Moscow Season - Ep 25, Carmen

Depois da enorme confusão que ela se metera, estava agora a passos do seu fim. Teria coragem para matá-lo? Conseguiria escapar? Estes jogos psicológicos que fazia com ele eram tão fortes quanto a atracção que os unia na loucura da sua existência. Como desejá-lo tanto, ao ponto de deixar que a sua existência fique em risco? Tinha de haver alguma solução, algo que resolvesse tudo de uma vez. E ela só pensava numa…

“Fatal” by Carmen Montenegro


- Deixa-me, sair! – Exclamei com fulgor, empurrei-o de volta e Dean agarrou-me pelo pescoço.
- Não... – Olhou-me no fundo dos meus olhos e sorriu. – Hum...estás a começar a ter aquela sensação de que não devias ter vindo atras de mim, certo? Devias ter ouvido o Eric. Ele é a voz da razão…
- Como é que sabes do Eric?
Ele suspirou enfadado.
- Eu sei tudo da tua vida... – Ele aproximou o seu corpo ao meu e eu senti de novo aquele soco de desejo no estômago. – Tinha de saber ou seria um “perseguidor” que se preze, certo?
Chegou ao ponto de não haver qualquer espaço entre nós. Eu conseguia sentir cada centímetro do seu corpo, ouvir o seu coração a bater bem perto e o seu cheiro inebriante. Senti a sua mão a largar-me o pescoço, a descer pelo meu peito até chegar as minhas coxas e apertá-las ainda mais.
- Se queres matar-me... – Tentei manter-me firme. – Porque não fazes agora? Agarra-me...leva-me lá para fora, assim...vês-me queimar...como um fósforo...
Ele exibiu um sorriso típico, como se a ideia o tentasse.
- Não...eu não sou assim...isso faria de mim um monstro, Carmen! Eu cá se faço coisas, é com classe... – Tocou com a ponta dos dedos na minha testa. – Jogos psicológicos. Enrolar-te na minha teia. Sem saberes, caminhas a passos largos para o teu fim...e nem imaginas... – Com o dedo indicador pressionou a minha têmpora. – Como tu és uma criatura fascinante...
- Como assim?
- Convenhamos, Carmen! Estamos aqui há meia hora, mais coisa menos coisa e por duas vezes pudeste matar-me mas, não o fizeste...não consegues matar-me... – Ele aproximou a sua boca da minha. – Não me consegues matar e isso dá-me vantagem...Vou fazer-te torcer e dobrar até não aguentares e pedir que eu te mate
Senti algo a comichar dentro do meu peito e a minha voz saiu num tom baixo.
- Isso não vai acontecer.
- Não tenhas tanta certeza... Afectei-te de tal modo que vieste à minha procura... – Encolheu os ombros num gesto natural mas, cheio de arrogância. – Eu sei, sou especial...
Como quem tenta acender um isqueiro sem gás, foi assim que a minha raiva foi crescendo; A cada tentativa uma faísca, outra faísca, e mais uma mas, ao ouvir aquelas palavras foi igual ao lume que aparece por fim.
Senti uma raiva imensa dentro de mim, que explodiu como explode um fogo-de-artifício lá em cima. Principalmente, raiva de mim mesma, por me deixar levar pelos seus jogos psicológicos.
A raiva em mim crescera e ele reparou pelo olhar vivo que troquei com ele. Agora ele despertara o pior em mim. A minha mão afastou-se do seu peito ao empurrá-lo com violência e nós caímos ao chão. Eu fiquei por cima dele com aquela raiva toda a borbulhar que nem lava dentro do meu ser.
Não sei o que ele viu mas, o seu ar presunçoso desaparecera por completo e agora estava totalmente surpreso, o seu ritmo cardíaco aumentara drasticamente: um claro sinal de medo.
Aproximei a sua cara da minha.
- Não penses que me conheces, Dean. Não te passa aquilo que sou capaz de fazer. Julgas que és o primeiro a passar no meu caminho? Eu como coisas como tu todos os dias... Eu mato-te num piscar de olhos!
