Transilvania Season - Ep 10, Elizabeth


Nossa quente bruxa continua com seus dias, aqueles onde a tortura e a diversão se misturam. Quais as razões para que a levam a adorar tanto cada segundo que passa? Ela nos mostra que é assim porque nunca soube outra forma de ser…ou existirá outra realidade? Davam-se os primeiros passos para que esta conhecesse a nossa vampira milenar… Como se sentiria?

"Be ashamed of yourself!" by Elizabeth Wood


Olhei por cima do ombro, suspirando.
 A origem do grito vinha do homem, que se havia levantado e corria como podia na nossa direcção, mas os seus magoados pés não mais podiam percorrer um chão, por mais plano e macio que ele fosse, e as pernas magras e fracas já haviam passado os seus dias bons há muito, e não conseguindo suportar o próprio peso, o desgraçado caiu.
 - Patético. – Sibilei, caminhando na sua direcção. Não toleraria mais gritos, muito menos vindos de tão fraca e inferior criatura, que direito nenhum tinha a pensar racionalmente ou sequer a viver. Eu não tinha tido esse direito, e o meu poder e força várias vezes se elevavam ao seu.
 Aproximei o meu corpo dele, fazendo-o tremer a cada passo que dava, ergui uma perna e acertei-lhe um longo pontapé no seu estômago frágil, provocando um débil gemido e dor.
 - Gustav, dir-me-ias agora de quem se trata este homem e porque é digno da minha… hum… nobre presença? Não lhe tolerarei mais insignificâncias, algo mais e posso assegurar de que o meu sapato o trespassará.
 Ele sorriu.   
 - Oh, como me encantas Elizabeth. Seria possível pensarmos de forma mais semelhante? Mas acredita que o não quererias trespassar, como bem o disseste, ele não é digno de ti, e muito menos do teu sapato.
 - Lisonjeadoras são as tuas palavras, Gustav, mas parece que teces demasiados elogios para a tua mente. Não entendeste que acabaste de me dizer que valia menos do que o meu sapato? Ao dizeres que é menos digno do meu sapato do que de mim, insinuas que preferes o inútil objecto a mim, o teu braço direito.
 - Elizabeth, acredita que és bem mais especial do que qualquer outro servo que possa ter, porque a qualquer outra pessoa não permitiria que me tratassem como se fosse estúpido.
 Uma certa onda de raiva perpassou-me.
 - Serva!?! – Estalei, olhando-o furiosamente. O seu olhar era o de quem acidentalmente se metera na jaula de um leão esfomeado – Quantas vezes terei de te lembrar de que para aqui vim de minha livre vontade? Pensas conter um poder superior ao meu, mas estarias morto se assim o desejasse! Nada me obriga a permanecer aqui! Nada me obriga o cumprir com o que dizes! E livre sou eu de daqui sair no momento em que quiser, sem que me possas impor que fique. Por ti permaneço. Por ti mato, torturo e sujo as minhas mão de sangue pútrido! Porque te adoro? Não, eu não adoro ninguém, esse sentimento há muito que foi extraído de mim! Porque te temo? Pensas!?! – E cuspi para o chão – Que razões teria eu para temer alguém, se até o próprio Inferno domino? Queres saber porquê? Eu digo-te facilmente: Porque aqui posso dar asas àquilo de que gosto, porque tu partilhas comigo um pouco de desprezo aos homens e porque aqui faço aquilo que quero! Cita-me, então, Gustav, uma vez em que aqui tenha feito algo contra minha vontade? Uma vez em que tenha agido como tua escrava e ignorado as minhas vontades? Não o consegues fazer, Gustav, e sabes muito bem que neste preciso momento conseguiria tomar o teu lugar sem problemas. Mas não o desejo, e é por isto que aqui permaneces. No entanto, exijo que me respeites e me trates como aquilo que realmente sou, ou talvez eu me farte, e nesse dia sentirás a minha verdadeira ira. 
 No seu olhar passou uma faísca de raiva e medo, que rapidamente foi substituída pelo seu ar calmo e de quem achava uma certa piada à situação.
