Inverness Season - Ep 20, Trish
Algo de muito mau estaria para acontecer, para não variar,
na vida desta alma perturbada. Não havia dúvidas que alguém morreria, tal como
de todas as outras vezes. Mas… Quem seria a alma condenada à morte? Quem quer
que fosse, ditaria um novo rumo à vida sua vida.
“Elements II” by Trish Rayven
- Trish, Trish... Acorda, eles
chegaram. Temos que abandonar este sítio rapidamente. – Dizia a Sra. Morgan,
enquanto me abanava.
- Sair daqui? Mas porquê?
Agora que me sentia realmente em
casa e que tinha um objectivo a cumprir, teria que abandonar tudo e recomeçar
noutro lugar? E quem seriam eles que aterrorizavam tanto aquela bruxa tão
poderosa?
- Mas nós podemos lutar contra
eles.
A minha ignorância foi tão grande
ao fazer este comentário que a Sra. Morgan limitou-se a arrastar-me até à porta
da cabana sem dizer uma palavra. Antes de pôr a mão na maçaneta da porta, a
bruxa mandou-me esconder, e disse:
- Se por acaso me acontecer alguma
coisa, quero que fiques com a minha chave e que não deixes ninguém entrar
naquele alçapão. Por favor promete-me isso.
Acenei com a cabeça e vi a Sra.
Morgan sair da cabana com um pingo de suor a cair-lhe pela cara abaixo. Nesse
momento, o calafrio que senti no dia do incêndio percorreu de novo o meu corpo,
como se fosse uma pedra de gelo a cair-me nas costas. Esgueirei-me até à janela
sem fazer o mínimo de barulho e descobri quem eles eram. Quatro homens com
vestes bastante imponentes e com um ceptro rodearam a Sra. Morgan e numa voz
sombria disseram-lhe:
- Finalmente encontramos-te e agora
vais morrer.
De repente um clarão de luz vermelha
penetrou-me nos olhos, deixando-me por momentos cega. Pensei que este fosse o
fim da minha professora mas, quando os meus olhos voltaram ao normal, pude
visualizar uma barreira de água criada a partir da neve que cobria a floresta.
Esta barreira encontrava-se entre a Sra. Morgan e os quatro homens. Entretanto,
um jacto de água atingiu um dos quatro homens e este começou a derreter. Aquele
nível de magia ultrapassava deveras o meu. Sentia-me uma incompetente, tinha
que fazer alguma coisa. Num acto de coragem abri a porta e vi os três homens a desaparecerem
no ar, enquanto o quarto jazia no chão completamente desfigurado e sem vida.
Corri para a Sra. Morgan, pois algo
de estranho se passava, ela estava agarrada ao estômago não se mexia e os seus
olhos transmitiam uma expressão aterrorizada.
- Está tudo bem consigo?
Perguntei eu, apesar de já saber a
resposta. Aquela bruxa tão poderosa, que me tratou como uma filha durante
aquelas semanas, tinha sido atingida pelo clarão vermelho um segundo antes de
ter invocado a barreira. Comecei a chorar, era tão injusto, agora que tinha
conhecido a mãe que nunca tive, ela iria juntar-se à colecção de
troféus da morte.
- Minha querida, não chores... Eu
já sabia que isto me iria acontecer. Estava escrito nos astros.
- A senhora não pode morrer, tem
que haver alguma solução.
Foi então que me lembrei do Colin,
só ele teria o poder para a curar. Chamei várias vezes o seu nome mas ele não
apareceu.
- Não vale a pena chamares pelo
rapaz dos olhos azuis porque não irá aparecer. Nos meus sonhos falei muitas
vezes com ele e pediu-me para te ensinar a controlar os teus poderes, mas também
me avisou que se o mal caísse sobre nós, a única pessoa que ele salvaria eras
tu.
Depois de dizer estas palavras, a
Sra. Morgan fechou as pálpebras e caiu nas profundezas mais escuras do inferno.
