Transilvania Season - Ep 11, Carmen


Depois de todas as cinzas arrumadas no devido lugar, chegou a altura de desvendar como tudo isto tinha acontecido. Pequenas peças iriam encaixar num puzzle. Quais os próximos passos a dar? Carmen recusava a usar Dean como um simples saco de sangue… Novos problemas surgiriam bem antes do que alguma vez pudessem pensar.

"Son Of A B...!" by Carmen Montenegro


Frank explicava mas, eu mal o ouvia. Dean tinha acabado de chegar, sentara-se à minha frente e emanava aquele seu cheiro característico, agora ainda mais salientado pela leve sujidade nas suas mãos. Floresta. Chão molhado. Folhas secas. Humidade. Tantos aromas…            
Ele olhava para Frank atento, mas, eu apenas prestava atenção aos seus lábios carnudos que permaneciam selados. Conseguia ouvir o seu coração a pulsar, o sangue a correr nas veias, o seu cheiro inebriante. Que sede! Foi então que ele falou, e a sua voz fez-me voltar a mim.
- (…) Primeiro fomos a Irlanda… Sheftu tinha deixado um rasto de cartão de crédito na compra de um vestido e, soubemos que tinha feito uns belos estragos por lá, não foi Eric?
Eric não se deixou abalar.
-  Gosto das minhas mulheres selvagens, pergunta à Carmen.
- Menos! – Ordenei. Eric e as suas bocas sobre o nosso passado irritavam-me. Havia coisas que tinham que ficar lá atrás.
- A Pan encontrou-nos. Nem eu sei bem como...
- Fui eu que lhe disse. – Explicou Frankie. – Aliás, foi ela que me contou que a Sheftu estava em Inverness, e em poucas horas tínhamos um voo, um quarto de hotel, um carro e dinheiro.
-  A Pan cheia de dinheiro e poder. – Exclamou Eric.
- Parece que ela tem um emprego por fora. Lamento Eric, já não és patrão.
- Nunca fui.
- Pois... – Disse Frankie, pareceu ponderar durante segundos e depois voltou-se para Eric com um estranho brilho nos olhos. – Diz-me, Eric, há quanto tempo andas com a Pan?
Tanto eu como Dean olhamos para Eric; Passando em vista todo o meu passado, quando estava com Eric, Pan já vinha como terceira roda.
- Porquê que queres saber?
- Responde, se fazes a gentileza.
O tom entre os dois era de puro desafio. Por favor, não lutem! Não tenho forças para mais lutar.
- Ela devia ter uns 15, 16 anos quando a encontrei. Andava na rua, a pedir esmola, a roubar as pessoas. Vi nela um grande potencial, reparei que tinha alguns poderes, nada de extraordinário, e resolvi tomá-la sob meu cuidado.
- Não foi isso que ela nos disse. – Alegou Dean. – Ela alegou que tu tinhas morto os seus pais. Que lhe tinhas lançado um feitiço qualquer para que não envelhecesse, para que ficasse sempre jovem para que pudesses usá-la e abusá-la.
Eric levantou-se de um salto.
- O QUÊ?! ISSO É MENTIRA!
Levantou-se Frankie.
- É mentira?
- Claro que é!
- Então, como é que explicas os registos policiais que dizem que os pais de Pan foram mortos. Não havia qualquer sinal de arrombamento, e os corpos estavam de destruídos de tal maneira que não havia possibilidade de ter sido usado uma arma. Eles estavam por todo o lado!
Levantei-me de um salto, mal me aguentando nas pernas. Tive que me agarrar ao cadeirão para equilíbrio, vi o olhar de Dean sobre mim com a interrogação espalhada na cara. Tratei de me aguentar.
- Acalmem-se, rapazes! – Olhei para Frankie. – Estive com o Eric tempo suficiente para saber muito bem do que ele é ou não capaz. O mesmo vale para a Pan, conheço-a bem e uma coisa dessas é bem capaz dela. Vocês têm esses documentos?
- Não. – Respondeu Frankie. – Mas cheguei a vê-los, eram reais.
- Era falso! – Argumentou Eric. – A coisa mais fácil hoje em dia é falsificar uma certidão de óbito!
- Pois. Lamento, Frank a palavra de Pan é a última coisa em que deves fiar-te. O facto dos pais dela estarem mortos, até pode ser mas, que tenha sido pelas mãos do Eric, tenho as minhas dúvidas. – Esclareci. Olhei para as paredes de vidro destruídas atrás de Frank. – Porque iria ela contar-te uma coisa destas?
- Vingança. A Pan veio ter connosco alegando ter um plano de retaliação. Estava completamente possessa, contou-nos a sua história e disse que tinha um plano para atingir o Eric onde mais lhe doía. Não nos disse o que era, manteve absolutamente secreto apenas queria que nós dissemos quem estava mais tempo em casa, as divisões que havia, se havia muita gente em casa, coisas assim... Nós dissemos okay.  – Explicou Dean.
- Dei-lhe o máximo de informação que consegui através dos vossos vizinhos. Mas, depois ela quis mais ainda. Queria olhos dentro de casa e... –  Frank apontou para mim. – Tive o plano do Dean ir ter com a Carmen ao bar; Não saiu como planeado afinal, vocês... Pronto, é o que se sabe!
Olhei de relance para Dean, ele sorriu-me levemente e eu pisquei-lhe o olho, sabíamos que o plano tinha corrido muito bem, pelo menos para o nosso lado! Enquanto isso, Eric fez um ar de nojo.
- Sinceramente... – Coçou a cabeça e bufou. Aquilo claramente estava a afectá-lo. – Pronto, essa parte do plano correu mal, o que fizeram a seguir?
