Transilvania Season - Ep 1, Carmen

Depois de toda a destruição que acontecera sobre aquelas paredes, estava na altura de juntar os vários cacos – enterrar velhos amigos – e, ainda, resgatar Sheftu. O mais curioso seria, quando as peças se juntassem, compreender porque tudo isto tinha acontecido. Porque é que todos pareciam ter planos para Carmen sem que ela soubesse, porquê?

“Once A Home, Now Just Pieces…” by Carmen Montenegro


Desgraça total! A minha casa estava toda ela desarrumada. Havia ranhuras no chão, o candelabro estava torto, sem contar com as cinzas dos recém-nascidos espalhadas pelo chão. Parecia que um tornado tinha passado por ali.
Ali estava ele, deitado no chão, tapado sob uma cortina; O meu caro Lawrence jazia no chão sem vida. O meu amigo, que dera a vida por mim e por Dean. Se tivesse lágrimas estaria a chorar por ti, Lawrence.
Mas, não. Não tinha. Portanto, deixei-me ali ficar a velar pelo corpo do meu amigo. Todos os acontecimentos na última hora deixaram-me confusa. Porque iria Pan liderar um bando de recém nascidos sedentos, enraivecidos contra nós? Porquê o ataque? E, mais, onde teria Lawrence arranjado os seus poderes? Seria ele um mago desde sempre?
Relembrei a luz quente que invadira a mansão olhei para as cinzas dos recém nascidos. Tanto poder! Lawrence, aniquilara-os de uma só vez.
A porta da frente abriu-se, repentinamente. Nem foi preciso ver quem era.
- Levaram-na? - Exclamou Eric, entrando de rompante pela casa adentro. ― Levaram-na? Debaixo do teu nariz!
- Eu sei. – Respondi num fio de voz.
- SABES? E porque não fizeste nada?
Olhei para Eric com um ar incrédulo.
- Que sou eu? Guarda-costas dela?
- Eu pedi-te para...
- E onde estavas tu? ―  Levantei-me do chão. ― Onde estavas tu, quando a Pan entrou aqui com um exército de novos vampiros? Onde estavas tu, quando tivemos que nos defender? Onde estavas quando o Lawrence... Deu a vida para salvar a todos nós? Se o Dean e o Frankie…
De tudo o que eu tinha dito, Eric apenas captara uma palavra.
- Dean? Aquele tonto que te perseguia em Moscovo?
 - Não te esqueças do meu primo, o Frankie. – Dean apareceu no topo das escadas com Frankie ao lado. Os dois com claras marcas de batalha no corpo. – Boas, Eric!
- O que fazes?
- Ao contrário de ti, nós ajudamos a defender esta casa, o melhor que podemos. – Disse Frankie. – Alguns deram a vida por isso.
- Infelizmente, não foram vocês! – Provavelmente iria reclamar comigo mas, não o fez. O seu olhar parou no corpo contornado pela cortina. Aproximou-se e levantou um pouco, com o susto afastou-se bruscamente. – Oh Deus...
Ignorei os soluços de horror de Eric e olhei para o topo das escadas onde estavam Dean e Frankie.         
- Frank, vou pedir-te algo extremamente egoísta. Peço-te que fiques, vamos precisar de ajuda a livrar-nos desta cinza e temos que cuidar do corpo de Lawrence. Infelizmente, não me lembro bem de todos os rituais de purificação e, Lawrence merece.
- Claro que fico, Carmen. – Assegurou Frankie.
- Não, não ficas! Tu e o teu primo podem sair daqui! A última das minhas preocupações são dois humanos armados em heróis.
- Tudo bem, nós vamos embora... – Disse Frankie. – Se a Carmen assim quiser.
Eric olhou para mim à espera que ficasse do seu lado.
- A casa é minha, o Lawrence deixou-ma. E, como dona, eles ficam. Vão ajudar-nos a reconstruir, a procurar a Sheftu e a enterrar o Lawrence. Eles ficam.
- Eles são humanos.
- Nossos aliados! E, estavam aqui quando tudo aconteceu. – Lancei um suspiro cansado. Sentia-me a desfalecer. – Não quero discutir. É tempo de luto.
Subi as escadas a passo lento, larguei um leve sorriso a Frankie e Dean seguiu atrás de mim vigilante.

