Inverness Season - Ep 43, Carmen

Carmen, a aliada de Sheftu, a defender dois humanos. Parecia uma história mal contada mas, desde que soubera que ela e Dean pareciam esconder bem mais do que ela alguma vez pensara, tudo seria possível… Por isso, apenas havia uma pergunta que ninguém parecia querer calar: quanto estaria ela disposta a dar?

“Blood, Guts And Tears” by Carmen Montenegro


Vieram a correr na nossa direcção, vinham com força, vinham com sede de morte. Vi-me rodeada deles, cada um mais sede, cada um com mais vontade que o anterior. Sheftu lidava bem com os que se metiam à sua frente e eu desviava-me de cada um deles.
Eu fui atirada ao chão, senti braços a agarrarem-me com força, pontapés na barriga, socos fortes, placagens de partir as costelas vinham de todos os lados mas, como se uma força me tivesse sido injectada no ser, levantei-me atirando uns quantos para longe. Então, o meu instinto alertou-me! Algo roçava contra a minha pele, algo frio e metálico roçava contra as minhas costas. Instintivamente levei a mão atrás das costas, não me tinha lembrado que tinha guardado ali as minhas armas. Teria o meu inconsciente feito aquela escolha? Não sei. Apenas sei que tirei das minhas calças uma arma, apontei ao primeiro miserável que aparecera à minha frente e disparei. Vi enquanto a bala rodava na sua direcção, para depois alojar-se na sua testa. Tudo parou. Silêncio total. O novo vampiro caiu ao chão imóvel com um ar de surpresa e sem sinal de recuperação. Sheftu olhava-me espantada e eu também estava. A minha arma matara um vampiro! Senti uma nova onda de coragem e olhei para Sheftu
- Não vamos morrer com tanta facilidade!
Ela pareceu sorrir-me, também concordando com a minha coragem.
- NÃO FIQUEM PARADOS! - Ordenou Pan com o olhar cheio de raiva. - EU QUERO-AS MORTAS!
Nova onda de multidão na nossa direcção, e, tanto eu, como Sheftu, pensámos o mesmo e recolhemo-nos para dentro da biblioteca. Fechamos a janela mesmo a tempo do impacto ser absorvido. Eu, Sheftu, Frankie e Dean olhávamos em silêncio enquanto, uns atrás dos outros, os recém-nascidos embatiam violentamente contra o vidro. Dean aproximou-se de mim, conseguia sentir o seu coração a bater desenfreado mas, não se movera.
Os recém-nascidos mandavam cabeçadas, cargas de ombro, empurravam-se uns aos outros contra ao vidro sobre gritos e urros. As unhas arranhavam o vidro fazendo um chiar insuportável até para os meus ouvidos.
- Estão descontrolados. – Exclamou Frankie. - Isto não é normal!
- É sim, Frankie. – Assegurou Sheftu. - São recém-nascidos sedentos de sangue. Não usam a razão.
- O vidro vai partir. – Avisei eu, quando um deles mais forte mandou tal cabeçada que o vidro fez o molde da sua cabeça.
- Aquilo não era suposto acontecer. - Disse Sheftu. - Com o feitiço que o Eric fez, eles nem se deviam aproximar.
- Aproximam-se o suficiente. - Disse eu.
Então, pararam. Entre eles abriu-se um corredor negro. Ao fundo, Pan olhava directamente para nós, dizia umas quantas palavras incompreensíveis ao mesmo tempo que erguia a mão na nossa direcção.
- O que é que ela está a fazer?
Antes mesmo de Frankie acabar de proferir a frase, um zunido invadiu os nossos ouvidos, agachei-me com as mãos a protegerem-me daquele barulho dos infernos que se aguçava nas notas acima do normal. Foi então, que percebi o barulho provinha de Pan, ela estava a fazer aquele barulho mas, onde arranjara tanto poder? Não consegui pensar durante muito tempo, foi então que os vidros explodiram! Uns atrás dos outros, estilhaços voaram na nossa direcção cortando-nos. Com a explosão de vidro voou igualmente toda a mobília, mesas caíram, cadeiras voaram, estava tudo do avesso...
Entraram pela biblioteca adentro, vinham como uma manada desenfreada, uma onda de seres vestidos de negro sem um pingo de misericórdia e cheios de sangue. Fui agarrada, atirada para longe, o meu atacante – um gigantesco homem careca – dirigia-se a uma velocidade estonteante. Procurei em mim a minha arma mas, não a tinha mais! Comecei a gatinhar por entre os destroços, por cima de vidro, quando notei na mesa caída. Olhei para trás e via-o a dirigir-se para mim a passos largos empurrando todos os outros; Agarrei-me à perna da mesa, mandei um valente puxão, arrancando-a. Voltei-me mesmo a tempo de enfiar a madeira pelo seu peito adentro. Sangue saiu pela sua boca, ele sorriu-me, fez questão de se enterrar mais na estaca de madeira aproximando-se de mim e ameaçando lançar as mãos ao meu pescoço.
Uma lâmina reluzente passou pelo seu pescoço cortando-lhe a garganta e fazendo derramar o seu sangue. Estrebuchou e depois caiu no chão com o ar de choque revelando o meu salvador. O meu querido humano, Dean que tinha ficado manchado pelo sangue do vampiro. Ele sorriu-me e eu sorri também mas o momento durou pouco, a luta não parava. Nunca parara.

