Halloween 2ª Temporada
Atenção! Este pequeno especial não é a continuação da história da temporada, mas apenas uma pequena brincadeira da nossa personagem num dia de Halloween. Esperemos que gostem, divirtam-se a fazer parte do nosso mundo... Quem seriam neste Halloween? Qual das nossas personagens encarnariam?
Carmen Montenegro
Eu tinha que sair desta casa o
mais rápido possível ou iria enlouquecer. Mais ainda, se fosse possível. Sentia
as paredes a fecharem-se à minha volta, como que se existissem mãos em redor do
meu pescoço num aperto sufocante. Parecia que ia morrer a qualquer momento.
Outra vez.
Ouvia passos pela casa e
conseguia reconhecer os seus donos, e isso apenas irritava-me ainda mais.
Porquê? Porquê que eu aceitei esta estúpida ideia de viver com estas criaturas,
que odeio cada vez mais. Odeio, pois. Não as suporto. Uma é vaidosa, ignorante
e fútil. A outra mexe com a natureza, os espíritos e o mundo além da carne. A
terceira ganha o dia a irritar-me e juro por todos os santos, que já estive
mais longe de matá-la. Quanto à última... Bem, digamos que a múmia terá que
dormir – isto se chegar a fazê-lo – de olhos bem abertos. Mais dia, menos dia,
terá uma estaca como enfeite.
Faço a mala rapidamente. Preciso
de sair. Preciso de espaço. Esta parceria vai de mal a pior e, claro que há
espaço para pior mais. E mais. Se não piorar não tem graça.
Ponho a mala ao ombro, pego no
meu casaco e saio porta fora. A parte boa do meu quarto é que era à prova de
som. Eu estava numa bolha, apenas habituada ao meu ruído e ao ruído da rua,
quando abria a janela, de resto conseguia abstrair-me completamente. No
entanto, quando abri a porta e ouvi vozes ao fundo do corredor, os meus ouvidos
estranharam o som. Sejam quem for que falasse, não o fazia alto, mas a simples
voz deixa-me inquieta.
Fechei a porta com força e
tranquei-a. Virei-me, pronta para descer as escadas quando a múmia me interpelou.
- Onde vais? – Perguntou-me.
- Achas mesmo que te vou
responder? – Respondi-lhe rispidamente.
- É uma questão de cortesia,
Carmen.
Passei por ela, continuando o
meu caminho.
- Pois, é.
Desci as escadas de mala ao
ombro, casaco na mão e chave no bolso. Para onde iria eu? Boa pergunta, de
facto. E, estranhamente, nem tinha vontade de descobrir. Cheguei à porta e
senti Sheftu atrás de mim.
- O que foi, agora? – Perguntei-lhe,
revirando os olhos.
- O princípio de vivermos juntas
é protegermo-nos umas às outras. – Só me faltava mais esta, armada em psicóloga
de quinta categoria.
- Eu sou caçadora, consigo proteger-me.
- Tu eras caçadora.
Abri a porta, mas antes de sair
olhei por cima do ombro e sorri para a Sheftu.
- Há hábitos que não se perdem.
Mesmo depois de morrermos. – Afirmei, fechando a porta com força, para que ela
percebesse que a última coisa que queria era que me seguisse.
Vesti o casaco, ajeitei a mala
ao ombro e empurrei a porta de saída de emergência. Estávamos na penthouse, bem
acima de um edifício normal e descer as escadas iria ser cansativo. Porque não
saltar?
Subi para o corrimão das
escadas, inspirei e expirei e depois...saltei. Um salto gracioso, descomplicado
e de aterragem perfeita. Ajeitei o casaco novamente, girei sobre mim mesma e
empurrei outra porta de saída de emergência.
Olhei de relance para a recepção
e, reparei, que não conhecia ninguém neste turno, logo as chances de me
reconhecerem eram mais pequenas. Não queria ser vista, nem interrogada, apenas
queria ir-me embora.
Passei as portas giratórias,
para rua a noite gelada de Moscovo. O inverno começara agora, mas fizera-o em
força e já com temperaturas baixas. Cheguei perto do jovem empregado à entrada,
entreguei-lhe as chaves e pedi que fosse buscar o meu Mustang, pedido este que
ele aquiesceu rapidamente.
