Inverness Season Special - Dean Ross
Dean e Frankie tinham uma capacidade fenomenal para trazerem
encrencas por onde quer que passassem. Sim, porque era algo que parecia cada
vez mais certo com toda aquela multidão que se aproximava deles. A verdade era
uma, estavam completamente tramados. Como sairiam todos desta?
“Am I Dead?” by Dean Ross
Okay, eu estava numa grande alhada. Numa gigantesca alhada.
Por um lado tinha uma amiga – seria muito cedo, para aplicar
este termo a Sheftu? - que pedira a minha ajuda num assunto e no outro, a
pessoa que ocupava lugar soberano no meu coração. E, só mesmo por acaso eram
rivais! O que fazer? Agora, estava ali encostado aquela parede, sob a mira dos
seus olhos cinzentos, ela estava chateada a ponto de dar-me um enxerto da minha
vida. Mas, não o faria, conseguia ver pela maneira como agarrava o cabelo e
escondia o nervosismo com sorrisos. Não iria atacar-me. Ou iria?
Não. Ela iria provocar-me. Encostou-me a parede com um
empurrão violento e agora aproximava-se de mim como uma leoa se aproxima da sua
presa. Os olhos cinzentos brilhantes, os lábios perfeitos entre abertos, e as
suas mãos…as mãos que percorreram a minha cara numa carícia tentadora, seguindo
numa viagem pelo meu peito abaixo. Ao mesmo tempo os seus lábios aproximavam-se
dos meus prontos, soprando uma leve respiração dispensável. Meu Deus, que
tentação era aquele ser. Como era possível?
A sua mão estava agora na minha barriga e eu sabia bem por
onde ia, apenas me perguntava porque demorava tanto a chegar! Estou rendido ao
seu toque. Sabe exactamente onde e como tocar-me, numa carícia gentil que
desarma por completo. Esquece! Nem sei qual é o motivo da discussão, só quero
beijar os seus lábios e toma-la mesmo ali. Mas…
- Estás em problemas... -
Afirmou toda cheia de maldade. Afastou os lábios para longe de mim e
empurrou-me outra vez contra a parede. Para piorar, desatou a correr em
direcção à biblioteca. Raios! Como pude deixar-me dominar?!
- Raios! Carmen!
Tive que tirar uns segundos para recompor-me e ocupar a
mente com os detalhes mais idiotas que um homem na minha situação estaria. Eu e
a minha fraqueza…
Lá acabei por acalmar e corri em direcção à
biblioteca, assim que cheguei já Carmen estava a embirrar com Sheftu e
vice-versa. Olhei para as duas, meus Deus, pareciam dois tigres, prontos a
atacar-se. Tinha que tentar amenizar a situação o mais que podia.
- Desculpa, ao consegui impedir mais...
Carmen, olhou para mim com um ar de ofensa. Claramente, eu
estava em maus lençóis.
- Não tens que pedir desculpa, Dean! –
Claro que não tinha que pedir, mas… - Então Sheftu, vais dizer-me ou não o que
andam todos vocês a tramar?
Silêncio total. Vi Carmen a olhar para Frankie à espera de
resposta. Será que Carmen, não percebia que nós não podíamos
dizer? Eram negócios! E, são coisas de caçador, ela deveria entender!
Enquanto, a minha Carmen interrogava todos com um olhar
poderoso, o meu desviou-se para o jardim lá fora. Fiquei impávido a olhar para
o que se passava lá fora.
- Mas o que é aquilo?
Senti que todos seguiram o meu olhar com curiosidade. Lá
fora, iam aparecendo várias pessoas, todas vestidas de negro, carecas, donos de
uma palidez fora do comum. Tinha olheiras profundas sob os olhos vermelhos e,
aparentavam estar completamente enraivecidos. E, o pior é que pareciam que se
multiplicavam a cada segundo.
No meio deles, também de preto mas, facilmente reconhecível,
vinha uma mulher: Os seus cabelos estavam apanhados, mas aqueles olhos verdes
de cobra ainda brilhavam malevolamente, parecia exibir um sorriso vitorioso.
- Pan? – Quando Carmen disse o seu
nome, logo a reconheci. Pan! Mas, o que fazia ela ali no meio e ainda por cima
assim vestida, qual ser maléfico.
