Inverness Season - Ep 38, Samantha

Continuavam a remoer no seu íntimo todos aqueles sentimentos controversos relativamente aos seus dois homens, bem como o passado que se atravessara à sua frente. O ideal seria esquecer, de momento, esses problemas e concentrar-se na chegada do seu amado Louis. Conseguiria?

“You... Be My Side” by Samantha Saint


Aquelas palavras tilintaram na minha mente vezes sem con… Ainda vais ser minha Samantha… Não devia ser assim, mas aquelas palavras surtiram muito efeito na minha cabeça. A minha consciência estava pesada, assim como todo o meu corpo. Os últimos dias tinham sido desgastantes, demasiada informação, demasiadas complicações. A verdade é que desde que me juntei a Carmen e a Sheftu a morte tem sido muito mais difícil de orientar e gerir…
Nesse instante, oiço o meu telemóvel tocar… Louis, era o que aparecia no visor…
- Querido! – Disse ao atender.
- Minha linda, sempre me vens buscar?
- Sim, claro que vou.
- Então espero-te daqui a 2 horas em Elgin, pode ser?
- Tudo bem… Então até lá. Beijo
- Um beijo…
O meu corpo estava a começar bloquear e a ressentir-se, talvez fosse consciência pesada. Que sentimento de treta, este! O melhor era despachar-me e arranjar para ficar toda bonita. Ele merecia isso mas… A minha paciência para isso neste momento não era lá muito grande, apenas meti o meu vestido roxo do costume e apanhei simplesmente o cabelo… Ainda assim estava ‘glamorosa’.
Quando me ia a dirigir para sair, lembro-me de que talvez Carmen quisesse vir comigo e assim contava o que se estava a passar. Talvez ela tivesse um bom conselho para mim nesta altura… Alguém haveria de ter…
Abri a porta do seu quarto, apesar de um pouco stressada com todos os acontecimentos dos últimos tempos. Mas ainda assim feliz e o meu rosto e os meus olhos de certeza de deixava transparecer essa mesma felicidade.
- Vou buscar o Louis. Queres vir?
Carmen não respondeu… Parecia demasiado absorta nos seus pensamentos que dava ideia que nem me tinha ouvido. E algo a preocupava, isso era uma certeza. Observei-a por uns segundos e ajoelhei-me a sua frente na expectativa de que ela dissesse algo de relevante para que eu a pudesse entender…
- Eu ainda pareço muito humana, Samantha? – O meu espanto por aquela pergunta ter acontecido era tão grande que de certeza que ela viu isso perfeitamente, ponderei um pouco tentando arranjar palavras para lhe responder, mas ao fim de pouco achei que era inútil continuar a tentar e deixei que ela prosseguisse… – Eu caçava vampiros! Sabe Deus, quantas cabeças cortei, quantas carcaças queimei...Eu...E, numa reviravolta idiota do destino, como se fosse uma maneira dos Deuses se divertirem... Sou atirada para esta “morte”. Ironia das ironias, a Caçadora torna-se, literalmente na Presa. E o pior, é que nem posso morrer! Não vês o efeito que isso tem em mim? Tornar-me naquilo que mais odiei enquanto humana? Eu matava coisas como tu, como eu... Todos os dias! Porquê que achas que me agarro tanto a quem fui... É uma maneira de me... Manter viva... De certo modo, algo egoísta, confesso... É como se inconscientemente, eu não me quisesse tornar um de vós. Como se fosse superior.

O meu ar já não era tão feliz. Aliás até estava um pouco aborrecida com todo aquele discurso, mas a verdade é que eu, ao contrário do que ela própria pudesse pensar, até a compreendia…
- Olha para mim, aqui a destruir a tua felicidade com a minha... Dúvida existencial. – Levantou-se a foi abrir a porta para que eu sai-se. - Vai ter com o teu Louis, trá-lo cá vou adorar conhecê-lo, com certeza!
Apenas olhei para ela, levantei-me do lugar onde estava para sair. E num gesto carinhoso, afastei uma madeixa de cabelo do seu rosto, tenho a certeza que isso lhe fazia falta.
- Quando voltar, temos que combinar uma viagem as Bahamas. Precisas de relaxar.

