Moscow Season - Ep 26, Sheftu
Todas as peças de um puzzle que vinham de um passado distante se juntaram, dando-lhe a certeza de quem esse homem misterioso era. A vontade de eliminar todo aquele passado que via diante dos seus olhos se fez em tons infernais. Ouviam-se gritos e gemidos de puro terror dentro daquela casa, e ela adoraria ver a cara de Eric quando visse o que ela tinha feito.
“Disaster On And On” by Sheftu Nubia
Se queria que tudo corresse exactamente como eu desejava,
teria de ser o mais rápido possível antes que alguém pudesse sequer tomar
consciência do que estaria prestes a fazer... A empregada ainda estava a
observar-me, talvez esperando que eu dissesse qual seria o nosso próximo passo.
Meu sorriso ainda se alargou mais, pensando em puder ou não salvá-la de tudo
isto. Pensei um pouco em todos estes últimos dias, da minha fuga com a
Samantha, da reacção que ela teve em Itália...
- Podes fazer-me um favor? – Disse-lhe, sorrindo ainda mais.
Certamente nunca negaria nada do que eu lhe pudesse pedir, o que era óptimo!
- Diga minha senhora...
- Poderias ir à cidade mais perto comprar-me um vestido
negro que seja o mais arrojado possível?
- Mas, Senhora... Eu não tenho forma como comprá-lo... E não
tem no armário nenhum vestido que a satisfaça? – Eu sorri ainda mais, tinha de
ser o mais discreta possível, simpática e mandona.
- Eu te darei o meu cartão de crédito e viajarás agora
mesmo. Leva o meu telemóvel que deve estar no quarto de Eric para caso
necessite de comunicar contigo.
- Se é o seu desejo senhora... – Baixou sua face e esticou o
braço à espera do cartão. Mal lho dei ela partiu para o quarto, fazendo tal e
qual o que lhe tinha pedido. Simplesmente esta mulher me alegrava, seria ela
capaz de fazer tudo sem questionar nada? Ou haveria certas coisas que a fariam
recuar?
- Sim, é o meu desejo. Vai rapidamente, necessito imenso
desse vestido. – Mal minha frase acabou, já ela tinha saído do meu campo de
vista, agora era a hora da festa!
Arranquei a porta rapidamente, entrando para o suposto salão
que Eric tanto protegia. Meus olhos se arregalaram quando se dirigiram para o
quadro à minha frente, por cima da lareira. Era simplesmente eu, mas numa época
diferente... Observei o resto das paredes, a maioria dos quadros eram da tal
“madame” que a empregada tinha falado. Essa seria supostamente eu, aquando da
hora em que estive por cá. A hora em que salvei um menininho e o entreguei a
uma família de feiticeiros... Minha boca se cerrou, minhas mãos se fecharam
fortemente, minha cabeça finalmente tinha desvendado tudo isto. Ele era o
menino...
Minha mente tentou relembrar-se novamente do plano traçado.
Não importa quem ele poderia ser, o que importava realmente era o que se tinha
tornado, no que ele me tinha tornado.
Procurei por toda a casa, toda ela era formada à base de
madeira. Isso facilitaria o meu trabalho, tudo o que pertencia ao passado iria
desaparecer. Tentei encontrar uma garagem, para que pudesse ter um pouco de
gasolina ou gasóleo para espalhar por toda a casa.
Eric estava encostado a um carro, ao telefone, pelo que eu
estava a entender parecia que Carmen se tinha metido em sarilhos e agora ele
estava a tentar arranjar forma de salvá-la sem levantar muitas suspeitas. Mas
porque ele ajudaria Carmen? Acreditava que havia algo mais que não ainda não
sabia nesta história toda... Ele começou a caminhar em direcção à floresta,
desligando o telemóvel e seguindo rapidamente, desaparecendo pouco tempo
depois... Comecei novamente a respirar, tinha travado tudo o que era humano em
mim para que ele não desse pela minha presença. Mas agora era a hora de por
mãos ao trabalho! Respostas viriam depois!
Esperava calmamente perto da casa encostada a uma árvore, à
espera que Eric aparecesse de novo. Os gritos de horror que se ouviam lá dentro
me faziam sorrir, um verdadeiro espectáculo!
- SHEFTU! – Algo me dizia que a festa ainda agora tinha
começado... Virei-me para a área em que a voz me tinha chegado e vi toda aquela
fúria descontrolada a aproximar-se. Seu rosto estava duramente fechado e todo o
seu corpo tenso. Sim, tinha tocado mesmo em algo que ele gostava...
