Moscow Season - Ep 17, Sheftu

Depois de terem viajado pela noite até o Vaticano, Sheftu e Samantha precisavam de roupas para continuarem o seu percurso pelo pouco tempo que restava da noite. Mas, quando lá chegaram, estava tudo muito silencioso, o que não seria certamente um bom agoiro. Que surpresa estaria para vir?

“Please Kill me, Burning Sun!” by Sheftu Nubia


Ofereci-lhe o telemóvel de má vontade, se não fosse completamente necessário, jamais lhe teria dado. Mas as promessas são para se cumprir... E aqui estou eu, a cumpri-las...
- Estou? – Disse, mal atenderam a chamada. – Estou sim? Daqui Ms. Saint, queria falar com o Mr. Curt. – Fez-se um silêncio, seguida me uma outra resposta... – Ethan! Já não me reconheces?
Conversa trivial, não sei porquê mas estava a pensar nele, o que estaria a fazer neste momento? O mais incrível era a razão pela qual me passava agora isso pela cabeça, supostamente não devia sequer me lembrar da sua existência, quanto mais tê-lo na minha mente... Mas os seus lábios nos meus, as suas mãos sobre a minha cabeça, impedindo-me de negar o nosso maldito momento. Um beijo que teimava em não me sair de mim, um homem que não me deixava em paz, desgraçada a hora em que apareceu na minha vida.
- Está bem então. Só para avisar que levo companhia… – Falava Samantha, fazendo-me voltar à realidade – Não sejas idiota! Não é homem nenhum! É hum… Uma amiga. – Olhou para mim, observando a minha indignação, “amiga?” disse em silêncio com os meus lábios recebendo como resposta um piscar do olho.
- Pronto, já está. Ele estará daqui a 15 minutos no ateliê. Estaremos lá a essa hora. É muito perto daqui.
- Não importa Que raio de historia foi aquela de eu ser tua amiga?? – Quis por tudo em pratos limpos, não fosse ela pensar que nos iríamos dar bem...
- Oh… Ele estava com baboseiras ao telefone. Quando disse que levava companhia ele pensou que era um homem… – Tentou justificar-se...
- Vá-se lá saber porquê não é… – Gargalhei, mudando de tema de conversa antes que ela tentasse retaliar. – Bem vamos andando então?
- Temos tempo… Em 5 minutos colocamo-nos lá.
Durante o tempo que caminhávamos, sentia que ela estava um pouco inconfortável com algo, talvez achasse que havia algo a dizer-me ou simplesmente havia algo que a perturbava...
- Sheftu acho... Vou fazer uma viagem. – Disse-me por fim, com um pouco de indecisão.
- Vais para onde? – Questionei-a intrigada... O que estaria aquela cabeça a magicar?
- Isso não importa. Depois de tudo isto que descobri e do que posso a vir a descobrir tenho mesmo que sair de Moscovo.
- Mas…
- Nem mas nem meio mas. É assim, eu vou ter de comprar um carro novo já que o meu foi destruído e vou desaparecer daqui por uns tempos. Mas não muito. Tu e a Carmen não se livram de mim assim com tanta facilidade! – Interrompeu-me, soltando uma gargalhada, prosseguindo. – Eu só preciso de investigar e reflectir mais sobre esta história toda. E já que o Daniel desapareceu tenho de fazer tudo sozinha. E vou à procura de uma pessoa…
- Do Louis? – Perguntei.
- Sim. Nunca te cheguei a contar… Foi ele que me mandou o vestido do Halloween… Ele esteve lá. Aliás, ele foi à festa. Tenho a certeza.
- Como podes ter tanta certeza? – Desconfiei um pouco, procurando tirar mais dados...
- Ele não aparecia assim do nada sem me espiar. Eu sei como ele é. Além disso eu tenho a certeza que o vi.
- Na festa?
- Sim.
- E porque não foste atrás dele?! – Estava completamente surpreendida com a sua atitude, era ridículo, ver alguém e simplesmente não agir, deixar que as respostas ficassem por dar, dúvidas sobre dúvidas...
- Eu fui como é mais que óbvio! Mas ele escapou-me! Sempre foi muito mais rápido do que eu alguma vez serei…
Eu compreendia essa sensação de incapacidade, todas aquelas horas no meu próprio quarto me relembraram momentos da minha vida humana, daqueles que qualquer ser – humano ou não – jamais iria alguma vez na vida esquecer, por mais que me sentisse livre, querendo fazer com que o meu rasto se perca o mais rapidamente, um pouco de mim permanecia com a sensação de que continuava presa. Não via a hora de que esse sentimento desaparecesse, de que pudesse novamente respirar de alívio sem que a sua sombra, seus traços, seu corpo permanecesse na minha mente. Tal tortura, tal loucura... A abrasadora necessidade de o matar para que tudo volte ao normal. Agora apenas restava saber como fazê-lo, arranjar a pior forma possível e mais demorada para o fazer. Porque o seu fim seria um prazer para mim, fazia questão que isso se tornasse verdade!
Rapidamente vi um vulto erguer-se das sombras, será que ele me tinha conseguido seguir? Não era possível, não iria deixar a Carmen a definhar apenas para me manter como sua prisioneira, para além de que se me tivesse seguido, certamente já estava novamente presa no meu próprio quarto, à mercê da monotonia e tortura constantes dele.
