Inverness Season - Ep 3, Vladimor
E quem seria este ser? Um simples humano? Talvez o seu passado nos pudesse contar um pouco de tudo o que ele é, seu pêlo certamente nos indicaria o caminho certo, seu apetite voraz nos mostraria suas garras e mandíbulas bem desenvolvidas. Ele corria pelos bosques, entre seu passado e presente. Mas, então, porque repentinamente decidira afundar-se numa nova vida?
“When Moon Calls” by Vladimor Iorganov
Um dia simples e calmo tinha passado com as suas nuvens
tenebrosas a pairarem sobre os picos de pinheiro do bosque. O cansaço abateu-se
lentamente sobre aquele que se deambulava nos mais recônditos lugares da
floresta! O sono, aquele lugar onde não se é bem-vindo quando a vida já é como
uma eternidade garantida! Mas é impossível não cair segundo o seu chamamento
doce e crispante…
Caído numa cama de palha de estaleiro… “Não acredito
nisto…se alguém me visse neste estado seria a chacota de todos” assim pensei
acabadinho de acordar depois de mais uma noite onde o álcool se apoderou da
mente e a Lua me deixou a vaguear para um local ainda não conhecido no norte de
França.
- Mas onde estou mesmo? – Coçando a cabeça e sentindo uma
náusea. – Sabia que aquele vinho era demais para mim… Sacanas aqueles
Franceses…
Mas calei-me, pois ouvira um ruído no fundo do estaleiro…
uma porta rangeu e senti uma sensação de desgraça a vir naquela direcção. Então
saltei dali para fora por uma brecha existente no tecto… O vento da manhã era
agradável, e ali no norte de França era onde ele sabia melhor! Não muito frio,
o que era perfeito para começar de novo a deambular. E assim voltei à estrada.
Mas e comer? Esta foi a única coisa de que me lembrei… contudo captei o belo
aroma de uma lebre! Não tardei a desatar numa corrida frenética em sua perseguição
o que não foi muito demorada pois a lebre estava gorda e anafada! “Obrigado meu
Deus por esta refeição” e devorei a lebre antes de sequer pensar no Ámen.
Viajei e viajei por vales e planícies até que a guerra se
instalou em Caen. Os Ingleses começaram a sua tão anunciada conquista aos
francos… “Porque não brincar aos soldados? “ e lá foi ele inscrever-se no
exército Inglês. Durante quinze anos seria o meu divertimento, deixando
libertar as minhas fúrias… Refugiei-me depois e lutei ao lado dos franceses uns
trinta anos… Mas para meu gozo final e para ir para onde sentia um certo
chamamento, escondi-me durante quatro anos, fingindo-me de morto e fui para o
lado dos perdedores britânicos e assim, a brincadeira aos soldados acabou.
Atingi um bom estatuto, suficiente para sair dali para fora! E lá viajei para
Inglaterra a pedido do próprio Rei, como um valente soldado, a quem foi
concedida uma pequena fortuna! Porém esse dinheiro foi gasto numa simples
coisa, naqueles que precisavam dele e Vladimor voltou para o diambulanço onde
já tinha ouvido muito falar, Escócia! Por lá, trabalhei uns anos em várias
quintas para me poder alimentar mas sentia que não pertencia ali, debaixo de um
outro nobre qualquer que nem aos camponeses se dignava a aparecer e auxiliar! Não
não… No meu tempo as coisas eram muito diferentes! Auxiliava os meus súbditos e
treinava-os para todo o tipo de situações! Aquilo sim era liderança saudável,
agora quando a força bruta é a única coisa a ser utilizada para manter as
pessoas debaixo de olho…não, isso não!
Estremunhado e acocorado no meio do bosque, vi-me de novo na
realidade, no presente e não em séculos já vividos!
Mas que raio…estarei
ainda com as minhas histórias ou isto é…isto parece ser algum ser vivo na
floresta… vozes… e…cheira-me a…algo que já não sentia há muito tempo…
mulheres!!! Achei tal presença muito estranha pois não era só uma
fragrância nova como doce e envolta em mistério…era a presença de pessoas ou
seres que detinham poder! Sentia magia! Magia forte!
Com um passo de corrida, desloquei-me como o vento
proferindo um encantamento para que a fadiga não me perturbasse e para que a
força não me faltasse! Corri os quilómetros que me separavam da casa daquele
bosque e que, por sinal, era de onde tudo isto provinha!
Por detrás duma árvore via-se uma luz ao fundo de uma
janela... Uma presença deveras interessante ali reflectia sobre algo que era
indecifrável! Mas quem é esta mulher?
Estranha mas linda no seu explendor! Intriga-me como deram com esta casa... Será
que..... E escondi-me pois senti que também me estavam a observar num
relance! Instantes depois... Um silvo arcano enchera o ar, crivando-se na
árvore que me abrigava!