Enquanto o jovem ia buscar o meu
carro, não pude deixar de reparar nas pessoas à minha volta. Não, eu normalmente
não reparo em ninguém, a não ser que eu tenha algum interesse nelas, mas neste
caso achei simplesmente peculiar.
Terei eu aterrado numa outra era
e não tinha reparado? As pessoas à minha voltam estavam, maioritariamente,
vestidas de preto. Um grupo e raparigas
passou por mim, todas com vestidos pretos curtíssimos, longas perucas de tom
preto e olhos brancos. Quando passaram por mim, olharam-me de cima abaixo e
continuaram a caminhada. A primeira coisa em que pensaram foi: Vampiras
prostitutas.
Um grupo de jovens rapazes do
outro lado da rua, tinham a cara pintada de vermelho e as roupas com salpicos
da mesma cor. Tinham cervejas na mão e riam alto. Seriam eles Assassinos
alcoolizados?
E não eram apenas esses que se
vestiam de forma pelicular. No tempo de espera bem vi, vampiros, lobisomens,
bruxas – muitas bruxas, na verdade – ladrões, máscaras assustadoras,
palhaços... Mas tudo isto, sem um pingo de cor. As cores básicas, eram preto e,
quiçá, branco. Até os palhaços, que normalmente eram só cor, estavam todos de
preto.
Eu olhei à minha volta, anotando
mentalmente cada fato que passava por mim, quando eu vi um grupo de três
humanos que realmente chamou à minha atenção. Ao contrário dos restantes, que
andavam por todo o lado, que gargalhavam, que gritavam obscenidades a quem
passava, este grupo era calado. Moviam-se ao mesmo tempo, tinham os braços
entrelaçados e não mostravam qualquer sinal de vida.
À medida que se aproximavam
notei que eram duas mulheres e um homem. O homem vinha no meio, levando as duas
mulheres pelo braço. Ele tinha um fato completo, com um colete preto de finas
riscas brancas. Do bolso pendia a corrente de um relógio de prata, a gravata
era preta, mas, há medida que se aproximava da luz, eu vi que tinha uns
relevos. Na cabeça trazia um chapéu alto, que pendia ligeiramente para a
direita, mostrando-lhe apenas metade da cara extremamente pálida. Os seus olhos
focavam-se em frente, para algo atrás de mim e eram de um verde que nunca tinha
visto.
As mulheres vinham de vestido. A
que vinha à direita, trazia um vestido preto comprido, mas que lhe mostrava as
botas vitorianas que trazia. Vestia um corpete roxo – o primeiro apontamento de
cor que tinha visto durante todo este “desfile”. Um casaco preto, com
apontamentos brilhantes e luvas da mesma cor. Não lhe conseguia ver as feições,
pois tinha-as tapadas por um véu preto que se agarrava a cara e lhe dava um ar
sinistro. Não trazia um chapéu, mas sim um ornamento complicado que lhe
segurava os cabelos igualmente escuros.
A mulher da esquerda trazia um
vestido igualmente longo mas este não lhe deixava ver os pés. O corpete era
preto e simples, o casaco era comprido - quase do mesmo tamanho que o vestido e
luvas cobriam-lhe as mãos. Ao contrário da mulher da direita, esta trazia uma
renda simples que lhe tapava a cara, mas que permitia ver as suas feições. Era
extremamente bonita.
Os três andavam ao mesmo passo,
devagar e assertivo. Nenhum deles olhava para mim, mas sim para algo longe no
horizonte. Como se de uma procissão se passasse.
Eu desviei-me para lhes dar
passagem. Quando já estavam perto, o homem desviou o olhar para a minha pessoa
e parou.
- Irmã... – Ele disse. Eu
permaneci calada. As mulheres repetiram o cumprimento, mas eu nada disse.
O homem retirou do bolso um
cartão preto e estendeu-o na minha direcção.
O cartão era pequeno e preto com
detalhes florais a prateado nas bordas. Dizia apenas: Carpe Noctem em letras
com relevo e de um preto mais carregado.
Quando voltei a encará-los, o
homem inclinou a cabeça ligeiramente e as mulheres fizeram uma curta vénia.
