Transilvania Season - Ep 16, Sheftu
Era o primeiro verdadeiro confronto que Sheftu tinha com Beth, não imaginavam elas que este se tornaria memorável pelo que estava prestes a acontecer. Quais seriam as suas reacções? Será que Sheftu morreria de vez? Teria descanso desta sua existência ou esperaria mais um pouco? Essas eram as questões que talvez conseguissem responder. Ou talvez não...
"Maybe" by Sheftu Nubia
Por uns breves momentos aquela mulher permaneceu a fitar o
seu aliado. Não sabia ainda ao certo que tipo de relação teriam estes dois, mas
não me parecia que ela permitisse que ele a tratasse como sua súbdita.
Mas rapidamente o tema voltou ao mesmo... Eu. Voltou-se para
mim, cheia de sarcasmo baloiçava o seu corpo ao encontro do meu, desafiando-me
para um combate de resistência. Não sabia do que ela era capaz, nem o que
usaria para tentar atacar-me. Seria curioso ver o que ela tinha preparado para
mim...
Limitei-me a sorrir pela sua tentativa de investir medo em
mim, não que lhe causasse qualquer efeito, aparentava ter um génio semelhante
ao meu. Era curioso, porque estaria ela ao lado desta coisa? Principalmente
tendo todo aquele sentido de liberdade.
- Sheftu, não é? – Perguntou-me aproximando-se. – Deves ter
consciência de que és verdadeiramente importante, não me interessa saber o nome
dos reclusos... Apanhados... Como moscas numa teia, moscas cobardes e demasiado
fracas para fugir da teia... E depois disso, vão sofrendo e sofrendo e
sofrendo... Até que “puff”! Desaparecem no meio das ondas da loucura, resumidas
a nada mais do que animais – Era curiosa a forma que ela
tentava irritar-me ao ponto que a dor fosse mais forte, que me tornasse
vulnerável para que pudesse sentir mais prazer quando os meus gemidos de dor
nascessem da minha boca. Era uma pena... Porém interessante...
A concentração começava por notar-se sobre o seu olhar
ardente, combatendo certas emoções que despertavam dentro de si e soltando-se
sobre mim, primeiro sobre palavras...
Depois viria o resto... Divertia-se com os esquemas que
fazia na sua cabeça para os humanos, e todos aqueles que estavam sobre as suas
mãos e se intimidavam pelas suas manobras de diversão. Como se algo disto fosse
realmente importante para qualquer uma de nós, no final sempre acabaria da
mesma forma.
- Chega Elizabeth! Não te chamei para falares. – Aquela voz
que se tornava escárnio para mim, parecia formar ainda mais raiva sobre aquela
que permanecia à minha frente.
- Acho que vou precisar de falar… convosco. –
Disse ela, depois de se ter voltado para Gustav de punhos serrados. Voltando-se
para mim, mostrando ainda mais irritação perante todo este momento, começaria
finalmente a tortura. – Prepara-te.
- Eu dar-te-ia o mesmo conselho. – Disse-lhe.
Aproximou-se ainda mais de mim, tendo finalmente chegado o
momento por que esperava, arrebatando toda a sua concentração para o que fosse
fazer. Nas suas mãos a energia surgia lentamente, aumentando ao longo do tempo,
para um humano seria algo difícil de reparar pela rapidez que se dava...
Suas mãos flamejavam, seu olhar acompanhava-as com a mesma
força e vivacidade. O calor aproximou-se o suficiente para que eu o sentisse,
para que me recordasse daquela pulsação que há tanto tempo não ouvia. Não, não
era a hora para divagar sobre emoções que nem sequer pedia.
Houve algo nela que mudou, a confiança que tinha e a raiva
se transformou num certo espanto. Não estaria a resultar o que tentava provocar
no meu corpo? Hum... Interessante.
- Elizabeth? – Perguntava Gustav, reparando exactamente na
mesma coisa que eu. Afinal não estava errada, algo não funcionava como
deveria...
Concentrou-se de novo, deixando talvez que toda a energia
embatesse sobre mim... Poderia sentir um pouco desse calor, fluir algures perto
da minha pele, o calor era forte ao ponto de o sentir, mesmo que não
conseguisse realmente tocar-me... Após várias tentativas, finalmente tomou
consciência de que havia algo diferente, que não tornasse esta tortura tão
regular como as restantes...
- O que é que se passa? – Murmurou para si mesma, observando
as suas mãos.
E mais uma vez existia algo que nos mantinha unidas, aquela
força que jamais nos deixaria baixar os braços, nem que a morte realmente viesse.