***

Passei da confusão para o choque, num ápice. Nem me tinha dado conta que estava ali especada, na minha casa de banho frente ao espelho, com Dean por detrás de mim. Senti-me fraca, sem qualquer réstia de vontade para seja o que for. Tinha a imagem de Lawrence gravada na memória, os olhos em sangue, o nariz, a boca, as mãos. A sufocar no seu próprio sangue, a lutar por ar.
Raios! Tinha a cara a arder mas, as lágrimas não saiam! Maldição! Já sentia a sua falta…
- Anda... – A voz de Dean vinha abafada. – Vamos tirar-te dessas roupas e dar-te um banho.
Virou-se de maneira a que pudesse encará-lo. Deixei de o ver por segundos mas, sentia-o a descalçar-me as botas, atirando-as para longe. A seguir levantou-se, os seus dedos percorreram a minha camisa branca – agora, manchada de sangue e pó – e, desabotoou-a botão a botão, depois atirou-a ao chão. A seguir senti o calor dos seus dedos na pele da minha barriga, enquanto Dean puxava as minhas calças. Depois, tirou-me a roupa interior com o maior dos cuidados, deixando-me completamente nua à sua frente. Pegou na minha mão e encaminhou-me para o chuveiro. Abriu a torneira o mais quente que podia, com gentileza empurrou-me para dentro.
- Enterramos o Lawrence aqui mesmo. Depois, cuidamos da casa e começamos a pensar na Sheftu, sim? Uma coisa de cada vez, Carmen.
Deu-me um beijo leve na testa, fechou a porta do chuveiro, deixando-me só com a água a ferver.
Fiquei debaixo das grossas gotas de água, que serpenteavam pelo meu corpo abaixo, quando uma luz se acendeu na minha mente evaporando o choque.
Saí do duche, nua e fui até ao quarto. Encontrei Dean de pé, sem camisa em frente ao espelho.
- Ainda não me disseste o que fazias aqui...
Dean olhou para mim, os seus olhos percorreram o meu corpo nu, que permanecia ali a pingar grossas gotas no tapete.
- Volta para o banho, ainda te constipas.
- Estou morta. Não há cá disso. – O choque tinha passado para raiva crescente. – Não desvies o assunto.
- Não há nada a dizer.
Avancei para Dean, ele não recuou.
- Há sim! Responde-me, Dean. O que se passa aqui? – Ao olhar para o seu corpo todo marcado da batalha anterior, outro detalhe veio à baila. – E, como é possível estares de pé? Ainda há bocado estavas quase morto!
- Pergunta ao Lawrence!
- Não tem graça!
Dean suspirou vendo que aquela piada fora despropositada.
- O Lawrence veio ter comigo e com o Frankie ao hotel! Como achas que ele sabia que andavas comigo, ele não era idiota! – O facto de Dean referir-se a Lawrence no passado quando o seu corpo nem arrefecido estava, fez-me tremer. – Enfim, ele disse que fazia tudo para te ver feliz, mesmo que isso significasse dar a sua vida por alguém que amas...”tudo para vê-la bem e feliz” disse ele.
Aquilo não podia significar o que eu pensava.
- O quê?!
- Tudo para vê-la bem e feliz!” – Dean suspirou. – Carmen, há momentos estava praticamente morto, até vi a luz ao fundo do túnel e tudo! Como é que, subitamente, estou aqui à tua frente enquanto Lawrence está morto?
- Então, achas que ele trocou a sua vida pela tua?
- Sim, quer dizer...tens uma outra explicação?
- Não faz sentido! O Lawrence era… – Um vampiro. Sim, seria essa uma maneira de acabar a frase mas, naquele momento já nem eu sabia o que Lawrence era.
- Um mago, Carmen. Poderosíssimo! Pode perfeitamente ter feito um feitiço de troca. Não seria o primeiro. – Dean mostrou um sorriso amargo. – Claro, que isto tudo podia ser evitado se eu já fosse imortal.
- Só podes estar a gozar…
- Se eu fosse imortal, o Lawrence não precisava de morrer para me salvar. Carmen, eu quero estar contigo mas, não enquanto eu for vivo.
- Queres tornar-te, vampiro?
- O que seja! - Apontou para a enorme cicatriz recente que ia ao longo do abdómen. - Eu estava a morrer, sangrava que nem um porco no matadouro e, de um momento para o outro, aqui estou eu! Achas que se repente duas vezes? Se eu tivesse...
- Queres tornar-te vampiro?
Dean suspirou. Eu não queria ouvir a resposta, pelo menos não a que temesse que fosse.
- Tudo para estar ao teu lado...
Eu não soube o que dizer, voltei-lhe as costas.
- Vou tomar banho. – Disse numa voz robótica. – Devias fazer o mesmo.