No dia seguinte, enrolei o corpo dela
num lençol e, banhada em lágrimas, enterrei-o ao pé do grande pinheiro que se
encontrava a dois metros da cabana. Apesar de saber que devido à sua condição
de bruxa ela iria para o inferno proferi as seguintes palavras:
- Que os anjos estejam consigo.
Nesse momento, Colin apareceu à
minha frente e ficou parado a olhar para mim como se fosse a primeira vez que
me visse. O silêncio constrangedor do nosso primeiro encontro fez com que eu
ficasse outra vez pregada ao chão.
- Tenho um trabalho para ti. Quero
que vás até à Escócia.
- Até à Escócia? Hum... Tenho que
ficar a guardar a propriedade da Sra. Morgan. – Estava completamente irritada
com ele. Como é que ele tinha sido capaz de dizer a uma velhota que se ela estivesse
em perigo não a ajudaria.
Eu estava a desafiá-lo mas ele
simplesmente sorriu e como se fosse uma brincadeira, passou as mãos pelo meu
cabelo e disse:
- Parece que descobriste a única
maneira de lidares comigo.
Poisou os lábios na minha testa e
uma série de imagens percorreu a minha mente, até parar numa que despertou a
minha atenção.
Uma mulher loira de olhos azuis
encontrava-se no quarto do que parecia uma penthouse bastante luxuosa,
entretanto um homem entrara na divisão, e os dois começaram falar qualquer
coisa que não consegui perceber, pois a minha cabeça começou a doer e as minhas
veias pareciam que iam estoirar. Era a segunda vez que Colin me fazia aquilo,
mas desta vez não me deixara cair no chão. Agarrou-me a cintura com os dois
braços e sussurrou ao meu ouvido.
- Quero a alma daquele homem. E em
relação à propriedade da Sra. Morgan, fica descansada eu próprio cuidarei
disso.
Parece que este ser misterioso e
que tanto me atraia gostava de ser desprezado.
Antes de desaparecer novamente no
ar, Colin perguntou-me.
- Não tens nada contra vampiros
pois não?
- Até agora nunca vi nenhum, mas
porquê?
- Nada de especial. É melhor teres
cuidado com eles, especialmente com a loira que viste na tua visão.
Não liguei muito a este comentário,
pois já que me ia embora daquele sítio estava mais preocupada em vasculhar o
lugar que devia ser o mais emocionante da floresta.
Entrei no alçapão e, com a chave
que antes pertencia à minha professora, abri a porta prateada, quando entrei na
sala e olhei para o pentagrama que ainda se encontrava desenhado na mesa, a
noite em que vi as quatro bruxas a invocarem os elementos passou como um flash
pela minha cabeça.
Aquela sala mesmo depois de eu me
ter tornado aprendiz, tinha-me sido negada a entrada. Pois, segundo a opinião
de todas as bruxas que conheci, ela continha objectos e livros que eu ainda não
tinha capacidade para entender. Dei uma vista de olhos pelas estantes cobertas
de pó e aquilo que mais me chamou a atenção foi um caderno que tinha vários
feitiços e que certamente me ia ajudar no futuro.
Após ter-me certificado que tinha
dentro da mochila o cofre das almas e que não me faltava nada para começar uma
nova etapa, olhei para aquela cabana e senti que um dia voltaria lá.
A minha viagem até Inverness foi
bastante calma, fiz-me passar por uma senhora de um estrato social alto e
consegui um bilhete de barco sem ter de pagar nada.
Há séculos que tento seguir o rasto
desse tal homem que vi na minha visão, mas sem sucesso. Esta noite, encontro-me
num pub tipicamente scotish decorado com aquelas enormes canecas de cerveja que
os escoceses tanto gostam de ostentar, passo um olhar rápido pelo relógio de
cuco e apercebo-me que já passa da meia-noite… Era altura de procurar novamente
pistas sobre aqueles dois desconhecidos. Não sabia quando os encontraria, se é
que iria encontrá-los alguma vez.
Comentários
Enviar um comentário