Inverness Season - Ep 45, Vladimor
Sentimentos de mágoa e frustração apareciam por toda a sua
alma. Se realmente estava contra a sua suposta irmã, então como poderia
retornar a sua amada ao seu devido lugar? Era um lobisomen cansado, cansado de
todos os problemas que pareciam atravessar-se na sua existência. Encontraria
solução para eles?
“True Awakening” by Vladimor Iorganov
“O mundo é algo criado pela nossa mente, mas isto é demais!
Como pode a mente de alguém ser tão distorcida ao ponto de não existir ninguém
num mundo por ela criada?” Estes foram os pensamentos que após descargas
sucessivas de energia para perscrutar uma vasta área me começaram a passar.
“Não restam mesmo dúvidas, preciso sair daqui! Ou então, dou mesmo em doido!
Passei a maior parte da minha não vida em exílio e fora do contacto das pessoas
e de criaturas… Mas nos últimos tempos, vejo que isso foi um erro crucial!”
A mágoa e a frustração continuavam a elevar-se, visto a
raiva já não mais ocupar o seu lugar preferencial. Tenho de pensar em como sair
daqui! URGENTEMENTE! Alexis, se esse for realmente o seu nome, a minha irmã, se
realmente o for, é capaz de muito e isso não me agrada NADA! Conseguiu
colocar-me afastado de tudo e todos num mundo por ela criado. Conseguiu
encurralar Stratis, a dryad que tanto venero. Consegue
utilizar a magia com grande potencial e está cega de ódio de um espírito que
devia ser purgado! Realmente ela é forte, bem treinada. Um adversário a não
mais subestimar!
No meio deste turbilhão de pensamentos não conseguia pensar
no que realmente interessa: Sair daqui! Devia ter tomado mais atenção aos
ensinamentos do meu mestre Petrov! E além disso, devia ter ouvido mais
Dragulia, aposto que ele saberia sair daqui num ápice! Mas não é altura para
continuar a pensar no que deveria ter sido feito! É altura de me focar no que
realmente está a acontecer… Primeiro, e antes de mais nada, limpar a minha
mente de tudo o que seja dispensável! E assim comecei a meditar.
“Quando se medita, o nosso corpo é como se deixasse de
existir e o nosso espírito se solta-se das amarras da carne! Conseguimos chegar
mais longe e atingir o imperceptível.” Estas foram as sábias palavras de Petrov
num dos seus ensinamentos e que sempre permaneceram comigo. E neste campo até
que conseguia alguns resultados. Observei com os olhos do espírito e percebi
que o mundo criado não era assim tão vasto como pensara ser… Era mais como uma
dimensão parcial, cinzenta ou seja, sem vida, uma ilusão em ponto pequeno do
bosque em forma de esfera… Uma prisão sem vida em ponto grande! Assim sempre é
mais fácil… Daquilo que me lembro, é que o que tem forma poderá ser quebrado,
basta encontrar o seu ponto fraco e o resto… o resto é fácil, utiliza-se a
força ou a energia que achamos suficiente. Contudo... Notei que existia uma
forma ali… no mundo espiritual daquela dita jaula. Não era só eu ali preso mas
algo mais… Algo que me era familiar… A minha forma estava reflectida naquele
ser etéreo ou ilusão ou o que quer que fosse! Estranho, no mínimo. Foi então
que um ataque se deu… O ser etéreo voou na minha direcção e lançou dois virotes
energéticos contra o meu espírito aos quais consegui desviar-me. Não parando o
seu ataque, o ser girou sobre ele e realizou uma pirueta de onde raios foram
projectados, um ataque de alto nível ao qual consegui defender-me invocando uma
barreira! O contra-ataque tinha de ser rápido, então uma bola de plasma verde
projectei mas embateu num escudo realizado à sua medida! Contudo não parei por
ali e criei uma explosão de fogo azul em meu redor, conseguindo repelir o
adversário.
Antevia-se uma batalha, não uma luta! Os feitiços realizados
tanto por mim como pela forma que estava a defrontar, eram fortes. Após
encadeamentos de feitiços percebi que existia algo demasiado familiar naquilo
que a forma realizava…até mesmo os seus movimentos não me eram desconhecidos.
“Será que é uma réplica?” A ideia não me pareceu em nada absurda! Vendo que é
impossível fazer duas entidades iguais, aquela só podia ser mesmo uma réplica!
Mas como foi Alexis capaz de realizar tal coisa? Ela não me conhe… BASTARDO! O
espírito! Foi ele que deu origem a esta aparição… Ele conhece tudo aquilo que
aprendi com Petrov, por isso os feitiços e as defesas e tudo me é tão familiar!
Perante a minha expressão de incredulidade pareceu que a
réplica sorria de satisfação, o que me deixou ainda mais confuso! A réplica não
se limitava a saber o que eu sabia de Petrov, mas parecia ter uma certa ligação
com o seu criador. Interessante… Resumindo, ela é a minha porta de saída desta
jaula sem vida!