- Sim, que desejas? – Perguntei sorrindo, vendo-o a apenas
uns pequenos metros de mim, tinha parado. Talvez para tentar controlar-se,
afinal de contas estava totalmente descontrolado. O que era óptimo de se ver,
simplesmente perfeito!
- Porque fizeste isto? – Disse, levantando o seu braço para
a casa em chamas sem sequer olhar.
- Pensava que estavas com frio, por isso resolvi aquecer-te
um bocadinho... Não gostaste da surpresa? – Meu olhar certamente deveria de
estar a brilhar. Uma situação que me divertia, e não conseguia esconder-lhe.
- E resolveste incendiar a minha casa? – Passou a sua mão
pela sua cara, olhando de novo para mim... Parecia um pouco mais calmo, apesar
do rosto permanecer duro. – Encontraste os quadros, não foi? Destruíste a casa
por causa dos quadros... É mesmo algo que deveria esperar de ti!
Virou-me as costas, ficou imóvel por uns minutos que
pareciam mais séculos. Que estará ele a fazer? Observou por uns minutos a casa
e ligou a alguém, pedindo que nos fosse buscar rapidamente. Poucos segundos
depois já estava ele como sempre... Pegou no meu braço e seguimos rumo a uma
estrada de terra, chegando a um helicóptero. Mas que bela comitiva!
Entramos e seguimos viagem, não sabia bem onde mas também
não perguntei. Eric observava a paisagem que passava rapidamente pela janela,
seu silêncio demonstrava que aquela casa deveria ser algo que me traria graves
consequências. Não tinha importância, eu faria tudo de novo se fosse
necessário.
Finalmente tínhamos aterrado, Eric agarrou a minha mão e me
puxou para fora, estávamos de novo em Moscovo. Tinha um Hummer cinzenta com uns
três corações a bater... Seria lanche? Eric olhou para mim com um tom bastante
grave que me surpreendeu, o que tinha eu feito? Ah, certo... Incendiei a casa.
Mas pelo menos mandei a rapariguinha comprar-me um vestido, tinha-a salvado a
ela. Deveria de contar não?
- Leva-nos para uma loja de roupa de senhora, faz favor. –
Pronunciou Eric ao marmanjo que conduzia. Que iríamos fazer agora? Incendiar
uma casa de moda?
Mais uma vez Eric olhou para mim, parecia querer
responder-me a algo só que eu não tinha dito nada...
- Sai. – Disse Eric para mim, depois de termos parado mesmo
em frente de uma loja e ele ter saído, esticando uma mão para que eu me
segurasse. Absolutamente ridículo, mas lhe daria um pouco de paz, a casa já
tinha sido bastante por hoje.
Era de dia ainda, um dia até bastante radioso... Entramos na
loja e Eric seguiu directamente a um vestido negro, chamando a vendedora com a
mão.
- Gostaria de levar este vestido. – Disse ele,
agradavelmente à mulher.
- É para levar já ou enviaremos para sua casa? – Perguntou,
bastante profissional. Pudera, estávamos numa requintada loja de Moscovo.
- É para vestir. – Respondeu-lhe, virando-se para mim. – Vai
com a Madame e veste-te. Eu esperarei aqui.
Fiquei surpresa com as palavras dele. Para que precisava eu
de um vestido?! A sua expressão demonstrava grande seriedade em cada palavra
que ele dizia. Fui sem dizer nada, vesti-me e voltei. Ele já não lá estava, saí
para a rua e também o Hummer tinha desaparecido. Completamente estranho...
Por breves momentos pensei nas opções que tinha: voltaria
para a penthouse ou seguiria Eric para ver o que se passava. Ainda nem tinha
decidido e já procurava pelos seus batimentos cardíacos. Comecei a caminhar,
várias pessoas me observaram, como se nunca me tivessem visto. Sim, era
verdade, mas não deixava de ser estúpido.
O som estava cada vez mais perto, parecia que provinha de um
motel extremamente horrível, com a fachada decadente, sem qualquer cor, alguns
estores estavam partidos e tortos, sem falar na placa com o nome do hotel que
já nem tinha luzes. Parecia um filme de terror... Fazia-me rir! Bem, havia
agora aquela hora em que eu entrava e tudo acontecia...
- Bom ver-te de pé, Carmen. – Disse um pouco surpreendida,
ao ver Eric e Carmen descendo pelas escadas. O aspecto dela deixava muito a
desejar... – Xiii... Estás cheia de sede. Olha-me para esses olhos.