Já estávamos dentro de casa, não sabia como mas, aqueles recém-nascidos apareciam cada vez mais! Entretanto, perdera Pan de vista, não a via mais, sabia que aquela figura do mal encontrava-se por ali. Tinha laivos de Frankie, via-o a lutar com veemência fazendo jus ao seu nome de caçador. Notei que o cerco em volta de Sheftu se tornara mais apertado, resolvi ajudar quando fui derrubada por algo; Quando me voltei vi uma mulher jovem, uma morena sardenta de ar forte, agarrou-me pelos cabelos e atirou-me contra as estantes cheias de livros, que caíram como pequenas peças de dominó. Senti-me partida por dentro e por fora, ela aproximava-se, agarrou o meu pescoço depositando toda a força naquela manobra. Tacteei à minha volta, procurando uma espécie de objecto que servisse para lhe bater, foi então que encontrei um livro pesado; Com uma só mão bati uma, outra, três vezes na cara daquela forte mulher, ela cambaleou para trás largando o meu pescoço, quando ia ataca-la de vez, um cheio familiar veio ao meu nariz. Apanhou-me desprevenida, deixou-me em pânico e perdi o controlo. Olhei para o meu lado esquerdo mesmo a tempo de ver Dean levar com a mesma lamina com a qual me tinha salvo.
- DEAN! - Ele olhou para mim, estava em choque e o líquido vermelho escorria pela sua sweatshirt verde, as mãos tapavam o seu ferimento mas, mesmo assim via-se que era grave. Para mim, sorria o verme que o tinha apunhalado para piorar, aproximara-se de Dean e mordera o seu braço. - NÃO!
Corri para Dean mas, fui derrubada, novamente de pé encontrava-se aquela mulher morena e sardenta, desta vez sangrava do nariz, da cabeça tinha também o lábio rasgado. Agarrava o meu pé, ameaçava morder-me e eu pontapeei-a novamente a cara uma, duas, três vezes mas, aquela besta não parecia largar. Adorava o sabor do seu sangue, parecendo louca a cada pontapé! Ela largou-me o pé, finalmente, e eu gatinhei tentando levantar-me mas, antes sequer de me endireitar fui atirada ao chão com força, senti os meus ossos a vergar sobre o vidro e madeira, mais ainda sobre o peso daquela morena sardenta que agora agarrara a minha cabeça batendo-a contra o chão. Numa dessas batidas, avistei o brilho de algo metálico ali perto. Salvação! Afastei aquela criatura de mim, ela rebolou para o lado, eu estiquei o braço e apanhei uma arma, voltei-me tão rapidamente e disparei três vezes. As balas atingiram a sua cara desfazendo-a por completo.
Levantei-me do chão, olhei em volta da biblioteca, estava uma desgraça autêntica. A minha casa parecia que tinha sido levada num furacão, a pilha de corpos no chão, o sangue, os destroços... Oh Deus! Um rasto de sangue destacava-se dos outros, seguia escada acima até passar pelas portas escancaradas. Era um sinal de Dean.
Saí da biblioteca a correr, sempre a seguir aquele rastro de sangue que me levou ao hall de entrada. Dean, estava ali a ser rodeado por aquele verme que o tinha magoado, não mordia apenas o cheirava como se fosse o ante pasto. Dean viu-me, estava pálido, com suores frios e o seu coração já tinha dificuldades em bater.
Corri para aquela coisa ia matá-lo antes sequer de se dar conta mas, não dei muitos passos senti algo a trespassar-me o peito, numa sensação mortalmente familiar. Olhei para o meu peito quando vi uma estaca de madeira com a ponta em prata alojada no meu peito; Senti-me imobilizada, dormência nos meus membros e caí ao chão com força bruta. Tentei esticar a minha mão, apesar da distância queria tocá-lo mas, para além de não lhe chegar, uma bota preta pisou a minha mão.
- Onde achas que vais, ruivinha? – Perguntou uma voz com um sotaque cerrado. Reconheci a voz, quando olhei para cima reconheci um dos humanos que tinham aparecido a porta de casa com um cesto de fruta. - Não olhes para mim, seu bicho!
A mesma bota que pisava a minha mão, veio ao encontro da minha boca deixando-a dormente e ensanguentada. Depois, apenas por gozo o humano pisou a minha mão novamente, desta vez – apesar de não sentir dor – senti pânico quando os meus ossos estalaram sob a bota.
O ser vestido de negro em cima de Dean continuava a cheirá-lo, parecia escolher o local exacto onde morder e foi isso que fez; Parou mesmo em cima do peito de Dean, sobre o coração, mostrou os seus dentes afiados e olhou para mim. A sua mão cadavérica, arrancou a sweatshirt verde de Dean mostrou o seu peito musculado.
  NÃO! NÃO! Queria gritar mas, naquele momento nada saía apenas conseguia ficar ali, a olhar para a morte do meu amado sem fazer nada. POR FAVOR! NÃO!