- Conheces a Pan? - Perguntou Frankie surpreso.
Obviamente Frankie sabia que as duas se conheciam, sabia que as duas se odiavam…
Quem não podia saber, era Carmen. Daí a pergunta. Mas, para além disso eu
estava espantado por Pan estar ali. Olhei para Frankie, que retribuiu-me um
olhar culpado. Aquele jogo de mentiras iria acabar mal. Já cheirava e, o fim,
ainda nem estava perto.
O número dos atacantes tinha parecido estancar. Eram 40.
Quarenta seres estranhos que rodeavam as paredes de vidro da biblioteca,
completamente imóveis como se esperassem uma ordem de comando.
- Ela está a dirigir-se para nós na frente de
toda aquela multidão. – Disse Carmen, claramente irritada. - Cobra venenosa...
Logo a seguir olhou para Sheftu e imediatamente passaram de
inimigas a aliadas.
- Primeiro nós. – Afirmou a vampira loira.
- Primeiro nós. – Concordou a minha ruiva. E, fez
questão de olhar para mim. - Fiquem aqui.
Vi-as saírem para fora, a passo rápido passando pelos seres
imóveis e aproximando-se de Pan. Imediatamente virei-me para Frankie.
- Que raio faz ela aqui, Frankie?
- Eu não sei.
- O plano ficou cancelado! Qual foi a parte disso que não
percebeste?
- Eu não tenho nada a ver com isto, Dean!
- Não? Então, que faz ela aqui? E quem são aqueles seres?
- Eu não sei, primo. Eu disse-lhe que tu e a Carmen estavam
juntos, Que o plano esta fora de questão de ser executado e ela aceitou. Não
percebo a mudança…
Eu olhei para Pan, agora que via bem, ela era uma mulher do
perigo. Toda vestida de negro, com os olhos verdes salientados pelo seu sorriso
maléfico.
Algo acontecia lá fora, que impediu a nossa discussão
secreta de continuar, os seres de negro começaram a correr em direcção as duas
vampiras engolindo-as como uma mancha negra engole um pequeno pássaro.
Perdia-as de vista, naquele manto sedento. Eu ia avançar, quando Frankie
segurou-me pelo braço.
- Não! Nem notaram que estamos aqui, sossega!
- Mas, a Carmen…
- Elas são vampiras, Dean.
Aquelas palavras não me confortavam, o manto negro de seres
sedentos rodeava-as e não deixava espaço para manobra.
Foi então que um som sobressaltou-nos. À nossa frente, a poucos
metros, Carmen aparecia de pé com uma arma apontada a um vampiro que acabara
por cair ao chão. Tinha-o morto com uma bala em cheio na testa. Os vampiros em
volta afastaram-se em espanto, enquanto Carmen e Sheftu estavam de pé em
posição de ataque.
- Wow… - Sublinhou Frankie.
- Eu disse-te.
- Mas, como?
- Não é uma arma normal, Frankie. Foi o Lawrence que a fez…
- Estás a gozar?
- Acabaste de ver com os teus olhos, primo.
Não ouvi o que foi dito, mas o grito que Pan soltou fez crer
que não tinha sido algo de bom.
- NÃO FIQUEM PARADOS! EU QUERO-AS MORTAS!
Antes de qualquer movimento, já Sheftu e Carmen corriam para
dentro de casa. Entraram a tempo correndo as portas de vidro assim que entraram
mal, o trinco se fechou o vidro levou com um furioso embate do outro lado.
Olhávamos em silêncio e espanto enquanto, uns atrás dos outros, os recém-nascidos
embatiam violentamente contra o vidro. Não tinham medo de se magoar, apenas
queria matar-nos. Batiam e batiam, com uma força tal que até doía só de ver!
Os recém-nascidos mandavam cabeçadas, cargas de ombro,
empurravam-se uns aos outros contra ao vidro sobre gritos e urros. As unhas
arranhavam o vidro fazendo um chiar insuportável que arrepiou cada centímetro
do meu corpo.
- Estão descontrolados. - Exclamou Frankie um pouco nervoso.
- Isto não é normal!
