Transilvania Season - Ep 24, Carmen

Agora que encontrara o que Lawrence lhe tinha deixado além daquela imensa casa, chegava a hora de enfrentar velhos problemas que a sua consciência humana teimava em criar. Sim, porque agora namorava com um humano e este se mostrava cada vez mais parte da sua existência. Até quando esta aura que a rodeava continuaria tempestuosa?

"Twilight Zone, Meet Sex." by Carmen Montenegro


Estou a olhar para uma porta. Uma porta negra. Há luz do outro lado, consigo ver os raios sob a porta. E, faz vento também, uma vez que consigo ouvir um zunido, sinal de que a porta está mal fechada. Aproximo-me com cautela, o suficiente para tocar com os dedos na ponta da maçaneta, a seguir segura-la num aperto firme e depois roda-la. A porta abre-se par em par, mostrando-me um quarto cujos móveis estão cobertos por lençóis brancos, a luz que vinha por debaixo da porta, provém da janela e ilumina uma silhueta. Essa silhueta é por vezes tapada pelos cortinados que esvoaçam a sua volta. A silhueta gira sobre si mesma, consegui perceber que era um homem, avançou passando da escuridão para mais perto. Era belo, alto, de porte elegante, cabelo castanho-claro amarrados atrás, tinha uns penetrantes olhos azuis e trazia um fato preto com camisa branca e gravata.
Apanhou-me de surpresa. Agora sim, via quem era.
- Lawrence!
- Com apenas 25 anos, sem rugas nem nada… – Abriu-me um imenso sorriso que me fez estremecer. Lawrence, era a pura beleza. - Que achas?
- És muito bem parecido.
- Não é para me gabar mas, conseguia derreter uns quantos corações. - O seu olhar percorreu-me de modo estranho. - Todos menos, o teu…
- Desculpa?
Lawrence olhou para os pés mostrando constrangimento, logo a seguir encarou-me com um sorriso. 
- Encontraste a minha campa.
- Sim, encontrei.
- Porquê haverias de mexer lá?
- Tecnicamente, deixou de ser tua, afinal disseste que tudo nesta casa me pertencia… – Lawrence riu-se. - Que caixa era aquela e porque raio tinhas aquela poeira?
- Os meus livros. Livros de feitiços. Fui eu que os enterrei ali, não queria que ninguém os encontrasse, a poeira servia como armadilha, se tivesse sido encontrada por um ser humano, teria derretido a cara. - Explicou Lawrence com um ar sério. - Podes usa-los, desde que não os mostres a ninguém, nem mesmo ao Eric.
- Porque não?
- Aqueles livros têm todos que foram passados de um povo em África. São muito fortes e têm todos os tipos de feitiços. Vai haver sempre alguém que vai quere-los, portanto quero que os guardes. Ninguém pode saber deles. Promete-me.
- Prometo.
Lawrence avançou uns passos.
- Eu conseguia ver o futuro, Carmen. Essa era uma das minhas habilidades, e isto ainda não acabou. A chave para encontrar a Sheftu, está com o Dean.
- Com o Dean?!
- Sim. Ele consegue encontra-la, muito facilmente. Uma ligação.
- Ligação?! Como?!
Por momentos senti-me confusa. Comecei a sentir-me algo estranha, comecei a ouvir burburinhos atrás de mim, voltei-me para a porta e os burburinhos aumentaram de volume.
Voltei-me para a frente a tempo de ver Lawrence aproximar-se de mim a uma rapidez incrível, fez os meus cabelos voarem. Levantou a sua mão, e com cuidado tocou na minha pele, podia jurar que o sentia mais vivo que nunca.
- Não me odeies, por favor.
- Não te odeio.
Lawrence olhou para mim da maneira mais estranha possível. Então, aproximou os seus lábios dos meus e beijou-me com suavidade, carinho e ternura. Tomei o seu beijo com surpresa, os seus lábios eram suaves e formavam o beijo perfeito mas, para mim não sabia a nada. Separou-se de mim ainda de olhos fechados. Entretanto a sua imagem foi-se tornando cada vez mais enublada.