Segundos depois continuavam a sua marcha em passo lento. Sinceramente, eu já
tinha visto coisas assustadoras, mas penso que o destino acha sempre que o que
eu já vi nunca é suficiente.
- Senhora? - Voltei-me e vi o
rapaz com a chave do meu carro e o Mustang estacionado atrás dele. Tomei a
chave das suas mãos.
- Obrigado. Já agora, explica-me
uma coisa...
- Senhora? – Repetiu ele.
- O que se passa? – Perguntei-lhe,
apontando para um grupo de “vampiros” que vinham do outro lado da rua.
- Halloween, senhora.
- Halloween? – Perguntei confusa.
- Celebram Halloween por aqui também?
- Sim. Há imensas festas pela
cidade, senhora.
- Hummm... – Olhei para o fundo
da rua, na esperança de ver o trio sombrio, mas eles já iam longe. – Sabes o
que isto significa?”
Mostrei-lhe o cartão e o rapaz
olhou-o com atenção. Os seus olhos abriram-se e ficara ligeiramente mais
pálido.
- É um convite, senhora.
- Eu reparei. Para quê, sabes?
- Uma festa. A norte da cidade.
Nos bairros. – O pobre jovem ficara claramente incomodado.
- O que é que tem a festa? Estás
mais pálido que um lençol.
- É...um...bem... – O rapaz
chegou-se mais perto. Conseguia sentir-lhe o cheiro a roupa acabada de engomar
e água-de-colónia. – É um bar estranho. Longe de tudo e de todos. É sombrio...
Dizem que...
O rapaz engoliu em seco e olhou
em volta. Um homem de fato completo, com uma bengala e chapéu alto, olhou-nos.
Parou por uma fracção de segundo e fez-me uma cortesia singela. Olhou para o
jovem e sorriu sombriamente, logo de seguida, seguiu caminho.
- Dizem que... Que as pessoas
vão lá e nunca mais voltam.
Eu olhei para o jovem com
desconfiança.
- Isso é mito.
- Não, senhora. Não, não é. O
primo de um amigo meu, recebeu um cartão desses no Halloween passado. Foi um
grupo de quatro mulheres que lhe deu. Estavam todos numa festa e ele de
repente, disse que ia ao tal bar e foi, mas não saiu.
- Se calhar encontrou diversão
noutro lugar.
- Não, testemunhas viram-no
entrar, senhora. As mulheres da vida que trabalham lá perto avisaram-no, mas
ele entrou... Não saiu mais.
- Hum... – Rodei o cartão nos
meus dedos e, senti o bichinho da curiosidade a picar a minha pele. Olhei o
jovem nos olhos, pude ver o pânico na sua cara e ouvi-lo no seu coração. Pobre
alma.
- Boa história. – Disse eu,
guardando o cartão no bolso. – Não me sabes dizer onde fica o bar, pois não?
- Na ponte velha, que caiu há
uns tempos. Perto dos bairros. Não vai lá, pois não, senhora?
- Não, apenas quis saber onde
era, para não me aproximar.
Entrei no carro. Quando o
liguei, já tinha destino: Norte da cidade.
Chegou a um ponto em que, eu
poderia simplesmente segui-los pelas ruas da cidade, de tantos que eram. O tema
de vestuário era sempre igual: estilo vitoriano. As mulheres de vestido
comprido, corpete apertado, chapéu e véu ou renda a cobrir a cara. Enquanto os
homens vestiam fatos completos, de cauda e chapéu alto. Alguns com bengalas,
outros nem por isso.
Poucos eram os que andavam
sozinhos. Andavam sempre em grupos de dois até seis, mas nunca sozinhos.
Eu parei o carro quando vi que
já estava próxima, meti a mão dentro da mala e retirei uma arma que coloquei
debaixo da camisola. Nunca se sabe.
Saí do carro e quase embati
contra um homem de longos cabelos prateados e olhos azuis como safiras.
- Cuidado, irmã.
Irmã? Ele seguiu caminho com o
seu companheiro, sem nunca olhar para trás e eu segui-os. Chegou a um ponto em
que a rua, não era mais do que este estranho grupo de gente a caminhar ao mesmo
passo e para o mesmo sítio.