Fechou os seus olhos, o esforço fazia-se forte sobre a sua expressão... Seria
agora? Mais uma investida de um calor abrasador próximo da minha pele, mas nada
mais, nada que me causasse tortura ou me fizesse sentir que algo estava errado.
Uns olhos que se abrem para a realidade, inspirando uma
total raiva que poderia aniquilar-me se pudesse...
- Fascinante. – Murmurou ele, rapidamente colocando-se entre
nós, rodeando-nos como se fossemos somente umas cobaias. Sentia-se assombrado
com toda esta situação que eu ainda não sabia qual era... – Quem diria, Ein?
Elizabeth Wood, incapacitada pelos poderes incríveis de Sheftu Nubia...
Ah! As tradicionais piadas ridículas que ele lançava... Como
se me deixassem qualquer saudade sobre os momentos que me torturava a fraca
pele humana, para que conseguisse o que desejava... A redenção da minha alma...
Essa nunca veio, nem nunca virá.
- Não foi ela. – Teria ela razão? Talvez... – Ela seria
esmagada como uma borboleta. É algo que ela tem, que ela possui...
É algo que lhe foi dado por alguém, e contém um enorme poder.
Nunca antes me tinha passado pela cabeça essa hipótese. Se
algo a blokeava de me atacar, seria certamente uma coisa que fosse recente.
Como ele saberia? Não... Ele não podia saber que esta coisa acabaria por acontecer,
que me levassem e nos atacassem. Talvez todas estas defesas... A casa... O
presente que eiu jamais deveria de tirar...
Tudo isto. Protegendo-me estaria a proteger o quê?!
- Já acabamos? – Perguntei finalmente, não queria mostrar a
parte fraca. E nada melhor do que o silêncio e a solidão para pensar melhor no
assunto. Seu olhar pousou-se no meu com uma frustração profunda, completamente
endiabrada com toda esta rebeldia que eu tinha causado em bloquear o que quer
que ela desejasse pousar sobre mim.
- Tu não sei, eu já. – Respondeu-me rispidamente, saindo com
calma aparente pelo salão, deixando-me novamente com aquele crápula.
O olhar de Gustav seguia o corpo daquela mulher,
completamente intrigado com esta nova situação. Era provavelmente a primeira
vez que aquela bruxa tinha falhado, principalmente por causa de todo este
alarido daquele belzebu.
- Ora, ora, ora... Quem diria! – Sua mão passou sobre a
minha face, que rapidamente ripostei com um murro sobre a sua mandíbula que
contraiu com o impacto. – Ah, a mesma de sempre...
Sorriu, agarrando-me demasiado próximo daquele seu corpo
desprezível. Conseguia sentir a raiva fluir de cada centímetro do meu corpo,
como se uma pilha eléctrica se atravessasse sobre a minha aura.
Afastei-me o mais que pude daquele que conseguia ser mais
forte que eu, apesar de toda a raiva que se afundava sobre o meu olhar, era
inútil tentar escapar. Não apenas a idade dele, bem como ele ser o meu criador
e nunca realmente me ter libertado. E, para ajudar mais ainda, todo este sangue
injectado sobre as minhas veias que me enfraquece.
- Podes ter tido sorte no passado... Mas desta vez não será
tão simples escapares-te de mim. – Sua língua passou sobre o meu punho serrado,
cravando os seus dentes. Não sabia o que mais me doía, se a raiva que me
assolava ou o nojo que sentia sempre que me aproximava daquele que me
amaldiçoou com a morte.
Não durou muito aquele seu pequeno banquete, o meu sangue
não era mais aquele que sempre tivera a belo prazer. Sorri sarcasticamente
quando a sua expressão voltou-se para mim com curiosidade.
- Não és mais quem eras... – Era uma realidade que embatia
bem no fundo de mim, apesar de neste caso servir-me na perfeição para irritar o
velhote.
- E nem imaginas o que sou agora... – Nem ele, nem eu.
Curiosamente afastou-se de mim com rapidez... O choque permanecia sobre o seu
olhar que começava por temer-me. Aposto que as dúvidas que o assolavam seriam
pura diversão para mim, uma mente depravada e completamente encardida num
passado que nunca realmente existiu. Um velho que tinha seus antigos desejos
que perduraram por todos estes milénios, pena que não demore muito até que a
sua morte acabe de uma vez por todas.
Fraca, sem forma como atacar ou fugir. Estava em minoria e
certamente ia perder... Mais vale morta do que constantemente em cativeiro
nesta idiotice que sempre foi a forma de ser desta coisa imunda. Sorri, fiz uma
leve vénia de gozo, mostrando-lhe com o meu olhar que muito ainda estaria para
vir e segui o meu caminho para onde deveria estar: os aposentos que me
entregaram serviriam até que algum esquema me surgisse na mente.
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