Moscow Season - Ep 19, Carmen
Irritada pela recusa de Eric em ajudá-la, ela estava decidida em seguir na mesma com o seu plano, não importava qual fosse o resultado. A sua prioridade estava em matar aquele homem que a seguira como uma sombra e que agora sabia ser o Dean, um homem vingativo que queria acabar com ela. O que mais poderia fazer alguém de matá-lo?
“A lesson to be learned, maybe…” by Carmen Montenegro
- Ahhhh! Raios! – Gritei irritada. Como é que era impossível
fazer um favor, destes? Qual era o problema de Eric? Acreditava piamente, que
se fosse Sheftu ele faria com um sorriso nos lábios.
Já me sentia melhor depois de uma viagem ao meu passado,
afastei aos lençóis e coloquei os pés no chão devagar e levantei-me. Apanhei o
meu roupão vermelho caído em cima da poltrona e vesti-o, sentindo aquela seda
contra a minha pele fria.
Encaminhei-me para a janela onde os primeiros raios de sol
apareciam por detrás dos telhados. Toquei num botão junto a janela e os vidros
começaram a escurecer a pouco e pouco – mais um dos nossos caprichos vidros
fumados de tal modo que não deixassem o sol passar. Encostei a cabeça ao vidro
que ia escurecendo a pouco e pouco e respirei fundo. Não tirava aquele nome da
cabeça.
- Dean…Dean…Dean…- Dei por mim a repetir o seu nome como um
louco repete que não é louco.
Fechei os olhos e vi a sua cara jovem e inocente com um
olhar fervendo de raiva. O mesmo olhar que, em adulto, me tinha encarado e
desejado a minha morte. Passei a mão pelo cabelo, recordando a força com que
ele me segurara antes. Senti a boca seca ao recordar a sua voz perto do meu
ouvido. E arrepios ao lembrar-me dos seus lábios tão pertos dos meus.
- Hey, miúda…- Reconheci a voz feminina que estava a porta e
senti um revolver de estômago.
- Pan…- Suspirei. - Pensei que tivesses ido com o Eric.
- Ele não me deixou. – Respondeu ela meio azeda. - Parece
que agora vive só para aquela, Sheftu…
Reconheci o seu azedume em relação a Sheftu, podia não
morrer de amores por aquela vampira mas, ninguém – especialmente Pan – falaria
mal dela na minha presença.
- Não gostas da Sheftu?
- Não é o tipo dele.
Voltei-me com um ar desconfiado, cruzei os braços ao peito.
Meu Deus, como o passado tinha sempre como voltar de diversas formas.
- Oh e deixa-me adivinhar, tu és o tipo do Eric?
- Nunca disse isso.
- Mas, não te vejo a negar, Pan.
Ela mordeu o lábio como se quisesse engolir algo que lhe
veio a mente.
- Só vim oferecer-te ajuda…
- Ajuda? – Pan, a oferecer ajuda? Estaria o mundo a acabar?
- Sim…- Ela fechou a porta e encostou-se. - Ouvi-te, a
discutir com o Eric. Pareces que andas a procura de um tal de Dean…eu posso ajudar-te.
- Como?
- Eu tenho uns contactos aqui e ali. Conheço gente, que
conhece gente e, posso encontra-lo para ti. E o melhor, o Eric não tem que
saber…nem vai imaginar.
- Isto não tem nada a ver com o Eric, Pan! Não sei se
reparaste mas, eu e ele já não estamos juntos…
Ela riu-se claramente.
- Tudo bem. – Desencostou-se da porta, voltou-se e agarrou a
maçaneta. - Desculpa, qualquer mau jeito…
Não sei porquê, mas ao ver aquela oportunidade de encontrar
Dean – mesmo sendo através de Pan – fez-me mexer. Num movimento rápido, fechei
a porta impedindo a sua passagem.
