Inverness Season - Ep 28, Vladimor

Velhas recordações do seu passado serpenteavam a sua mente, sonhos que recordavam tudo aquilo que fora e perdera com a loucura do tempo. Para alguns o tempo é mais do que um tesouro: um verdadeiro problema. Haveria solução?

“What The Hell Am I Supposed To Do Now” by Vladimor Iorganov


Anos passaram e as capacidades que julguei nunca ter, se mostraram mais que reais! Petrov estava incrédulo.
- Em todo o meu tempo de vida, nunca vi alguém conseguir dominar tudo isto, meu amigo!
- Petrov… Sou humano? Não… Então aí tens a resposta! – Sorri levemente e voltei para a prática dos encantamentos.
Este era o último passo! Não podia ignorar que por me ter conhecido mais e melhor, ajudara! Estava agora ciente do quanto deveria tornar-me senhor de mim mesmo! Mas os treinos deste dia foram interrompidos por…
- ATAQUEM! PILHEM! QUEIMEM! FASSAM TUDO O QUE QUIZEREM!
Ultimamente têm havido muitos destes doidos varridos que julgam conseguir alguma coisa contra os portões do castelo de Petrov… Enfim… Vou continuar a treinar, pensei, contudo:
- Não passa de hoje… - Foi um sussurro e a sua mão que me pararam. Petrov estava irritado! Também era normal, faziam aquele barulho todo e Petrov gostava do seu sossego. Brutos sem mente e sem o mínimo de decência… Até mijavam e defecavam aos portões como para nos irritar. Parece que Petrov não aguentou, mas – Vlad, quero que te testes! – Desta, eu não esperava… ele evitava sempre e a todo o custo que eu entrasse em batalha… - Tenho fé em ti! E sei que não vais ceder à tentação da raiva e ódio desenfreado. Afinal, já sabes o que tens dentro de ti, não é verdade? – Aquelas palavras foram simplesmente tudo! Mérito e reconhecimento! Confiança e honestidade! Não contive uma lágrima de júbilo e acedi ao encorajamento, mas decidi impor um desafio:
- Petrov! Vou transformar-me para me testar, essa sim é a verdadeira prova que quero passar!
- Sabia que ias dizer isso, por isso estarei a vigiar-te! Se mostrares o mínimo indício de descontrole sobre ti mesmo, sabes que terei de te encarcerar de novo…
- Não te deixarei ficar mal meu velho!
Sorrimos e separei-me dele a correr, assim que o fiz ele desactivou a barreira.
Chegara no exacto momento em que aqueles brutamontes tinham despedaçado a madeira velha do portão! Uivos soltaram-se de mim! A transformação começou! As garras brotaram tal como predadores sedentos de sangue! Sim era raiva, mas consegui resfria-la com o treino que possuía! Sem dúvida era uma espada de dois gumes este teste… manter-me vivo e matar, essa era a parte fácil, mas lutar contra mim mesmo, isso já era diferente! Fazendo assim com que a simples tarefa de combater… Esqueçam, eles são mais do que pensava… Vai ser uma verdadeira batalha e não apenas um duelo simplório! Cinquenta homens armados entraram no pátio! Mas quando me avistaram pararam! As minhas órbitas estavam cintilantes, até eu sentia isso!
Instantes passaram e consegui que a transformação fosse um sucesso e a maré de ódio e raiva fora travada! Muito bem, agora…
- Muito boas tardes meus senhores! – A minha voz nesta forma era diferente. Mais cava e forte! Via-se o medo e terror especados na cara daqueles homens. – Como entraram não será da mesma maneira que sairão, a não ser que o façam agora! – Um, dois e três minutos passaram… – Bem que os avisei… - E com um rugido a batalha começou!