Com uma mão apertei a sua ferida resultado da tesourada; Ele berrou de dor, que julguei que até lá fora se ouvira mas, mesmo assim não deixei de apertar aquele ombro. Observei-o com atenção, vi como ficara vermelho, as veias pulsaram no pescoço e o corpo contorceu-se de dor.
- Sentiste? – Apertei mais e ele berrou mais alto. Entusiasmada com a dor que lhe causava, mandei um valente murro à sua lateral.
- Isto não é nada, comparada a dor que eu posso causar-te...
Lembrei-me do seu ombro deslocado e, com toda a força concentrada na palma da mão, empurrei-o.
-Eu forço-te de todas as maneiras até chegar ao ponto em que tu pedes misericórdia, Dean.
Com o joelho pressionei as suas costelas partidas e o seu berro foi ainda pior. Os seus olhos mostravam as lágrimas de dor e eu não podia estar mais divertida.
- Diz! Implora que eu pare, Dean... – Um novo aperto na ferida, ele tentou afastar o meu braço mas, afastei-o. Pressionei ainda mais ele engoliu um momento de dor. –Diz: “Carmen, eu desisto...
Ele arfava quando tentou falar.
- Carmen... – Engoliu em seco. Agarrou o meu braço de jeito, puxou-me para o lado e sentou-se em cima de mim. – Vai-te lixar.
Preparava-me para voltar a acertá-lo com toda a força, quando a porta se abriu de rompante e um bando de sombras entraram no quarto. Eram três homens misteriosos que separaram Dean de mim, e atacaram-no com toda a força; Nem o conseguia ver, apenas via punhos e pontapés a voarem na sua direcção. Deixei-me ficar no lugar, a olhar para aquela cena estranha. Senti um aperto ao ver aquilo, mas porquê? Porquê que cada soco que ele levava tinha o mesmo peso, como se fosse eu a levá-los. Porquê que doía tanto se não era eu que apanhava?
Algo mais forte moveu-se em mim, e quis ajudá-lo. Afastar aquelas sombras que o atacavam mas, fui parada por uns braços fortes.
- Larguem-me! – Dei um encontrão a quem me segurava. – Larga-me!
- Carmen, sou eu! – Reconheci a voz como sendo a de Eric mas, mesmo assim afastei-me dele.
- Mas, que raio pensas tu que fazes?! Afasta-os dele, imediatamente!
Ele olhou-me com um ar assustado, eu devia ter um ar mesmo do pior.
- Carmen, precisas de te acalmar...
- Cala-te e faz o que eu digo, Eric!
- Okay! – Disse ele. Olhou para os três, estalou os dedos e eles afastaram-se de Dean. Eu voltei-me para encará-los e vi-o no chão em pior, estado do que antes. O meu aperto aumentou, ele estava mesmo mal. – Pronto, agora vamos. Temos que cuidar de ti. Precisas de beber alguma coisa, tens os olhos raiados de sangue e temos que cuidar dessa mão.
Eu não ouvia nada do que ele dizia, limitava-me a olhar para o corpo de Dean encolhido no chão, de olhos fechados. Senti os braços de Eric envoltos do meu ombro, conduzindo para a porta e, como se fosse um robô deixei-me ir pelo movimento. Passamos pelos destroços de uma mesa de jantar, pelas gavetas da cómoda, pelas cadeiras até saímos para o corredor. Eric disse qualquer coisa e os homens seguiram à nossa frente, em passo rápido desaparecendo em segundos.
- Deixa-me ver essa mão... – Pediu Eric.
- Estou bem...
- Não acredito que a idiota da Pan fez uma coisa destas e depois desaparece! Juro, que por vezes não sei por que é que ela anda por aqui! Idiota da mulher...
As palavras de Eric iam passando pelos meus ouvidos sem fazerem sentido. Ele parecia estar chateado e, fez uma jura algures pelo meio e, praguejou umas quantas vezes mas, sinceramente não liguei. A minha mente ainda estava presa a Dean, caído no chão devido aos ataques repentinos. Aquele aperto não me abandonara.