 - Peço desculpa, minha querida! – Afirmou, sorrindo – Não era meu intuito ofender-te. Mas agora, se bem te lembras, deveria contar-te porque te chamei a ti para tratar deste pobre e inofensivo homem. Ele não se trata de ninguém importante ou poderoso, mas no entanto está ligado a outros, e cometeu vários actos com o intento de me flagelar, então porque não atribuir-to? Bem sabes que, por ser oriundo do Egipto, onde vivi a minha vida humana sendo educado como um Egípcio, aprendi os costumes deles – ou devo dizer, nossos – e adoptei-os. Então nutro um certo sentimento de adoração para com os gatos, que me fascinam. Acontece que tenho vários feiticeiros, magos e outros afins ao meu dispor, e sendo eu tão adorador dos incríveis animais, decidi ter o meu próprio. Mas eu não seria Gustav se não quisesse mais. Não me limitaria a agir como os humanos e a ter um gatinho de estimação, precisava de algo superior, diferente, nunca antes visto. Olha que eu e muitos outros levámos muito tempo a consegui-lo, mas finalmente arranjámos maneira de tornar o meu desejo possível, criando o meu novo animal e súbdito, diferente, útil e aperfeiçoado. Já se sabe que mulheres-gato existem, há muito, e já tive a oportunidade de falar e observar algumas, mas são seres espontâneos, livres e independentes, e nenhum trabalha ao meu serviço. Então, neste caso, o desafio foi aprender a transformar um humano normal numa destas criaturas, de maneira a que me servisse sem desistir ou fugir. Fui bastante selecto, mas por fim encontrei uma bela mulher, casada recentemente e que pouco mais de vinte anos não deveria ter. Ela não parecia ter uma natureza maléfica, mas isso rapidamente se remediaria, sem qualquer problema. Falei com ela, era jovem e pateta, e a ideia da imortalidade e de ser jovem e bela para sempre tentou-a, pelo que acedeu ao meu pedido. Essa mulher era Celine. Tudo isto não aconteceu há mais de sessenta anos, ou seja, Celine é extremamente nova, mas creio que já está arrependida da sua decisão. O homem que desprezas e que ali caído se encontra, é aquele com quem tinha acabado de se casar. Perseguiu-me por vários anos, arranjando aliados vampiros, bruxos e não só, custando-me vários homens, mas sempre bem escondido para que não o encontrassem, até que, há pouco tempo, foi encontrado e capturado, e agora encontra-se aqui.
 Olhei-o, sem revelar surpresa, admiração ou curiosidade, mas sim desprezo.
 - Que coisa interessante, realmente… - Disse-lhe, revirando os olhos - Queres que o mate agora?
 - Não – Foi a sua resposta – Quero que seja levado para as caves, lá em baixo.
 Suspirei, virando-me lentamente na direcção do homem, mas a minha marcha foi interrompida.
 - Tu não… – Disse ele. – Qualquer outro que se encarregue disso, tu vens comigo, preciso de falar contigo.
 Elevei de novo o corpo de Celine nos ares, percorrendo o silencioso corredor de pedra atrás de Gustav, mal provocando ruído.
 Ele abriu a porta do primeiro quarto que viu e deixou-me entrar.
 Com cuidado, desci Celine até há cama que estava posicionada à frente da porta.
 Gustav não disse nada, limitou-se a passar-me um papel onde uma pequena fórmula estava escrita.
 Coloquei a mão por cima do peito dela e li cuidadosamente as palavras escritas no papel.
 Quase no mesmo segundo em que comecei a ler, o seu corpo contorceu-se e começou a mudar de forma. Da mesma maneira, centenas de pêlos começavam a crescer ao longo do seu corpo.
 Três segundos após terminar, tinha a mão no peito de um gato malhado.
 - Assim cura-se mais depressa – Esclareceu Gustav. Depois sentou-se numa das cadeiras que por ali estavam espalhadas, acto que imitei.
