Inverness Season - Ep 21, Carmen
Depois daquele louco sonho que tivera, Carmen só podia
pensar em alimentar-se. Não compreendia o que se passava com ela e, até um
certo ponto, tinha receio de o descobrir. Ironicamente o seu corpo a levara
para onde não deveria realmente ir: enfrentaria mais uma vez o mundo dos sonhos
ou era real desta vez?
“Blood On The Dancefloor” by Carmen Montenegro
Sentei-me na cama, tinha os meus
sentidos mais despertos do que antes, precisava de sangue. Fora o primeiro
pensamento que me ocorrera. Lá fora a noite ainda era soberana, levantei-me e
encaminhei-me para a janela. As nuvens eram grossas, tapavam as estrelas
brilhantes. A sede tomava conta do meu espírito, parecia que estava em transe.
Não sentia o meu corpo enquanto caminhava para a casa de banho, despindo a minha
roupa interior a cada passo. Lentamente, estiquei a mão e acendi a luz da casa
de banho. Caminhei para a banheira e, num gesto pesado, rodei a torneira.
Enquanto esperava a água encher a banheira de mármore, foquei a minha imagem no
espelho de corpo inteiro: ao mesmo tempo que eu via o meu corpo reflectido
sobre a superfície, eu tentava recordar o que me tinha acontecido há momentos,
não sabia porquê, mas sentia que toda a minha energia tinha sido sugada num
instante, sentia-me trémula, não era fraqueza da sede era outra coisa… A sede
era controlável, conseguia manejá-la apesar de sentir o cheiro de todos dentro
de casa e ouvir ainda melhor mas, aquela fraqueza era outra. Conhecia-a bem.
Era como ficava depois de…
O som das primeiras gotas de água a
caírem no chão apanharam a minha atenção, voltei-me, ainda meio que distante,
estendi a mão e fechei a torneira. A água estava quente, não que fizesse alguma
diferença em mim mas, quanto mais quente melhor. Mergulhei um pé, logo a seguir
o outro, sentei-me vagarosamente na quentura daquela água. A banheira era
grande o suficiente para eu ficar com as pernas esticadas, escorreguei o máximo
que pode ficando com a água pelo pescoço. Senti-me a relaxar, a deixar tudo
para trás mas mesmo assim a sede continuava.
Saí do banho, não demorei muito a
escolher a roupa que queria: uma mini-saia, umas botas pretas de salto alto e
uma camisa vermelha, tudo escondido sobre um casaco comprido. Peguei no cabelo
e soltei-o. Abri a porta do quarto e saí, para meu espanto dei de caras com
Sheftu, ela vinha a escovar o cabelo, assim que me viu parou o movimento.
Voltou-se completamente para mim, ergueu a sobrancelha e mostrou um leve
sorriso, eu não disse nada e ela também não. Limitei-me a passar por ela,
demonstrando um claro senso de desprezo, percorri o corredor a passo rápido com
o meu salto a ecoar o chão de madeira, desci as escadas apoiada no corrimão.
Tinha de me alimentar o mais rápido possível. Abri a porta e saí, mas, não me
mexi sequer. Ali à frente, parado a uns metros, estava Vladimor, com os olhos
pregados nas nuvens.
- Sr. Wolf.
- Miss Carmen.
- Vais caçar.
- A sede tomou conta do meu ser. –
Disse-lhe, afastando-me a passo certo. Vladimor seguia-me a uns metros atrás
até ao portão.
- O Eric irritou-te novamente?
- Ele é profissional agora na arte
de me irritar, por isso é que vou caçar assim tenho forças para me controlar
perante a ânsia de lhe querem arrancar a cabeça.
- Bom jantar!
Não evitei sorrir, o portão
abriu-se à minha passagem e continuei o meu caminho estrada fora.
Percorri a estrada toda até ao
centro da cidade, na total descontracção, para além de não encontrar nenhuma
alma no meio caminho, a noite acalmava-me. A sede servia de radar, por isso não
foi difícil encontrar o local perfeito, parei mesmo em frente a um bar de
nome Closer.
