Inverness Season - Ep 33, Vladimor
Ainda relutante com o abandono da sua dama do bosque, Vlad
decidira caçar para aliviar um pouco aquele aperto que sentia em si. Existiam,
também, sensações que o perturbavam, como se algo estivesse para acontecer e
ele não soubesse ao certo o quê. Certamente não seria nada bom…
“And So We Shall Move...” by Vladimor Iorganov
Depois daquele pequeno treino e laço
estabelecido com o pirralho do Eric, entrei na garagem com calma e
pensativo, penosamente e taciturno.
- Vladimor. Sinto-te estranho meu amigo…
Passa-se algo, não passa? – Sentia uma certa preocupação naquele velho lorde
vampiro, genuína até…
- Meu caro Lawrence… Apenas que… – Ainda
estranhando a presença do lorde.
- Desembucha então…
- Conheceste já o amor Lawrence? – Após estas
palavras proferidas, vi-o a engasgar-se com o brandy e soda que tinha no seu
copo. E quando recuperou a compostura, prossegui. – É que pelos vistos é isso
mesmo que me está a remoer a cabeça…
- Deixei tudo isto escapar… Pensei que Lawrence
era meu amigo e sem nenhum truque na manga.
- Vladimor… – Ele estava mesmo pasmado mas,
apesar disso, tentava encontrar palavras para a pergunta e observação que eu
fizera. – Em vez de eu te responder porque não me falas sobre esse teu amor?
Senti uma pontada de desconfiança e na sua voz
residia uma espécie de ameaça… Mas porque seria isso? Não percebi, por isso
ignorei tais sensações e resolvi contar-lhe o que se tinha passado… O que se
estava a passar! Sim, porque ainda nem uma palavra nem uma aparição, apenas
silêncio da minha amada Stratis!
- Pronto pronto… Não fiques assim meu amigo… – A
sua mudança de estado de espírito foi súbita quando disse o nome de Stratis e
quando desenvolvi a história. – Na realidade pensei que estivesses apaixonado
pela minha querida Carmen, pois os rumores dentro da casa são fascinantes no
que toca a ambos… – Agora era eu que tinha ficado incrédulo – Sabes… Ela é como
a minha protegida e a ela lhe oferecerei tudo isto que aqui vez… Sim porque
todo este território me pertence como já te disse! – Vangloriou-se num tom
jocoso para ver se atraía a minha atenção e na realidade conseguiu! – Sei que
algo não está certo, pois posso parecer este velho mas ainda sou imortal, não é
verdade? – Era encantador a forma como ele mudava de humor e tom de voz! Estava
tão sério como talvez nunca o tivesse visto… – Todos nós sentimos que algo não
está correcto, e o que me acabas de dizer vem comprovar um medo meu… Se a
Senhora deste bosque não se mostra a uma criatura que ama pode querer dizer que
morreu ou que foi encerrada ou…
- Mas eu sinto que não está morta! O bosque não
mudou em nada e eu bem sei que se ela não estivesse ainda viva, o bosque
estaria ainda a chorar ou já morto!
- Lá isso é verdade… – E bocejou. – E agora que
me falas nisso, terei de procurar um certo tipo de informação! Os meus
contactos, tu sabes, não é verdade? – Esta pergunta foi gracejada e apreciada
pelos dois. Um voto de confiança. Afinal não estava mesmo sozinho, ao menos
isso era reconfortante! Ian até que tinha razão…
Despedi-me do velho Lawrence e deitei-me
pesadamente na cama. Adormeci mas, preocupado como estava não sonhei nada que
me pudesse lembrar… Foi o abismo total de um sono gélido de lembranças
desagradáveis. Quando acordei, era já meio-dia! Sinceramente, nestes últimos
dias tinha desabafado imenso mesmo! É refrescante mas cansativo… E para
recuperar estas energias, depois de um sono profundo mais vale uma refeição
abundante.
