava chateado e amuado, nem sequer chegou a entrar mas, eu não. Afinal, tinha acabado de vir para a Transilvânia e sairia daqui sem ver mulheres bonitas? Impossível! - Lançou-me um sorriso tímido e voltou ao nervosismo - Portanto, lá estava eu, sentado no bar com umas romenas bem bonitas…quando…quando vejo um homem…sim, um homem. Ele estava longe mas, conseguia vê-lo. A princípio não me ligou mas, quando toquei num assunto ele…aproximou-se…
- Que assunto? Ofendeste-o?
- Não. Falei de ti. - Fiquei estática e confusa. - Mencionei o teu nome.
- E, o que aconteceu depois?
Frankie suspirou, afastou-se e começou novamente o nervosismo.
- Não me lembro. Sei que ele se sentou a minha mesa e mandou as jovens embora, eu até reclamei! Que direito tinha ele de mandar as loiras embora? Nenhum…
- O que foi que disseste? Ou melhor, do que te lembras ter dito?
- Falei de ti…E…do Dean…do vosso “caso”.
Mal ouvi aquelas palavras correram-me pela cabeça os piores pensamentos. Os caçadores tinham regras muito rígidas: Tinham que ser impassíveis! Nós éramos os maus da fita, anti-naturais seres que deviam morrer para a ordem natural das coisas se manter. E, também os vampiros tinham regras: Os humanos eram comida! A não ser que eu usasse Dean regularmente, como fonte de alimento – o que era totalmente mentira – ele tinha que morrer. Não há espaço para sentimentos no que toca aos humanos! Agora, imaginem se eles sabem do meu envolvimento com Dean?! Seria a minha morte e a dele. Morreríamos juntos.
- Que mais?
- Não me lembro, Carmo!
- Okay. Uma pergunta um bocado mais fácil, julgo eu: Como é que esse homem era?
Frankie permaneceu calado durante segundos, quando se lembrou os seus olhos abriram-se revelando iluminação súbita.
- Loiro.
- Loiro?
- Sim. Loiro, olhos azuis e cabelo por aqui…. - Tocou a meio do peito - Eu lembro-me pois, acho que gozei com o aspecto dele.
Eu não conheço ninguém assim! E, que raio de homem era aquele? Voltei as costas a Frankie, percorrendo todos os recantos da minha memória a procura de alguém com aquela descrição. Acabei por girar sobre mim e encarar Frankie.
- Não me lembro de ninguém assim, Frankie. - Ele voltou a ficar angustiado. Encostou-se a parede e deixou-se cair. Aproximei-me dele e sentei-me a sua frente, estendi a mão e fi-lo olhar-me. - Não te preocupes…
- E, se for alguém mau? Se for um caçador? Um mercenário? Pior, e se for os dois? Sabes, que este tipo de mistura entre humano e vampiro, não é bem visto. Somos caçadores, vivemos para vos matar, não para procriarmos convosco. - Ri-me. - Não te rias, isto é a sério, Carmen! Não te preocupa?
- Deve ser um jornalista ou escritor que ouviu a tua história e resolveu saber mais. A sério, não te preocupes!

Frankie sorriu. Apesar de ter pedido para que não se preocupasse, não consegui não ficar apreensiva. Um sujeito loiro que queria saber coisas sobre mim?! Que mais viria por ai?

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