Inverness Season - Ep 40, Sheftu

Novas alianças, bastante estranhas, pareciam surgir diante de seus olhos. Quem diria que ela, Sheftu Nubia, voltaria a relacionar-se com caçadores além das habituais batalhas travadas? Bem... A realidade é que, mais uma vez, alguém teria de morrer. Cabia a cada um deles se unirem numa luta pela sobrevivência. Qual seria a próxima tragédia?

“Sadness” by Sheftu Nubia


Era uma nova aurora que despertava sobre o horizonte, sabia que a qualquer momento ele poderia acordar, ficando assim livre por uns momentos de deixar que meus pensamentos pudessem florescer e germinar, sem que ninguém os ouça, sem que ninguém os saiba.
Não é que acreditasse muito em sexto sentido, mas o meu instinto me alertava para algo, deixando-me um pouco em baixo, como se fosse uma despedida de algo que não sabia bem ao certo. Era irónico como tinha todos estes anos deixado que tudo o que sentia fosse bloqueado, tudo aquilo em que tinha colocado uma barreira para que não se abrisse, ficando assim livre do passado, livre de mim e livre dos problemas...
Minha busca pela eternidade sempre foi a paz, em que primeiro teria de destruir Gustav para que tal coisa fosse possível de acontecer. O que não esperava era que Kiya estivesse do seu lado, sem qualquer dificuldade até de matar a própria irmã. Sua dentada é letal para mim... Ou era, já que não sei mais o que sou.
- Vejo que já te levantaste. – Ouvi-o, permanecia ainda na cama e podia jurar que sentia os seus olhos cravados em mim.
- Não sentia vontade de permanecer deitada...
- Sempre podes vir fazer-me companhia antes que me tenha de levantar... – Ouvi o seu sorriso, fazendo-me virar e observá-lo.
- E porque te tens de levantar? – Perguntei-lhe com curiosidade.
- Há uns assuntos que tenho de tratar... Mas não importa, vem cá.
- Que assuntos? – Perguntei sem me mexer.
- Não vais ficar assim só porque tenho de sair pois não?
- Depende de qual assunto for. Não vais ter com Ian pois não? – Apontei, sentindo-me um pouco preocupada. Talvez a minha intuição estivesse certa, talvez ele fosse fazer alguma loucura.
- E tu muito tens a mania de tentar defender-me. – Disse suspirando e levantando-se em minha direcção. – Não tens que te preocupar.
- Eu faço o que quiser. – Indiquei, irritada.
- Pois bem... – Disse-me segurando o meu queixo com a sua mão, sorrindo ao observar-me. – Sabes que ficas maravilhosa quando te irritas, não sabes?
- Não mudes de assunto.
- Este assunto já acabou. – Disse, usando a sua força para tentar levar-me sem grande sucesso.
Por uns momentos permaneceu imóvel, certamente a pensar em algum esquema para que mudasse que conseguisse trazer os efeitos desejáveis. Certamente conseguiria...

Deixei-o ir, fiquei mais uns momentos pelos lençóis da cama que perdiam o calor do seu corpo, permanecendo o seu cheiro impregnado em mim. Poderia fechar os olhos que rapidamente conseguiria recordar estes momentos, tão rápidos, tão rotineiros, que começavam agora a surgir pela minha morte.
Levantei-me e vesti-me, pois teria de fazer algo, principalmente agora que poderia aproveitar uns momentos a sós com a minha mente livre. A noite começava a chegar, tinha sido incrivelmente difícil sair daqueles lençóis, o que era completamente ridículo. Mais valia nem pensar mais sobre o assunto, agora era para aproveitar o tempo livre...
Ouvi vozes, uma de Carmen, outra de Dean... Certamente tinha chegado o meu novo aliado, seria complicado mantê-la longe de tudo isto, mas teríamos de tentar. Não queria que ela conseguisse descobrir nada do meu passado, era preferível manter-se tudo como estava, sem grandes mudanças.
- Olá Frankie... – Carmen tinha-se dirigido ao companheiro do Dean, pelo que parecia também o conhecia a ele... Coisas interessantes, interessantes mesmo... – O que fazes por aqui?
- Ah, então chamas-te Frankie... – Intervim, sorrindo e aproximando-me dos três. Carmen expressava a sua completa surpresa ao ver-me, o que certamente já lhe iria trazer bastante curiosidade, complicando a parte de manter tudo isto secreto.