***
- Ena, para um Lorde o Lawrence escrevia muito. – A voz vinha ao do fundo da minha cama. Reconheci o tecto rachado sobre a minha cabeça, senti que estava deitada na minha cama e estava de novo no meu quarto. Sentei-me na cama e vi Dean aos pés da cama com livros na mão. - Vê só, isto está cheio de feitiços, maldições, poções, previsões e invenções…
- Invenções?
- Sim! Sabes o que ele inventou? As balas e as armas que trazes contigo.
- Impossível! As armas já existiam…
- Possível! As armas ele modificou, estão mais leves e são mais rápidas a disparar, do que uma arma normal. Quanto as balas ele desenhou e construiu-as. Eu…nem consigo ler os químicos e feitiços que ele usou mas, essas balas são da sua autoria. E são pouquíssimos que conseguem fazer, daí serem tão raras. - Engoli em seco. O facto de Lawrence ter-me em tanta consideração dava-me cabo do juízo. - E os diários que ele escrevia…
- O que tem?
- Imensos! Desde dos 14 anos até aos…25. Ele tinha 25 anos?
- Sim, parece que sim
Vendo bem, eu nem sequer conhecia-o como deve ser! Em questão de horas de descobri que Lawrence, era um mago poderosíssimo, que tinha andado pelo mundo com um grupo malvado, distribuindo maldade por todo o lado. Ah! E, que tinha 25 anos!
- Quem é que ele irritou? Sim, porque para ter aquele aspecto deve ter irritado alguém a séria.
- Ele fala de alguém especial, do seu passado?
- Humm…não fala de pessoas em concreto, julgo que ele as identificou por características por exemplo: ele andava num grupo em que havia um Rei, presumo que seja o líder. Um Fiel Lobo, talvez seja um seguidor exemplar e…- Olha para mim mostrando um sorriso engraçado. - A Rameira.
- Pergunto-me quem são essas pessoas. Já na carta ele dizia, para enterrar as cinzas num compartimento de prata para que “os fantasmas do passado” não o encontrassem mesmo morto. Estará ele a falar dessas pessoas? Será que são imortais também?
- Penso que são, pela maneira como fala deles aqui. Ele parece ter um ódio aceso com o Fiel Lobo,  os dois disputam o lugar de braço direito do Rei.  Fala de lutas constantes, brigas e como que, se quisesse, mata-lo-ia rapidamente, passo a citar, “ele não faz nem ideia dos poderes que se escondem sob a minha pele. Sou mais forte do que ele. Posso dobra-lo como um pequeno galho seco. Cão rafeiro…”
- Será um lobisomem?
- Não, pelo que percebi é um jovem vampiro que se pode transformar em Lobo. Está nos primeiros diários, o Lawrence fica admirado com tal poder e como ele consegue transformar-se facilmente…
- Um jovem vampiro que se transforma em lobo…? – Repeti para mim mesma. Onde já tinha ouvido aquilo antes? Oh detestava espaços vazios na minha mente, principalmente quando era importante relembrar-me de tudo. Quem seriam aquelas pessoas de que Lawrence tanto falava?
- Uau… – Dean revirou algumas páginas dos cadernos. - Ele fala aqui de ti.
- De mim?
Dean voltou-se para mim.
- “Voltei a sonhar com a ruiva de cabelos revoltos e de olhos cinzentos. Sinto-a a perto, não sei quem é mas, é intensa a sua presença. Ela vai mudar a minha existência, tenho a certeza.”
- Ele sonhava comigo?
“A sua pele é branca como a neve, os seus olhos mostram bravura. A sua beleza não tem fim. Ainda não a conheço mas, já a adoro”
- Não me leias isso, Dean.
- “Desejo tê-la perto de mim e torna-la minha. Imagino-me a beijar a sua pele, a sentir o seu cheiro…a possui-la sobre a lua…” - Peguei numa almofada e atirei mesmo em cheio a sua cabeça. - Hey!
- Importaste?! É estranho, saber que o Lawrence nutria esses sentimentos por mim! Ele foi sempre um pai e, saber que ele sentia isso…
Dean calou-se por momentos mas, mesmo assim sentia-o a folhear.
- Vocês alguma vez…?
- Dean! Acabei de te explicar!
- Sim, eu sei mas é que o Lawrence escreve aqui…coisas que dão a entender ou que vocês fizeram alguma coisa ou que ele queria muito fazer. São sonhos, são desejos, são vontades…vezes e vezes seguidos, repara…
- Guarda isso!
Ele lá acabou por fechar o livro e guarda-lo novamente na caixa.
- É que…não posso evitar ter ciúmes. Ás vezes julgo que o carinho que ele sentia por ti, passava muitas vezes a barreira da amizade e, tive a confirmação quando ele foi ter comigo ao quarto de hotel. - Explicou-me. - Ele confessou que te amava profundamente mas, sabia que para ti, ele não era mais de que um amigo, um pai, um guardião. Julgo que ele te amava mais do que eu, afinal ele deu a sua vida para me ter junto de ti. Isso não é motivo de inveja?
Escondi a cara entre mãos. Não me digam estas coisas! Ele veio ter comigo, sentou-se na cama ao meu lado e eu encolhi-me no seu peito. Só queria descansar, sentia que carregava o mundo ás costas! Lawrence, meu querido…Lamento tanto…
Lembrei-me que agora, um motivo maior pairava sobre as nossas cabeças. Sheftu Núbia estava desaparecida.  
- O que encontraram acerca do rasto?
- Nada. O Vladimor ainda sentiu o aroma da Sheftu  e o da Pan também,  mas chega a uma parte em que parece que se evaporam.
