Transilvania Season - Ep 36, Carmen

Agora que sabiam do local onde Sheftu estava aprisionada, bastava encontrar meios para conseguir salvá-la. Mas, para Carmen, não era apenas isso que estava a acontecer - ela relia o seu diário, descobrindo uma mulher determinada que pouco parecia reconhecer. Mais complicações viriam, com toda a certeza. Era altura de agir.

"Road Rage" by Carmen Montenegro

05 De Agosto de 1656
Então, matei-a. As minhas roupas estão sujas com o seu sangue, ainda não me lavei. E como me sinto vitoriosa, sem vergonha e com o ego mais cheio do mundo. Sinto-me invencível. Demorou mas lá a sanguessuga acabou por morrer engasgada no próprio sangue. A pouco e pouco, vou eliminando as migalhas de pão que Santiago, desleixadamente, deixa para trás. Sou o que sou e tenho orgulho nisso. Todos eles deviam morrer, tecnicamente não são humanos, portanto não merecem qualquer misericórdia ou compaixão que daí possa advir. Mereciam uma morte dolorosa. Como ela teve! Oh! Que trabalheira, raio da vampira! Esperneou, gritou, berrou e ainda me magoei um bocado! Um jogo de tortura necessário para saber a localização de Santiago, o meu criador. Tive que usar 3 estacas. TRÊS! Para faze-la falar e mesmo assim, tive que cortar aquela cabeça. Cortar e depois deita-la no fogo mas, soube-me tão bem. Tão bem! Deixa-la ali, a espernear enquanto a minha lâmina passava e passava pelo seu pescoço.
A pouco e pouco eu ia eliminando as migalhas que Santiago desleixadamente ia deixando para trás. Estava no seu encalço. Eu ia apanha-lo. Apanha-lo e destruir.
Te voy a destruir por completo y voy a usar  te como la piedra principal en mi corona. Te voy coger e matar, Santiago.

Fechei o meu diário, espantada com a minha determinação. Como eu era voraz, e determinada nos meus objectivos. Tinha lido os registos de toda aquela semana, tinha perseguido aquela vampira como um maníaco persegue a sua presa. Sempre na calada, sempre cuidadosa para no fim, dar o bote final sem qualquer piedade. Eu era assim: louca, determinada, sem vergonha e com cojones! Não tinha medo de nada nem ninguém, atirava-me para as lutas de corpo e alma, dando o meu máximo, era corajosa, volátil, rápida, mortal…Eu era uma verdadeira caçadora. A encarnação de um espírito caçador e invencível. Esse mesmo espírito tinha sido quebrado pelo choque da minha nova condição. Ser vampira. Ser algo que eu caçava. O choque tinha sido tal que, tinha bloqueado quem eu era. Era como se uma luz se tivesse acendido na minha cabeça, sentia como se fizesse a coisa certa.
Olhei janela fora, vendo as nuvens a serem cortadas pelas assas grossas do avião. Eu neste momento era assim, como aquelas nuvens: frágil, fofa, querida, facilmente convencível. Era uma tonta, comparada com o que fui! Não podia ser! Eu era uma caçadora, a minha essência tinha que voltar!
Encostei o meu diário ao peito e suspirei: Acabou-se a simpatia.

***

 Transilvânia tinha uma energia mística que valia por si só, feita de mitos antigos como Drácula ou o Lobisomem e até Frankenstein. E, ao por do sol, a sua energia atingia o pico. Caminhávamos agora pela pista de aeroporto: Job seguia a frente numa conversa animada com Frank, Eric ia uns metros atrás, apesar de não ver a sua cara, conseguia ver que ia concentrado e ansioso. Eu vinha com Dean pela mão a passo lento.
Tirei o diário debaixo do meu braço e exibiu-o.
- O que é isso?
- É o meu diário. Lawrence deu-mo. Ele queria que eu desse uma vista de olhos. - Suspirei perante a sua recordação da sua memória. Lembrei-me de um ponto engraçado. - Sabias que o Lawrence descobriu que tem descendentes vivos?
- Oh! A sério? - Exclamou Dean. O seu tom de voz foi um bocado estranho mas, ele começou-se a rir. - Quando foi que ele te disse isso?
- Num sonho. Lembraste quando te bati…
- Não, apenas me lembro de uma parte específica…- Riu-se e apertou-me contra ele. - Então, esse diário…
- É como se eu fosse outra pessoa.
Dean pegou no diário e deu uma vista de olhos com atenção. Devolveu-me o diário com um estranho brilho nos olhos.
- Seja como for, aposto que continuas atraente. - Eu ri-me da sua subtileza. Dean, Largou a minha mão e lançou o braço por cima dos meus ombros com um sorriso matreiro. Largou um suspiro longo e cansado. - Pergunto-me se vamos encontrar o Drácula, por aqui. 

