Transilvania Season - Ep 2, Sheftu
O que estaria reservado para o futuro desta nossa vampira milenar? Levaram-na, deixaram-na fraca e crescia nela, cada vez mais, uma vontade enorme de acabar com tudo isso logo de uma vez. Talvez não encontrasse respostas para as questões que a assolavam, cada vez mais crescentes. A certeza era que tudo ainda estava a começar…
"Come In, Whatever you are" by Sheftu Nubia
Meus sentidos tinham-se esvoaçado mais uma vez, ficando
assim sem vida, algures por onde me tinham colocado. Começava a odiar aquela
mulher, a idiota que constantemente aplicava algo sobre minha pele, mantendo-me
sempre fraca, deixando-me indefesa. Essa sensação – que nada conseguia fazer – era
algo que começava a irritar-me profundamente, mal tivesse oportunidade de usar
o que crescia em mim, poderiam crer que eram imensas as mortes que sairiam
sobre as minhas mãos.
Umas batidas na porta se fizeram ouvir, nem me dei ao
trabalho de me mover. Ouvia pequenos passos sobre a porta, que se abria, não
haviam pulsações, não havia nenhum som que eu quisesse. Suspirei levemente,
deixando-me embalar pelas memórias que me embarcavam, deixando que até partes
de mim realmente vivessem essas horas, ficando assim sem mim, quebrando meu
olhar fechado sobre uma leve mancha de sangue que sentia sobre a minha pele.
O suspiro surgia cada vez mais profundo, permanecendo
embalada pelo que já não é, presa sobre mim mesma, fechada sobre o que fui e o
que sou. Todo o meu corpo sentia o que eu vivia, a realidade era demasiado real
para mim, que os sonhos pudessem embarcar sobre a minha morte, que me pudessem
matar pela eternidade neles. Eu os abraçaria alegremente e jamais os
abandonaria.
Senti um toque sobre a minha bochecha, rapidamente ergui-me
para longe, para o mais longe que fosse possível. Como teria eu tal pesadelo?
Eu não durmo, não é possível tal coisa. A realidade cravava-se intrigantemente
sobre meus olhos, a noite estava no seu auge, um ódio enorme cercou-se em volta
do meu coração, desejo de morte, desejo de morte... Mata-o, aniquila-o agora!
Não deixes que isto aconteça, aniquila-o! Acaba com tudo isto de uma vez,
aniquila-o!
Meu pulso se fechou, meus músculos captaram toda a força que
ainda permanecia sobre mim e corri, corri e cerquei-o. Seus olhos se abriram,
sobre os meus que observavam furiosamente os seus, eu o queria morto, jamais
poderia novamente chamar-me de aliada. Para mim tinha morrido, aqui, agora.
- TU! – Disse-o, gritando ardentemente, com total escárnio.
Seu rosto sorriu, afastando-se de mim, observando a lua sobre a janela que
iluminava o quarto. Nada disse, apenas sorrindo com um certo tom de felicidade
sobre si mesmo, alegrando-se do que fazia, alegrando-se da sua morte. Morte,
essa que eu iria fazer revirar sobre si mesmo, deixando-o a suplicar pelo que
tem.
- Como pudeste? – Perguntava-lhe, arquitectando,
massacrando-me, tentando desenvolver alguma forma possível de o ver morto.
- Sabes que não o consegues, não sabes? – Riu-se,
ironicamente, observando-me enquanto o meu silêncio permanecia cativo.
Parei por uns momentos, deixei os meus pensamentos, deixei a
minha respiração para trás, meus lábios se abriram levemente, meus passos
começaram a seguir em frente, para perto dele, meu olhar não saía do seu e a
raiva teimava em crescer cada vez mais em mim. Era inevitável, completamente
profundo e absolutamente doloroso, mas eu iria fazê-lo. Meu corpo se congelou
perto do dele, deixando-me assim completamente à deriva, desejando que tudo
isto, nada fosse, além de um mau momento, daqueles de que se acordam e depois
limpam-se as lágrimas.
Seu sorriso permanecia ainda vivo, quando meu olhar gelado
decidiu dar-lhe a sentença de morte, arrancando de mim vida, de onde o sangue
que me sustentava, tão leve e suculento néctar, descia sobre o gelo. Eu não
iria fechar os olhos, não iria nem acordar para algo melhor. Mas respostas
tinham de ser dadas, mesmo antes que o seu fim chegasse.
- Tu não sabes do que falas. – Respondi sem mover nem mais
um centímetro de onde estava, apenas a um metro do seu corpo morto, apenas a um
metro do seu fim e do meu castigo.
- Sei... – Respondeu-me, aproximando-se novamente de mim e
cercando-me com um dos seus braços, enxugando as lágrimas que ainda não
cessavam sobre os meus olhos... – Estás mais quente! – Exclamou, afastando-se
um pouco de mim e observando-me com curiosidade. – O que fizeram contigo?!
- Como se pudesses ter haver algo com o assunto.
- Eu estou a falar a sério. – Disse-me com convicção,
voltando para o seu posto sobre a janela. Próximo, mas longe de mim.