- Espera…- Pedi eu. Porquê que o meu sentido de caçadora
gritava na minha cabeça. Olhei para os olhos verde cobra da Pan. - O que tens
em mente?
Ela sorriu vitoriosamente. Tirou o telemóvel do bolso,
discou uns quantos números e levou o telemóvel ao ouvido. Começou a falar com a
outra pessoa, numa língua que eu não entendia; Talvez fosse a língua da zona
terra, que ninguém ao certo sabia qual era mas, sabia que não poderia ser boa
coisa.
Pan continuou a falar e afastou-se caminhando para a janela.
Deixei-me ficar encostada a porta. A sensação de rever Dean
deu-me um revolver de estômago mas, algo que até estava ansiosa por ver
acontecer.
Vi Pan a debruçar-se sobre a minha mesa, tirou um papel e
caneta e escrevinhou qualquer coisa. Depois, voltou a repetir para ter a
certeza de que a informação estava correcta e no fim, agradeceu.
Suspirou e voltou-se para mim, aproximou-se de mim com o
papel esticado.
- Volto já. – Abriu a porta e saiu com um sorriso. - Não te
mexas, Carmenzita…
Saiu com o seu ar presunçoso e todo um estilo maléfico
típico de uma cabra sem vida. Eu abri a mão, e vi um papel rabiscado:
Hotel D’Rouge, quarto
133.
Sob o nome de Arthur
Montenegro.
A minha irritação gritou ainda mais, aquele bandalho usara o
nome do meu pai como nome falso! Como pudera?! E porquê? Quem pensava ele que
era? Senti uma súbita vontade de estilhaçar o seu pescoço, de arrancar o seu
coração sem o mínimo de piedade, de sugar todo o seu sangue.
Num acesso de completa raiva fechei o punho e atirei um soco
gigantesco a parede. Mas, que raio! Aquele homem iria pagar por estar a
atormentar-me desta maneira. Ninguém jogava contra mim daquela maneira. Ninguém
atormentava a minha mente assim e invadia o meu espírito!
Pan esteve ausente durante toda a amanhã, e enquanto ela não
voltava eu resolvi sair do meu quarto. Abri a porta e percorri o corredor,
parei em frente ao quarto de Sheftu e vi-o um pouco desarrumado e nenhum sinal
dela. Continuei em frente e vi o quarto de Sam com a porta entreaberta,
empurrei com um só dedo e não vi ninguém lá dentro.
- Estranho…
Entrei no quarto de Samantha e carreguei no botão para
esfumar os vidros, o sol já estava cada vez mais forte. O quarto de Samantha
continuava intocável, apenas reconheci algumas roupas em cima da cama –
nomeadamente o vestido que sujara momentos antes – e sapatos por ali caídos. O
meu olhar desviou-se para o aquário onde estava o grande escorpião de Samantha
e não pude deixar de observa-lo enquanto caminhava sobre as rochas. Senti uma
vontade imensa, de ter um daqueles ferroes para poder espeta-lo em Dean assim
que o visse.
Saí do quarto de Samantha fechando a porta atrás de mim,
percorri o corredor com o meu roupão vermelho a esvoaçar atrás de mim. Quando
me aproximei das escadas lembrei-me da dor passada ali a bocado, reparara que
as manchas de sangue deixadas pelo meu ferimento tinham sido limpas. Agarrei-me
ao corrimão e desci aquilo com a facilidade que antes me faltara, percorri o
mesmo corredor passando pelos quartos vazios de Claire e Verónica que haviam
partido repentinamente. Entrei na sala grande e um pouco iluminada, tratei de
carregar no botão para que os vidros escurecessem e logo o brilho do sol
esfumou-se.
Sentei-me pesadamente no sofá, liguei a televisão apenas por
distracção e logo retirei-lhe o som, deixando apenas a imagem de uma
apresentadora a falar.
O sofá como o resto da mobília era fofo e confortável,
coloquei os pés em cima da mesa flectindo os joelhos, deixando-os a vista.