- A Pan ficou irritadíssima! – Explicou Dean. – Ordenou ao Frank, para que viesse cá e colocasse isto ao redor da casa.
Dirigiu-se ao lado de fora da parede de vidro, agachou-se e escavou um buraco. De lá de dentro tirou uma pequena sacola, atirou-a a Eric. O meu ex. Abriu a sacola, meteu a mão e retirou um pó vermelho-púrpura, vi-o a ficar pálido.
- O que é isso? – Perguntei ao ver a mão de Eric vermelha.
- Um pó raríssimo, corta qualquer feitiço. Basta colocar aqui em redor e, em meia hora o feitiço de protecção desvanece. – Eric olhou para Dean. – Têm a noção do que fizeram? Deixaram-na entrar!
- Não fazíamos ideia! – Replicou Dean. – Pensámos que ela fosse trazer uns quantos homens, dar-te porrada e bazar! Nunca imaginamos que ia trazer o exército Real e levar a Sheftu.
- Tudo bem. No meio disto tudo vocês foram apenas meros peões para algo bem maior. – Disse Eric. Apanhei o seu olhar, vi que tinha a cabeça a ferver de ideias. Olhou para mim, para Frank e depois para Dean a seguir, abandonou-nos na biblioteca. Eric precisava de pensar.
***
A seguir a fantástica discussão na biblioteca, senti necessidade de respirar. Saí para a mata que rodeava a casa, andava muito bem, calmamente sentindo a floresta e os seus bichos. Sabia que ele me seguia, não estava muito longe e, apesar de ser silencioso, o seu coração batia depressa. Parei. Ele parou também. Voltei-me para trás, vi-o ali parado por entre as árvores.
Ele diminuiu o espaço entre nós com passadas largas e lentas, quando se aproximou de mim pegou-me pelo nuca com gentileza, e beijou-me no local onde residiam as marcas do meu criador.  A seguir, sentou-se no chão, encostado a uma árvore e puxou-me, sentando-me no seu colo. Então abraçou-me, enquanto eu deixei-me enterrar no seu peito. Abraçou-me com todo o carinho possível, o seu cheio atordoou-me fazendo gritar a minha sede.
- Estás fraca.
- Gota a gota, roubou-te a vida.
- Tens de beber.
- Estou a matar-te. Estou rodeada pela morte…
- A morte é algo natural.
- Mas eu beber o teu sangue, não é.
-  Que conversa é essa? O sangue repõe-se, para além do mais é isto que quero. – Respondeu-me com carinho. – O que tenho a perder? Não tenho amigos, nem família...
- E o Frankie?
- Ele entende. Acho que sabe muito bem o que se passa e, pode não ser mágico mas, já antevê o que aí vem. – Dean separou-me dele, passou os seus dedos pela minha pele e o seu calor chocou contra o meu frio. – Está tudo bem. Antes o meu sangue que o do Eric ou de outro tonto qualquer.
Voltou a beijar-me tentadoramente e, senti o despertar o meu desejo juntamente com a minha fome. Instintivamente, levei a mão ao seu pulso, puxando a manga da camisola limpa para cima. Peguei no pulso, mordi-o e suguei um bocado do seu sangue que teve o mesmo efeito que fogo de artificio em mim. Dean engoliu o primeiro impacto das minhas presas contra a sua pele, soltando apenas alguns gemidos de dor. Lembrei-me de parar a tempo, antes que o deixasse inconsciente; Larguei o pulso e limitei-me a saborear. Senti-me Carmen novamente.
Dean encostou-se a árvore, com os olhos fechados e leve palidez.
- Estás bem? Tirei demasiado?
- Acho que sim...Estou meio atordoado...
Rasguei um bocado da minha camisola e enrolei à volta do pulso para que parasse de sangrar.
-  Desculpa! – Pedi tocando-lhe na cara. – Não posso alimentar-me de ti para sempre.
Ele abriu os olhos e sorriu-me.
- Mais uma razão para pensares em tornar-me vampiro.
- Dean...
Ele levantou o tronco, encarou-me bem no fundo dos meus olhos.
- Pensa no assunto. – Ia beijar-me mas, eu afastei-me. – O que foi?
Entretanto o meu olhar, tinha-se desviado para algo que estava atrás da árvore mais a leste. Senti-me tomada por uma agonia: Vi uma pilha de troncos de madeira todos juntos, sob uma cama também de madeira. Um corpo estava deitado em cima, com os braços cruzados e pés descalços.
- É ele? – Perguntei a Dean. O meu amado seguiu-me  o olhar.
- Sim. – Queria levantar-me mas, não consegui. Não queria dizer-lhe adeus. – Limpei-lhe a cara, as mãos estão tapadas e os pés descalços, como é costume. A gasolina, o sal estão também ali e eu tenho isqueiro.
Em silêncio, levantei-me e Dean fez o mesmo. Aproximei-me da pilha de madeira, podendo assim dar uma melhor vista de olhos ao corpo de Lawrence sob as pilhas de madeira. A sua cara estava limpa, sem qualquer réstia de sangue, as mãos tapadas por luvas brancas e os pés descalços. Sem grande alarido, sem grandes palavras, choro ou sermão, peguei na gasolina aos meus pés e comecei a despejar na madeira em redor, e no cadáver. A seguir espalhei o sal para depois pedir o isqueiro a Dean. Peguei numa madeira ensopada de gasolina, aproximei o isqueiro e o pedaço de madeira acendeu-se numa chama alaranjada.
Larguei a tocha em cima do seu corpo e logo tudo pegou fogo com uma rapidez incrível. Dean passou o seu braço por cima do meu ombro, beijou-me na cabeça.
- Lamento, Carmen.
- Pois, eu também, Dean.

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