- Ian, não compliques mais as coisas. Já não basta teres
arranjado forma de me trazer para aqui?
- E quê?! Te deixaria com ele? ACHAS QUE
ALGUMA VEZ O PERMITIRIA? - A exaltação começava agora a surgir, a
raiva que ele conseguia ter de alguém do seu próprio sangue. Como isso o
tornava completamente desprezável, como isso me tornava a mim desprezível. E
que isso importava? O que importava?! Ele iria morrer, tinha de morrer.
Rapidamente tinha sobre as minhas mãos o seu peito, que
permanecia quieto sobre elas. Eu observava-o, sem realmente querer ver a sua
cara, sem querer desejar o que eu tinha de fazer. A sua mão elevou o meu
queixo, tendo a sua outra sobre o meu peito, observando sobre o imenso azul do
meu olhar e permanecendo à espera. Esperando algo que eu não sabia o quê, sem
entender nada do que tudo isto se tornara.
- E porque tanto tu derramas lágrimas? – Perguntou-me
levemente, mais calmo agora. – Bem podes tentar matar-me, não o consegues. Eu
sei o que ele te fez, sei que o seu sangue te deixa fraca... Pan contou-me tudo
o que ela sabe, eu sei de tudo.
- Tu não sabes de nada. A Pan é uma besta.
- Ai é? – Sorriu perante a minha convicta afirmação. – Eu
até que acho que em certos pontos, nós somos iguais. Pan e eu, queremos algo
semelhante.
- E terão os dois o mesmo fim. – Conclui, triunfante sobre
um silêncio mortal que se seguiu. A mão que tinha amparado minhas lágrimas
agora segurava o meu braço firmemente.
- Sabes muito bem que isso não acontecerá... – Contou-mo,
concluindo com um tom simplesmente irritante. – Ela será morta, juntamente
com ele. Já não tem utilidade, esse meu filho, na realidade nunca
teve... – Sentia o tom ríspido sobre a sua voz sempre que tinha em mente o
Eric, ele não podia de modo algum consegui-lo, não o permitiria.
- Não... Eu não o permitirei... Tu jamais o f...
- E o que vais fazer tu, assim enfraquecida? – Perguntou,
rindo-se de mim. – Teu sangue é precioso demais para que saia assim do teu
olhar, afinal de contas ele não é nada!
- Ele é tudo. – Abri o meu olhar, deixei levar-me pela ira
que teimava em consumir-me juntamente com o sangue, desenrolando-se sobre a
minha pele morta, seguindo o seu caminho...
Seu olhar se abriu juntamente com o meu, os lábios se
serraram, suas mãos rapidamente me largaram e as veias no seu rosto saíam
enraivecidas. Suas artérias notavam-se sobre o seu branco morto, seu corpo
perdia a sua pose e o meu olhar seguia o seu corpo por cada segundo, enquanto a
sua morte ficava algures entre o que realmente é: vazia.
Ajoelhei-me perante aquele corpo, não sabia o que tinha
acontecido, comecei a movê-lo para que pudesse saber o que se passava. Não
havia qualquer sangue sobre ele a não ser o meu, nada estava partido a não ser
eu mesma. Mas o que eu tinha feito?! O que tinha eu feito? Passei meus dedos
sobre a minha face, sentei-me sobre o chão ao lado do corpo morto e observei
aquele sangue que tinha sobre as minhas mãos. Permaneci assim, sobre um corpo
que não parecia ser o meu, abandonando-me pelas horas que faltavam para que a
luz do dia voltasse...
Porque sinto eu meus olhos ardentemente doloridos? Porque
toda a minha essência deseja despedaçar-se por aí? Este monstro que me
trespassa – a não ser eu mesma, esta sina que teima em cravar-me dor. Podereis
levar-me agora, bondoso senhor?
A noite permanece fria, morta, com seu céu avermelhado,
sorrindo para mim. Ele me diz, sim... Ele me diz... Eu não o quero ouvir, podem
calar esta voz estridente que me grita? Eu peço, eu clamo, eu não consigo
mover-me. Meu olhar não sai da morte que se atravessa pelo céu da noite, o fogo
do meu olhar permanece lá cativo, queimando pelo que fiz, aniquilando-me pela
vida que tirei.
Porque tens tu, minha morte, de pegar sobre tudo o que eu
tenho, cravar em mim tudo o que sou e descarregar em momentos destes o vazio?
Eu jamais me deixei cair perante ti, jamais permiti que tu e o teu vazio
pudessem consumir-me. Não é agora que é diferente, não é agora que me vais
conseguir cativar sobre as tuas dores que me causas. Não o sou, não me faças
ser.
Vem, aparece algures, aparece... Fico aqui à tua espera
então. Desce dessa noite de sangue e mostra-te a mim. Eu aí poderei dizer-te o
que é a morte, não me importo de te mostrar... Usas a tua caixinha com os meus
sentimentos para me atormentar, mas nunca apareces. Nem sei se existes, podes
até nem existir. Então? Vem… Vem que eu estou a chamar-te.
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