- Tenho de encontra-la… Não sei porquê mas, acho que a Sheftu pode precisar de ajuda. -  Levantei-me da cama, caminhei para a porta mas, Dean estava ali a tapar-me a saída. - O que foi?
- Porquê que carregas isto tudo como se fosse teu dever?
- Desculpa?
- Olha para ti, andas toda stressada! Levas isto tão a peito…
- Dean, ela mora aqui! Não posso simplesmente não me importar!
- Não digo isso, simplesmente, descansa! Mal, te alimentaste hoje e tratas estes assuntos com uma sede…- Dean aproximou-se de mim. - A quanto tempo não temos um tempo só para nós?
Dei um passo atrás.
- Eu não acredito que vais pensar nisso nesta altura com tanto a acontecer á tua volta. Tenho uma casa para voltar a colocar de pé, um amigo que acabou de morrer, uma outra que se encontra desaparecida ninguém sabe dela e, sem contar com o Eric que sinto que se encontra a beira de uma sincope…
- Não és mãe deles!
- Alguém tem que cuidar disto!
- Aos poucos, Carmen!
- Não! Mas, de onde vem este súbito egoísmo da tua parte? Que queres que eu faça, que me deite na cama e faça sexo contigo pelo que resta da madrugada?! 
- Sim! - Eu olhei para ele sem querer acreditar no que lhe saia da boca. Egoísmo, era o pior naquele ser! Ele pareceu arrepender-se logo. - Claro que não, apenas quero que descanses um bocado. A tentar salvar os outros, quem se mata és tu…
- Não sou feita de vidro.
- Para mim, sim.
Eu revirei os olhos, não estava para aquele egoísmo! Será que ele não entende? Eu tinha muito trabalho pela frente, não podia dar-me ao trabalho de ficar ali numa sessão erótica só porque ele assim queria. Aquela casa tinha que ser reerguida em memória de Lawrence, e só eu o conseguiria fazer. Tinha que encontrar Sheftu, ela desaparecera mesmo sobre o meu nariz! E, Eric, sentia que tinha ser confortado; Devia-lhe isso pela amizade e pelo o amor que um dia nos uniu.
Passei por ele, afastando-o da porta mas, Dean agarrou-me pela cintura.
- Larga-me, Dean!
Ele fez-me rodar e beijou-me com força, não sei porquê, por instinto levantei a mão e bati-lhe na cabeça. Dean não me largou mas, olhou-me surpreso.
- Tu bateste-me!
- Larga-me!
Levantou-me do chão com força e precisão, deitou-me na cama mas, eu não estava pronta para deixa-lo levar a melhor: afastei as suas mãos de mim, o máximo que pude numa batalha de mãos idiota. De alguma maneira, ele dominou-me, segurou-me pelos pulsos com a cara a poucos centímetros da minha com os seus olhos verdes a faiscarem. Ele calou-me com um beijo poderoso, todo o seu corpo abateu-se contra o meu, encaixando a perfeição. Mesmo vestido, conseguia sentir o fogo a emanar dele. Ele separou os seus lábios dos meus, respirando contra a minha boca. Voltei a tentar empurra-lo para longe de mim mas, ele não se moveu. Até se riu de modo sacana. Aquilo estava a excita-lo!
- Saí de cima de mim!
- Di-lo com convicção.
- Dean, eu posso magoar-te a sério.
- Magoa-me, então.
Olhei para os seus olhos verdes. Como é que um humano conseguia ter tanto efeito sobre mim? Ao ver que eu não tinha qualquer resposta, beijou-me com avidez. Mordi-lhe o lábio de propósito, ele afastou-se magoado mas, não me largou. Ao ver aquele sangue ali senti um formigueiro a subir em mim. Dean, reparando nesse efeito aproximou os seus lábios dos meus mas, não os tocou apenas ficou ali a pairar com o cheiro a inundar-me o nariz.  Ainda lutei contra ele, fazendo os possíveis para me soltar daquele aroma, afastar-me daquele corpo vivo mas, a sua força e o meu desejo eram maiores. Desisti quando senti-o a morder os meus lábios e a chupa-los numa mistura do seu sangue com a minha saliva. Senti a minha camisola a afastar-se da minha pele e eu praticamente rasguei a sua t-shirt nova. Ficamos ali na cama, tocando cada centímetro de pele um do outro; mordendo aqui, beijando ali, apertando, arranhando, de respiração ofegante e gemidos abafados.
Dean, era um homem poderoso os seus músculos contraiam e relaxavam a cada movimento, tinha força nos braços, nas costas e pernas. Conseguia senti-lo em todo o lado, quando estávamos entregues a paixão e só fazia-me querer mais. Eu mordi o seu ombro com as minhas presas consegui sentir o seu sangue a correr para a minha boca, como se ganhasse mais força os movimentos de Dean aumentaram de força e eu já não sabia o que fazer comigo mesma de tanto prazer. Ouvia-o a proferir o meu nome seguido de gemidos de prazer, e eu também não era menos silenciosa quando o sentia dentro de mim.
Juntos, chegamos ao culminar do prazer e ele caiu para o lado ofegante, eu deitei-me em cima do seu peito, sentindo o seu coração a bombear sangue. Eu olhei para ele e vi o lábio ainda rasgado com sangue a acumular-se, aproximei a minha boca e chupei aquela ferida da minha autoria. Caí para o lado, cansada e Dean deitou-se com a cabeça apoiada no meu ombro, perdi as minhas mãos nos seus cabelos numa carícia querida e em poucos segundos ele adormeceu. Embalada pelo seu respirar pesado eu tentava colocar a minha casa em ordem. Tentava, mentalmente, organizar a minha casa.

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