Acordei estremunhado e suado como se estivesse a batalhar! Um sonho… Mas porque raios, sonhei eu com tudo isto? A saudade é um sentimento mísero não haja dúvidas!
Caminhei por entre os pinheiros… errante e sem destino, na vaga e efémera possibilidade de a ver… mas nada… nem um suspiro, nem sequer um olhar trocado… nada… como se fosse possível ela desaparecera, mas o bosque continuava a bater com toda a sua força vital! Muito estranho… será que fiz algo que não devia? Será que disse algo inapropriado? Não compreendo…
- PORQUÊ????? – Meio grito suplicante, meio uivo de frustração! – QUE TE FIZ EU, MINHA AMADA? SE FIZ ALGO INAPROPRIADO, DIZ-ME! MOSTRA-ME! MAS NÃO ME CASTIGUES COM ESTA SOLIDÃO!!! – E assim, as lágrimas escorreram pela minha face, como se de um rio se tratasse!
Errante e desamparado, fui dar comigo a caminhar direito à vila… Passei por várias pessoas como se nada fosse! A minha solidão preenchia-me mesmo no meio de tanta gente, tantos cheiros, tantas vozes e tantas cores! Nada me demovia nem me fazia mover… Tristes são os momentos em que um está mal e triste com tudo! Em que um não se encontra…
- Sim está tudo bem! Estou pela Escócia… Sim continua tudo na mesma como já há tanto tempo, mas agora não estou tão solitário. … Nada disso, continuo como antes mas vivo na mansão do bosque, é que quem remodelou aquilo, bem, é como tu, vampiro… Os nomes? Isso é estranho vindo de ti, Ian…
- Eu sei, mas queres o quê? Não é normal andarmos por aí sem mais nem menos…
- Hummmm… Pareces-me preocupado com algo…
- Sim estou! Primeiro não me telefonas quase nunca, e agora ligas-me do mesmo sítio que há décadas e dizes-me que estás a viver com vampiros… Sei como és livre de juramentos, mas mesmo assim… Tens de ter cuidado, Vladimor!
- Já pareces o Dragulia…tem lá calma, Ian! Ele e elas são bons compadres… Não me chateiam muito, pelo menos elas…agora aquele mafarrico da comigo em maluco!
- Agora preocupas-me! Tu a irritares-te com um vampireco?
- Epah… Lembras-te de quando te conheci? Ele faz-me lembrar exactamente daquilo que tu eras! Chato como sei lá o quê! Cheio de regras e o catano!
- Hummmpphh! Até parece!
- Desculpa, ainda és! – E uma gargalhada ouvia-se do outro lado.
- Não mudas nada, Vladimor!
- Não seria o mesmo se o fizesse, não é verdade, Ian?
- Muito bem, então explica-me lá o que se passa…
- Sonhei com o meu passado de uma maneira bizarra e inacabada… como se fossem flashes… Isto já não me acontecia há algum tempo como sabes…
- É verdade… Normalmente quando isso te acontece, é porque algo de muito mau se vai passar…
- Ian… Tenho uma Dama do Bosque, Stratis é o seu nome! Mas desapareceu do nada da minha vista…
- Estás e só podes estar a gozar comigo! Conheces-te uma Dama do Bosque e ela está apaixonada por ti? Sim porque da forma meiga que disseste o nome dela… Vlad… Tem cuidado, não te esqueças que foste procurar refúgio…
- Ian…acontece… A mesma coisa aconteceu assim de repente quando a Sheftu, Eric, Samantha e a Lady Carmen vieram…simplesmente acontece também eu me apaixonar!
- O que disses-te??? – O tom dele mudara completamente de um tom jovial para algo sombrio…
- Que me apaixonei… e porque estás a falar assim comigo, Ian?
- Antes disso, porra!
- Dos vampirecos?
- Disseste os nomes deles… Quais foram outra vez?
- Sheftu, Carmen, Samantha e o fedelho do Eric… Sabes que ele é forte na magia, até diria que se parece muito contigo em algumas coisas…
- Vlad…
E a conversa estendeu-se e estendeu-se por horas a fio, variando de problemas e contando parte da história dele mas sem se abrir muito como sempre! O sacana do Ian sempre foi reservado, mas do nada abriu parte do seu livro poeirento e leu-mo… Isto é sem dúvida muito, muito estranho!
- Esta é uma parte da minha história e não percebo porque é que a Sheftu mo esconde…não consigo conceber tal coisa…