Algo aconteceu! Foi rápido, e nem dei conta! O humano que esmagara a minha mão, saíra a voar, embatera contra as escadas, partira os sentidos e agora encontrava-se imóvel no chão. O recém-nascido que ameaçava morder Dean, parecia que sofrera um ataque: berrava, estrebuchava, sibilava em sinal de ataque, para no fim cuspir uma enormíssima quantidade de sangue e cair no chão.
Ouvia os passos de alguém, sob o soalho. Senti o mesmo, um peso a ser retirado de dentro de mim, quando a estaca foi retirada. O meu primeiro impulso, quando liberta foi agarrar em Dean; Vi-o inconsciente, o seu bater de coração estava fraco, quase não se ouvia! O pânico assolou-me.
Voltei-me para ver quem se aproximava e para surpresa era...
- Lawrence!
- Carmen. – Disse ele analisando-me. – Lamento, não ter chegado mais cedo, talvez a tragédia pudesse ter sido evitada. O mal está perto.
    Lawrence olhou para o caminho que dava para a biblioteca com um ar apreensivo.
Voltou-se para mim e a preocupação abandonara-o por completo, sorria-me nostálgico. A sua mão passou pela minha cara, afastou-me alguns cabelos e limpara algum sangue da minha cara. Depositou um leve beijo na minha testa, demorado e cheio de sentimento. Um aperto invadiu-me quando percebi o que se passava, Lawrence despedia-se de mim;
- Protege-o. – Pediu Lawrence enquanto lançava um olhar mais demorado sobre Dean, colocando-lhe a mão no seu peito.
 Então, levantou-se. Caminhou para longe de mim, estendera a sua mão direita em direcção ao caminho da biblioteca, o que vi a seguir deixou-me petrificada: Os olhos de Lawrence passaram do azul simpático para um negro mortal, na palma da sua mão pareceu criar-se uma espécie de bola azul fantasmagórica que ia aumentando devagar.
O chão começou a tremer, as escadas racharam-se ao meio, o lustre abanava de um lado para o outro. Tanto poder, tanta força, que pensei que a casa fosse cair em cima da minha cabeça! Nunca imaginara sequer de Lawrence tinha aquelas capacidades todas, julgava-o apenas um comum vampiro mas, afinal ele tinha muito mais saberes; Encontrava-me espantada com a sua força, nem Eric conseguiria fazer tal demonstração de poder.
Aquela bola fantasmagórica crescera substancialmente, tinha uma tonalidade azul clara e girava sobre o comando de Lawrence que aguardava pacientemente. Percebi então, que tanto poder e força, não só daria cabo dos inimigos como de Lawrence também. Era uma missão suicida, praticamente.
Comecei a ouvir passos vindos ao longe, parecia uma multidão a correr na nossa direcção – quem me dera estar errada nestes momentos. Eram eles! Eram mais! Rugiam, rosnavam, pisavam o chão de madeira com toda a força, sedentos, descontrolados apenas seguindo o cheiro de sangue. Encolhei-me, protegendo mais o meu querido, Dean, que continuava inconsciente mas, vivo.
Vi-os a aparecer um atrás dos outros, atropelando-se mutuamente.