- Sim, ele é o Frankie. Frankie, ela é a vampira de que te falei... – Disse Dean.
- Mas porque é que andas a falar da Sheftu ao Frankie? – Perguntou Carmen, completamente a navegar na conversa e a não achar piada nenhuma à situação.
- Bem, isso agora não importa... – Respondi-lhe com um leve sorriso, convidando-o a seguir-me. – Vamos?
- Não espero eu outra coisa... – Respondeu-me Frankie, sorridente. Seguiu rumo a mim e piscou o olho a Carmen.
- Dean, ficas encarregue de manter entretida a menina Montenegro. – Disse-lhe divertida.
- Com todo o gosto e prazer... – Respondeu-me sorridente, mas escondeu o sorriso ao ver a cara dela a olhá-lo. – Tentarei aguentar a fera o máximo que puder...
- Faz isso... – Respondi-lhe, voltando-me agora para Frankie. – Vem, é por aqui...
Seguimos rumo à porta que dava para a biblioteca, onde já tinha deixado alguns dos meus antigos tesouros de um passado distante. Sentamo-nos frente-a-frente e comecei por levantar um velho papiro com a planta da casa de Gustav. Agora que sabia que ela estava junto de seu pai, era simples movê-los para lá e tentar aí matá-la.
- Que planta é esta? – Perguntou-me curioso.
- É de um castelo na Transilvânia...
- Vamos caçar o Drácula? – Ironizou, rindo depois da minha expressão.
- É quase isso... O que o Dean te disse?
- Apenas que precisavas de ajuda para caçar algo e que ele se tinha oferecido para te ajudar e então cá estou eu, o salvador do dia...
- E vais fazer o quê em concreto? – Questionei-o sem dar muito valor às palavras anteriores...
Pelo que parecia tinha um belo dia pela frente... O que importa é que fizesse o seu trabalho bem feito, o resto não importava... O que eu queria era ver se aniquilava Kiya de uma vez por todas para que tudo ficasse resolvido. Depois o Gustav, trataria eu dele, sozinha. Desde que a meia-vampira estivesse fora do caminho, poderia fazer o que já calculava à muito. Era algo completamente necessário apesar de não querer que tudo acabasse assim, apesar de tudo ela era minha irmã. No final de contas, era tudo uma questão de sobrevivência, nada mais do que isso. Não havia laços de sangue que o pudesse alterar.
- Vou procurar meios de nos fazer cumprir o plano da melhor forma possível, também é mais porque me parece divertido...
- Talvez te divirtas caso meta as minhas prezas no teu pescoço não achas? – Observei meio enojada com a situação.
- Acho que não era nada má ideia... – Eu sorri e movi-me rapidamente para perto do seu pescoço, mas ele, tal como o Dean, mantinha-se estável. – Talvez seja melhor não ir além de seguirmos o plano...
- Vejo que temos um pensamento em comum. – Sorri, sentada já novamente na cadeira.
Enquanto o via a observar os traços sobre o papel, pensava na melhor forma de consegui passar por todas as defesas criadas por eles sempre que conheciam bem o local. E, ao ser a sua casa de sempre, ainda teria uma vasta barreira que não se incomodaria em aniquilar tudo o que quisesse passar.
- É necessário ter bastante cuidado pois as defesas são apertadas por lá... Não quero que ninguém se magoe com a situação... – Comecei por dizer, mas a porta da biblioteca se abriu e calei-me, colocando com rapidez o papel novamente na mala que estava encostada à minha cadeira.
- Magoar com o quê? E onde? – Interrogou Carmen, irritada por todo este segredo em volta do assunto.
- Não é da tua conta. – Limitei-me a responder do mesmo modo que ela me perguntou.
- Desculpa, ao consegui impedir mais... – Dean, acabava de entrar, ainda com a respiração ofegante e com a pulsação aos pulos.
- Não tens que pedir desculpa, Dean. Então Sheftu, vais dizer-me ou não o que andam todos vocês a tramar? – Sentou-se sobre uma outra cadeira, ficando assim sentada próxima de nós.
- Mas o que é aquilo? – Dean parecia bastante alarmado, observei-o curiosa e segui o seu olhar.
Sobre a parede de vidro começava a surgir uma enorme multidão vinda de longe, a pouco e pouco, quanto mais se aproximava mais numerosa parecia ser todas aquelas pessoas sem pulsação, apenas uma se ouvia vinda daquela direcção... Pela aparência, seriam todos na maioria vampiros inexperientes.