***

Job levou-nos numa pequena volta por Transilvânia, uma cidade que, nos tempos que correm, ninguém diria que tinha sido palco de tantos mitos e lendas urbanas. Job, morava num dos prédios mais altos da cidade, levou-nos pelo edifício moderno adentro e na viagem de elevador, fomos até a cave. Quando as portas se abriram mostravam um corredor branco – que só mesmo por acaso relembrava a penthouse em Moscovo – que acabava numa maciça porta negra. Aquele local era um pouco claustrofóbico, pelo menos, ao pensar que tínhamos toneladas de cimento sobre as nossas cabeças.
Job aproximou-se da porta e eu reparei num dispositivo no local onde estaria a campainha. Job aproximou a cara e o seu nome apareceu no ecrã acima: Jobalynn Akrabe
- Medo de intrusos? – Perguntou Frankie
- Nunca se sabe. - Respondeu Job.
Assim que se afastou do sistema de reconhecimento, a porta deslizou para o lado, tal qual um filme de ficção científica. Job entrou e bateu palmas duas vezes, acendendo as luzes. A sua casa era moderna, com decoração simples em tom preto e cinzento. A sensação de claustrofobia era ainda maior, uma vez que Job não tinha qualquer janela na sala, apenas um maciço aparelho de ar condicionado ao canto. Toda a sua decoração parecia ser cara e sofisticada.
- Job, como é que um…? - Dei-me conta que nem sabia ao certo o Job fazia da sua vida. - Homem como tu, tem uma casa como estas na Transilvânia. Quer dizer…como?
Job sorriu-me.
- Tenho apenas uma regra: Ser bom no que faço e pedir muito dinheiro.
- Exibicionista! - Gozou Frankie, tocando num conjunto de vasos negros em mármore negro. Job apressou-se a chegar a Frankie e a roubar o vaso que estava mais perto da sua vista.
- É caro, Frankie. - Voltou a colocar o vaso no lugar. Fez sinal para que seguíssemos, levou-nos para um outro corredor longo este sem qualquer decoração. Ao fundo estava uma outra porta, Job aproximou-se e colocou um código de seis números pressionando depois num botão verde. Ouviu-se um zumbido por detrás da porta e esta abriu-se mostrando umas escadas íngremes; Descemos todos juntos e, quando chegamos ao fim Job voltou a bater palmas duas vezes e as luzes acenderam-se.
Consegui ouvir o suster de respiração dos rapazes, estavam completamente extasiados. Aquele praticamente a caverna do Batman. Uma cave enorme completa com um ringue de boxe, uma mesa de bilhar, três carros desportivos e um jipe todo terreno, sem falar nas paredes que estavam cobertas de todo o tipo de armamento.
- Job, quando crescer, quero ser como tu. - Declarou Frankie deliciado com um belo Ford Mustang de 1967 vermelho todo modificado. Abriu a porta e entrou tacteando todo o carro.
- Cuidado com o cabedal, Frank! - Exclamou Job.
Eu aproximei-me da parede cheia de todo o tipo de armamentos, desde granadas a metralhadoras. Perguntava-me onde e como teria Job arranjado tantas armas. Abri a minha mochila e tirei uma das minhas armas. Assim que viu, Job aproximou-se assobiando espantado.
- Que beleza, Carmen. - Tirou-ma das mãos e observou-a espantado.
- Não tenho mais munições.
- Eu tenho ali.
- Pois, mas não são munições dessas. - Meti a mão dentro da mala e tirou uma das cápsulas vazias da minha pistola e mostrei a Job. Ele abriu muito os olhos totalmente espantado, tomou a cápsula vazia e rodou-a entre os dedos. - Presumo que nunca tenhas visto uma assim…
- Isto é raro, Carmen. Muito raro, até para mim…
- Não consegues arranjar?
- Bem, terei que puxar muitos cordéis para arranjar isto. - Continuou a olhar para aqui totalmente surpreso. - Sabes que isto mata tudo, certo? Tudo! Até coisas como tu…
- Eu sei, já experimentei…
- Como é que arranjaste?
Lawrence…
- Um amigo.
- E que amigo! - Exclamou Job, devolveu-me a cápsula vazia. - Não te preocupes, eu arranjo.
- Job! - Exclamou Eric, conseguia ver que ele estava já visivelmente irritado. - Isto é tudo muito bonito mas, temos algo mais importante em mãos.
- Ouve, não sabemos nada sobre o local onde ela está…
- Está num castelo. - Adiantou Dean. - Não deve ficar muito longe daqui.
- Estás na Transilvania o que não faltam aqui são castelos! - Exclamou Job.  - Encontrar a Sheftu aqui vai ser mais difícil do que pensam, os castelos de Transilvânia, são completamente diferentes de todos os outros. Não vai ser fácil…Oiçam, eu tenho que sair portanto, pergunto aqui e ali a ver se há algum movimento estranho a relatar.
Job afastou-se de nós, preparando-se para sair e procurar informação quando Eric se aproximou, agarrando-o pelo braço.
- Isto é sério, Job. Não se trata de um carro ou de um vaso caro…é a Sheftu. Portanto, pergunta e procura ao máximo porque não me vou embora sem ela e nem tu descansas enquanto não a encontrar-mos, percebes?
Job tocou no braço de Eric e ele largou-o.
- Não te preocupes. Vamos encontra-la.

