Transilvania Season - Ep 12, Sheftu

Tal como no passado, Sheftu faz frente ao seu criador, gerando consequências que podem fazê-la descobrir novas "amizades". Ela estava certa de uma coisa: não demoraria muito até que saísse do castelo de Gustav, não importa se continuaria a existir ou não. Desde que se livrasse dessa palhaçada que tentavam obrigá-la a viver.

"Alliance" by Sheftu Nubia


Uma leve batida na porta se fez ouvir sobre uma pulsação já habitual, a mulher parecia começar a habituar-se a aproximar-se de mim em demasia, o que poderia provocar-lhe a sua morte.
- Posso entrar? – Perguntou-me duvidosamente.
- Sim, claro... Entra.
O silêncio apoderou-se do momento, ficando assim durante os momentos que se faziam longos. Havia algo que ela queria dizer e tinha receio, eu conhecia as pessoas, principalmente humanas, quando a sua pulsação estava um pouco acelerada sem que nada tivesse acontecido. Os pensamentos certamente a assolavam, criando formas de expressar o que queria dizer, mas sem que realmente saíssem da sua boca pois o receio era grande.
- Diz o que tens a dizer. – Apontei, fazendo-lhe notar que entendera que algo se passava.
- Não sei se devo...
- Se o que queres é dizer-me algo, não vejo a razão de não o fazeres. Eu prometo que não te mordo. – Falava a sério quando dizia que não a ia morder, nunca senti vontade de atacar mulheres, também porque o meu principal alvo de raiva eram os homens, que cada vez mais me davam justificação para continuar a fazê-lo.
- Eu confio em si... O problema são aqueles em quem não confio... – Justificou-se, prostrando os seus olhos sobre o chão.
- Qual o teu nome?
- Dora. Chamo-me Dora.
- Hum... Dora, a força não está naqueles que a usam, mas naqueles que têm coragem para a sentirem mesmo sem a terem... Não duvides, eu estarei por perto quando precisares. – Afirmei com total verdade, sabia bem o que ela sentia, não ia permitir que outra mulher fosse manchada pelo seu próprio sangue sobre este covil de idiotas.
- Mesmo assim não sei se é seguro...
- Confia em mim. Eu não permito que te façam nada.
Seus olhos se abriram com um certo espanto tendo em conta o tom de voz que tinha saído da minha boca, como se sufocasse dentro de mim a necessidade de a ajudar. Via de um certo modo o meu passado nela, como se a minha humanidade de uns milénios anteriores pudessem ser semelhantes à dela. Ridículo, emocional e ultrajantemente humano.
- Tudo bem. – Começou por dizer, engolindo a saliva a seco. – O que aconteceu aqui com aquele homem levantou algumas questões em todo o conselho deste castelo.
- E onde queres chegar com esse assunto? – Perguntei-lhe sem rodeios, calculando que algo estaria para vir.
- E então determinaram que estaria próximo o teu encontro com o braço direito de Gustav. Ela é uma bruxa determinada a aniquilar humanos e sem qualquer pudor pela vida. Sinceramente ela dá-me arrepios. – Via medo no seu olhar ao falar daquela mulher, conseguiria ele ter alguém assim do seu lado de livre vontade?
- Ela que venha, não me faz qualquer diferença.
- Mas não compreendes... O que ela consegue fazer é irreal, só de pensar no que se ouve por aqui sobre ela já me faz gemer. – O seu olhar estava completamente aterrorizado, não compreendendo que eu não me importava minimamente com a dor que me conseguissem dar. Eu era resistente até que a verdadeira morte me levasse, mais cedo ou mais tarde acabaria por chegar e eu estava pronta para isso.
- Qual o seu nome? – Perguntei sorrindo, sinceramente até que ia ser algo interessante, ver alguém que pudesse sentir a força como eu a ponto de causar a destruição por onde passa. Interessante e simplesmente empolgante para quem não tem mais nada para fazer a não ser permanecer aqui fechada. Finalmente iria ter algo ao meu nível, não via a hora que acontecesse.
- O seu nome é Elizabeth. A mais temida entre todos os que cá ficam.
- Elizabeth... Interessante... – Comecei por murmurar. – Sabes quando é que me chamam para ir ao encontro dela?
- Pareces-me alegre pelo que te contei... Estás assim tão desejosa de encontrar a morte? – Perguntou-me completamente intrigada.
- Minha cara Dora, morta já eu estou... E não te preocupes comigo pois não sou eu a humana aqui. – Comecei por sorrir, mudando rapidamente de tema, sentindo algo de estranho em mim. – Agora podes ir...
- Sim, até mais... – Concluiu, saindo rapidamente e fechando a porta atrás de si.
Não compreendia a razão de o meu humor mudar tão rapidamente, e sem qualquer aviso... Um certo tom de saudosismo cercou-me, senti uma enorme vontade de correr e sair daqui, ver se como tinham ficado aqueles que ficaram algures pela batalha.
