Transilvania Season - Ep 6, Carmen


Samantha aparecera com Louis, com novas perguntas. Perguntas que Carmen não estava com a mínima paciência para responder, muito menos ouvir as opiniões desnecessárias. Não era tempo para futilidades, todas as questões poderiam esperar. Era altura de pegar nos cacos e seguir em frente, fosse o que fosse.

"It’s All Going South From Now On!" by Carmen Montenegro


A minha casa estava numa desgraça, toda ela caída em ruínas com rachas na parede, tralha no chão, uma total  desgraça.
Desci as escadas para encontrar mais desgraça ainda à minha espera, enterrada no silêncio. Dei-me conta de que não bebia há imenso tempo, mal me aguentava e, com tanta coisa a acontecer, o meu sistema dava falhas de fraqueza. Desci as escadas, antes mesmo de chegar ao fim, tropecei nos meus pés mas, agarrei-me ao corrimão. Senti-me a ir abaixo. 
As portas abriram-se de repente.
- Oh! Oh! Deus! – Exclamou Samantha de longe. Não demorou a aparecer com um vestido cinzento brilhante sob um casaco de pele branco. – CARMEN! OH DEUS! O que aconteceu?
Tentei fazer-me forte e ergui-me.
- Terramoto.
- Não brinques. Olha-me o estado desta casa...
- Samantha, lamento mas agora o momento não é de explicações.
- Tenho o direito de saber! – Exigiu ela. Louis veio momentos depois, também apareceu atordoado.
-  Sinto que algo não está bem, se puder ajudar...
- Louis, és um hóspede aqui.
- Pois, não ficaria bem eu ver-vos a passar dificuldades e eu de braços cruzados.
Louis lembrou-me subitamente de Lawrence e a sua subtil teimosia.
- Deixa-te estar. És convidado! Para além do mais, com todo o respeito, sinto que quanto menos souberes melhor.
- Porquê? – Perguntou Samantha.
Olhei para Samantha, sentindo uma súbita irritação. Raios partam a curiosidade!
- Louis, posso roubar a tua amada?
- Claro.
Peguei em Samantha pelo braço, puxei-a para o lado.
- Conta-me!
- Sossega! – Pedi em voz baixa.
Sossega?! –  Exclamou Samantha. – A Sheftu? O Vladimor? E, que cheiro é este?
Samantha tinha apanhado o odor de Frankie e Dean, tinha de distraí-la.
- Não sei do lobo mas, quanto a Sheftu...foi levada!
- O QUÊ!?
O seu grito ecoou no meu cérebro como um alarme gigante.
- Shhh, caramba! Vou contar-te mas, não agora. Fica com o Louis. Tenho imensos nós para desatar e perguntas a responder, quando chegar a ti posso contar-te tudo, sem espinhas. Entendes? 
- Não! Conta-me já!
- Por favor, Samantha. Sobe com o Louis, fiquem no quarto, dá-lhe atenção… Há muito tempo que não estão juntos.
Samantha olhou para mim de abaixo.
- Porquê que sou sempre a excluída?
Eu abri a boca para reclamar contra o senso de vítima de Samantha. Não tinha paciência.
- Carmen. – Chamou Louis. – Estarei enganado ou cheiro a humanos?
- Sim! – Concordou Samantha. – Bem me parecia que era isso.
- Vais alimentar-te deles? – Perguntou Louis.
Sorri o melhor que pude a Louis mas, podia apostar que o meu sorriso fora o mais triste.
- Não, estes humanos estão ao meu cuidado e ajudar-nos-ão, Louis.
- Peço desculpa. – Pediu Louis.
- Agora és amiga de humanos? – Perguntou Samantha.
- Sim.
- Mas que raio aconteceu enquanto estive fora? – Eu olhei para ela, se respondesse iria sair a frase mais torta de sempre. Samantha perspicaz, como sempre, voltou-se para Louis. ― Louis, meu amor. Vamos subir.
Antes de subir, Samantha olhou para mim demoradamente. Eu devia estar uma lástima tal, como a minha casa precisava de uma renovação.