- Pan? – Ouvi a voz de Carmen, completamente surpreendida.
- Conheces a Pan? – Perguntou Frankie meio baralhado...
À distância que vinham, ainda não era visível para olho humano aquela cara que me lembrava... Era a mulher que tinha ajudado Eric. Mas o que ela estava a fazer aqui? E porquê de tanta guarda atrás dela?!
- Ela está a dirigir-se para nós na frente de toda aquela multidão. – Respondeu Carmen convicta de que uma batalha estaria prestes a ser travada. – Cobra venenosa...

Olhei para ela, esperei um pouco que seus olhos finalmente tocassem nos meus, seu choque era bastante visível, não esperava que tal coisa pudesse acontecer. Agora sim, sabia que este dia realmente não iria acabar muito bem. Bastava saber quem morreria mais, eles ou nós. Sem tréguas nem fim, até ao último suspiro do grupo perdedor.
- Primeiro nós. – Afirmei à Carmen.
- Primeiro nós. – Concordou, dirigindo-se para os dois humanos. – Fiquem aqui.
Seguíamos rumo à nossa inimiga, abrindo a janela e avançávamos no meio da multidão sedenta de guerra, luta e sangue. O silêncio mortal alcançava-nos com uma enorme facilidade. Para que conseguíssemos avançar com isto, a rapidez e destreza eram as melhores armas. Seria difícil, incompreensível e insensato lutar contra tudo mesmo sabendo que estávamos em desvantagem. A realidade é que piores batalhas tinham sido travadas por mim, ainda me recordo do Ian do meu lado, desejando a morte de todos aqueles que teimaram em torturar-nos, tal como eu me sentia. Sangue, vingança e força de vontade... Mas principalmente a união é que nos fizera ganhar apesar de tudo. Pan seria a chefe de todos eles, estariam a aguardar ordens dela. A questão seria arrancar-lhe ou não a cabeça antes que todos eles pestanejassem sequer.
- Ao que vieste? – Perguntei-lhe quando já estava próxima dela. Pan largou um suspiro, olhando em volta e sorrindo com ironia estampada no olhar.
- Vocês já devem calcular ao que vim...
- Sabes que é um pouco ridículo esse teu momento? – Disse Carmen, segura e confiante, pronta para entrar em acção em qualquer momento. Sabia que neste momento nós estaríamos juntas, não só para nos defendermos mas também para que pudéssemos defender aqueles humanos que permaneciam a observar o momento com toda a atenção. Eu conseguia sentir os seus olhares sobre nós, bem como de todos estes seres vestidos de negro em nosso redor.
- Não tem importância... Vim cá para ter o que desejo. – Afirmou Pan.
- E isso é... – Perguntei-lhe, aproximando-me o suficiente para que lhe arrancasse a cabeça ao mínimo detalhe.
- A vossa morte, o que deveria de ser?
Seu corpo rapidamente se afastou de mim, sendo ocupado todo o espaço com os meus adversários. A ordem tinha sido dada, uma mancha de sangue inundaria todo este jardim, e não fazia intenção de que esse sangue derramado fosse o meu.
Não havia qualquer tempo para torturas nem jogos de puder, mortes rápidas e puras, quantos mais mortos melhor, menos inimigos haveria para combater apesar do elevado número que teimava em aparecer à minha frente. Desde que a cabeça deles estivesse bem fora do meu caminho e os seus corpos sobre os meus pés eu me sentiria bem, rapidez era algo que eu tinha e precisão em acertar-lhes bem.
Quantos mais matava mais pareciam surgir para me atacar, estávamos cercadas de morte, cercadas de seres como nós, irritantemente esfomeados de sangue, de guerra... Um som de tiro parou por completo toda a batalha, observei a sua origem, Carmen tinha uma arma apontada contra um corpo que já estava no chão imóvel. Tudo parou, o espanto tinha tomado conta de tudo e todos, um vampiro tinha sido morto e atingido por aquela arma. Mas como teria ela arranjado tal coisa? Eu sempre soubera que seria raro encontrar alguém com tal arma. Seu olhar alcançou o meu repleto de coragem e de esperança que tudo isto poderia dar certo.
- Não vamos morrer com tanta facilidade! – Disse-me, fazendo com que eu sorrisse com a sua forma insana de ser... Um vampiro não e apenas um sugador de sangue, é um guerreiro. E ela acabava de se portar como um real vampiro.
