Inverness Season - Ep 13, Vladimor
Agora que Vladimor tinha um lugar onde poderia chamar lar e que criara uma nova amizade, era altura de voltar às suas actividades e divagar pela sua floresta. Mas, algo surgiria pelo seu passeio, qual seria a nova loucura que se atravessaria pela sua vida? Talvez os ventos estivessem a seu favor…
“Rising” by Vladimor Iorganov
Não sabia que poderia
ser algo tão estranhamente fascinante! Voltar a falar verdadeiramente com
alguém é um mistério que estou a redescobrir! Um dia simples, como todos os
outros já passados, transformou-se num de incríveis mudanças…
Foi assim que começou a minha cabeça a trabalhar, com os
primeiros raios de Sol.
Este bosque sempre foi
algo que me fascinou, mas agora... Agora é algo que me deslumbra de tanta
curiosidade que me cria! Estes vampiros que se instalaram numa mansão, antes
toda ela feita em nada e, agora, toda ela recuperada. E o melhor de tudo isto é
que eu agora vivo com eles, mesmo que os mitos digam que o mais provável é eu
acordar sem uma gota de sangue no corpo, ou simplesmente que acabemos por
entrar todos em conflito! Mesmo assim... Mesmo assim acho sensato ficar por cá
para poder voltar a entrar na sociedade!
Apenas uma cama velha e uns armários que mais ninguém quis
constituem a mobília da minha divisão. Apesar disso, não é nada mau,
considerando o tempo que dormi junto a musgos e líquenes no bosque, ramos de
árvore a cobrirem-me, o orvalho a acordar-me... Até que não me senti mal nessas
condições, mas isto é considerado uma subida na vida! Saí então do meu novo
quarto... Notei que estavam todos a dormir refastelados ou então, simplesmente,
podiam ter saído para qualquer lado...
- Muito bem! Não me restringiram a aqui ficar, por isso vou
dar uma corridinha ao bosque! Visto não ter mais nada a fazer e, além do mais,
não quero incomodar a pedir o que quer que seja a alguém dentro da casa, nem
mesmo a Miss Carmen.
E começou a minha corrida por entre os magistrais pinheiros.
Saltos e piruetas sobre os pedregulhos. E porque não uma refeição? Afinal de
contas a corrida matinal tem de ser recompensada de alguma forma! Finalmente,
no bosque que me é tão familiar, no seu interior mais profundo, ao pé de um
lago cristalino e imaculado avistei a minha presa - uma bela lebre! Como
pequeno-almoço sabe bem!
E calmamente me aproximei... Pouco ou mesmo nenhum ruído fiz,
enquanto me aproximava o suficiente, para agarrar pelas orelhas o meu
pequeno-almoço!
Depois de me reabastecer, despi-me, entrei no lago, e nadei,
nadei, nadei... Até me afastar do bosque e no centro da água fria e cristalina
ficar...ali...naquelas águas azuis. Pensei em tudo, flashes vieram à tona,
arrepios de prazer e satisfação percorreram-me o corpo, para logo depois se
transformarem em dolorosas memórias de um passado que queria para sempre
encerrar mas ao mesmo tempo enfrentar! Algo me despertou deste infindável
transe! Algo na margem do lago... Mas que
força, que energia, quem poderá ser? Para a margem oposta, a que tinha
iniciado o meu percurso, me dirigi!
Escondido entre arbustos e ainda a pingar, sorrateiramente
me fui deslocando. Isto é surreal!
Ninguém é capaz de ter assim tanta energia... Pelo menos humanos... a não ser
que de um mago se trate, mas hoje em dia acho que não é o forte dos mortais...
Mesmo que os meus instintos me dissessem que não, continuei até me deparar com
algo que nunca julguei poder ser real: uma Dama do Bosque, aquelas a quem
muitos chamam de ninfas outros de dryads... Fascinante!
- Vladimor Iorganov! Escusas de te esconder que bem sei que
estás aí! – Que voz tão... Magnífica...
- Mil perdões. Não era minha intenção ofender-vos do que
quer que fosse! – A minha voz tremia de êxtase, fascínio e temor, tudo em
simultâneo.
- Não te escuses... Nem utilizes uma linguagem de tamanha
reverência! Não é necessário de modo algum! – A voz dela soou doce como mel.
- Mas, não sois uma Dama do Bosque?
- Sim, sou! E que direito tenho eu de ser superior a alguém
que é tão antigo quanto eu? – Só podia estar a alucinar... Uma Dama do Bosque
que me trata como se de um igual fosse para ela! IMPOSSÍVEL!
- Então que idade julgais que tenho?
- Nasceste numa noite de Inverno sob a estrela negra! Tens a
mesma idade que eu, mil quatrocentos e vinte anos de existência e, apenas
quinze destes como humano...