***
Dirigi-me para biblioteca antes sequer de entrar, ouvi as vozes de Dean e Frankie numa conversa sussurrada do qual não percebi grande coisa. Avancei, quando deram por mim silenciaram-se, vi Dean junto às antigas paredes de vidro. Quando entrei olhou para mim, trazia uma camisola preta e as calças de ganga clara, também estava de luto por Lawrence. Frankie veio depois, ainda tinha a mesma t-shirt ensanguentada no lado esquerdo.
- Então, Carmen…
- Importaste que fale contigo?
- Só comigo?
- Sim.
- Acerca? – Perguntou Dean.
 Eu olhei para ele.
- Vais saber. Não te preocupes, que ao contrário de ti, não vou guardar segredos. – Dean mordeu o lábio mas, eu não tive pena. – Por favor, Dean tratas do corpo de Lawrence. Ele quis ser cremado, podes preparar tudo...
Dean olhou para mim, depois para o primo.
- Sim.
Esperei até que ele se afastasse e a seguir voltei-me para Frankie.
- É óptimo ver-te bem.
- Oh sim! O Dean sempre foi bom com a agulha e linha. Só não posso fazer muito esforço... – Frankie analisou-me sobre um olhar microscópico. – Há quanto tempo não bebes?
- Há algum. – Agora reparara que não comia desde o “incidente” entre mim e Dean na casa de banho. – Não te preocupes. Já cheguei a ficar 3 dias sem beber...
- E depois mataste os pais do Dean e mais dois homens. – Olhei para Frankie com o espanto. Ele sorriu-me. – Eu sei tudo, Carmo.
Apanhada numa imagem turva causada pela sede tive de me sentar. Frankie fez o mesmo puxando uma cadeira abancando-se à minha frente. O seu movimento trouxe-me o cheio a sangue da sua camisola.
- Se não queres ser o próximo a morrer, é melhor tirares a t-shirt.
Frankie olhou para si mesmo, num ápice tirou-a e eu reparei no seu corpo perfeito não admira que fizesse sucesso com as mulheres.
- Pronto. Que me querias falar?
Ajeitei-me no cadeirão.
- Desde quando conheces a Pan?
Frankie sorriu-me.
- Desde há algum tempo, conhecia meses depois de me ter mudado para Moscovo com o Dean. – Frankie mordeu o lábio. – Ela era a minha fonte.
- A tua fonte?
- Tenta entender, a sede de vingança do Dean para te matar crescera substancialmente, andava obcecado! Por isso, quando a Pan me disse com quem vivia, eu expliquei a situação e ela aceitou ajudar. Devo acrescentar que o fez muito rapidamente, não te tinha muito próximo do coração, Carmen.
- Não estou surpresa. – Exclamei. – Vocês chegaram a ter uma relação.
- Não era bem uma relação, dormíamos juntos às vezes. Nada fixo, já que ela fez questão de salientar a sua paixão pelo Eric... – Resmungou Frankie. Eu fiquei em silêncio esperando explicação quando Frankie se levantou, andou uns passos e depois falou de costas voltadas. – Diz-me, a Pan alguma vez falou nos seus pais?
- Quando a conheci já não tinha pais, nem nunca falou deles. Espanta-me que alguém tão mau tenha nascido de um ser humano...
- Não fales mal da Pan, ela não está aqui para se defender.
Percebi então a dimensão do problema de Frankie. Parecia deveras afectado por Pan. Estava enamorado. 
- Frank, o que foi que a Pan fez?
- Ela não fez nada, fui eu. – Disse Frank. – Eu é que causei esta confusão toda.
- Eu sabia! – A voz de Eric ecoou pela biblioteca. – Eu sabia!
Entrou pela biblioteca a adentro a passo rápido e com fogo nas ventas.
- Sabias o quê, Eric? – Perguntei.
- Que eles tinham alguma coisa a ver com a desgraça que entrou nesta casa! Porquê que vocês, humanos, não se metem na vossa vida? Têm que vir meter-se noutros assuntos e assim trazer desgraça total! O que aconteceu aqui foi culpa vossa!
- Fomos enganados! – Frank parecia deveras exaltado. – Não havia meio sequer de adivinhar que era isto que Pan tinha em mente.
- Do que estás a falar? – Perguntei.
- Entendeste tudo errado, Eric! – Frank olhou para mim, pedindo que ouvisse a sua versão. – Sentem-se.Eu explico...

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