Transilvania Season - Ep 4, Samantha
"A New Age" by Samantha Saint
Sentia o começo de uma nova era a abalar as profundezas do
meu ser. Um cheiro a mudança pairava no ar, como se de uma brisa gélida e
renovada se tratasse.
Nunca em tantos séculos a minha vida tinha sido tão
complicada ou mesmo tão provida de emoções à flor da pele que me deixavam
embasbacada.
Neste momento, tudo o que envolvesse Louis ou Daniel era
alvo de discórdia na minha própria cabeça. Deixar aquele amor de sempre era tão
doloroso como deixar escapar o recente. Aqueles, dois robustos homens, eram
pura tentação carnal. Mas algo em mim amolecera…
O meu desejo de carne, de natureza infernal, tornara-se
agora numa incontornável paixão. Num amor perdido e deleitoso. As suas
expressões corporais eram muito mais que isso. E agora, a minha mente estava
feita num rodopio de emoções. Em que a única vontade não era de ser amada mas
sim de amar.
Este sentimento para mim era estranhíssimo. Sempre tive uma
grande necessidade de me salientar, de ser venerada, e quantos mais estivessem
a meus pés melhor eu me sentia e estava… Mas agora estava diferente… Tudo em
mim mudou. Eu morreria para proteger o meu amado, aquele… O tal. Mas a pergunta
que a minha cabeça fazia repetidamente era… Qual será aquele que me faz sentir
assim?
E fechada naquela cabana, há mais de uma semana,
completamente desidratada e imunda, a minha vontade de sair do local onde
passara horas agradáveis com Daniel, era nula. Aquela cama parecia o meu único
conforto. Voltar para a mansão estava completamente fora de questão, mas por
outro lado… Eu deveria sair daqui nem que fosse para me alimentar em condições.
Mas, tanto um como outro, desapareceram sem deixar rasto.
Louis provavelmente voltara para Itália, agora Daniel era outra história… A
verdade é que não sabia nada ou quase nada sobre ele… Aquele homem continuava
uma incógnita para mim… Não fazia ideia para onde poderia ele ter ido… Ou ter
com quem. A única coisa que sabia era que o meu sangue - o pouco que me restava
– fervilhava nas minhas veias, deixando o meu corpo arrepiado.
Teria que antecipar a minha visita a mansão antes que fosse
tarde de mais… Mas no preciso momento em que eu pensava em fazer algo de mim,
alguém bate a porta…
- Quem anda por aí? Desapareçam!
- Samantha, mas vais já começar com o mau humor?? – A voz de
um homem ecoou dentro da cabana. Levantei-me a cambalear, abri a porta e…
- Daniel… - E caí redonda no chão.
Dei por mim, mais uma vez deitada de costas na cama e ele
debruçado sobre mim. Abri fracamente os olhos, tinha a minha cabeça zonza. E
Daniel olhava-me com preocupação.
- Estás bem? Há quanto tempo não te alimentas? Porque
ficaste aqui?!
- Hey, hey… Tem lá calma… Demasiadas perguntas de uma só
vez!
- Desculpa…
Olhei para ele… Uau… Mas que homem que eu tinha à minha
frente. O facto de se ter tornado vampiro dava-lhe um ar mais carregado, mas
muito mais belo, mais adulto, muito mais… Homem.
- Estes sentimentos para mim continuam a ser muito
estranhos…
- Sim, estou bem. Acho que não como há uma semana e fiquei
aqui porque fiquei sem vontade de voltar para a mansão.
- Ah… Então significa que não sabes de nada…
- De nada do quê?
- Da luta que… A serio que não sabes??
- Mas estas a falar do quê?
- Bem, eu fui a mansão à tua procura e, como não te vi,
calculei que aqui estivesses porque talvez precisasses de descansar, mas ao que
parece tu nem participaste…
- Mas participar no quê?
- Sam, ouve uma luta na mansão… Uma das vampiras… Pelo menos
foi o que eu ouvi. Foi raptada.
- O quê? Quem é que foi raptada?
- Eu não sei. A outra não disse nomes… Uma ruiva.
- Carmen… - Murmurei
- Como?
- Carmen, era a Carmen. Então quem foi raptada foi, de
certeza, a Sheftu. Mas tu tens a certeza do que estas para aí a dizer? Não
entendeste mal?
- É assim… Até posso ter entendido mas eu acho que não. Ela
foi bastante clara no que disse. E ao que parece também morreu um dos vossos.
- Quem?? – Eu estava boquiaberta com aquela história.
- Não sei… Mas acho que foi um tipo... Não sei bem, não te
posso confirmar nada sem ter a certeza. Mas que essa tal de Sheftu foi raptada,
lá isso foi.
- Mas como é que eu não dei conta de nada?
- Eu não sei, mas estás tão fraca que não me espanta que não
tivesses te apercebido de nada.
- Não tinha ideia de estar tão fraca como, na realidade,
estou.
- Acho que isso tudo eram saudades minhas! – Riu com gosto da
minha expressão de “mas que piadinha”.
- Para com isso sim? Não sejas convencido, que fica-te mal!
- Fica-me mal, mas sabe-te bem!
- Por favor…
- Vá, estou só a brincar contigo – disse a sorrir. – Então e
o teu querido??
- Louis? Não sei… Desapareceu, tal como tu. Mas se pensa que
vou esperar outras tantas décadas como da outra vez, ele bem que pode desistir
da ideia.
- Oh… Não me parece… Afinal de contas ele aceitou o desafio!
- O desafio? Que desafio?
- O que eu lhe lancei. Vai ser matar ou morrer! Quer dizer,
não tão literal… Não quero matar mas… Ou serás minha ou serás dele…
- E se não quiser nenhum?
- Então aí a escolha será tua e ninguém pudera mudar isso…
Ficou a fixar os meus olhos famintos, passou a mão no meu
rosto e disse baixinho:
-Mas eu quero que me escolhas a mim…
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