Encaminhei-me para o bosque… Não quis saber de
mais nada… Apenas da minha peça de caça! E ali estava ela… Um veado voluptuoso,
como que a rir-se para mim! Porque não entreter-me um pouco? Gozar a caçada
como um verdadeiro predador? Então transformei-me e deixei que os instintos
apenas guiassem as minhas acções. Foi libertador, de certa forma! De certa uma
ova! Foi MESMO o que precisava. E um banquete então tive! Só para mim… Agradeci
ao bosque como fazia sempre e comecei o festim.
Ao acabar a minha refeição, percebi que o tempo
não tinha esperado e que o Sol já descia pelo lago abaixo! Foi então que algo
captou o meu olhar… Algo que se dirigia para a mansão… Algo nada bom! Corri
para lá o mais rápido que pude! E quando cheguei ao seu encalço, não era nada
mais do que um gamo! Devo andar demasiado
preocupado… Afinal não serviu de nada andar a brincar durante uma tarde ao lobo
caçador… Inspirei bem fundo e fez-se ouvir um uivo de frustração! Depois disto tudo preciso é de ver se me
distraio com alguma coisa… Já sei… Vou falar com as senhoras da mansão… pelo
menos aquelas que encontrar cá fora porque se bem me lembro Sheftu não permite
a minha entrada na mansão…
Assim, iria entreter a minha mente para não
pensar em coisas que não devia… Dei de caras com aquela que estava a pensar…
Sheftu… Ela sem dúvidas é bonita! Loira e com os seus cabelos compridos ao
vento… faz lembrar uma daquelas imagens tiradas de um livro de fantasias ou um
anjo como os cristãos os acham… Se a vissem bem que teriam uma surpresa
desagradável! E ri-me com essa mesma imagem! Mas, de repente, lembrara-me do
que Ian tinha mencionado sobre esta mesma beldade… Quando abri os olhos, senti
uma raiva contida lançada a mim… Não gostei daquilo:
- Podes largar-me agora o braço? – Sem intenções
tinha-lhe já agarrado o braço para a voltar para mim.
- Não até que me digas qual é o teu problema. –
Não lhe larguei o braço e pedi-lhe que me justificasse aquela raiva toda
dirigida.
- Neste momento... Não é difícil, pois não? Até
para um cão como tu. – Lá estava ela a tentar mandar-me abaixo… Não percebo…
- Porque tens de ser assim?
- Olha para mim, olha para ti... Acho que tens a
resposta a isso.
- A Carmen não vê qualquer problema em eu ser um
lobisomem... – O que era verdade, pois falávamos bem e não existia esta
barreira…
- A Carmen é uma idiota. – Respondeu-me e
soltou-se com um esticão caminhando depois para parte incerta… Mas não levarás
a melhor…
- Gostava de saber o que te faz pensar assim...
Nunca o fiz para o merecer. – Fui cortês como nunca o deixara de ser mas a
raiva começou a despontar… Tinha de a refrear…
- Não tem a mínima importância do que mereces ou
não.
- Eu que achei que eras uma bela dama, agora
apenas vejo em ti um belo problema. Espero que um dia possas conseguir ter
disponibilidade suficiente para me conheceres.
- Acredita que estás errado.
- Não sei como o próprio Ian pode falar bem de
ti. Ele me disse que valia a pena tentar, mas pelo que parece são coisas da
cabeça dele. – Então mais vale ser sincero e dizer aquilo que penso e o que me
disseram também… Levar tudo em consideração… Mas vou ver se ela estará interessada
nisto!
- Conheces o Ian? – Mesmo em cheio! Está
surpreendida!
- Claro, pensas que eu não tenho amigos apenas
porque me viste a sair de uma floresta? – Para aprenderes a não seres rude para
quem nunca o foi para ti!
- Não, nem por sombras. Apenas te peço um favor,
não te ponhas a falar dele nem a pensar muito dele por estas bandas.
- Não sei da razão pelo que hei-de aceder ao teu
pedido.
- Talvez porque simplesmente não é um pedido.
Agora cala-te. – Mandona! Mas é melhor não a enfurecer mais… Além do mais,
mesmo que diga que não, soou a uma súplica até…
- E posso pelo menos saber o porquê desta
censura?