Um rapaz, moçoilo ainda, corria freneticamente a preparar
uma saraivada arcana à qual respondi em reflexo, com um escudo invisível!
Ficara surpreendido com tal coisa... Contudo apercebera-me que as coisas não
iam ficar por ali, então girei sobre mim e coloquei-me de costas para uma
árvore, onde uivei e a transformação dera-se!
- Sois meu inimigo ou apenas defendeis o lar onde residíeis?
– Perguntei intrigado e sem me revelar.
- Quem és tu vagabundo? – Retorquiu o ser com uma mágica
forte a ser preparada e as suas defesas a serem erguidas...
- Apenas um ser que aqui vive há tempo suficiente para dizer
que sois intrusos neste bosque arcaico!
- Intrusos? Ninguém me chama de tal! MORRE! – Soltando então
a coluna de raios.
Descontraidamente e com os meus instintos apurados, saltei
dali para fora surpreendendo aquele que me defrontava, mais uma vez!
Arreganhando as presas sobre a Lua crescente rugi e uivei mais alto ainda! A
veloz corrida era inconfundível, a de um veterano de guerra de infantaria e de
emboscadas! O Mago voou então para trás para ganhar distância e rasgou com um
silvo púrpura o ar! Guinei e fintei o rasgo sem nunca parar!
O choque deu-se num instante imprevisto! Dei um salto para
trás Não é um simples mago...a aura é
diferente...parece-me ser um vampiro... A velocidade não engana. Isto
passou-me na mente enquanto trocava golpes contra o meu opositor... Carne fora
rasgada de ambos os lados, feitiços e encantamentos arcanos proferidos! Um
verdadeiro e digno duelo entre dois que não se conheciam mas sentiam que algo
os impelia à luta sangrenta!
- PAREM! – Exigiu a mulher, que se aproximava, com uma face
contorcida de autoridade.
- Sim minha senhora... – Obedeceu de imediato o mago-vampiro
com um voou sibilante.
- QUEM SOIS? – Exigi saber ainda arfando e insatisfeito por
não ter esborrachado o meu adversário.
- Um cão aqui? Desaparece antes que algo te faça em pequenas
migalhas de pó seu rafeiro...
- Não... Ele parece não ter onde viver e parece um tanto
desamparado, Sheftu... – Replicou uma ruiva e linda mulher que seguia a loira,
que parecia chamar-se Sheftu.
- Não estás a pensar ajudá-lo aqui ou estás Carmen? –
Vociferou Sheftu com um ar ameaçador nos olhos.
- Se é isso também não estou de acordo! – Frisou o
mago-vampiro.
- Sheftu, Eric... Deixem-se disso... Ele até parece ser
interessante! – Disse uma mulher de cabelos como a noite com um ar de quem
prometia um prazer inconfundível e de seguida uma morte limpa.
- Calma lá, calma lá! Lobisomem! Como te chamas? – Perguntou
Carmen curiosa.
- Vladimor minha senhora. Vladimor Iorganov! – Retorqui
enquanto a minha transformação de pelos azul-prateados se desvanecia e os meus
olhos âmbar deixavam de estar irrigados de sangue.
- Vladimor, gostarias de viver connosco? – Perguntou Carmen
com um sorriso sincero e acolhedor.
- COMO? – Sheftu e Eric pasmados com tal pergunta.
- Adoraria minha encantadora senhora, contudo não pretendo
incomodar ninguém nesta casa... Sou uma criatura do bosque, selvagem, muitos me
chamam! E...
- Podes ficar na arrecadação da garagem! Aí não incomodas
ninguém... – Interrompeu Carmen, olhando com ironia e divertimento para Sheftu
e Eric.
- Tendes a certeza de tal?
- SIM! – Disseram Carmen e a morena. – A propósito... Chamo-me
Samantha – Acrescentou ela.
- Muito prazer encantadoras senhoras! Sendo assim, poderei
habitar a arrecadação da garagem...
- Sim, pois cães não entram em casa alguma, ficas já
avizado! – Escarniu Sheftu com um olhar mortífero.
- Como já disse, não pretendo incomodar ninguém, mas se
insistem em que more convosco, não vejo porque recusar... Afinal de contas
parecem-me ser aqui todos seres que a morte não colhe com facilidade!
Com tal gracejo, Samantha, Carmen, Eric e Sheftu não
aguentaram e sorriram... Estes dois últimos mais contidos... Encontrara um
local onde a morte não colhia quem por ali vivia... Um antro de imortalidade,
tal como antes vivera...
A Lua, alta e em quarto crescente, sorria para todos naquela
limpa noite onde parecera começar um novo capítulo para o seu adorador!
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