***
Eu estava parada a olhar para as minhas armas colocadas em cima da mesa com os canos paralelos; Coloquei as mãos sobre a mesa, observando melhor cada detalhe, conseguia ver o meu reflexo no prateado das armas; A figura que olhava para mim, tinha os cabelos caídos a frente e os olhos cinzentos inspirando confiança. Não sou a mesma do passado, agora era algo bem melhor.
- Estás pensativa. - Disse uma voz grossa. Levantei a cabeça e vi Frankie a observar-me.
- Estou a pensar em mudança. Começar de novo e apagar todo um passado vergonhoso, esquecer-me de uma Carmen Montenegro amedrontada e envergonhada de si mesmo para ser uma Carmen completamente nova e corajosa. - Olhei para Frankie com um sorriso. - O tipo de Carmen que não tem medo de bater em ninguém, muito pelo contrário…só pensa em lutar.
- Pensei que já fosses assim. - Ele mostrou o seu melhor sorriso. - Ora, Carmen, estás bem como estás, não precisas de mudar.
- Não é mudança mas, sim evolução, Frankie.
 Senti movimento no meu cabelo, quando reparei que Frankie brincava com uma madeixa ruiva do meu cabelo, enrolando-a entre os dedos. Sorri e voltei a endireitar-me.
- Estou aborrecido! – Exclamou Frankie. - O Job ainda demora muito?
- Achas que nós sabemos? - Respondeu Dean, voltei-me a tempo de vê-lo debruçado sobre a mesa, preparando-se para uma jogada mestra.
- Achas que ele se importa se pegarmos no carro dele e formos dar uma volta?
Dean empurrou a bola com o taco e esta rolou pelo tapete embatendo em outras duas, a seguir, olhou para o primo.
- Viste como o Job ficou, quando tocaste no vaso? Aquilo era um vaso imagina como ficaria se tocasses no Porshe!
- Porquê que não descobrimos? – Perguntei. Caminhei para chaveiro, retirei a chave dourada. Voltei-me para o carro, abri a porta e entrei. Mal sentei-me no banco senti a energia e o poder daquele Porshe sob os meus dedos, estava ali pronto para que alguém o levasse a rugir estrada fora. Rodei a chave na ignição e senti o carro a roncar por debaixo de mim, ávido por uma corrida louca na estrada.
Olhei para Dean que permanecia perto da mesa surpreso, enquanto Frankie rapidamente se apressava a abrir as portas da garagem.
- Shotgun! - Exclamou Frankie animado. Rapidamente, veio a correr e sentou-se ao meu lado no carro. Dean largou o taco e entrou no carro, no banco atrás de mim. Conseguia ver pelos seus olhos que estava espantado com esta minha nova atitude, enquanto eu estava a adorar. Quando estava pronta parar partir para as ruas de Transilvania, a porta detrás abriu-se novamente e Eric entrou sentando-se ao lado de Dean. Trocamos breves olhares, pude ver curiosidade nos seus olhos, teria ele captado a minha súbita mudança de atitude. Não sei…
Voltei-me para a frente, o sol ainda não se tinha posto totalmente, alguns raios de sol ainda estavam a fazer-se notar dando um tom alaranjado a cidade. Fiz roncar o carro com uma rápida mudança de peso nos pedais. Aquilo tudo excitava-me, o sol a esconder-se lentamente, o carro com sede de comer alcatrão e eu com vontade de o fazer voar estrada fora. Novo abanão. O carro parecia uma pantera negra pronta a atacar a escuridão que se aproximava a cada raio escondido. O tom alaranjado ia desaparecendo. O carro vibrava de tanta excitação, parecia que ia explodir de tanta energia que ia dentro do seu sistema. Aquele momento decrescente deixava os meus acompanhantes tensos; Frankie, estava excitado conseguia ver pela sua inquietação, Dean parecia completamente desprevenido…é verdade, ele nunca me vira conduzir! Já Eric, aparentava estar distante.