- Não te preocupes, ela agora não te pode fugir, assim já lhe podes ligar não e verdade? – Tentei encorajá-lo pois pareceu-me estar bastante abatido… Afinal ele tem sentimentos, embora pareça apenas um estupor… até gosto dele, mas irrita-me… Espera lá… - Ian… vou ter de ir… estou a sentir que algo não está como deve de ser! Fica bem!
Dera comigo a falar no meio de muita gente mas não me afectou tanto como era o normal… Mas alguém… Alguém passou por aqui e deixou o seu rasto para o seguir… Não é coisa boa! Não pode ser coisa boa!
O rasto não estava quente e a sua fragrância era azedume… Não era boa de seguir contudo, tinha de o fazer! Senti que era uma presença forte mas que se sabia misturar muito bem com a população! E tal como me tinha apercebido dela, deixei de o conseguir… Deveras estranho!
Segui para a mansão por atalhos e sosseguei o meu espírito! Podia ainda não estar habituado a tantas almas penadas no mesmo local, mas era bom não estar sozinho…pelo menos tão sozinho como pensara, durante o dia, estar! Espera aí… hoje falei com o Ian e distrai-me por completo… não comi nem nada… mas… também não tenho grande fome… deixa-te estar meu estômago que não é por um dia sem comeres que te vai fazer mal!
Chegara à fronteira do bosque com o jardim exterior da mansão e encaminhei-me para a garagem, taciturno.
- Vladimor Iorganov! Por onde tens andado?
Esta voz chata e que me perturba o sono… - Que queres tu Eric?
- Saber o que raio andas a fazer estes dias todos!
- E diz-me jovem… o que fazias com isso? Ficarias mais feliz?
- Já deves ter reparado que ando a preparar defesas e…
- E são fracas Eric! Em termos de magia de defesa és mais fraco ainda que…
- Que? – Ele tinha ficado com ela atrás do ouvido…não é bom…bem… Uma zaragata não faz mal a ninguém, principalmente hoje!
- Que um humano que não sabe nem o que fazer com a mente quando a deve usar! Deixa-me ensinar-te a arte da defesa, se é que…
- CALA-TE CAXOURRO! Ensinares-me? TU?
- Ok… Vieste aqui só para descarregares a raiva da juventude! Vamos lá então!
Não era preciso muito para que ele começasse à tareia comigo, por isso ali começámos! E acabámos empatados e os dois rotos e exaustos!
- Não vou deixar que me venças nunca cachorro!
- Ainda bem mafarrico! Porque assim não me deixas emperrar… agora vai lá dormir que eu tenho que repousar!
Ele podia irritar-me mas a realidade é que era um bom rapaz! E agora, muito mais agora não o conseguia ver como um inimigo! O filho de Ian! Quem diria?!
- Está tudo bem Vladimor Iorganov?
- Agora é que perguntas? – E rimos da nossa própria figura.
- Mais vale agora que nunca… É que vens com uma aura diferente…mais pesada… E pareces confuso com algo… parece-me que viste algo que te está a deixar chateado!
- Gostas de ler aquilo que eu reflicto não e verdade?
- É já um hábito…desculpa lá!
- Não é por mim, mas por ti… Há coisas na minha mente que é melhor não leres… Por motivos de sanidade mesmo!
- Confio em ti! Não te preocupes… Isto é apenas uma rivalidade que gosto de manter activa, mas depois desta conversa acabar, manda-a para os recônditos mais longínquos da tua mente, Vladimor Iorganov!
- Não te preocupes que a minha forma de ser não irá nunca variar! Sou teimoso demais! – E rimos mais uma vez. – Mas agora falando de coisas sérias…
Contei-lhe o que se tinha passado em relação à criatura! Nada mais como o próprio Ian me tinha pedido. Eric já não me parecia um pirralhinho da treta… Parecia-me uma entidade a ser reconhecida e senti o mesmo da parte dele.
- Isso é estranho… Mas ia então pedir-te que estivesses mais atento, só pelo sim pelo não!
- Assim o farei! Mas agora, não leves a mal… acho que vou descansar um pouco…
- Descansa então Vladimor!
- Bom descanso para ti também jovem Eric!
Cada um para o seu canto sarar as feridas de um combate de que podemos chamar de treino. Mas as minhas feridas estavam demasiado abertas e eram demasiado fundas! As memórias de desespero tinham voltado… Algo estava para acontecer… Algo que de bom não teria nada, mas naquela altura, não sabia ainda o que me esperava!

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