 - Diz – Proferi, bruscamente.
 - Bem, não sei se sabes, mas de há uns dias para cá, temos tido… Hum… Uma convidada especial.
 Acenei.
 - Não, não sabia de qualquer convidado de honra, e…?
 - E ela não vai ser torturada… Para já…
 - Gustav, despacha-te.
 - Bem, sabes quem é Sheftu?
 O nome não me soava estranho. Tinha a ver com algo que já ouvira antes, sobre uma vampira da altura dele e assim…
 - Sei.
 - Boa, poupas-me a explicações. Ela está cá, depois de tanto tempo, consegui capturá-la.
 Reflecti.
 - Hum, OK, que bom para ti. E porque é que tenho de saber isso?
 - Como deves calcular, ela não veio de livre vontade, e talvez não esteja muito disposta a cumprir com aquilo que lhe disser. Preciso que me ajudes com essa parte.
 - Tudo bem… - Ainda não percebera onde é que ele queria chegar.
 - Não compreendes, Sheftu é poderosa… Extremamente, para ser franco.
 - Dúvidas realmente das minhas capacidades?
 - Não, duvido das tuas capacidades contra as dela.
 - Então desengana-te, tenho poder suficiente para a esmigalhar.
 - Não a conheces.
 - Dúvidas de mim – Afirmei.
 - Não! – Negou ele.
 - Dúvidas pois!
 - Elizabeth, não há maneira de seres suficiente para tudo…
 - Há, eu sou o suficiente para tudo, ela que venha!
 Gustav suspirou.
 - Muito bem. Haverá uma cerimónia dentro de poucos minutos, quero que estejas lá, à minha direita.
 - Muito bem, deixa-me ir vestir-me. – Disse eu.
 Começara já a afastar-me dele quando me senti agarrada.
 - O que foi? – Perguntei, impaciente.
 - Certifica-te de que Neida está bem fechada no seu quarto, não a deixes sair.
 - Muito bem.
 «Neida…» Jamais alguém me tinha pedido que fizesse algo por ela, fosse o que fosse. Neida era uma criança, feliz e inocente, que vivia naquele castelo. Não sabia porque era assim, apenas sabia que tinha muitos dotes mágicos e uma estranha ligação ao mundo espiritual, mas isso não justificava a escolha de Gustav. Porquê? Porque para a educar e formar como futura membro do nosso “grupo”, deveriam educá-la desde pequena para isso, fazendo-a odiar e sentir prazer por sofrimento. No entanto, Gustav insistia em mantê-la longe de tudo o que fosse tortuoso, preservando a sua mentalidade inocente e imaculada – Embora tivesse apenas cinco anos, não acreditava que aquilo fizesse sentido. Gustav não deveria ter pena dela.
 Gustav saiu, deixando-me sozinha no quarto com Celine, a patética e parvinha Celine, que estava muito preocupada com o idiota do marido.
 - Tem vergonha de ti própria. – Vociferei, deixando o quarto.
 Dirigi-me de novo ao meu quarto, que tinha sido limpo e não continha qualquer indício do incêndio que ali se passara.
 Uma nova cama estava lá, no sítio habitual, assim como um armário, duas poltronas e uma mesinha de cabeceira.
 Em cima da cama, encontrava-se um vestido preto comprido, com acabamentos e um pequeno padrão desenhado no corpete a roxo, e uns sapatos de cor semelhante.
 Vesti-os rapidamente e saí do quarto, quase a correr, até ao salão.
 Os preparamentos já tinham sido feitos e Gustav encontrava-se sentado na sua cadeira, com Kiya do seu lado esquerdo.
 No lado direito não havia qualquer cadeira ou sitio onde me pudesse sentar, mas isso já era habitual.
 Percorri a imensa divisão, recebendo vénias e murmúrios respeitosos sempre que passava por alguém – Estavam bem-educados.
 Tomei o meu lugar, me pé, ao lado de Gustav e olhei em frente, para a porta.
 Mantive-me imóvel enquanto um vulto loiro se aproximava.

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