Empurrei a porta e fui
apanhada por um bafo de ar quente, o bar estava cheio de gente com os corações
a palpitar, as mesas estavam cheias e mesmo aquelas altas que apenas serve para
apoio estavam rodeadas de gente. Alguns sentados ao bar, naqueles bancos altos,
outros em pé a falarem perto da porta; Fechei os olhos e inspirei fundo, o
cheiro de cada um era totalmente diferente. Estava no local certo!
Passei por entre as pessoas,
captando o olhar de alguns seres masculinos e procurei uma mesa mais ao canto
que, só mesmo por pura sorte, estava vazia. Puxei a cadeira e sentei-me. Quando
olhei à minha volta, havia um misto de olhares. Os homens olhavam-me com
interesse, cochichavam entre si, sorriam e abanavam-se todos como cães com o
cio. As mulheres, essas olhavam com inveja escrita na testa.
- Boa noite. – Olhei para o jovem à
minha frente. Alto, moreno, cabelo preto espetado numa crista, olhos claros e
um sorriso na cara. Uma mão escondida dentro do bolso e na outra, uma bebida –
cerveja, um homem simples apesar da sua aparência. Pela sua vestimenta, podia
ver que aquela era a sua zona: calças de ganga, uma t-shirt branca cheia de
desenhos, com um casaco de cabedal por cima. Basicamente: um engatatão. -
Normalmente diz-se “boa noite” de volta.
A sua voz era grossa e mostrava um
sotaque Americano do sul por ali disfarçado.
- O silêncio significa que não
estou interessada. Não é muito difícil de interpretar, é um sinal universal.
Ele sorriu ainda mais. Vi que era
do tipo que adorava desafios, voltou-se para trás momentaneamente e depois
devolveu-me atenção.
- Posso sentar-me?
- Uau, gostas de sofrer, não?
- Tenho um fraco por amor violento,
confesso.
- Pronto, como não entendes tenho
de ser mais clara: Não estou interessada!
Ele puxou a cadeira e sentou-se.
Não planeava alimentar-me dele mas, aquela ousadia estava a surtir efeito,
daqui a nada matava-o só pelo gozo. E, assim se ia a ideia que Vladimor pintara
de mim.
- Ora, não queres beber nada com um
colega de trabalho? – Olhei para ele analisando-o.
- Desculpa?
Vi-o a chegar a mão ao relógio,
tirou-o e mostrou uma tatuagem no pulso. Reconheci imediatamente o brasão da
família, todas tinham uma. Uau, a minha sorte estava condenada hoje, é?
- Os Sheppard. Grande família de
caçadores.
- Não tão grande como os
Montenegro.
- Sabes muito.
- Ou não seria o caçador que sou!
Sabes como é, nós estamos sempre um passo à frente do inimigo.
- Então diz-me…
- Frankie.
Sorri perante o nome. Servia-lhe
perfeitamente.
- Frankie. Vieste
cortar a minha cabeça e levantar o teu prémio?
- Oh não! Carmen, que ideia errada
fazes de mim! - A sua energia cativava-me. A maneira como falava como agia, era
uma criança grande. - Quer dizer, não te iludas, eu odeio vampiros mas, tu és
um caso especial.
- Porquê?
- Porque temos uma pessoa em comum.
- Quê?
Ele bebeu um pouco da sua cerveja,
levantou-se sempre a sorrir.
- Porquê que não vais à casa de
banho?
- Desculpa?
- A sério. - Bebeu mais um gole da
cerveja. - Meu Deus, esta cerveja é boa!
Ele não podia estar a falar a
sério? “Ir a casa de banho?!” E, tão rapidamente como aparecera à minha frente,
aquele sujeito de nome infantil desaparecera. Tinha duas opções: ou ficava ali,
com aquela frase a tocar na minha mente ou levantava-me e ia ver do que se tratava.
Quando cheguei à casa de banho
deparei-me com algo estranho: a casa de banho feminina estava trancada e a
masculina tinha um sinal a dizer Fora de Serviço.
- Que idiotice!