Ultimo raio de sol escondeu-se e eu fiz os pneus do carro chiar levantando uma nuvem de fumo atrás de mim, logo depois soltei o carro e este avançou rapidamente para a frente como um carrinho de corrida solto por um miúdo. Movimentos rápidos com o volante, meter as mudanças velozmente sem nunca deixar de pisar o pedal de acelerador. Queria velocidade! Uma curva apertada e eu fiz o carro deslizar deixando marcas no chão. Segui em frente sempre a alta velocidade mas, como boa condutora parei no sinal vermelho mesmo em cima da passadeira.
- OH MEU DEUS!!! - Frankie ao meu lado, estava eufórico. - CARMEN! OH MEU DEUS! VISTE AQUELA CURVA!? OH!! BRUTAL!
Não consegui prender a gargalhada que saiu da minha boca. Frankie, era hilariante. Dean chegou-se para a frente e tocou-me no braço o seu olhar mostrava preocupação.
- Estás bem?
Afaguei-lhe a cara quente.
- Porquê?
- Estás estranha. Os teus olhos…estão diferentes…
- Diferentes como?
- Não sei. De certeza que estás bem? Isto tem alguma coisa a ver com o teu diário?
- Sim e não.
- Carmen…- Dean foi empurrado por Frankie que continuava eufórico com aquela corrida de 10 minutos. Homens, como são fáceis de agradar. Dean voltou-se para o primo com uma discussão qualquer, tipicamente masculina. Enquanto isso, Eric permanecia no seu canto não mostrando qualquer sentimento perante a descarga de adrenalina de a bocado.
Ao meu lado parou um carro vermelho barulhento com alto som, era uma beleza de facto. Num vermelho polido, brilhante, jantes que rodavam e uma “saia” que quase roçava no chão, reforçado com umas labaredas alaranjadas desenhadas na lateral. Levantei o olhar para o condutor e fiquei estática: Era o jovem da crista azul! O mesmo que tinha visto fora do motel onde estavam Dean e Frankie! Ele ainda não me tinha visto, encontrava-se de olhos no semáforo enquanto comia uma pastilha. Então, o jovem – numa atitude de pouco civismo – tirou a cabeça fora e cuspiu a pastilha, depois voltou-se para dentro e estendeu-se sobre o banco de passageiros para remexeu nalgo que estaria no porta-luvas e tirou uma vermelha maçã. Foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça. ERA UM DOS ALDEÕES QUE TINHA IDO A MANSÃO COM UM CESTO DE FRUTAS! Como que ele também tivesse ouvido o seu olhar bateu no meu, de certeza vira a fúria que causara em mim. Aqueles idiotas tinham ido perscrutar a casa! “Uma oferenda!” uma ova! Aqueles patifes tinham de certeza dado uma pela vista pela casa e passaram a informação a idiota da Pan.
O jovem já percebia que eu sabia quem ele era a muito tempo, portanto voltara ao seu lugar de condutor e parte a alta velocidade deixando uma nuvem de pó atrás. O carro parte com os pneus a chiar e eu fico possessa de raiva.
- Dean e Frankie, saíam do carro…
Os dois param a conversa que estavam a ter e olham para mim.
- Porquê?
A minha raiva crescia e aqueles dois só sabiam fazer perguntas. Iria apanhar aquele traste de cabelo azul e faze-lo falar!
- Porque sim, saíam do carro! - Tanto Dean como Frankie trocaram olhares surpresos. Eu olhei para os dois, insistindo que saíssem dali e vi o espanto nos olhos de Dean e do seu primo. Frankie aproximou-se de mim com curiosidade estampada na cara.
- Carmen, porquê que estás com os olhos…
- SAÍAM DO CARRO ANTES QUE VOS MATE! - Berrei. Frankie saiu imediatamente e Dean ainda demorou mas, lá acabou por sair. O meu olhar encontrou o de Eric que olhava para mim espantado, devia estar com um ar muito apresentável, de facto. Voltei-me para a frente. - Vem para aqui.
