Inverness Season - Ep 29, Samantha

Ela estava furiosa pelo que Daniel lhe tinha feito. Não deveria ser muito difícil encontrar a cabana onde ele se encontrava, seria? A verdade é que, por mais que ela pensasse que a sua existência se tornara complicada com Daniel e Louis na sua vida, não fazia a mínima ideia do quanto poderia piorar…

“Íris” by PERSONAGEM


Abri os olhos ao ter a sensação de um bafo quente na minha cara. Abri os olhos depois do meu sono, que me pareceu muito longo, olhei para o meu peito onde o fio estava, e entendi de onde vinha o calor. O colar estava a queimar-me a pele! Era lentamente, mas ainda assim a dor estava a tornar-se bastante aguda! Arranquei-o rapidamente do pescoço e atirei-o para o chão. Passei um dedo pelo local onde tinha ficado a ferida… Um “S” que mais parecia uma serpente estava cravado no meu peitilho.
- Idiota! Ao fim de tantos séculos ainda não aprendi nada!
Apanhei o fio que tinha lançado para bem longe quando me apercebi da queimadura, embrulhei-o num lenço e saí do quarto com intenção de deixar aquela história bem clara!
Desci as escadas a correr e tinha quase a certeza que o Vladimor estava a falar com Carmen, na cozinha, como sempre…
Saí de casa já com a ideia de ir rapidamente ter com o Daniel! Ele hoje ia sofrer por me ter deixado à toa e por me ter dado este maldito fio! Ele pensava que me ia enganar mas não hoje!
Dar com a cabana de novo tornou-se mais difícil do que eu estava à espera. O ódio que se entranhava em mim a cada passo que dava, tornava as minhas coordenadas totalmente descoordenadas!
Quando a vi, abri porta com fúria e gritei lá para dentro – SAINT! – Mas o imbecil não estava lá dentro como eu esperaria para o desancar e torturar. Raios! Onde se teria ele metido? Logo agora que precisava mesmo que ele me aparecesse à frente. Por uns breves momentos sentei-me numa cadeira que estava perto mas logo algo me fez levantar da mesma…
Um barulho vindo de trás da cabana fez-me desconfiar de que ele se tinha tentado esconder… Agora ia apanhá-lo! Ele não conseguiria fugir de mim… Sou muito mais rápida que ele alguma vez será!
- Daniel, escusas de te esconder mais… Eu ouvi-te aqui a mexer. Vá. Sai para não ser pior para ti. – Esperei uns instantes, mais não tive resposta da outra parte. – Daniel. Não vou repetir novamente. Sai daí!
Por trás de uma árvore ouço um ri… Um riso cínico que não fazia qualquer sentido naquele contexto e que, principalmente, não fazia sentido por ser o riso de uma mulher. Uma mulher extremamente elegante e atraente saiu de trás das árvores. As suas roupas eram todas negras mas dispendiosas… O seu cabelo negro batia-lhe pela cintura e, apesar disso, estava perfeitamente alinhado. Os olhos pareciam de fantasia, tão verdes, cruéis e vingativos. Tal como toda a sua postura e porte. Ela uma mulher que ao longe daria nas vistas, mesmo que estivesse mal arranjada…
- Ora, ora Samantha… Doce e bela Samantha. – Disse-me a estranha mulher que continuava a rir ao ver a minha cara de espanto. – Espera… Não estou a acreditar! A sério que não sabes de nada??
- Mas do que raio está a falar?! Como sabe o meu nome?
- Estás a brincar? Eu a julgar que todo este tempo me quisesses esquecer… Afinal… Não te lembravas mesmo.
Deitou a mão à cabeça e começou a abaná-la em sinal de negação… Andava de um lado para o outro como se tivesse à procura de respostas que eu por e simplesmente não lhe podia dar.
- Afinal quem é que é.
- Samantha, como é possível não te lembrares de mim…
A sua voz era agora mais suave, como se me estivesse a tentar acalmar ou persuadir a fazer algo. E mais rápida do que eu alguma vez tenha visto aproximou-se de mim ficado a uns meros 30cm de mim. O meu instinto foi de dar um passo atrás.
- Ora vejamos… Vamos viajar uns… Hum… 221 anos atrás. O que te parece?
- Impossível!
- Impossível porquê?
- Porque nessa altura eu ainda nem era um vampiro! Portanto, deve estar-me a confundir com outra pessoa qualquer de certeza!
- Eu sei bem que não eram… A culpa até nem foi tua, coitadinha. Foste uma vítima do acaso. E de seres filha de quem és.
- Eu não sei do que falas. Não me lembro dos meus pais! Logo não deve ser comigo!
- Não sejas imbecil! – Olhou-me com desprezo novamente a mulher. – Se não te lembras de coisas do teu passado como podes afirmar com tanta certeza que não é contigo?
Ela tinha razão… Mas apesar de tudo aquela conversa toda fazia-me imensa confusão…
- Mas o que quer de mim com estava conversa toda?
- Nada em especial… Só atormentar-te um pouco.
- Atormentar uma ova! A mim ninguém me atormenta!
- Não? Tens a certeza? Eu acho que sim… A propósito, vinhas tão exaltada a gritar Daniel porquê? – Ao ver a minha cara de raiva, voltou a falar. – Foi o que eu pensei.
- Não tem nada a ver com a minha vida portanto, vou dar meia volta e sair daqui!
- Não vais não! Estou espantada contigo. Falo-te do teu passado e tu nem te pareces interessar.
- Isso é porque não me interessa mesmo! Foi um assunto ao qual eu meti um ponto final! Já sei quem eram os meus pais não me interessa mais nada! – Voltei costas para me ir embora mas a mulher falou novamente.
- Nem queres saber que o facto de tu seres o que é hoje é por culpa deles?!

