Inverness Season - Ep 23, Vladimor

Stratis continuava desaparecida e Vladimor começava realmente a preocupar-se, se tornaria apenas uma memória feliz? Talvez o mundo dos sonhos traria a sua doçura de volta… Era altura de viajar pelo passado, o que os ventos trariam?

“What the...” by Vladimor Iorganov


Mais uma caminhada pelo bosque e um encontro melodioso com Stratis! Sobre a Lua vigilante o romance paira sempre no ar. E este aroma, não me consigo fartar deste doce e meloso aroma… Mas onde está ela?
- Stratis!!! Onde estás minha Dama?
Apenas o eco da minha voz suplicante… Mas porque não aparece ela?
- Stratis… Não te escondas, por favor… Um dia inteiro a espera do momento de me reunir contigo e não apareces porquê? Passou-se alguma coisa? – Começo a ficar preocupado, não é normal nela fazer isto… - Stratis!!!
Mais uma vez o eco de uma voz solitária no interior do bosque… Nada a não ser e a Lua… Mas devíamos ser os três e não apenas eu e a Lua… Stratis adora a Lua tanto como eu, pois na noite escura existe algo tão puro como a sua luz, e tão bem que se reflecte na minha adorada Stratis…
- Stratis, a sério… Aparece por favor!
Mais uma súplica que o vento levou… E um baque seco de uma queda desorientada se fez percutir pelo azedume das trevas, quando a Lua foi sobreposta por uma nuvem nocturna…
- Se hoje não podes vir ter comigo, então eu sonharei uma memória para ti… Só espero que não seja uma das últimas que tenho partilhado contigo…
Entre galhos me deitei e acomodei, entre as árvores e sob as estrelas celestiais o sono me envolveu no seu abraço.