Ele não contestou. Passou para a frente, sentou-se sem nunca desviar o olhar da minha cara.
- Eu vi o que se passou na tua cabeça.
- Mete o cinto.
- Tens a certeza disto?
- Ele está muito longe? – Perguntei secamente, enquanto o carro voltava a roncar sob o meu comando. Eric demorou a responder, olhando-me com espanto, eu devolvi-lhe o olhar com raiva. Ele concentrou-se na estrada em frente, captando o rastro daquele humano miserável.
- Vai para a auto-estrada.
- Não vai não.
Pisei com força o pedal e o carro avançou como uma espada cortante. Iria apanhar aquele miserável de cabelo azul e obriga-lo a falar. Seria óptimo para descobrir coisas sobre o Gustav, e os seus planos com Sheftu.
O palhaço ia para a auto-estrada, mas não rápido suficiente. O Porshe voava pelo alcatrão, passando sinais vermelhos, passadeiras e ultrapassando outros veículos. Fiz uma curva apertada deixando marcas no chão, seguia para a auto-estrada o patife, mas não o fazia rápido o suficiente. Vi uma placa que indicava a auto-estrada e virei a direita novamente, com os pneus a chiar. Dei-me conta de que não conhecia a zona e estava provavelmente perdida, não me importava tinha de continuar. Tinha de encontrar aquele idiota de cabelo azul.
Passei o sinal vermelho, quase abalroando um pobre carro azul que ia ao meu lado, virei a esquerda, segui em frente, para depois virar a direita e subir estrada assim numa curva subtil quando a curva acabou transformou-se numa linha recta que se transformara numa ponte e por baixo passava a auto-estrada com carros a alta velocidade. Parei o carro no meio da ponte com o meu olhar a percorrer cada carro. Onde estava aquele patife?
- Ali! - Eric apontou para um carro vermelho que vinha aos ziguezagues desde lá de longe. Eu cá em cima e ele lá em baixo.
- Segura-te.
Fiz marcha-atrás, e parei o carro de modo a que ficasse na diagonal apontado para os limites da ponte; Se eu queria apanhar aquele idiota de cabelo azul apenas tinha uma solução…
- 1…
Eric ajeitou-se no seu lugar, não precisava de fazer perguntas. O carro roncava sobre o meu comando, também ele parecia ansioso por adrenalina. 
- 2…
Segundo as minhas contas, o carro deveria estar a aproximar-se da ponte. Estaria a passar por baixo dela naquele momento.
- 3!
Preguei a fundo, o carro avançou a alta velocidade contra as barras de ferro da ponte mas, ao invés de embater subiu por cima ao bater com o para lamas na borda. O carro levantou voo de nariz para cima como se fosse um avião, para fora da ponte e voamos uns bons metros acima do chão. Deixei o carro ir abaixo, absorvendo o silêncio momentâneo.
Eric, ao meu lado agarrou-se ao assento e largou um berro.
- OH MEU DEUS!
O carro pairou durante uns segundos até que começou a descida pesada com a frente toda para baixo. Voltei a ligar o carro ao mesmo tempo que batíamos pesadamente, o carro saltou com o impacto e o choque fez com que eu perdesse o controlo por momentos começando a derrapar mas logo voltei a ter controle. Preguei a fundo em perseguição daquele carro vermelho, ultrapassando todos os outros que vinham na auto-estrada, estava perto. Muito perto. Já conseguia identificar a matricula estava mesmo perto.
Aproximei-me o suficiente para ver a sua cara de assustado mas logo se transformou em resiliência, apontou para mim, a seguir passou o dedo pelo pescoço. Mensagem clara.
Eric riu-se.
- Estás tramado, azulão.
