Inverness Season Special - Stratis

Ainda aprisionada, Stratis revivia pelo vácuo da sua existência momentos do seu passado. Por quanto mais tempo ela acabaria completamente sozinha ali? Longe do seu bosque, completamente destruída pelo enorme nada que tentava atravessar a sua existência. Ela gritava no seu âmago pelo seu amado… Quando o reveria? Quando seria libertada?

“Creation Of Bounds” by Stratis


“Dar-te-ei o controlo dos bosques da Escócia, tal como os homens a chamarão! A terra onde a natureza deverá florescer no seu estado mais selvagem e belo! Tens como objectivo da tua vida, Stratis, fazer com que os que habitem no bosque o sintam como uma casa. Podes conviver com todos os que achares dignos da companhia de uma dryad! Agora parte, minha filha!” Natura, a anciã das dryads, assim me tinha incumbido da missão dos bosques verdes e fortes da Escócia. No início, senti uma força inexplicável e comecei a semear as energias vitais onde achei sensato, depois fortaleci os laços com a terra e expandia gradualmente a vegetação. Não demorou muito para que animais pequenos, como as aranhas e lagartinhos começassem a habitar o jardim que tinha fabricado. Foram épocas calmas e prósperas. Animais mais possantes começaram a entrar e a coabitar com os que já cá estavam. E assim sucessivamente! Tempos em que nenhum homem existia, para arruinar o trabalho que de tanto me orgulhava. Digo isto, pois quando essas criaturas apareceram, destruíram árvores sem misericórdia e, sem sequer pedir autorização! Acho que foi por isso que o meu medo dessas criaturas existe ainda hoje.
Nós, dryads, não podemos utilizar o nosso poder para atacar qualquer ser vivo que seja! Essa é a nossa regra, e sei que se o fizer, quem sofrerá será a criação a que me ligo tanto. A Mãe Natureza deixou bem claro que nós existimos para servir o propósito da criação e não o da destruição! Somos como parte da sua entidade e, por isso, somos fiéis aos seus ensinamentos.
Existiu um tempo em que via os homens como uma ameaça mas, sabia nada poder fazer… Eles queimavam indiscriminadamente e saqueavam o meu bosque sem ver meios… Triste eu estava e ainda mais ficava, com a progressão desta raça. Contudo… Um dia quando estava a alimentar o bosque, um homem encontrou-me e surpreso ficou. Quando digo surpreso é mesmo porque lhe caiu tudo o que tinha nas suas mãos! Em vez de me assustar, ri-me como uma tola pelo estado em que ele tinha ficado.
- Porque ris mulher? Podias ter-me morto de susto! Não sabes que aqui no bosque profundo vagueiam os espíritos?
Ele só podia estar a gozar comigo e ainda me ri mais! O que acho que o deixou irritado, para ser franca… Mas depois de me recompor sorri-lhe simpaticamente e:
- Meu rapaz, estou habituada aqui a estar. Não vi nunca nenhum espírito a viver aqui… Apenas vejo que existem por vezes uns ritos interessantes na tua aldeia… É assim que a chamam não é?
Não conseguia mostrar qualquer sentimento negativo…
- Como assim? Habituada aqui a viver? Realmente és estranha… Nunca te vi na minha aldeia… Quem és? – A dúvida tinha-se apoderado dele. Tanta curiosidade e espanto que sorri mais uma vez.
- Eu sou uma dryad. O meu nome é Stratis. E tu? Como te chamas rapaz?
-Dryad? És de alguma aldeia diferente e que vive aqui no bosque profundo?
-Não, nada disso… Sou um ser da floresta, a sua criadora e a entidade que o mantém… - Não consegui controlar um pequeno tom de tristeza na minha voz… Afinal de contas eram eles os únicos que estavam a descuidar o meu belo bosque…
- Hummmm… Então és um ser poderoso que mantém aqui o bosque onde vivemos todos? Interessante! Ah, o meu nome é Farandir e gostava de te poder ajudar. Afinal de contas, se vivemos no mesmo bosque, e ainda por cima és a sua criadora, acho que devemos estar-te gratos. - Um espanto enorme, impossível de ser contido, invadiu-me! Um rapaz que não aparentava nada de especial, tinha uma compreensão e uma sensibilidade muito especiais. – E como é que achas que poderíamos ajudar?
Eu queixava-me por eles destruírem o que criara… mas na realidade eles queriam apenas viver ali… por motivos que eu não sabia… Eu, como dryad, tinha o dever de zelar por todos os seres que habitassem no bosque… contudo… aqueles que antes o fizeram tinham sido muito maus para com ele… Na realidade estes habitantes nem cortavam muita lenha… Não consumiam todas as possibilidades que lhes proporcionava e até tentavam plantar… Para não falar de que tinham uma aura bastante intrigante…
- Para saber como podem ajudar, gostava de saber antes umas coisas…
Uma conversa duradoura e muito promissora se estabeleceu. Percebi que tinham existido batalhas várias e por isso a queima de muito do meu jardim… Tinham construído coisas chamadas casas mas muito grandes! Mas que aqueles que ali estavam na “aldeia” eram na realidade pessoas que fugiram das grandes confusões e que já viviam ali há cerca de um século. Eu não sabia o que era um século… aliás… o tempo para mim era irrelevante! Esta era a primeira vez que tivera o contacto com algo do género.
Durante muitos e muitos dias fomos falando e, durante esse mesmo tempo, fui conhecendo os aldeões todos. Ficaram boquiabertos a observar o que fazia para que os elementos se auxiliassem.
Comecei a vê-los de uma forma diferente, e comecei a ensinar-lhes a manipulação da energia. Eles aprenderam ao seu ritmo.
- Stratis, tivemos uma ideia! – Os olhos dele brilhavam de ansiedade.
- Que ideia é essa que estás a querer dizer-me já há algum tempo Farandir?
- Dás-nos a autorização de viver em comunhão contigo?
- Como assim? Não sei se estou a perceber…
- Fácil… Sabemos que não podes zelar pela segurança do bosque todo… apenas estás em contacto com ele, devido às obrigações que tens como Senhora do Bosque. Mas…
- Segue, diz-me Farandir, o que andaste tu a engendrar?
- Porque não podemos nós proteger o bosque, estas fronteiras? E viver ao mesmo tempo dentro da sua sombra e sobre a sua protecção?
- Farandir… Não vos posso impedir de nada de que queiram fazer, aliás… vocês é que sabem o que fazer… Sou apenas a criatura que cuida de todo este bosque…e sim, tens razão, não o posso proteger, mas o bosque sabe proteger-se…
- Stratis… Nós homens somos criaturas miseráveis… Por isso é que queremos ajudar-te e proteger-te da nossa própria espécie. – Enquanto dizia isto, vários dos aldeões apareciam por entre os arbustos, como para encenar algo, realmente até o conseguiram pois teve um impacto estrondoso – E assim, não estarás nunca mais sozinha! – E assim começou a formação dos druidas.
Eles ainda hoje existem. Talvez se os encontrares eles te possam ajudar a encontrar-me… Por favor Vlad! Despacha-te! Tenho saudades tuas, meu amor! E esta prisão é sufocante! E com estes flash’s de memória… É doloroso! Reviver momentos queridos e rever aqueles que sempre me adoraram e que se sacrificaram tanto para o meu bem-estar!

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