Saí do banho, com roupas novas: uma camisola preta de gola alta, umas calças de ganga escura e as minhas botas de salto raso também pretas. Apanhei o cabelo num rabo-de-cavalo, soltando algumas madeixas por detrás das orelhas. Ia a sair do quarto, quando reparei no meu armário, tinha caído e estava tudo espalhado pelo chão. Aproximei-me e levantei-o do solo com facilidade; caíram algumas roupas, objectos mas, também o meu caderno. O mesmo caderno que Lawrence me tinha dado, como meio de relembrar quem eu fora numa outra vida, queria que eu recordasse os meus modos de caçadora para algo que se avizinhava. Seria daquilo que acontecera há momentos, que ele falava? O meu caderno, ficara aberto na página central, mostrando uma carta num papel lacrado. Desfiz o lacre, tirei a carta e reconheci a letra inclinada e esguia de Lawrence.

“Cara, Carmen.
Se lês isto eu já abandonei este mundo e as perguntas nascem na tua cabeça. A verdade é que não te contei tudo sobre o meu passado. Eu em tempos fora um mago, caminhei a terra com um grupo de seres sobrenaturais com poderes mágicos, trouxe desgraça e maldição a muita gente. Era jovem, não sabia de nada apenas conhecia o mal na sua forma mais pura. Foi então, depois de me tornar vampiro, que senti que todo o poder que me fora destinado deveria ser usado para o bem. Resolvi abandonar essa vida e, como castigo, amaldiçoaram-me tornando o meu corpo velho e decadente, quando na verdade tenho apenas mais três anos que tu.
Por baixo desta camada de velhice, reside um jovem de 25 anos. Preso em mim mesmo, por ter uma mente livre e querer seguir o caminho da bondade. Lamento, mas nada do que te contei era a verdade, havia apenas pedaços. Talvez fora o meu orgulho britânico que não me deixara falar mas, senti que tinha de te proteger o mais possível.
Não sei se sabes mas, sempre nutri um imenso carinho por ti, Carmen. Desde o momento em que te amparei naquele pedaço de estrada, enquanto fugias de ti mesma. O meu carinho por ti foi imediato.
É tudo teu, tanto a casa com os terrenos circundantes, como os meus pertences. A escritura está feita e já oficializada, portanto não podes negar esta minha prenda. É tudo teu.
Quanto ao meu corpo, lança-me no fogo coberto de sal como farias a qualquer criatura. Quanto às minhas cinzas, enterra-as a sete palmos de terra dentro de um compartimento de prata, para que os fantasmas do passado não me encontrem, mesmo que morto.
Cuida do Dean. O desejo de imortalidade cresce e ele fará tudo para estar ao teu lado.
Engraçado o que fazemos só para te ter por perto, Carmen.
Com eterno carinho.
Sir Lawrence Attwood.

Se eu tivesse lágrimas estariam correr pelo meu rosto por ti, meu Lawrence.

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