O caminho até Elgin pareceu-me excessivamente longo. As árvores pareciam mover-se em câmara lenta, tão contrastante com os meus pensamentos... A minha cabeça continua cheia de dúvidas e indecisões…
Quando cheguei Louis à porta de uma casa com um ar antigo e rústico. O seu sorriso alargou-se mal viu que era eu que me encontrava dentro do carro. Ainda mantendo o seu ar, aproximou-se… Parei o carro mas não consegui sair… Algo prendia-me ao assento, era como se uma força superior a mim me agarrasse para que eu não sai-se dali. Mas ao ver a sua face de anjo a sorrir para mim, o meu corpo acabou por ceder…
- Samantha! – Continuou a sorrir.
O meu desespero foi tal que corri para os seus braços e deixei me aninhar no seu colo.
- Isso são tudo saudades minhas? - Disse ainda sorrindo.
- Também. – Disse baixinho. – Também…

Olhei-o nos olhos depois de uns bons momentos agarrada a ele e beijei-o como já há muito não o beijava. As suas mãos percorreram as minhas costas e os meus quadris e apertaram-me com força. Um calor vindo de dentro inundou-me cada partícula do meu corpo com sensações de bem-estar e prazer. Era incontestável… Ele era o meu amor.
- Preparado para conhecer o resto da “família”? – Disse fazendo aspas com os dedos no ar.
- Ahah! Essa da família foi boa…
Entramos dentro do carro, estava a começar a ficar agitada. Desta vez a viagem foi bem mais rápida, provavelmente pela ansiedade.
- Estou bem impressionado…
- Bem impressionado porquê?
- Têm aqui uma bela mansão.
- É… Vivemos bem. – Desatei a rir da sua expressão.
- Então vamos lá conhecer a família! – Disse ironicamente.
- Está alguém em casa?
A primeira a aparecer foi Carmen, logo seguida de Sheftu e Eric…
- Olá a todos... Quero-vos apresentar o meu Louis. – Os três pareciam um pouco agitados. Não tinha bem a certeza do porquê, mas deveria ser mais uma das suas típicas discussões a três!
- Parem com isso, não vêem que temos convidados? – Disse Carmen.
- Eric, não podemos ter uma conversa nós os três?
- Tem que ser agora? Tenho um assunto pendente... – Disse agarrando-se ainda mais a Sheftu.
- Não demoramos muito, vais ver... Não é Louis?
- Sim, claro...- Mon amour estava nitidamente embaraçado com aquele momento, principalmente por aquele panorama entre Sheftu e Eric… - Não queremos tirar muito tempo por sua parte, é rápido.
Estendeu a mão a espera de um cumprimento da parte de Eric, que retribuiu.
  - Então, está bem... Apenas espero que me possa chamar por tu, já que temos alguém em comum... – Disse Eric sorrindo. E sussurrou algo a Carmen.
- Mas...
- Creio que não te importas de me fazer esse pequeno favor... Como os ouviste, eu não demoro muito...
- Está bem, está bem... Depois acertamos contas nós os dois…
Virou-se para nós esperando que nós falássemos o que tínhamos a falar.
- Então digam-me lá em que vos posso ajudar.
- Não é complicado. Na verdade até é uma coisa bem simples de resolver…
- Nós gostávamos de saber, já que a Samantha me disse que tu tens umas habilidades especiais… Conheces a Madame Von Krull?
- Sim. – Disse com simplicidade. – Não a conheço pessoalmente, mas já estive com pessoas que estiveram em contacto. Extraordinário… Muito mesmo.
- Também achas extraordinário a tortura?
- Não. Essa é a parte que me assusta. Tive para a procurar e me aliar mas depois algo me fez recuar. E é claro que se isso acontecesse eu teria que me afastar da Sheftu – Olhou-me com um ar brincalhão. – E como é óbvio eu dou tudo para picá-la!
- Então quer dizer que nunca tiveste com ela, nem tens nenhuma informação importante que me possas dar?
- Não, não exactamente. Mas o que pretendes na realidade Louis?
- Eu sei que tu fizeste a Sheftu andar na luz do sol.
- Ah! Isso… Pois, mais uma das minhas habilidades.
- Pois… É que a Madame dava-nos algo. Mas ficávamos demasiado fora de nós e com uma sede de sangue incontrolável. Mas ao que me consta ela não fica assim…
- Pois não… No entanto pelo que estou a entender tu conhece-la.
- Sim, tive o prazer e desprazer de a conhecer quando fugi. – Olhou para mim ainda um pouco perturbado.
- Realmente não tenho mais nada em que te possa ajudar. O que seu não foi ela que me ensinou…
Um silêncio desconfortável instalou-se. Eric foi o primeiro a falar.
- Bom, se não têm mais nada para me perguntar, eu vou retirar-me que tenho, como já tinha dito, uns assuntos pendentes para tratar. Com vossa licença…
- Sim, claro Eric. Obrigada. – Esperei alguns segundos e perguntei – Estás bem?
- Estou… Ainda gostava de saber onde aprendeu as coisas que sabe…
- Deixa para lá. Neste momento não importa.
Ele simplesmente olhou-me.
- Vamos! Vou te mostrar o meu quarto! – Disse sorridente mas na minha cabeça havia coisas que não estavam a fazer sentido para mim. Porque é que ele queria saber onde Eric aprendera tudo o que sabe? E pior… Para quê?

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