- Ainda tens muito que aprender!
Petrov estava furioso por o ter desafiado com o pouco conhecimento que tinha! Mas porquê que ele não me deixa ver o livro branco? Até parece que é algo de tão especial ou poderoso… Quer dizer, até é mas mesmo assim…
- Mas Petrov… Só queria ver o que continha…
- Vlad… Já te disse que não! Ainda não estás preparado para seguir o próximo passo… Tens antes de mais nada, saber controlar os instintos que emanam de ti! Não podes fingir que és um humano apenas… ÉS UM LOBISOMEM! E sinceramente é um milagre que te tenha conseguido parar quando parei…
Um silêncio perturbador enchia a sala que pouca mobília tinha… Era constrangedor ele mandar-me tudo aquilo a cara!
- Sempre a mesma coisa! Porque tem sempre de me mandar a cara que a minha família foi amaldiçoada com a minha nascença? Porque tem sempre de referir que eu sou um mal que foi poupado por amor? Porque é que tem sempre de se armar em superior comigo???
A raiva era iminente e senti a dor de tudo a voltar ao meu corpo! As garras formaram-se, os dentes luziram e a pelagem rebentou! O uivo soltou-se e tudo ficou sem cor!...
- Estás bem?
Onde estou? Porque me dói o corpo? Porque estou a ver a luz às riscas?
- Vlad? Estás acordado ou não?
Petrov… Mas o que se passou? Espera aí… não consigo falar… dói-me a garganta! Está seca…
- Estou a ver que estás acordado, e desidratado e todo moribundo… Mas teve que ser senão a raiva consumir-te-ia e o lobo que há em ti seria completo…
Senti levitar e a passar por portões, mas não me conseguia mexer… era como se uma prensa inexistente me estivesse a imobilizar por completo os músculos TODOS do corpo! Mas vi de relance que Petrov tinha ido a cozinha e quando voltou parecia trazer um frasco com um líquido que eu bem conhecia…
- Já sabes o que é! Vejo que ao menos a tua memória não está apagada. Que bom, mas que tens de tomar isto, sabes que tens, por isso não vale a pena resistires…embora também não o consigas!
Odeio quando ele faz isto… e aquele riso… um dia!… mas… é o único que conheço no mundo de hoje! É o único que cuida de mim! É a única pessoa a quem posso chamar de familiar…
Dias mais tarde a recuperação estava feita! E eu estava completamente sarado das dores e de volta aos treinos! Cavar a terra, cortar a madeira e treinar o meu físico… As actividades mundanas eram estas, ou seja, até à hora do almoço era o que fazia, a partir daí o ritmo mudava para uma tarde encerrado na torre dos livros onde aprendia a história e química, passando depois para a câmara da meditação onde treinava a energia e por fim passava para a câmara de combate, onde tinha de me combater a mim mesmo, tentando manter a minha transformação equilibrada… E assim uns bons largos anos até que:
- Vlad… Tenho orgulho em ti! - O primeiro elogio verbalizado! – Suportaste todos estes anos e conseguiste atingir um nível satisfatório! – Estarei a sonhar acordado… - Leste muitos livros e passaste aos meus testes e provações! – Ele está a ser simpático demais…
- Qual é o próximo desafio Petrov? – Disse tal sem pensar… parece ter ficado ofendido… - Não quero ser rude mas não é normal ser assim comigo… está a assustar-me de certa forma…
- Compreendo-te… Sei que fui duro contigo, mas pude ver que o conhecimento e a vontade de seres tu se sobrepõem à bestialidade e a vontade do lobo… Por isso quero dar um passo mais contigo!
- Um passo mais?
- Sim! Irás aprender agora a verdadeira magia! – Esta frase ecoou na minha mente muito tempo, deixando-me um tanto zonzo. – A magia da defesa e da cura!
- Então é isso que está no livro branco?
- Sabia que a tua curiosidade iria ter logo a encontro disso mesmo, mas não… O livro branco estará reservado apenas quando completares o nível avançado da defesa que te quero mostrar e somente quando dominares a arte da cura, pois todo o livro é um feitiço… E não mais te direi em relação a isso… - O velhote sabia cativar-me! Só mesmo ele…
Os treinos eram diferentes… A relação desenvolvida até agora vinha a alterar-se consoante a progressão do treino! E consoante eu avançava ele abria-se mais comigo e eu com ele até que:
- Contar o que se passou contigo durante a tua infância seria mau da minha parte, mas mostrar-te será um acto de misericórdia… Pois tenho-te sentido um pouco incompleto e as dúvidas que me colocas são sobre o que se passou e como chegas-te até mim e eu a ti! Estás preparado?
- Bem que achei estranho nos encontrarmos debaixo da Árvore da Memória… Pensei que me iria mostrar algo do passado, mas nunca pensei que fosse do meu… Contudo Petrov, sim, quero ver o que se passou, quero saber porque estou aqui consigo e quero perceber porque a maldição me arrastou…