- NÃO FIQUEM PARADOS! – Gritava Pan enraivecida, tentando voltar novamente todo o seu arsenal contra nós. – EU QUERO-AS MORTAS!
O melhor seria aproveitar o momento e escapar para dentro da mansão, sempre estaríamos mais protegidos por lá. Carmen obteve a mesma ideia, corremos então para o interior, fechando a janela mesmo a tempo de que mais ninguém entrasse.
Começaram as tentativas de derrubar a parede de vidro, tentavam de tudo para que o vidro fosse derrubado, até que se tornava insuportável o chiar de algumas unhas cravadas sobre o vidro a tentar abrir alguma passagem inutilmente.
- Estão descontrolados. – Frankie parecia nunca ter visto nada assim, devido ao espanto que parecia ter. – Isto não é normal!
- É sim, Frankie. – Informei-o. – São recém-nascidos sedentos de sangue. Não usam a razão.
- O vidro vai partir. – Avisou Carmen, quando um deles mais forte conseguiu moldar um molde da sua cabeça no vidro, era completamente impossível!
- Aquilo não era suposto acontecer. – Pensei em voz alta. – Com o feitiço que o Eric fez, eles nem se deviam aproximar.
- Aproximam-se o suficiente. – Concluiu Carmen.
Todos pararam, abrindo um corredor negro, Pan fitava-nos ao fundo, proferindo umas palavras que de algum modo já teria ouvido, não sabendo bem como, algures na minha memória distante e esquecida. Sua mão erguia-se levemente sobre a nossa direcção.
- O que é que ela está a fazer? – Perguntou Frankie, seguindo-se de um zumbido completamente ensurdecedor.
Meu olhar estava focado sobre o olhar daquela que continuava a proferir as palavras, fazendo com que algo em mim começasse a surgir, a raiva se apoderava enquanto novas palavras saiam da sua boca. Seu olhar se focou ainda mais em mim quando parecia estar perto do fim, estilhaçando assim qualquer defesa sobre a casa, criando uma biblioteca repleta de vidros estilhaçados pelo chão. Alguns deles tinham-nos atingido, apesar da minha tentativa de tentar fazer com que os humanos ficassem com o mínimo de ferimentos possíveis. Sangue humano sempre se tornava uma perigosa forma de adrenalina para os recém-nascidos, principalmente quando estes permaneciam esfomeados.
Rapidamente, entre as enormes tentativas de aniquilar o máximo de vampiros possível, acabávamos por ser de um certo modo cercados, aproximando-nos para o interior da casa, enquanto o número de seres negros aumentava, cercando-me com uma certa rotina que me irritava... Quantos mais se aproximavam, mais rapidamente tentava aniquila-los, uma batalha sem um fim próximo, que poderia durar eternidades.
O sangue que me circundava, cada vez mais, um cheiro cada vez mais intenso, fazia-me começar até a sentir uma certa fome, descarregando em mim uma energia que teimava em percorrer todo o meu corpo.
Eu necessitava de algo mais do que o meu corpo para combater todos estes que se atravessavam em minha frente, tentei arranjar um corredor, de um certo modo, que me permitisse arranjar ‘armas’ que me pudessem ajudar. Frankie estava próximo da porta da sala de jantar, que daria para a cozinha, o local perfeito para fazer um belo bolo de corpos ensanguentados de vampiros fresco.
Apesar da dificuldade e lentidão, sempre consegui aproximar-me, abrindo a porta e entrando com rapidez, empurrando Frankie comigo.
- Rápido, fecha a porta com algo forte que possas.
- O que pensas fazer? – Perguntou-me, já eu estava na cozinha abrindo gavetas à procura de algo que me pudesse ser útil.
- Necessitamos de armas para a batalha, algo que me ajude a matar mais rapidamente. Não temos muito tempo, quero arrumar tudo isto de uma vez por todas. – Respondi, continuando à procura de algo útil.
- Isto serve? – Perguntou-me com um certo ar triunfante. Corri para perto dele, que estava ainda sobre a sala, era curioso como ainda nenhum vampiro tinha tentado entrar... Estranho e demasiado perigoso para o meu gosto. Observei o que ele tinha sobre as suas mãos, duas espadas antigas que pareciam pertencer a dinastias chinesas, o que era por acaso uma óptima arma para mim.
- É perfeito. Não achas demasiado estranho, entramos e ainda nenhum vampiro tentou entrar... O que estarão eles a tramar? Aposto que a Pan deve ter algo haver com o assunto.