A minha visão toldou-se por uma luz branca que me deixou cega, protegi o corpo de Dean com o meu. A luz era quente, deixou tudo branco e cego, não durou mais do que cinco segundos mas, fora a mais intensa de sempre.
Quando acabou fiquei ainda cega, ainda estava quente da luz. Afastei-me de Dean e olhei em volta, com os olhos ainda a adaptarem-se a escuridão, foi então que vi Lawrence caído no chão e a sua frente uns quantos vampiros, todos eles caídos no chão, transformados em cinza.
Aproximei-me de Lawrence, levantei-o do chão, vi-o de mãos queimadas, sangrava da boca e dos olhos.
- Oh Deus... – Ele soltava espasmos de dor. Conseguia ver que não suportava, o sangue era tanto que escorria como a chuva corre das folhas. Não se aguentava mais, até que por fim soltou um suspiro mais pesado e ficou quieto. - Lawrence? Lawrence?
Morrera naquele instante, o meu melhor amigo, o meu pai e eterno guardião. A sensação de perda era gigantesca e as lágrimas teimavam em não sair. Uns braços fortes rodearam-me, reconheci Dean, não sangrava, não tremia nem anda do género.
E, o meu querido amigo tinha morrido.

Ouvi barulho atrapalhado vindo do corredor da biblioteca, quando olhei vi Frankie que vinha a coxear, ferido, coberto de sangue passando pelas cinzas. Dean correu na direcção do primo, amparando-o. Voltei-me para o cadáver de Lawrence, ainda nos meus braços.
- Frank?
- Estou bem, Dean. - Assegurou Frankie, apesar da sua voz fraca. - Não é nada...
- Não? Olha para ti!
- Já vi mas, de momento não se devem preocupar comigo!
- Do que estás a falar?
- A Sheftu! - Olhei para Frankie de imediato. De facto, não sentia Sheftu por perto. - A Pan...
- O que aconteceu? - Perguntei veemente.

- A Pan levou a Sheftu...

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