Ela tinha tocado no ponto fraco. Tocado na ferida que eu tinha fechado há algum tempo quando tinha visto todos aqueles arquivos no Vaticano. Ela queria que eu estivesse ali. Que ficasse presa à sua conversa… E fiquei porque o que ela falava ela de máxima fixação e relevância para mim… E eu estanquei no lugar.
- O que sabe sobre isso? – Disse sem olhar para ela.
- Sei que eras uma pobre miúda sem vida. Que vivias na sombra do teu irmão, só porque ele era rapaz e ia seguir as pisadas de “templário” como o vosso querido pai. E que não podia permitir que houvesse mais uma raiz negra naquela família.
- E desde quando é que os templários são “negros”?
- Desde que o teu paizinho se decidiu regressar a casa com uma bruxa e teve duas criancinhas daquela maldita criatura que é a tua mãe. Espantada? Pois, os documentos do Vaticano nunca iam admitir que a Arabella era uma bruxa. Isso era tornar real, tudo o que eles sempre quiseram contrariar.
- Isso é impossível… Ela não pode ser uma bruxa!
- Pode! Tanto pode que quando eu mordi esse pescoço com intenção de te matar não consegui.
- TU! Foste tu que me transformaste!
- Claro que fui! Por descuido! Nunca pensei que o teu sangue fosse tão venenoso como o da tua mãe!
- Isso que me estava a contar não faz sentido! Se ela era uma bruxa podia muito bem me ter defendido!
- Defenderia se eu não te tivesse levado comigo… Já agora… Alguma vez ouviste falar da Madame Von Krull?
- Já, mas o que é que ela tem a ver com o caso?
- Essa madame… É a tua querida mãe.

Aquelas revelações foram como balas que me atingiam todo o corpo. Queimavam todo o meu ser! O que aquela velhaca me estava a dizer não tinha sentido nenhum! O que aquela mulher estava a dizer era completamente irreal! Não tinha nexo! Ela devia estar a gozar comigo! A usar as peças da minha história e a criar esta grande mentira. E naquele momento de total desprezo por todas as palavras que estava a ouvir, um outro ruído sai vindo do meio de todo aquele matagal… Era Daniel e estava incrédulo. Mas ao que parece não era de me ver a mim mas sim à estranha mulher…
- Íris? – Verbalizou, espantado.

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