- É sim, Frankie. - Assegurou Sheftu. - São recém-nascidos
sedentos de sangue. Não usam a razão.
- O vidro vai partir. – Avisou Carmen, quando um deles mais
forte mandou tal cabeçada que o vidro fez o molde da sua cabeça.
- Aquilo não era suposto acontecer. – Anunciou Sheftu - Com
o feitiço que o Eric fez, eles nem se deviam aproximar.
- Aproximam-se o suficiente. - Disse Carmen.
Eu olhei para Frankie com um olhar cúmplice, que ele também
devolveu. O feitiço de Eric era forte, sim. E, Sheftu tinha razão, aqueles
recém-nascidos nem se conseguiriam aproximar quanto mais mandar cabeçadas nos
vidros. O problema, é que o feitiço desaparecera…
Subitamente os movimentos bruscos cessaram e entre os
recém-nascidos abriu-se um corredor negro, ao fundo Pan olhava directamente
para nós, dizia umas quantas palavras incompreensíveis ao mesmo tempo que
erguia a mão na nossa direcção.
- O que é que ela está a fazer? - Perguntou o meu primo, já
caminhando para trás.
Antes mesmo de me sair qualquer resposta, um zunido invadiu
os nossos ouvidos, protegi os meus com as mãos, tentando mantê-los a salvo
daquele horrível som. Quando olhei, vi que Pan era quem fazia aquele som
infernal. Como? Eu pensava que ela era simplesmente uma humana. O que raio era
Pan?
Não consegui dar resposta à minha pergunta, pois os vidros
explodiram! Uns trás dos outros como bombas interligadas, explodiam expelindo
estilhaços contra nós. Voou a mobília: mesas caíram, cadeiras voaram, estantes
tombaram... Mas, o pior, era o que aí vinha. Um som parecido com uma debandada
animal fez-se ouvir ao mesmo tempo que aqueles seres entravam casa adentro.
Entraram pela biblioteca, vinham como gente doida sem freio,
uma onda de seres vestidos de negro sem um pingo de misericórdia e cheios de
sangue. Loucos. Sedentos. Esfomeados. Eram tantos que me perdi ali no meio.
Demorei a perceber que tinha que lutar ou a minha única saída era a morte e,
morrer assim, não estava nos meus planos!
Comecei a lutar, a dar-lhes um bocadinho do gostinho humano.
As mesas caídas, de pernas para o ar, faziam óptimas estacas. Prendi um à
parede com uma estaca mesmo no local onde tinha um coração, prendi um outro ao
chão com uma estaca na boca. A um outro torci o pescoço totalmente e a seguir
fiz atravessar pelo seu abdómen uma estaca de madeira. Uma curiosidade: Os
recém-nascidos têm tanta força que os torna trapalhões, e não se apercebem das
suas fraquezas. Enquanto num vampiro já adulto e experiente, a
estaca apenas paralisa, num vampiro recém-nascido pode chegar a matar. Um
detalhe que facilitava imenso a minha situação naquele momento.
Quando me voltei, vi Carmen em sarilhos. Passadas rápidas
levaram-me para junto do seu atacante com um pedaço de vidro na mão. Agarrei a
cabeça daquele careca e cortei-a. Sorri a Carmen que parecia aliviada por
ver-me mas, não durou muito. Tínhamos que continuar.
Tudo tinha acontecido tão rápido e agora movia-se tão
lentamente, que tinha-me perdido na transição. Apenas sentia dor. A dor ao
embater no chão. A dor no meu lado esquerdo. Quando olhei para mim mesmo,
apenas vi o sangue a sujar-me a camisola.
- DEAN! – A voz dela parecia-me longe. Quando
olhei para ela, estava em choque de certeza. Nem a conseguia ver bem. Senti
alguém a segurar-me pelo braço e, logo a seguir, apoderou-se de mim o
sentimento de uma picada no braço. - NÃO!