Sem dar conta, já tínhamos voltado ao hall de entrada e eu parei nas escadas.
- Bom ver-te de pé, Carmen. – Disse Sheftu, entrando no hotel com um vestido preto novo. – Xiii... Estás cheia de sede. Olha-me para esses olhos.
Eric desceu as escadas e dirigiu-se a ela. Os dois discutiram algo em surdina e eu agarrei-me as escadas. Agora, notava a minha sede e como a garganta queimava desejosa de uma boa dose de sangue. Sangue humano.
- CARMEN! – A sua voz fez-me olhar para cima e vi-o de pé, no topo das escadas encarar-me de um modo estranho. – Não...
Os meus olhos devem ter mostrado uma surpresa total. Aquilo era um pedido disfarçado. Aquele “não” era um pedido para que eu ficasse. Não queria que eu me fosse embora. O quê?!
Então, tão rápido que nem um piscar de olhos, algo passou-me ao lado e quando me dei conta Sheftu tinha derrubado Dean.
- NÃO!
Subi as escadas com igual rapidez, e quando lá cheguei já Sheftu tinha as presas de fora a milímetros do pescoço de Dean. Estiquei a perna e mandei um valente empurrão à Sheftu, ela rebolou para o lado e eu aproveitei; Puxei-a pela cabeleira loira e encostei-a a parede com tanta força que saltou um bocado.
Sheftu olhava para mim com um ar esfomeado.
- Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric... – Dei-lhe um novo empurrão. – Encostas um dedo no Dean e eu arranco-te a cabeça.
Ela largou uma enorme gargalhada como se não quisesse acreditar.
- Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti...
Encarei-a bem no fundo dos seus olhos e vi-a vacilar durante segundos, percebia que eu não estava a brincar.
- Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar vampiros que nem te passam...
- Que tremo toda!
Olhei-a de cima abaixo.
- Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó, não é difícil fazer vergar... – Encarei-a com mais intensidade. – Quebras num estalar de dedos!
A vampira ia avançar para mim mas, eu recuei um passo e Eric meteu-se entre nós.
- Chega! – Ordenou ele, mas não olhava para mim, somente para Sheftu. Ele estendeu o dedo para as escadas. – Sheftu, vai.
- O quê?!
- Vai! – Pediu novamente. Os dois trocaram olhares raivosos e logo depois, Sheftu lá acabou por descer as escadas. Enquanto passava, fez questão de dar um pequeno chute a Dean e eu estive mesmo para saltar-lhe em cima mas, Eric agarrou-me pelo braço. Sheftu abriu um imenso sorriso e saiu a gargalhar escada abaixo. – Fica aí...
Eric largou o meu braço, aproximou-se de Dean que ainda estava caído no chão, segredou-lhe algo que não pude ouvir mas, sabia que não era nada de bom. O seu olhar mostrava puro desafio e Dean não se mexera mais.
Voltou a erguer-se, estendeu-me a mão num gesto convidativo. Demorei, mas lá segurei a sua mão. Eric puxou-me lentamente e os dois descemos as escadas, ainda tentei olhar para trás mas, o meu corpo não respondeu à vontade.
Felizmente, Eric parara o carro numa parte sombria, e pude ir a pé mas, a correr. Quando entramos no gigantesco Hummer cinzento de vidros fumados vinha toda a fumegar. Eric sentou-se ao meu lado, Sheftu ia no banco da frente, virada para nós com um ar de poucos amigos. Parecia meditar seriamente nalgo.
Eric deu sinal e o carro moveu-se, afastando-se do hotel.
O percurso até a penthouse foi totalmente silencioso, continuava a sentir os olhos de Sheftu cravados em mim.
- Carmen... – Disse Eric. Eu voltei-me para ele e estendeu-me uma garrafa prateada. – Não faças perguntas.
- Eric, sabes que não gosto que me dês o teu sangue...