Eric olhou-me com um pouco de rancor ainda, vindo
rapidamente em minha direcção, parando mesmo próximo de mim e tentando falar-me
de uma forma que Carmen não pudesse ouvir.
- Vieste agora pegar fogo aqui também? – Murmurou ele, quase
inaudível.
- És incrível! – Respondi quase num sufoco.
- Eu é que sou incrível? Fui eu que incendiei a minha casa e ainda sorria? – Sim, ainda
estaria chateado por muito tempo...
- Claro que foste tu... Não foste tu que tinhas os quadros?
- Supostamente uns quadros
que não seriam para veres...
- Pois, calculei que sim...
- Então já sabes?
- Sei o quê?
- Sabes muito bem do que estou a falar.
- Não sei não...
- Olha...
- CARMEN! – Rapidamente minha cabeça se dirigiu para de onde
vinha o som, um ser humano dirigindo-se a Carmen. Estaria Eric aqui para
ajudá-la com algo mal resolvido? - Não...
Corri o mais rapidamente rumo a esse ser medíocre, não tinha
muito mais a destruir, seu estado já era degradante, mais do que um ser humano
habitual. Apenas uma dentada e tudo se resolveria... Prostrei-o no chão e,
instintivamente, o homem tentava conseguir defender-se sem grande sucesso.
Sorri rapidamente antes de dar-lhe o último momento de vida... Seu cheiro era
verdadeiramente interessante, seu sabor talvez fosse ainda melhor!
- NÃO! – Gritou Carmen... O quê?! Que se passa com ela? Ah,
o seu sentido humano... Ridícula.
Empurrou-me dele, puxando-me pelo cabelo e encostando-me à
parede... Isto sim, ele em risco a despertava algo que custava ver em dias
normais. Seria algo a testar várias vezes, bastante engraçado. Teria já provado
o seu sangue? Era incrível, caso ela o usasse como seu banco de sangue. Se o
fosse, eu iria rapidamente descobrir. Talvez seu sangue valesse a pena para que
continuasse vivo... Absolutamente intrigante...
- Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric... –
Empurrou-me novamente. Sim, estava decidida em mantê-lo vivo, mas porquê? –
Encostas um dedo no Dean e eu arranco-te a cabeça.
Não consegui suster a gargalhada que rapidamente saiu de
minha boca, era incrível ouvir essas palavras da sua boca... Afinal sempre
havia alguma parte sem pudor nela, precisava apenas de ser bem moldada...
Talvez com mais raiva ainda, talvez...
- Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti... –
Respondi-lhe numa tentativa de a enfurecer mais... Até onde ela iria? Talvez
não era a melhor altura para fazermos isto, creio que há muito ainda por
descobrir antes de alguma de nós acabar com a outra... Para uma próxima vez,
sim... Uma próxima vez!
- Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar
vampiros que nem te passam...
- Que tremo toda! – Ahahah... Era absolutamente agradável,
tanta fúria, tanta raiva... Pena ser tudo provocado por um mero humano. Ela
devia de ser assim mais vezes, absolutamente!
- Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó,
não é difícil fazer vergar... – Encarou-me com mais intensidade. – Quebras num
estalar de dedos!
Uma coisa era brincar aos heróis, outra bem diferente era
tocar no meu passado! Afinal, não era
possível uma próxima vez... Teria de ser agora! Carmen rapidamente deu um passo
para trás, vendo-me a começar a avançar sobre ela... Isto iria prometer! It’s
show time!
- Chega! – Ordenou Eric, metendo-se entre mim e ela, olhando
para mim furiosamente e estendendo o dedo para as escadas. – Sheftu, vai.
- O quê?! – Respondi impulsivamente. Era injusto!
- Vai! - Pediu novamente. Olhei para ele enraivecida, com
uma promessa de que isto não iria ficar assim tão simplesmente, ele me olhou de
volta, estava ainda bastante furioso com a minha pequena brincadeira. Desci as
escadas e não resisti, dei um pontapé no homem deitado no chão. Isto sim era
algo de útil! Sorri largamente e gargalhei alegremente, por mais que quisessem,
eu faria o que quisesse. Estavam com sorte de eu ainda estar fraca. Mas isso
não seria por muito tempo...
Saí do motel e sentei-me no interior do Hummer, esperaria
por aqueles dois até que decidissem sair. Era de dia ainda, mas o sol não me
atravessava a pele, o carro tinha sido estacionado na sombra. Como era ridículo
esperar!