Voltei-me para me ir embora, quando
a porta da casa de banho se abriu de par em par. Girei sobre mim, conseguia ver
alguns cubículos e urinóis; Estendi a mão e empurrei a porta. Dei por mim no
meio daquela casa de banho, quando a porta se fechou. Voltei-me atenta e não vi
ninguém, aquilo não podia ser mais estranho! Os sentidos estavam alerta, não
gostava quando me sentia encurralada e naquele momento enquanto olhava para
cada canto daquela casa de banho não podia sentir-me pior. Parei quando notei,
ali pelo meio, um bater de coração: era forte, jovem, vigoroso e cheio de
energia. Sentia que estava atrás de mim, junto aos cubículos, sentia os seus
passos lentos e certos a poucos metros de mim.
Ia avançar quando a minha visão se
escureceu, uma mão tapavam-me os olhos e eu não conseguia ver! Lutei às cegas,
contra algo que não conseguia ver, tentei libertar-me daqueles braços que
agarravam a minha cintura e da respiração que inundava o meu ouvido. O aperto
era forte, sentia o corpo colado a mim, então algo fez parar os meus movimentos
brutos. O cheiro. Aquele cheiro típico dele a floresta, a terra molhada.
Ao mesmo tempo que o cheiro o
identificou acalmou-me, dei por mim a deixar-me ir naquele jogo de sedução. O
seu aperto diminuiu e passou a um leve passear de dedos pela minha barriga,
depois pela cintura, pelas ancas terminando num forte aperto ao meu traseiro.
Um aperto que fez com que eu soltasse um arfar perante aquele gesto. Levantei
as minhas mãos, meio que às cegas e percorri a sua cabeça, a nuca, os ombros
largos…
Ele fez-me girar, sem nunca
largar os meus olhos e depois, o que me pareceu ser os seus lábios,
aproximaram-se dos meus, num beijo suave e sem qualquer raiva, malícia ou sabor
a vingança. Enquanto o beijava senti o que parecia ser electricidade a
percorrer o meu corpo; Reconhecia o seu corpo, reconhecia aquele sabor da sua
boca. Ele não me era estranho. A sua boca era quente, a sua língua fogosa e
numa mistura fez com que o meu sangue – ou o que corria nas minhas veias. –
fervesse também.
Ele destapou-me os olhos mas, eu
com medo que aquilo fosse apenas uma visão, demorei a abri-los. Senti a sua
boca na minha testa, beijando-me levemente, incentivando-me a olhar para ele.
Quando, finalmente, abri os olhos e vi o seu olhar verde, não lhe li o ódio de
quando era miúdo ou o que sentia da última vez que me vira, mas sim paixão e
desejo por mim. Percorri a sua cara com as pontas dos meus dedos. Não via
qualquer traço de raiva, ódio, vingança nos seus olhos verdes brilhantes,
apenas aquela sentimento fogoso. Não queria acreditar que Dean estava ali.
Pior, não queria acreditar no que sentia ao vê-lo. Queria-o. Queria-o só para
mim.
Não acreditava que também a minha
sede de matá-lo, de sobrevivência tinha desaparecido por completo; Sentia-me
feita de nada, enquanto me perdia nos seus braços.
Beijamo-nos com uma urgência
desmedida, era um desejo, uma vontade mais forte que a própria vontade de
viver. Enquanto as suas mãos percorriam a minha camisa, desabotoando-a, eu
tentava ver-me livre daquele cinto irritante que prendia as suas calças; Quando
finalmente consegui atirá-lo para longe, Dean e eu começamos uma marcha ao
encontro do lavatório. Saltei lá para cima com agilidade e puxei-o pela t-shirt
enlaçando as minhas pernas à volta da sua cintura. As suas mãos agarravam o meu
cabelo, não queria largar-me e eu cravei as unhas nas suas costas marcando-o.
Ele era meu.