Ele abriu um sorriso gigante e, chegou-se mais perto.
- Não sejas tola, eu preciso de ti inteira, Carmen. – Meteu a garrafa entre as minhas mãos. – E sangue, repõe-se! Agora, bebe.
- Estou assim tão mal?
- Hedionda! Faz anos que não te via assim tão sedenta e irada. – Olhou bem no fundo dos meus olhos. – Tens os olhos totalmente vermelhos agora. És um fenómeno a estudar, Carmen.
Limitei-me a sorrir, abanei a cabeça ia beber quando me lembrei de algo, ele é que devia estar chateado comigo, afinal eu tinha traído a sua confiança e tinha-me arriscado só por pura vaidade e no entanto, Eric estava tudo menos chateado. Parecia aliviado, contente por me ver bem...
Levei a garrafa à boca e bebi o seu sangue. Não pude de deixar sentir o arrepio característico de quando bebia o seu sangue. Tão doce e com sabor a algo mais. Voltei-me para Sheftu e o seu olhar transmitia um misto de sentimentos, tinha o semblante de tal forma carregado, como se odiasse estar de fora e não percebia o que se passava ali. E eu adorar a sua ignorância completa.
Não demorou muito a chegarmos ao hotel, o Hummer parou mesmo em frente à porta do hotel mas, não saímos.
- Temos que arranjar maneira de saíres, Carmen. – Disse Eric pensativo.
- E a Sheftu? – Perguntei.
- Não é preciso... – Abriu a janela e colocou o braço de fora. Nada. Não havia queimaduras nem fumo. Nada. – Eu não preciso de feitiços.
. Isso não faz de ti uma melhor vampira. – Aliciei eu. – Torna-te apenas uma aberração...algo esquisito...
- Motivo de inveja.
- Para quem não tem algo melhor que invejar.
- Como tu.
Desta vez, eu ia responder mas, senti a mão de Eric a tocar-me no braço, pedindo-me que parasse. Sheftu pareceu registar aquele gesto e o seu ar carregado aumentou.
Olhei para fora e vi a silhueta de Samantha a formar-se na entrada, mal me viu lançou-me um aceno solidário que eu estranhei mas, respondi. Ela, não se aproximou muito da porta, limitou-se a ficar um pouco atrás à nossa espera, parecia ansiosa provavelmente tinha novidades.
A seguir tudo se moveu em câmara lenta; a terra tremia com um abano forte, vi Samantha a desequilibrar-se do salto e a cair ao chão, juntamente com as pessoas em volta. Fomos todos apanhados de surpresa com o abanar repentino. O barulho era imenso, entorpecia os ouvidos e, repetia-se várias vezes. Depois pequenas bolas brilhantes a caírem do céu, saltitando pelo chão. Agucei o olhar, tentei ver o que era e reconheci logo o material...
- Vidro?
E depois, peças mais grossas caiam sobre o carro com um impacto violento. Susto total quando um grande pedaço de madeira cai mesmo do lado de fora do vidro. Mas, o que estava acontecer? De onde vinham estes materiais? Ouviu-se um novo abanão, vi gente a cair e a correr, procurando abrigo.
Olhei do outro lado da rua e vi carros que travavam repentinamente, embatendo uns nos outros. E, no edifício em frente, vi no reflexo das janelas o que parecia ser uma vermelha bola de fogo, vinha lá de cima.
Voltei o olhar para Samantha e vi-a gritar qualquer coisa aos altos berros, caída no chão. O barulho continuava, ao mesmo tempo que as coisas à nossa volta caiam como chuva de meteoros. Demorei a perceber o que Samantha queria dizer mas, quando percebi logo que vi que algo estava terrivelmente mal. Os seus lábios gritavam:
- SAÍAM DO CARRO!!
Ao mesmo tempo que uma sombra repentina se sobrepunha sobre o carro. Algo vinha para cima de nós. Momentos depois, foi como se o mundo se tivesse desligado, tudo ficou negro, não me conseguia mexer e os gritos inundavam-me os ouvidos.

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