Inverness Season - Ep 15, Trish

De louca desvairada amaldiçoada por um contrato a aprendiz de bruxa ficava apenas um pequeno passo. Ou, pelo menos, era o que Trish parecia querer fazer. Não bastara o incêndio no hospício, teria de provocar problemas ainda maiores. O que lhe reservaria a vida agora?

“Elements” by Trish Rayven


Numa noite de lua cheia, consegui satisfazer a minha curiosidade.
Após ter passado algumas semanas com aquela velhota, descobri que esta não era propriamente o que se podia chamar de normal. Para além de ter um corvo como animal de estimação, andava sempre com uma chave velha e ferrugenta ao pescoço. A verdade é que eu estava cheia de curiosidade para saber o que aquela chave abriria.
Nessa noite de lua cheia, consegui ter respostas para cada uma das minhas questões. Encontrava-me já deitada quando, acordada pelos uns murmúrios muito suaves, me levantei e apercebi-me que os sons ecoavam do lado de fora da cabana. Descalça e com uma leve camisa de dormir vestida, abri a porta e os meus pés tocaram a neve gelada, estava bastante frio mas como a vontade de saber a origem daquele ritual falava mais alto, segui os meus ouvidos. Conforme me ia aproximando os murmúrios que, ao princípio eram suaves, deram lugar a cânticos estridentes numa língua estrangeira que nunca tinha ouvido antes. Olhei ao meu redor e a floresta continuava deserta, foi então que senti os meus pés vibrarem. Sentei-me no chão e afundei as minhas mãos na neve, escavei até bater numa superfície quadrada de madeira. Era um alçapão, levantei a porta e entrei naquele buraco escuro sem pensar duas vezes, começava a gostar da sensação de estar em perigo. Talvez porque pensava que a minha imortalidade me protegeria de qualquer coisa que aparecesse no meu caminho. Comecei a tactear, aquilo que parecia um corredor, até que uma linha de luz surgiu à minha frente. Ao fim do corredor uma porta de um material prateado e com uma cavidade onde caberia perfeitamente uma certa chave enferrujada estava encostada. Espreitei por entre a frincha e descobri aquilo que, passado uns meses, seria o meu presente.
Numa sala iluminada à luz de candelabros, encontravam-se quatro mulheres que rezavam em voz alta. A mesa à frente delas possuía uma espécie de pentagrama desenhado, onde em cada ponta repousava uma esfera transparente. De repente todas se calaram e quatro cores diferentes começam a emergir das esferas. Uma das mulheres virara-se para as outras e proferiu a seguinte frase:
- Irmãs, agora que já temos os quatro elementos reunidos nesta sala, está na hora de invocarmos o quinto.
- Bruxas? Será possível que com tantos sítios no mundo eu tinha que vir cair mesmo no meio delas?
Estas palavras ecoaram no corredor e fizeram as bruxas dirigirem-se para a porta. Nunca pensei que os meus pensamentos me traíssem.
Como se a minha existência depende-se da vergonha que estava a sentir, comecei a correr e consegui chegar à cabana, antes que as bruxas percebessem quem era o intruso que as andava a espiar. Enfiei-me nos cobertores à espera que a qualquer momento as quatro mulheres me reduzissem a cinzas, mas por incrível que pareça nada aconteceu. O meu estado de ansiedade fez-me cair num sono profundo sem sonhos.

De manhã a ansiedade da noite anterior ainda me atormentava, mas a verdade é que continuava tudo igual, o mesmo jarro de lírios na mesa do pequeno-almoço, o mesmo vestido roxo pendurado na cadeira ao lado da cama, a única diferença era que a velhota sorridente e desdentada tinha desaparecido como por magia. Andei o dia todo a pensar onde a minha salvadora poderia estar, até que ao anoitecer olhei pela janela e vi um vulto de capa preta do lado de fora da cabana. O vulto chamava o meu nome e pelo tom de voz percebi que era ela. Quando sai para a cumprimentar o sorriso reconfortante que era a sua melhor característica tinha dado lugar a uma expressão séria que a sua cara enrugada acentuava ainda mais. A Sra. Morgan pousou a sua mão no meu ombro e disse:
- Trish, o ritual que assististe ontem só pode ser presenciado por bruxas, por isso agora vais sofrer as consequências.
- Consequências?
Quais poderiam ser as consequências para mim se a maior delas estava eu a sofrer naquele momento. Até agora tinha pensado que não podia existir nada mais extremo do que estar morta, mas parece que as bruxas tinham descoberto algo sugestivo para mim. Achei a situação hilariante e estava preparada para me rir às gargalhadas na cara da Sra. Morgan, quando esta bloqueou completamente o meu sorriso ao dizer que a partir daquele momento passaria a ser sua aprendiz.
- Aprendiz de bruxa? Eu? Sou a pessoa mais desastrada e insegura deste mundo é impossível alguma coisa me correr bem.
- Minha querida a confiança será adquirida com o tempo, e além disso, eu já tive uma amostra suficiente das tuas potencialidades. Ou já não te lembras quem incendiou o asilo de Saint Martin?
Na minha cabeça a palavra impossível começou a ter formato. Era impossível ela saber uma coisa dessas pois, apesar de ainda nos encontrarmos dentro da floresta, esta era demasiado grande para alguém reconhecer todos os seus recantos.
A Sra. Morgan ainda séria mas agora um pouco mais descontraída disse:
- Vamos começar a nossa primeira lição. Para uma aprendiz se tornar uma verdadeira bruxa, tem de conseguir apreender e dominar os quatro elementos. Visto que tu já apreendeste a usar o fogo agora só tens que o dominar.
Após ter introduzido a lição, tirou do bolso uma esfera igual às das quatro mulheres que tinha visto na noite passada.
- Quando esta esfera ficar vermelha na tua presença isso significa que conseguiste dominar o elemento que corresponde ao fogo.
- E quando eu conseguir dominar todos os elementos?
Esta pergunta fez a bruxa soltar uma gargalhada tão grande que quase caía no chão
- Quando conseguires dominar os quatro elementos a esfera deve ficar preta, mas bem podes esquecer porque em toda a história da feitiçaria só duas bruxas é que conseguiram alcançar esse feito.
A resposta que a Sra. Morgan me deu foi o suficiente para eu querer desistir daquilo tudo, mas de repente lembrei-me do contrato. Aquele maldito contrato que tinha feito com o Collin, não passava pela minha lista de preocupações a partir do momento que pus os pés naquela cabana. Se o meu objectivo era coleccionar almas teria que apreender algum tipo de defesa, por isso ser bruxa era o ideal.
Passei o resto da noite a tentar queimar uns arbustos ou a derreter neve, mas as únicas coisas que consegui chamuscar foram os meus dedos.
Comecei a assistir a todos os rituais no alçapão e a Sra. Morgan fazia questão que eu tirasse notas e que estivesse com muita atenção, o que não acontecia visto que a meia hora do fim eu já estava a dormir na cadeira. A minha professora apesar de estar constantemente a gabar-me às outras bruxas fazia-me trabalhar o dobro do que a uma aprendiz normal. Alegando que por eu apreender rápido não podia ser preguiçosa, mas a verdade é que ela sabia muito bem que um mal terrível estava para chegar e que seu fim estava breve.

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