Tudo acontecia rápido demais, no
auge do desejo, e, quando ele se fundiu em mim, não havia melhor sensação. A
nossa respiração estava ofegante, arfávamos à medida que os movimentos iam
aumentando. Aquilo tudo era feito com urgência, com desejo acima de todas as
coisas. Os nossos gemidos ecoavam pelas paredes da casa de banho, esqueci-me
por momentos que estávamos num bar cheio de gente lá fora, apenas me importava
Dean e eu, num momento de pura paixão e sexualidade.
Esqueci-me por completo de que eu
era vampira – a que tinha assassinado os seus pais – e que ele era o humano
órfão da família de caçadores – e que antes queria a minha cabeça numa bandeja.
Tudo aquilo não importava, estávamos completamente cientes de que, naquele momento,
estávamos despidos de qualquer barreira e entregues a essa droga.
Aquilo tudo sabia tão bem. Dean
sabia muito bem, mesmo para um humano. Todo ele era bom, quente, vivo. Os seus
movimentos eram fortes, as suas mãos apertavam as minhas coxas e os seus
gemidos eram fortes e profundos. Dizia o meu nome de forma sensual e fazia-me
gritar por mais a cada puxão.
Larguei a cabeça no seu ombro,
comecei a beijar aquele pedaço de pele morena de forma intensa; Atingi um novo
pico de prazer e de imediato as minhas presas desceram. Apreciei aquela
sensação deitando-me mais para trás mas, Dean puxou-me de novo pelo pescoço,
aproximou o seu pulso da minha boca – um gesto que eu já reconhecia mas, não
sabia de onde. Não me disse nada, o seu olhar falava por ele. Peguei no seu
pulso, e cravei as minhas presas, passei a pele até chegar ao cerne do meu
pecado. Eu menti quando disse que o seu sangue não valia para nada, era
mentira. Naquele momento tinha dado o primeiro gole no meu futuro vício. Apesar
da dor que a princípio demonstrou, Dean continuou com os movimentos de quadril
ele também sentia prazer com aquilo tudo. Não o enfraquecia, muito pelo
contrário apenas o excitava mais, conseguia ver pela maneira como gemia e
arfava a cada gota que lhe escapava. A quantidade de sangue que bebi foi o
suficiente, não queria enfraquecê-lo demasiado e não queria matá-lo.
Deitei-me apreciando os últimos
segundos, até ao êxtase, já não conseguíamos conter os gritos de prazer. A mão
de Dean percorreu a minha barriga, destapou um dos meus seios ao qual aproximou
a boca. O seu hálito quente e vivo contra a minha pele só me fazia arrepiar.
Não queria afastá-lo de mim de modo algum.
Quando lá chegamos, foi uma
explosão de prazer que nunca antes tinha sentido. Apoiei as mãos na parede e
enquanto era percorrida pela aquela sensação sentia-a rachar por entre os meus
dedos. Parecia que o meu peito ia explodir de tanta emoção num só momento.
Ficamos imóveis por segundos ainda
a recuperar o fôlego. A nossa respiração completava-se Dean tinha a sua cabeça
caída no meu peito, tinha uma mão no seu cabelo e outra esmagando a parede. Ele
levantou-se primeiro, depois puxou-me pelo braço e beijou-me apaixonadamente.
Mesmo depois de tudo ter acabado, ainda o sentia dentro de mim e, como era boa
e familiar essa sensação: Dean era majestoso.
- Presumo…que…já não…me queiras
matar…
- Presumes bem. – Respondeu-me ele,
com as mãos à volta da minha cintura. Não pude deixar de evitar uma estranha
sensação de déjà vu. Onde é que já tinha vivido isto?
- Casa…de…banho, Dean?
- Ideia …do Frankie…
- O tonto…que veio falar-me.
- Meu primo. Não se nota logo?
Eu ri-me mas, o meu sorriso não
durou muito tempo. O dele também desapareceu logo.
- E… agora, Carmen?
Aquela pergunta apanhou-nos aos
dois desprevenidos. “E agora?” Enquanto olhava para os olhos verdes de Dean à
procura de uma resposta à minha própria pergunta, a única coisa que tinha a
certeza é que naquele momento, estávamos juntos e, nada nos separaria. Nem a
morte.
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