Ouvi o som de madeira a bater e,
quando olhei para cima, as janelas nos prédios decadentes fechavam-se uma por
uma. As pessoas tinham medo. Os ciganos, os ilegais, os traficantes tinham medo
desta gente e fechavam-se a sete voltas.
Chegámos ao local da festa e, um
por um, organizaram-se numa fila enquanto as portas não abriram. Eu sentei-me
num banco decrépito, enquanto os observava. As pessoas normais, quando esperam
em filas fazem conversa, mexem-se, reclamam até, mas estes apenas ficam em
silêncio. Não se mexiam, não conversavam, nem reclamavam, simplesmente
esperavam que as portas abrissem.
Passaram, no mínimo, vinte
minutos, quando o meu relógio apitou a meia noite e a porta vermelha abriu-se.
Um por um, de forma ordeira e paciente, as pessoas entravam no recinto. Agora,
que olhavam bem, deviam ser no mínimo 100 pessoas. Olhei para o cimo da rua e
ainda vinham mais pequenos grupos vestidos da mesma maneira, em direcção ao
local.
Dos que estavam à porta, entrou
toda a gente, menos um. O sujeito de cabelo prateado preso num rabo-de-cavalo,
ficara à porta. Olhava para o chão, mas de repente, levantou o olhar e numa
vénia, deixou o seu lugar. Pensei que se fosse embora, mas não... Ele vinha na
minha direcção.
Parou a poucos metros de mim e
choquei-me com a sua beleza. Um nariz bem esculpido, lábios finos e maças do
rosto definidas. O cabelo prateado estava preso numa fita presa, caindo-lhe
pelas costas. O seu fato era todo preto, sem nenhum apontamento de cor ou
risca.
- Vais entrar?
- Estou a decidir. As lendas
deixam-me sempre apreensiva.
- Não deves acreditar em tudo o
que ouves. – Deu dois largos passos e tomou lugar ao meu lado. Sentara-se
direito, como um lobo altivo no topo de uma montanha. Olhava em frente e nunca
para mim. – Devias entrar.
-Porquê?
- Vais sentir-te em casa. É uma
festa nossa e só para a nossa gente.
- Nossa?
- Sim. – Ele olhou-me com um
leve sorriso. – Não reconheces um irmão quando o vês?
Olhei-o com atenção. A palidez
era demasiado real, para ser um creme qualquer. Os olhos azuis eram demasiado
vivos para serem humanos, já para não falar no aroma. O leve aroma a morte. E a
sangue.
- Vampiros. – Disse eu, tentando
evitar dizer a palavra com tanto nojo. – Em Moscovo?
- É a nossa terra.
- Ou terreno de caça?
- Calma. – Disse ele. – É apenas
uma festa. Também gostamos de festejar.
- Que tipo de vampiros são
vocês?
- Do tipo antigo. – Disse ele
olhando em frente. Um homem na fila fez-lhe uma vénia e ele retribuiu. – Muito antigo.
A sua voz era suave e calma.
Parecia ser paciente, calmo e atento.
- O que se passa lá dentro?
- Terás que entrar para ver.
- Deixa-me adivinhar: corpos
ensanguentados pendurados do tecto, empregados a oferecerem shots de sangue
ou... Ah! Vítimas prontas a matar em cima das mesas. Estou certa?
- Terás que entrar para ver.
Olhei-o novamente. Ele
continuava a olhar para a porta, assemelhava-se a uma estátua de mármore, perfeitamente
esculpida.
- Bem, não vou entrar.
- Tens convite.
- Sim, mas... – Disse eu,
levantando-me do banco. – Apenas queria
certificar-me que não matavam ninguém pelo caminho.
- Como é que sabemos se não
matámos? – Disse ele sombriamente. – Olha bem, onde estamos. Num sítio deserto,
abandonado, onde ninguém se lembra de vir procurar. Velhos, imigrantes, doentes
ocupam estas casas. Se eles morressem achas que alguém lembrar-se-ia?
- E, mataram?
- Vais entrar? – Desta vez ele
olhou-me nos olhos e levantou-se. – Não somos monstros.
- Não?
- Pareço-te um monstro, irmã?