Passados alguns minutos, Eric e Carmen finalmente tinham
chegado, entrando na parte de trás do carro. Como se teriam tornado tão
cúmplices? Será que tudo isto, desde que conheci-a, não passava de um simples
trabalho? Estariam os dois a desenharem algum esquema todos estes anos que eu
não soubesse? Era impossível... Não era nada disso que estava a acontecer. Não
podia...
- Carmen... – Disse Eric, fazendo Carmen voltar-se para ele,
dando-lhe uma garrafa prateada. – Não faças perguntas.
- Eric, sabes que não gosto que me dês o teu sangue...
Ele abriu um sorriso gigante, chegando-se mais perto dela. O
que se passava aqui que eu ainda não tinha apanhado?
- Não sejas tola, eu preciso de ti inteira, Carmen. – Meteu
a garrafa entre as suas mãos. – E sangue, repõe-se! Agora, bebe.
- Estou assim tão mal?
- Hedionda! Faz anos que não te via assim tão sedenta e
irada. – Eu simplesmente estava num meio de um pesadelo surreal, e nem dormia! –
Tens os olhos totalmente vermelhos agora. És um fenómeno a estudar, Carmen.
Havia algo nestes dois que eu não entendia, não conseguia
compreender nada do que se passava. Não me parecia que sequer se importassem
com isso. Simplesmente adoravam ignorar-me. Brilhante! O sangue dele era apenas
mortífero para mim, logo eu que o quero matar mais do que tudo neste mundo!
Mas como estes dois se conheciam?! E porquê tudo isto?! Tanta
proximidade e total liberdade... Não sei porquê, mas não gostava mesmo nada
disto tudo. Este momento começava a enervar-me.
Quando finalmente olhei para a janela, o Hummer já tinha
parado em frente à porta do hotel mas, não saímos.
- Temos que arranjar maneira de saíres, Carmen. – Disse Eric
pensativo.
- E a Sheftu? – Perguntou ela. Ah, agora já se lembrava de
mim?! Pois, há pouco não parecia mesmo nada que se importava sobre o assunto...
- Não é preciso... – Abri a janela e coloquei o braço de
fora. Sua cara de espanto fez-me sorrir. – Eu não preciso de feitiços, para
nada.
- Isso não faz de ti uma melhor vampira. – Acusou-me, sentia
que talvez houvesse um tom de ciúmes. – Torna-te apenas uma aberração...algo
esquisito...
- Motivo de inveja. – Sim, era o que ela mais tinha neste
momento.
- Para quem não tem algo melhor que invejar. – Contestou,
tentando mudar de assunto, mas não!
- Como tu. – Sorri, tinha mesmo batido no sítio certo. Via
que ia começar a festa...
Rapidamente o meu sorriso desapareceu ao ver Eric tocar-lhe
no braço, pedindo silenciosamente para parar. Absolutamente incrível! Quem era
ele para se meter em tudo?! Quem?! Vi o olhar de Carmen bater no meu,
virando-se rapidamente para a janela, fazendo-me seguir a direcção do seu
olhar.
Samantha aparecia na entrada, longe dos raios de sol, para
que não virasse cinza. Pelo seu olhar, algo me dizia que tinha encontrado mais
novidades... Era apenas uma questão de tempo para que tudo fosse dito.
Rapidamente tudo tremeu, Samantha caiu no chão e todas as
pessoas que a rodeavam. Acredito que ninguém esperava tal coisa, mas de onde
todo este barulho provinha? Observei mais atentamente e vi que algo tinha
explodido, algo do nosso hotel pois caiam vidros e alguns fragmentos de outros
materiais.
- Vidro? – Ouvi Carmen dizer, simplesmente estupefacta com
esta situação, como todos nós.
- SAÍAM DO CARRO!! – Gritou Samantha nos alertando para o risco que todos nós já devíamos
de calcular. Algo vinha ao encontro do carro.
Começaram a cair objectos mais pesados sobre o carro, saí
rapidamente e me escondi nas sombras sem que ninguém pudesse ver-me. Passado
poucos segundos também Eric estava do meu lado, mas havia algo de errado...
Olhei para o Hummer, não podia acreditar no que via, um
enorme objecto de betão caía directamente no carro, e Carmen ainda estava lá
dentro! Eu não acreditava que ela pudesse ter ficado lá dentro, não podia ser!
- Tem calma que tudo se resolve rapidamente... – Disse-me
Eric, observando a minha expressão com preocupação. Sim, eu devia de estar com
uma cara digna de se ver!
- Eu estou calma... – Ele suspirou, seguindo para o local do
acidente, tentei segui-lo, mas ele me pediu com a mão que permanecesse onde
estava. O que tinha sido tudo isto?!
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