- Todas essas questões te serão respondidas por ti mesmo a partir da Árvore, mas guarda-as para ti e concentra-te nelas…
Assim foi feito e o tempo pareceu parar… Uma náusea percorreu-me e um ritual começou, fazendo o tempo recuar em flashs e em túneis por nunca antes vistos.
Um castelo… Grande e imponente! Campos verdes e floridos no Verão e cobertos de neve no Inverno! Sopros gélidos constantes mas sorrisos sempre alegres na cara de todos, até que…Petrov chegou ao castelo…não acredito, o que está ele a fazer aqui?... E fala com um homem forte e bem vestido: - Vim de uma terra distante e sabeis porque venho, pois me convocaste meu senhor!
O homem não falou e abraçou-o! Era o meu pai, mas mais novo, tão engraçado… emocionante até! E a minha mãe ao lado dele num quarto… o meu quarto! E eu ali pequeno dentro do berço…bons momentos! Petrov entoou um feitiço e luzes encheram o quarto… Quando terminaram a expressão de Petrov parecia de mármore:
- Iglav… a profecia é real… Deixa-o vir comigo, é para o seu próprio bem, bem sabeis!
- Não posso Petrov… Bem sabes que ele é o meu único filho e que nenhum mais posso ter… Não podes mesmo fazer nada? Algo que impeça que esta maldição se cumpra? Tu és um mago, porra! Porque não podes ajudar o meu filho que ainda é um bebé?
- Não posso utilizar o meu poder senão ele morrerá… ele é forte mas a maldição é algo que não posso levantar…é algo predestinado, e tu sabes… Fizeste um tratado com um lobo… E não o cumpriste até ao fim e ele amaldiçoou-te a partir do único filho que terias… Ele já está morto senão as coisas seriam diferentes… Bem sabes…
- Sei… mas mesmo assim é triste…contudo ele será educado aqui connosco e aos vinte anos irá ter contigo para o conseguires “domar”… Pobre filho meu…
- Assim seja a tua vontade Iglav, Senhor do Norte!
Mais um flash e um túnel por onde vi passar a minha educação e os meus aniversários e amigos e todos e não mais Petrov… E um dia:
- Quem sois vós para me dizerdes aquilo que está errado seu jovem endiabrado? Só porque sois o filho do meu senhor isso não permite que me dês ordens seu cão!
- Gengiff, não queria ofender-te mas a realidade é que fizeste algo de insano e a única coisa que posso é…
- Porque comi a empregada da limpeza? Que mal tem isso? É ciúme é seu cão?
- Gengiff, pára… a sério… Não foi só comer a empregada… foi emprenha-la e depois matares o teu filho juntamente com ela!
- Só porque descobriste isso não faz de ti senhor do meu destino!
- Estás louco Gengiff… Pára!
- Então tenta!
Ele pegou na espada e precipitou-se sobre mim… Fintei a espadeirada dele e dei-lhe um murro no fígado e uma cotovelada na nuca enquanto rodei sobre as costas dele… Ele caiu desmaiado! Cinco dias depois fora condenado:
- Gengiff, ex-conde do Norte, estás aqui agora e hoje perante esta assembleia para receberes a tua punição… A morte pelo fogo! Alguma última palavra?
Um sorriso iluminou a sua cara e uma aura negra dele emanou com um ritual deveras estranho… Foi este o momento em que perdi a consciência e… Tudo perdera a cor… Vi a minha transformação do lado de fora… Grotesca e animalesca! E Gengiff tomou os contornos de algo imundo e consumiu-se em chamas negras!
O terror chegara e eu era o causador do caos… todos os membros da assembleia tinham sido despedaçados! Quando chegou a vez do meu pai e minha mãe, a minha voz ficou aspara e disse:
- Mais cedo ou mais tarde sabias que isto iria acontecer, e agora é o momento! A morte vocês merecem e a morte vocês terão! E eu viverei aqui neste corpo que vocês fizeram! Só vos posso agradecer! Muito obrigado…
Fechei os olhos, pois não quis ver o final… O resto foi o acaso ou não, também não me interessou… a tristeza foi avassaladora… saber que morreram mesmo…saber que não mais posso falar com eles… Saber que fui EU que os matei…
O tempo voltou e eu despertei no meu quarto… Petrov do meu lado e taciturno…
- Esta é a realidade… Foi isto que se passou…
- Compreendo… e muito me entristece…
No dia seguinte minha mente estava ainda mais aguçada… Sabia muito bem o que em mim residia, sabia agora o que eram os sussurros da raiva! Era o que em mim residia e não iria perder contra isso! Treinei anos a fio para poder manusear a magia! A minha ligação com Petrov estava mais forte ainda! E no meu décimo quinto aniversário:
- Isto é para ti! – Um pendente de ouro branco em vórtex com uma pedra de lua incrustado no meio!
- Petrov, não posso aceitar…
- Quero que o aceites, mereces afinal de contas, pois irás começar a dar o teu último passo na magia que tenho para te ensinar!
A alegria não podia ser maior! Mas… algo não batia certo… O que era esta sensação de júbilo extra que sentia?…

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