Girei o volante para a esquerda e embati com a lateral do meu carro na dele. O impacto apanhou-o de surpresa, perdeu o controle do carro que foi raspar contra o rail da auto-estrada largando faíscas. Logo a seguir voltou a carga contra mim, embatendo com força. Eu devolvi. Ele retaliou. Ficamos assim num jogo de força para ver quem empurra quem.
- CAMIÃO!
Separamo-nos. Um massivo camião amarelo metia-se entre nós e eu tive uma ideia louca.
- Abre o porta-luvas. - Eric abriu e, quando viu o seu conteúdo olhou para mim espantado. Estendi a mão a espera e ele colocou-me na mão uma Glock19. Destravei-a e olhei para Eric. - Segura o volante!
Parti a janela do meu lado direito e sentei-me. Esperei que o camião passasse e assim que a vista ficou livre, vi o contorno traseiro do carro e premi o gatilho. As balas voaram ao encontro daquela tinta metalizada. O gajo do cabelo azul, perdeu controlo do carro por segundos, embatendo no rail. A minha visão voltou a ficar bloqueada pelo camião amarelo que se voltara a meter entre nós, voltei a sentar-me no banco.
- Carmen…
- Eu sei.
Preguei a fundo, enquanto o Porshe preto avançava uns bons metros a frente. Deixei o camião para trás, deixei o carro vermelho para trás e avancei uns bons metros. Mudei de faixa, passando da esquerda para a direita fiquei mesmo a frente do carro vermelho uns metros a frente.
- Está muito perto? - Perguntei a Eric. Ele olhou para trás e fez uma conta rápida.
- O suficiente.
Olhei para Eric e ele passou-me o olhar confiante. Girei o volante totalmente ao mesmo tempo que puxei o travão de mão fazendo o carro chiar. O Porshe nem chegou a parar como deve ser, quando foi abalroado pelo carro vermelho. O impacto foi de tal modo forte que consegui cada peça do carro a contorcer-se e a chiar. Estilhaços voavam enquanto o carro fazia uma cambalhota por cima do nosso esmagando-nos, como um rolo de maça de metal. Caiu ao nosso lado com um som pesado ainda a baloiçar e a fumegar.
Ouvi um chiar e apitar de todos os outros carro que vinham na auto-estrada, não tardaria até a policia e ambulâncias estarem a encher aquele local a procura de respostas.
Olhei para Eric e vi-o agarrado a cabeça, vi-lhe sangue entre os dedos.
- Estás bem?
- Sim, sim…
Voltei-me para a porta, dei-lhe um pontapé e o pedaço de metal arrastou-se pelo chão largando faíscas. Contornei o carro e aproximei-me do veículo vermelho que fumegava e não passava de uma bola de sucata. Eric saiu logo a seguir, aos tropeções e aproximou-se de mim.
- Sê rápido. - Pedi. Eric abriu a porta do carro e aproximou-se do jovem que estava ensanguentado caído em cima do volante. Já ao longe conseguia ouvir as sirenes, estavam próximo. - Eric…
- Shh! - Vi-o estender a mão sobre a cabeça do jovem de cabelo azul, captando todas as suas memórias. Subitamente ele parou e o seu olhar transformou-se para espanto total. - O que foi?
Eric olhou para mim, engoliu em seco e afastou-se do jovem.
- Morreu.
- Captaste o que querias?
- Sim, mas…
- Vais chorar sobre o corpo dele?
- Não.
- Óptimo, vamos embora. A polícia vem ai. - Entrei no carro novamente, liguei-o e o carro a principio demorou mas, lá acabou por roncar novamente apesar dos estragos. Olhei para fora do carro e vi Eric ainda a olhar-me espantado. - Vens?
Ele lá acabou por entrar ainda meio espantado.
- Mataste-o.
- Quem o mandou fugir? - Meti a mudança e fiz o carro andar sempre em frente. Verdade seja dita, não sentia o mínimo remorso por aquele idiota de cabelo azul ter morrido. Porquê fugir? - Sabes onde está a Sheftu?
- Sei.
- E?
- É complicado.
Suspirei.

- Acharia estranho se não fosse…

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