- CHEGA! – Com aquelas palavras a raiva despontou-se do nada
e abateu-se naquela única palavra. A dryad pareceu triste, mas compreendeu o
porquê como se me conhecesse tão ou até melhor que eu mesmo. – Perdoe-me... Não
é um assunto que tenha muito prazer a falar...
- Também o sei... Durante estes três séculos que aqui
viveste, senti todas as tuas preocupações e medos enquanto dormias! Sei do teu
passado através dos sonhos que partilhavas com este bosque! Afinal de contas,
tudo tem e estabelece relações, quer queiramos quer não!
- Contudo, nada sei a respeito de alguém que a minha mente
espreitou... Dama do Bosque, porque vos apresentais a mim então? – Depois de
tudo isto ouvir, percebi que só podia ser um motivo superior, nada mais faria
com que...
- Porque assim o quis! – Retiro o que pensei... Não faz
sentido!
- Como assim? Isso não faz sentido...
- Porque tem tudo de fazer sentido, Vladimor Iorganov? – Os
olhos dela suspiravam como se algo a tivesse ofendido.
- Pois sois uma Dama do Bosque!
- E uma Dama do Bosque tem de agir como, senhor Lobisomem? -
Aquela pergunta tinha mais peso do que ela própria pensara... Os lobisomens têm
por hábito ser selvagens ou então ter um mestre a quem servir, mesmo que o
façam contrariados! Nenhum destes casos é o meu! Nasci homem para me tornar
lobisomem por maldição imposta a toda a minha família! – Não dizes nada agora?
– Um passado do qual não me lembro! Voltei a mim anos e anos mais tarde, quando
fui capturado por Petrov, o mago, aquele que me ensinou a controlar-me. Aquele
a quem chamei de amigo. Aquele a quem de pai chamei, durante uma grande parte
da minha vida tranquila, mas tal mudou completamente quando um dia... –
Vladimor?!
- Não sou eu quem dito as regras da Natureza, Dama do
Bosque! Não foi nunca minha intenção vos ofender. Porém, não estais no direito
de espreitar a memória de alguém sem que a sua autorização vos seja concedida,
pois mesmo para entrar neste bosque pedi autorização e nada me foi dito para
que voltasse para trás!
- Como te atreves a...
- E mais, Dama do Bosque, não me atrevo a desafiar a vossa
autoridade! Peço apenas que a privacidade me seja concedida... Agora voltarei
pois percebo que as minhas palavras vos estão a magoar... Talvez um dia nos
voltemos a encontrar, mas de momento voltarei para junto dos vampiros da
mansão.
- Espera! – Disto não estava mesmo à espera... – Não era
minha intenção ofender-te de nada! Não quero que fiques chateado, Vladimor...
Não lido com facilidade a que falem comigo de igual para igual... Apenas com
deferência ou desrespeito... Estou bastante, e já o suficiente, magoada com os
humanos que me têm tentado arrasar! Não quero perder uma das mentes que sempre
me conta uma história à noite... uma história longínqua! Uma história bela ou
de terrores desconhecidos! Peço perdão pelo fascínio que me trazes Vladimor! – INACREDITÁVEL!
E enquanto estes perdões se repetiam ela aproximava-se da
minha figura e foi aí que vi o que a beleza era realmente! Pele imaculada!
Olhos em forma de pequenas avelãs e de uma cor indecifrável! Corpo apenas
coberto com eras entrelaçadas e folhas de plátano douradas, como as que vemos
no Outono! Braços esguios e pernas definidas! Seios redondos e apetecíveis!...
Toda ela emanava desejo enquanto se movia, lenta e sedutoramente... Parou a
escassos passos de mim e as palavras que da boca esculpida saíram não as
consegui perceber... Estava embriagado com toda aquela voluptuosidade!!! Até
que um beijo lânguido e apaixonado me fora dado, deixando-me com o paladar de
amoras silvestres!
Quando recuperei a percepção já era noite... Estava com as
roupas a meu lado e do lado onde começara a travessia! Não acreditava! Só podia
ter sido um sonho... Mas então porque
ainda tenho o corpo a tremer e a boca com o aroma de amoras silvestres?
Simplesmente não fazia sentido, contudo vesti-me e pus-me a caminho da mansão!
O sono apoderou-se de mim sob a noite escura e Lua
brilhante... Incríveis são as sensações que nos preenchem quando chegamos a um
patamar diferente do da realidade! Sentimo-nos estúpidos e simplesmente
deixamos de pensar como deveríamos! O que é isto que me estava a fazer ficar
assim? Parvo, contente e amargurado ao mesmo tempo? Não sei, mas irei
descobrir! E com isto em mente, o sono colheu-me no seu abraço e as estrelas
guiaram-me para a Lua!
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