Era estranho que com todos estes acontecimentos aqui quase me tivesse esquecido do que se tinha passado. Será que aqueles jovens vampiros tinham conseguido aniquila-los? Eu confiava no meu instinto que me dizia que não, e quando fechava os meus olhos, prestando atenção aos meus sentidos mais íntimos, quase que conseguia ouvir Eric a gemer o meu nome, perdido sobre culpas e dores que me magoavam só de pensar que lhe provocaria.
Eu não sabia como comunicar com eles, tudo à minha volta estava cercado, não conseguia sair para muito longe sem que Pan me prendesse novamente sobre aquele sangue que teimava em perfurar para as minhas veias. Por mim, já poderia estar bem longe daqui, aniquilava tudo o que pudesse, mesmo sem ter as minhas habituais forças, nem que me matassem primeiro, pelo menos estava algures na minha demanda pela minha liberdade.
Mas havia algo aqui que me conseguia prender, por mais que tentasse não pensar muito nisso. Apesar de tudo continuava a desejar salvar Kiya de si mesma e do seu pai. Doía-me saber como tudo isto estava, saber que não conseguira sequer com a nossa fuga afastá-la dele. Porque no final de contas, por mais que tivesse-a ensinado algo, acabou por deixar-me e eliminar tudo o que eu conhecia nela, tornando-se aquilo que é hoje.
Como posso eu odiar sangue que já correu sobre minhas veias? Deixar que tudo o que a minha mãe me deixou se tenha tornado tudo um erro era o pior de tudo. Eu acreditava em mim, no que eu era capaz de fazer, o problema era que não conseguia acabar com ela por mais que a pudesse odiar agora. Porque, no final de contas, ela é parte da minha família.
Ouvi umas batidas leves sobre a porta, rapidamente me aproximei e abri-a, vendo dois homens de corações mortos à minha espera. Seria esta a hora?
- O que desejam vocês? – Perguntei com tom autoritário que os fez recuar um pouco, retomando a compostura poucos segundos depois.
- Gustav aguarda-a. Faça o favor de nos acompanhar. – Respondeu um, engolindo o medo a seco, apesar de se conseguir ver bem sobre o seu olhar o temor que detinha de minha pessoa.
- Claro. Mas primeiro... Vejo que vocês os dois parecem ter algum problema por resolver... – Respondi sorrindo, mostrando os meus dentes, reclamando um maior medo sobre eles.
- Crrrr-eeeeeiiio que não. – Respondeu o outro. – Faça favor de seguir-nos que nos esperam.
- Está certo. Se assim o querem. – Respondi, soltando uma gargalhada sobre as caras baralhadas daqueles dois. Até que era um pouco divertida esta situação...
Seus passos andavam com rapidez sobre o chão dos corredores do castelo, tentando realizar o seu trabalho sem que algo lhes acontecesse. Certamente tinham ouvido algures sobre o que eu faço, ou simplesmente temem a nova capacidade de matar alguém e, caso me apeteça, resgata-lo de novo à vida. Como seu eu soubesse realmente como isso tinha acontecido, não que estivesse lá muito encorajada a descobrir, muito pelo contrário. A minha identidade acabava por ser dissipada algures pelo que sou, fui e pelo que me estou a tornar, mesmo que não saiba o que acontece comigo.
Mal entramos na mesma sala que da primeira vez entrara quando ainda era humana, observei logo as personagens que estavam à minha frente. Gustav sentava-se no seu trono, segurando a mão de Kiya que se sentava do seu lado esquerdo. Do lado direito permanecia uma mulher que a mim era desconhecida, talvez fosse Elizabeth, permanecia em pé com o seu olhar cravado no meu com um ultrajante sorriso, via-se o prazer de aniquilar naquele ser.
Aproximei-me mais e fiz uma pequena vénia àquela mulher, recebendo outra como resposta. Gustav parecia não gostar minimamente desta brincadeira pois se ergueu rapidamente, deixando Kiya com uma enorme fúria, talvez ciúmes.
- Sê bem-vinda à tua humilde casa. – Exclamou bem alto para que todos ouvissem, humanos ou não. Observei o espanto de alguns, que certamente seriam recentes, tempos depois da minha fuga. Sim, teve muito que trabalhar para que houvesse novamente o seu reino pateta depois de aniquilarmos todos os que nos faziam frente da outra vez. Pena que agora fora o próprio Ian a entregar-me aos seus braços, aquele idiota!
Fiz uma nova vénia, deixando-me ficar sobre o mesmo local, sem que uma palavra sequer saísse dos meus lábios, criando ainda mais espanto sobre todos aqueles que me observavam com atenção.
- Kiya, levanta-te. – Ordenou-lhe ele. Ela assim o fez, um pouco confusa com a ordem que lhe acabara de dar. – Dá lugar à sua devida merecedora. Vem, Sheftu... Senta-te do meu lado.