- Talvez não seja da tua conta, dá-te por
contente por ter falado contigo. – Interessante… mas é melhor deixá-la assim…
Depois terei de falar melhor com ela sobre certas coisas, mas por agora, vou
deixar que as coisas sigam o seu rumo.
O tempo continuou a passar e deixei-me estar ali, na porta grande da mansão.
Não sabia bem porquê, mas apetecia-me falar com a minha amiguinha Carmen. Por
entre estas conversas todas, com ela ainda nada falei…
- Sr. Wolf.
- Miss Carmen. – Ela está toda arranjada… hummm
– Vais caçar?
- A sede tomou conta do meu ser. – Pois… Mesmo
querendo ser quem não és tens de viver com isso… Mas parece perturbada… Será
que:
- O Eric irritou-te novamente?
- Ele é profissional agora na arte de me
irritar, por isso é que vou caçar assim tenho forças para me controlar perante
a ânsia de lhe querem arrancar a cabeça.
- Bom jantar! – Por agora parece que não vou
poder falar-lhe… Mas, não há problema, ao menos que tenha uma boa caçada!
Ainda vaguei um pouco pela mansão. Sabia que havia qualquer coisa que não
estava bem… Mesmo as acções dos meus vizinhos estão a ser um pouco estranhas…
- Quem és tu? – Uma voz estranha aos meus
ouvidos… E por trás de mim, não gosto muito disso!
- E tu quem és? – Virei-me para confrontar uma
possível ameaça… Mas fui surpreendido por ser uma miúda que estava acompanhada
pelo pirralho – Oh! Eric!
- Vladimor! Esta é a Pan… Uma amiga minha muito
querida para mim.
- Muito prazer então minha jovem. Desculpa se te
assustei…
- Este é que é o cachorro da casa Eric? – Ok…
isto não é bom… Nada simpático da parte dela…
- Pan… Não digas essas coisas. Vladimor é um
lobisomem. Deu-me luta e, por isso, respeito-o!
- Deu-te luta? Impossível!!! É apenas um
cachorro!!! – Ok… já chega!
- Olha lá oh cachopa… Sabes que isso é muita
falta de educação? Sabes que não se deve insultar os seres que não conheces?
Bem… Se ninguém te disse isso nunca, então é melhor que metas esta ideia na
cabeça… Senão é fácil... Meto-ta eu e, garanto-te, não serei simpático para
alguém que começa logo por me insultar…
- Tudo bem… Já vi que ele se chateia muito
rápido como tinhas dito Eric… Então acredito que seja forte, para mo mencionares
e mo quereres apresentar, mas perdi o interesse…
- Pan… – Eric parecia envergonhado com a jovem
piolha! – Desculpa Vladimor… Nunca pensei que ela fosse agir assim…
- Não faz mal Eric… Mas ela que não me volte a
dirigir assim a palavra. Porque à primeira vez tudo bem, à segunda não gostei…
Se houver uma terceira, sabes que não responderei por mim, muito menos de uma
pessoa que não respeito!
- Não te preocupes, ela não te irá chatear mais…
É verdade… Viste a Carmen?
- Sei que a chateaste rapaz… Ela foi à caça!
Devias ter calma com ela… Parece-me que está a passar por uma fase difícil…
- Hummm… Tentarei, mas é mais forte que eu! –
Gracejou.
- ERIC! Vens ou não?
- A piolha está a chamar-te. – Ele riu-se pelo
nome que lhe tinha dado.
- Então vemo-nos por aí Vladimor, e não te
esqueças de manter este nosso respeito em segredo das outras… Não quero
problemas com nenhuma…
- Não te preocupes que vou agir como sempre
contigo na frente delas… Mas porque me querias apresentar essa piolha?
- Foi ela que te quis conhecer…
- VENS OU NÃO?
- Vai lá Eric, depois falamos!
- Então tudo bem! ESTOU A IR PAN! Até mais logo
Vladimor!
E assim nos despedimos, cada um para seu caminho.
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