Inspirei fundo – mais por hábito que necessidade – e deixei-me vaguear pela
mente vazia por si só. E, apenas uma imagem aparecia a minha frente.
- Dean…- Repeti a mim mesma. Quando dizia o seu nome um
calor subia-me pelas pernas acima. - Dean…
O nome não parava de ecoar na minha mente.
Daí a pouco Pan estava de volta com um sorriso nos lábios e
um frasco na mão. Fiquei a olha-la estupefacta.
- Eu sei que me odeias…- Aproximou-se de mim - Mas, tenho um
“bilhete” para ires lá fora.
Levantei-me incrédula.
- Tens o feitiço?
- Sim. – Tirou do bolso a sua mão, mostrando um pequeno
frasco com um líquido de tonalidade verde. - Aqui está.
Aproximei-me para pegar no frasco mas, assim que estendi a
mão, Pan voltou a guardar o frasco.
- O que foi?
Ela observou-me por segundos, parecia estar a pensar para si
mesma. Vi os seus olhos verdes cobra, brilhar com um laivo maléfico enquanto
analisava-me a cada instante.
Até que por fim, voltou a entregar-me o frasco.
- Aqui tens…
Estendeu-mo, eu segurei-o sempre com o meu sexto sentido aos
berros.
Passei por ela, voltei a percorrer o corredor, subir as
escadas até ao meu quarto; Encaminhei-me para detrás do biombo de onde atirei o
roupão e comecei a escolher roupa.
Depois de encontrar roupa interior vermelha, a minha cor
favorita, encontrei uma camisa com manga ¾ preta com um decote em V e começava
a procurar calças.
Parei. Por segundos ponderei se aquela era a melhor decisão
a tomar. Estaria eu a agir de cabeça quente? Seria aquela a melhor estratégia a
tomar?
Só sei que vesti as calças e sai detrás do biombo, encontrei
Pan sentada na minha cama com as pernas cruzadas a remexer no seu cabelo aos
caracóis. Quando me viu exibiu um sorriso.
- Sabes conduzir? – Perguntei.
- Claro, que sei! – Exclamou como se fosse algo óbvio. -
Porquê?
- Sinto que não consigo ainda conduzir…- Disse
aproximando-me da cama. - Portanto, tu levas o Mustang. Eu dou-te as
instruções…
- Claro…- Pan levantou-se, era mais ou menos da minha
altura.
Ignorei aquela resposta carregada de ironia e cinisco. Pan
irritava só pelo facto de respirar!
Peguei no frasco que tinha deixado em cima da mesa, e
observei o líquida verde.
- Quanto tempo?
- Deve dar-te para umas boas horas…- Disse segura de sí.
Ergui uma sobrancelha super desconfiada.
- Tens a certeza?
- Se não quiseres…- Estendeu a mão na minha direcção. -
Podes devolver-mo.
Deixei aquela boca passar, não tinha paciência para
chatear-me com ela. Tomei o pequeno frasco entre mãos e tirei-lhe a rolha.
Levei o frasco ao nariz, por mais que pareça, até tinha um cheiro leve e
enigmático.
- Que cheiro é este?
- Isso interessa?! – Perguntou Pan um pouco impaciente. -
Bebe!
- Okay...
Ia levar o frasco a boca quando Pan ergueu a mão.
- Deixa-me so salienter, o quão má ideia isto és e como o
Eric não vai ficar satisfeito...- Disse ela.
Não liguei ao que ela disse. Eu era senhora de mim mesma e
não precisava de amas secas. Se Eric ficava incomodado, paciencia. Eu é que não
podia deixar-me derrotar facilmente.
Bebi o líquido esverdeado, que com muito espanto, não sabia
a nada mas deixava a boca muito seca. Deixei o “não sabor” assentar na minha
boca e olhei para Pan.
- Nota-se alguma coisa? – Perguntei irónica.
- Só há uma maneira de descobrir…
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