Porquê que ela gritava? E, porquê que me sentia tão leve
subitamente? Vi, Carmen a correr para mim mas, logo desapareceu. Para onde
tinha ido? Oh, nem sei… Onde estava eu? Sentia-me a ser levado pelo chão, com o
mármore frio a bater-me nas costas. Batia com força contra o solo. Devo ter
passado por uns degraus quaisquer. Sentia-me tão fraco. Tão longe. Dormente,
sem conseguir respirar quase. Só queria dormir. Conseguia sentir uma aura negra
a pairar por cima de mim, mas não sabia o que era, nem queria saber…apenas
queria dormir…
Já não ouvia nada. Já não sentia nada. Estava tão leve e tão
dormente, que deixei-me levar pela escuridão que me rodeava. Os meus olhos
pesavam, o meu corpo também e a escuridão chamava o meu nome tentadoramente.
Senti uma nova picada mesmo em cima do meu coração, parecia
que o meu sangue estava ser…a…ser…drenado.
Não sei…nem lutei…não vou lutar…tenho sono. Carmen? Hum…Adeus…
Estou num sítio todo branco. Aqueles sítios estranhamente
calmos, que só podemos alcançar quando estamos mais para lá do que para cá. Só
podia ser isso. Eu já não estava cá, estava…ali. Morto? Hum…talvez. Se isto era
a morte, era de facto muito pacífica. Deveria morrer mais vezes!
Olho à minha volta e, apenas vejo branco. Até eu estou
vestido de branco e, nem é a minha cor favorita. A poucos metros encontra-se
uma porta. Isto era estranho, era apenas uma porta de madeira sem nada em volta
a não ser, mais espaço vazio. Aproximei-me e espreitei do outro lado, não tinha
nada. Estendi a mão e toquei na maçaneta dourada, rodei e abri a porta. Não
sabia bem o que via mas, chamava por mim. Era a paz. A paz que tanto ansiei, a
paz que me fora roubada tinha eu 10 anos. Estava tudo perfeito. Estava tudo
bem.
Pronto, eu ia avançar mas, algo parou-me. Espera, ouvia
alguém chamar por mim. Uma voz dócil. Suave. Um doce cheiro veio ao meu nariz e
um toque frio invisível tocou a minha pele.
Esquece isso, Dean! Segue em frente. Paz, aqui vou…
A porta fechou-se com força, desapareceu e a minha frente
transmutou-se Lawrence todo de branco com os olhos azuis como safiras.
- Lamento, tens que voltar. Adeus, Dean.
Toquei em mim mesmo e senti-me inteiro.
Por cima da minha cabeça conseguia ver uma enorme racha no
tecto, que ameaçava cair sob a minha cabeça a qualquer momento. Olhei para o
lado e vi que a casa estava numa destruição total. Parecia que tinha passado
por ali um tornado.
Sentei-me a ganhar fôlego, sentia-me a tremer e com um
estranho peso no coração. Sem falar na dor que provinha da minha lateral. Que
raio tinha acontecido? Estivera eu a sonhar?
A poucos metros de mim, eu via uma cena triste. Lawrence
soltando os últimos suspiros nos braços de Carmen. Percebi que não era um
sonho, que a desgraça tinha assaltado aquela casa.
- Oh Deus... – Fui aproximando-se
devagarinho, conseguia ouvir os seus suspiros dolorosos e até mim me
incomodavam. Subitamente, ficou quieto. - Lawrence? Lawrence?
O peso da sua morte tivera um tal impacto em mim, que foi
como se tivesse morrido um familiar. Carmen permanecia impávida a olhar para o
corpo do seu amigo. Senti vontade de abraçá-la e assim o fiz. Não disse nada,
não havia nada a dizer.
Um barulho atrapalhado vinha do corredor da biblioteca,
Carmen e eu olhamos ao mesmo tempo e vimos Frankie a coxear coberto de sangue.
Corri em direcção ao meu primo ferido, amparando-o.
- Frankie?
- Estou bem, Dean. - Assegurou o meu primo apesar da sua
clara fraqueza. - Não é nada…
- Não? Olha para ti!
- Já vi mas, de momento não se devem preocupar comigo!
- Do que estás a falar?
- A Sheftu! – Frankie olhou para mim com medo nos olhos.
Estava tudo fora de controlo. - A Pan…
Oh meu Deus! Por favor, não…
- O que aconteceu? – Perguntou Carmen.
Frankie olhou para Carmen temeroso.
- A Pan levou a Sheftu...
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