Agora que entendi, vou arranjar a táctica correcta para
derrotar o que antes fui. E assim saí da meditação. Contudo para não ser
apanhado desprevenido perscrutei de novo a área da jaula, reparando que
existiam distúrbios mas nada de vida… prefiro não ficar aqui neste local… Vou
explorar agora fisicamente esta prisão para me certificar de que posso
descansar um pouco. Afinal quando se luta no mundo espiritual, podemos não
ficar com ferimentos mas a realidade é que se alguém conseguir prender o nosso
espírito é o fim. Viramos escravos da vontade daquele que nos aprisionou e bem
que podemos esquecer que nos resgatem pois é quase impossível. Digo isto pois
li já relatos de quem tenha conseguido escapar e do que é realmente possível
realizar quando “capturamos” alguém nesse estado. Cansado mas sempre atento…
Afinal de contas, combater como combati contra mim mesmo, não é todos os dias…
Repousar o corpo e recuperar a energia despendida será necessário pois não
seria nada proveitoso ficar refém de mim mesmo e ser um escravo daquele que
estou decidido a destruir! Não havendo vida, não há comida… mais uma razão para
não permanecer nesta prisão durante muito tempo!
Depois do repouso imergi no mundo espiritual mais uma vez,
mas agora preparado! E lá estava “eu” à minha espera. Um sorriso falso e uma
rajada púrpura disparada sem aviso prévio! Perfeito, pois a defesa já tinha sido
erguida e a rajada ficou sem efeito, mas o meu contra ataque surtiu o efeito
desejado, aproximar o meu adversário de mim! Na forma espiritual não conseguia
transformar-me por isso tinha de utilizar mais esperteza do que a força que me
era característica, e até agora estava como queria! Agarrei-o em pleno voou com
uma garra fantasmagórica e tentei aprisioná-lo. Claro que esperava que surgisse
um ataque sorrateiro, e assim foi, a barreira de chamas dele foi erguida e
anulava qualquer prisão que tivesse invocado. Rodopiei para trás soltando raios
carmins em direcção ao seu peito fantasmagórico, ao qual ele dissipou num
instante! Contudo, os raios tinham sido um engodo pois coloquei um segundo
feitiço de onda por trás e que fez o dano esperado. Meio atordoado, ainda teve
a noção de criar uma barreira que o escudava durante o tempo suficiente a
recuperar. Depois de recuperar, parou! E uma voz cava suou na minha mente:
- Afinal de contas conheces-te bem Vladimor! – A voz era
aquela de um ser não vivo e que decidiu ter como objectivo da imortalidade, o
terror e a morte como companheiras.
- Se não me conhecer bem serei o meu próprio escravo…não
valeria a pena, e além disso tenho quem me espera, pois bem sei que não
consegues ainda matar uma dryad! És apenas um espírito maldito que se resigna à
morte!
- Pois não! Não a consigo matar mas ela consegue fazer isso
sozinha! – terminou a frase com um riso de puro ódio. – E ainda te digo mais
meu caro Vladimor, as tuas amigas e os teus companheiros serão os próximos, por
isso, sugiro que te despaches ou então encontrarás aquilo que duvido que
queiras encontrar!
- Estás a incitar-me a acabar com o teu sofrimento é? – Isto
dito com um tom jocoso terá um efeito interessante, só pode!
- Quem sabe? – Desta não estava a espera, e ainda por cima
com um suspiro pesado no fim… – Mas veremos primeiro e antes de mais nada, se
daqui consegues sair! Depois vem à minha caça, estarei à espera!
Mal terminou o seu discurso enigmático atacou com todo o
poder! Confiou toda a energia naquele ataque! Mas não me era estranho, tal
coisa e assim o fiz também, o último golpe! O golpe do final da batalha que se
travara! A minha liberdade ou a minha perdição…
As energias chocaram e uniram-se como se de uma vaga
contraditória se tratasse! Serpentinas e rasgos de cores diversas soltavam-se
da união! E a união não era só em termos do ataque, mas também da minha e da
mente daquele que me amaldiçoou!
Um lobo solitário encontrava-se numa enseada com a Lua como
a sua perdição, e uivava sem parar. De repente, um homem de porte nobre
apareceu atrás de si e a sua fala era imperceptível, como se tratasse de um
encantamento arcano, do qual percebi que queria uma união com o lobo para poder
vencer os seus inimigos e poder trazer a paz ao território e em troca idolatraria
a figura do lupino. A união foi efectuada e a conquista correu a feição do
homem, contudo este não ligara mais à união que tinha efectuado e o lobo acabou
por morrer a salvar o homem que o desprezara. A paz perdurou mas o lobo
amaldiçoara o homem pois o seu rito não fora cumprido. E…
Vi como tudo começou mas a sua raiva e ódio eram demasiados,
por isso, só me restava uma única coisa, purgar o espírito para o libertar
finalmente. A Vaga estava equilibrada, porém eu não podia perder nem por nada!
Descobrira que podia contactar com mais criaturas e tornar-me seu amigo.
Descobrira que podia amar e ainda que tinha família! Tantas emoções e
sentimentos fortes! Não iria ficar por ali… nesta solitária sem vida! Não quero
apenas uivar só para a Lua!
- RESIGNO-ME A FICAR POR AQUI!!!
E a vaga tomou outras proporções, saindo de mim uma energia
adormecida! O equilíbrio estava desfeito! O mundo de ilusão despedaçado! E eu
livre!...mas aprisionado a uma caçada a uma irmã desconhecida e a uma demanda
pela protecção daqueles que me preenchem!
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