Meu rosto rapidamente se ergueu da vénia que tinha feito, espantada pela proposta. Mas não era a única que estava completamente irritada com a situação, Kiya parecia reclamar vingança no seu olhar latejante sobre o meu. Permaneci quieta, sem abrir meus lábios sequer para respirar.
- Não ouves o que te digo? Ordeno-te que tomes o teu lugar! – Ordenou ele com a sua voz prepotente sobre o eco dele mesmo, aproximando-se de mim e agarrando o meu braço. – Vem, eu mostro-te o caminho para caso já não te recordes de como lá chegar.
- Não é nem nunca foi o meu lugar. – Respondi finalmente, sentindo todos aqueles olhares ainda mais irritantes em cima de mim, talvez espantados com a minha nega.
- Deixa-a estar, Gustav. Se ela não deseja tomar o lugar, problema dela. – Defendeu-me Kiya, desejosa de vê-lo a tomar o seu partido, esquecendo-se desta parvoíce.
- Não. Esse é o seu lugar e até que ela não o tome, não sairemos daqui. – Disse-o, continuando a reprimi-la. – Se achas que ela deve ser poupada deste momento, então sai. Não és digna de permanecer aqui neste momento. Sai!
Kiya assim o fez, sem antes olhar para mim e declarar-me guerra. Eu bem sabia o que se passava pela sua mente, não necessitava de ler pensamentos para conhecer bem aquela que agora era minha inimiga.
Quando a porta finalmente se fechou, todos os olhares voltaram-se novamente para mim, que era praticamente arrastada para a cadeira em que Kiya se sentava. Finalmente acabei por ceder e sentei-me, ficando assim imóvel perante toda a felicidade daquele ser deprimente.
- Agora sim, estás no teu derradeiro lugar. – Declarou ele sorrindo. – O quanto esperei por este momento! Comecem com o festival de boas-vindas! Tragam-nos os nossos petiscos!
Musica que começou a tocar, vampiros que dançavam sobre o olhar atento de Gustav. Sua mentalidade se teria prendido sobre o desejo de um passado que já se passou à muito, recriar o passado não era nada ideal para mim. Mas o pior eram os petiscos que teimava em criar para nós, um grupo de seis humanos se dirigiam para nós completamente aterrorizados, teriam morte certa.
- Dás-me a honra da primeira dentada? – Perguntou-me divertido. Observei a mulher que permanecia do seu lado, mulher que teimava em lembrar-me o fogo da ira que por vezes despertava em mim.
- Podes ficar com todos eles. – Respondi sem vontade, provocando o alvoroço sobre aqueles que dançavam, acabando rapidamente com todo o falso divertimento deles, à espera da resposta do seu rei perante tal afronta. Se ainda era como os tempos antigos, minha morte teria um castigo severo, e não eram permitidas nenhumas excepções pois trariam motins pela falta de força de quem comandava este mundo que criava.
- Pois bem, não te alimentaste desde que chegaste cá. Creio que necessites mais do que eu. Podes começar... – Disse-mo com firmeza, dando-me uma outra hipótese disfarçada de fugir do castigo que deveria ser aplicado logo de início pela minha falta de inferioridade para com ele.
- Não necessito de me alimentar. Mas agradeço a tua oferta. – Respondi levantando-me, seguindo o meu caminho.
- Espera! – Gritou, fazendo com que me cercassem para que não continuasse a escapar desta hora. – Não posso admitir que escapes impunemente. Elizabeth, leva-a contigo e faz o que tens a fazer... – Disse-o com um tom de recriminação de si mesmo, descontente com as suas próprias leis que o obrigava a entregar-me.
- Pois muito bem... Farei o que me comanda com todo o agrado. – Seu olhar brilhava, repleta de felicidade por puder causar dor a mais alguém. Começou por aproximar-se, dando ordens para que me levassem para algum lugar, mas Gustav travou-a com um gesto.
- Gostava que o fizesses com a minha presença, aqui mesmo. Caso não te incomode ter plateia. – Começou por dizer, ainda a pensar em outras hipóteses para que me livrasse desse momento. – Todos vós podeis agora sair, damos este festival por adiado. Ficaremos apenas nós os três por aqui.
Todo o salão começou a esvaziar-se com a mesma rapidez de que tinha e enchido de música e festa. O silêncio apoderou-se de tudo, aumentando assim o tempo que demoraria eu descobrir o que se passava por cá. O mais interessante seria sentir o que aquela bruxa era capaz de fazer, quem seria melhor... Ela a acabar comigo ou eu a resistir?
- Por favor, sê branda com o corpo dela... Eu quero que ela sobreviva... – Apontou Gustav.
- Como pode me pedir para ser branda num ser como ela? – Perguntou entristecida, queria testar a minha capacidade de morrer, que venha ela!
- Eu não te peço, Elizabeth. É uma ordem. – Disse ele, dirigindo-se para a sua cadeira e sentando-se. – Podes começar quando desejares.

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