- Desde quando os monstros
parecem monstros? Uma flor carnívora parece muito bonita, até comer o sapo.
- Tens razão, há sangue lá dentro.
Sangue fresco. Sangue acabado de colher – não te parece este bairro muito mais
calmo? – Eu olhei em volta e não se via nada nem ninguém. Não se ouvia uma
televisão, um ressonar, uma discussão. Apenas um ocasional bater de coração,
mas muito menos do que se esperaria num bairro de lata. – Mas há muito mais.
- Como o quê?
- Um mundo só nosso. Um mundo à
parte. Onde não há só sangue e morte, mas também algo mais. – Ele estendeu-me a
mão pálida, de longos dedos e unhas compridas. – Vais entrar?
- A questão é: irei sair?
- Estás comigo. Ninguém te
prende, irmã.
- Eu costumava matar-vos, sabes.
– Disse friamente. Ele baixou a mão e guardou-a no bolso. – Eu era caçadora.
Usava as vossas peles como tapete e os vossos caninos à volta do meu pescoço.
Claramente, não irei sair. Quem sabe não matei o parente de alguém lá dentro e,
o convite que parece tenha sido um propósito para me matar.
Ele sorriu brevemente. Não, não
era um sorriso mas sim um esgar.
- Pensas demasiado, irmã. –
Iniciou então, à minha volta uma marcha lenta largando aquele cheiro inconfundível.
– Há vampiros, há vampiros e depois somos nós. Ninguém te irá tocar. – Ficou à
minha frente. – Os nossos pecados são maiores que os teus. Quem nunca matou um
irmão, antes ou depois da morte, que fique no sol e morra incólume, então.
Estendeu-me a mão novamente.
- Halloween, irmã. Saberás hoje
o verdadeiro significado da tua condição. Não somos santos, nem monstros... Apenas
algo que foi criado com a imagem de um, mas o desejo de sangue de outro.
- Esse discurso, poderia vender
livros a cegos.
-E CD's a surdos. – Completou ele.
Eu aceitei a sua mão suave. Foi
então que, todos os membros na fila, olharam para nós. Por momentos, pensei que
me fosse atacar, mas quando nos aproximamos todos fizeram uma breve cortesia.
-Muito simpáticos.
- Colocaremo-nos na fila. – Avançámos
para o último lugar. O meu companheiro, olhou para trás. – Somos últimos,
depois de nós a porta fechar-se-ia até de madrugada.
- Encantador.
- Deveras.
Demos um passo de avanço na
fila.
- Como te chamas? – Perguntei-lhe,
ele olhou-me curioso. - Dá-me um nome.
- Não posso dar-te um nome. –
Respondeu-me.
- Dá-me um nome. – Repeti e,
mais uma vez, demos mais um passo na fila.
- Lucas.
- Lucas será.
Novamente, demos um novo passo.
Estavam apenas seis pessoas à nossa frente. Não havia nada a dizer, enquanto esperávamos
e, dei por mim acostumada ao silêncio.
Erámos os seguintes a entrar e,
Lucas deu-me o braço. Olhei-o estranhando, mas acabei por aceitar o braço.
- És sempre tão cortês?
- Somos todos. É a vantagem de
sermos antigos, reaprendemos as boas maneiras. Para além disso, fica sempre bem
uma vénia ou outra, não achas?
- Se tu o dizes...
Chegou a nossa vez de entrar.
Estávamos frente a frente à porta que apontava para o vazio. Lá de dentro não
vinha nada, nem um ranger de tábuas ou o ping ping de uma torneira aberta.
Nada. Era apenas negrume emoldurado por uma porta vermelha. Subitamente, esta
festa não me pareceu boa ideia.
- O que vou encontrar lá dentro?
- Sangue e muito mais.
- Vou gostar do “muito mais”?
- Só entrando. – Virou a cabeça
de modo a que me pudesse encarar. – Pronta, irmã?
- Sinceramente? Nem por isso.
Demos mais um passo, entrámos no
local e a porta fechou-se atrás de nós com um estrondo. Tudo ficou escuro. Tudo
lá ficou.
Um Feliz Halloween/Samhain para todos os nosso leitores,
The Unforgiven Souls
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