- Tens razão, é demasiado calmo...
Peguei nas espadas que reflectiam o meu sorriso ao vê-las, simplesmente perfeitas para a chacina que teimava em continuar. Ouvi uma pulsação a aproximar-se sobre a porta, aproximei-me à espera que entrasse alguém. Sentia que o Frankie estava com o mesmo sentido, tentando até guardar as minhas costas para caso algo acontecesse.
A porta rapidamente se abriu, entrando um conjunto de vampiros, agarrando-me em conjunto e atirando-me contra a janela de vidro, empurrando-me para fora, cercando-me. Corria loucamente, tentando aniquilar o máximo possível deles enquanto me aproximava da sala, mas a pressão que eles continuavam a fazer era para que eu permanecesse fora, para que eu parasse de lutar. Meu sorriso aumentava a cada pescoço que passava pelas minhas lâminas afiadas, entregando-se por completo ao que foi o seu destino – a morte era um prato que se servia frio para estas pobres almas comandadas por uma idiota.
Sentia a sua pulsação, tentava captar a sua localização exacta para que tivesse o mesmo fim que os seus servos, mas era rápido o movimento que fazia, sendo com toda a certeza levada dentre a nuvem de vampiros para que não fosse encontrada. Pan seria minha, trataria da sua tortura levemente, nem que fosse a última coisa que fosse fazer na minha morte.
Rápidos e bem vivos eram os batimentos daqueles dois que tentavam aguentar o ritmo desta batalha que poderia durar horas, certamente não aguentariam por muito tempo. Era necessário, mais do que combater, manter estes dois livres da morte.
Finalmente tinha-a à minha frente, que sorria feliz do seu enorme batalhão que tentava dizimar-nos, seus olhos entraram nos meus, fazendo gestos com as mãos para que mais vampiros me cercassem, para que não pudesse aproximar-me demasiado.
A minha sede jamais se apagava, permanecia firme a cada golpe, esbanjando sangue daqueles que se atreviam a atravessar sobre o meu caminho. Por mais que desejassem era complicado bater-me, e eu acabaria por tê-la à minha frente, sobre as minhas mãos, tirando-lhe assim a vida.
Um certo sentimento de nostalgia se abateu sobre mim, relembrando-me da última batalha que lutara do mesmo modo, quando tinha a minha liberdade e a da minha irmã em jogo. Éramos uma dupla que conseguira dizimar tudo e todos – eu e Ian – posso até acrescentar que tinha sido um bom momento, esse, o de sentir todo aquele sangue daqueles que me torturaram sobre os meus lábios, meu corpo e minhas mãos. Tinha sido um prazer fazer a justiça, sentindo o leve sabor da liberdade no fim.
Uma dentada se impregnou fortemente no meu braço, fazendo-me virar e arrancar-lhe a cabeça com as minhas mãos, deixando as facas caírem pelo chão. Outros três tentaram atingir-me, em conjunto, com rapidez apanhei uma das facas do chão, correndo contra eles e cortando-lhes as goelas enquanto ia de passagem.
Enquanto combatia os que tentavam passar por mim, senti sangue humano, demasiado sangue humano por perto. Procurei a origem de todo esse sangue, Frankie tinha um ferro de uma das cadeiras sobre o seu abdómen, corri para perto dele e tentando ajudá-lo. Mantinha-se em silêncio, tentando combater o mais que pudesse, para que não alarmasse o seu companheiro e não deitasse esta batalha a perder.
Via neste acto de extrema coragem um enorme acto de burrice, sua vida era importante, por mais que agora não se lembrasse disso. Parti a cadeira, deixando o ferro intacto no seu corpo, tentando dar-lhe o máximo de mobilidade possível para que pudesse combater pela sua vida.
- Gostas de brincar? – Perguntou-me Pan, fazendo-me virar ao mesmo tempo que sentia algo sobre o meu ombro.
Tirei o objecto, tentando coloca-lo nela, sem grande êxito. Uma enorme tontura se apoderou de todo o meu corpo, meus olhos se fecharam e senti o meu corpo cair, não no chão mas em algo não tão duro. Sentia o vento a passar sobre mim, ouvia umas vozes de longe e tentava combater para a enorme dormência que passava por todo o meu corpo. A cada momento que passava, mais me esforçava, menos sentia... Até que um sentimento de perda me atingiu e a noite veio, na imensidão das trevas que minha mente encontrou.

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