- Ethan, pára com a brincadeira. Estás a assustar aqui a Sheftu. – Disse Samantha, me dando um pouco de paz. Sim, estava livre...
- Raios para ti, Samantha! Nunca te consigo assustar!
- Tenho um bom olfacto amigo… Já devias saber!
O homem caminhou para Samantha e abraçou-a com carinho. Mas agora ela era uma amiguinha de humanos?!
- Como é que são tão amigos? – Baixei a voz e disse-lhe. – Ele é um humano não te esqueças. – Desatou-se a rir com o que eu tinha dito. Não via humor em nenhuma das minhas palavras... – Qual a piada?
- A piada é que ele sabe muito bem que eu sou uma vampira!
- Ele o quê? – Perguntei confusa.
- Sim eu sei. – Entreviu o homem. – A Samantha era uma conhecida da minha tia. Ela também era vampira e eu sempre me dei muito bem com ela. – Sorriu ao ver a minha cara de espanto.
- Mas…
- A sério, isso é uma longa história, e pela conversa ao telefone não me parece que vocês tenham tempo.
- Lá isso é verdade! Sempre despachado este garoto!
- Sabes bem.
Seguimo-lo até ao ateliê, um pouco sombrio com a luz apagada, mas quando a luz acendeu… Era totalmente exuberante!
- Sei que preferem sem luz, mas de outra forma eu não vejo. – Gargalhou. – Portanto tem que ser assim.
- Não tem qualquer problema. Eu quero algo…
- Elegante, exuberante e para arrematar… Confortável. Acertei? – Interrompeu-a, continuando a própria frase dela... Ela era fácil de ler como olhar-se a um espelho.
- Sabes bem.
- Então e o que vos trás por cá? Deve ser muito excitante para arrancar a Samantha de onde quer que ela estava…
- É sim, mas não é para te contar agora. Sê rápido por favor.
- OK, OK… Sempre apressada a madame.
Ele escolheu rapidamente duas mudas de roupa, tentando agradá-la com o habitual requinte seu característico.
- Finalmente uns sapatos, Já estava a ficar farta de botas. – Comecei a ouvir as suas respostas, moda! Que mais haveria de os unir... Fatiotas e acessórios... Ridículo.
- Imagino que sim! Escolhi roxo… Presumo que continue a ser a tua cor favorita.
- Sim claro. É perfeito. E a outra roupa?
- Está aqui. Este vestido preto justinho parece-me bem… Que tal?
- Deslumbrante como sempre.
- Não vais experimentar?
- Não há tempo para isso. Além do mais, eu confio em ti. Portanto estou a vontade.
- Ainda bem.
- E a menina? Não vai querer nada? – Perguntou-me o homem.
- Não. Eu não preciso de tanta futilidade junta. Estou bem assim… - Respondi curtamente.
- Mas está imunda. Desculpe a expressão mas é a verdade.
Observei a minha roupa, realmente não podia dizer que estava limpa. Depois de umas caminhadas pelos esgotos, não tive qualquer vontade de me trocar – na realidade nem pensei nisso, estava mais preocupada em escapar o mais rapidamente possível.
- Está bem, está bem! Pode ser umas calças de ganga pretas, e uma camisola preta também. – Assumi, resolvendo aceitar.
Ele procurou algo por entre as roupas, trazendo um vestido vermelho curto com um decote arrojado que se iniciava num ombro, deixando o outro em descoberto. As sandálias lembravam-me os tempos antigos, indo os seus fios negros pela canela acima.
Porque haveria eu de vestir tal coisa? Torci o nariz por uns momentos, mas acabei por aceitar, sempre era melhor do que andar imunda pelas ruas, chamaria demasiado à atenção...
- Estás despachada. Vamos embora. – Perguntei-lhe mal me vesti.
- Sim claro. – Respondeu-me, virando-se para ele. – Meu querido, obrigada por te teres levantado a estas horas por causa de nós. Agradeço-te imenso.
- Ora, não importa. Por ti sabes bem que o faria novamente.
- Eu sei que sim – Sorri e dando-lhe um beijo na face. – Até breve.
- Até breve Samantha.
Saímos da loja, e dirigimo-nos rapidamente para o Vaticano. A noite não demoraria muito a acabar, teríamos de nos resgatar do sol antes que fosse tarde demais... Quando chegamos, tínhamos um alarme do qual o código parecia impossível de decifrar.
- Como fazemos agora?
- Assim… – Disse, esmagando o aparelho e desligando-o. – Que tal?
- Andas a ver filmes a mais é o que te tenho a dizer. – Gracejou.
- Resultou, portanto vamos lá.
Caminhamos durante um bom bocado, sem que encontrássemos vivalma para que eu me divertisse... Onde estariam todos?
- Mas que estanho… Não está aqui ninguém… – Disse-lhe desconfiada.
- Realmente é estranho.
- Olha, acho que está ali alguém.
- Pois está. Se for um guarda mato-o já!
- Tem lá calma! Cheira lá bem…
- O que tem? – Perguntei meia confusa...
- Cheira! Acho que conheces… – Atendi ao seu pedido, para o meu horror. Eu conhecia bem quem era, demasiado bem para o meu gosto...
- Que estás aqui a fazer? – A pior coisa possível de acontecer, como não deixava de ser, veio com tanta rapidez como eu me tinha livrado dela. Eric, o meu pesadelo.
- O que achas que estou aqui a fazer? É óbvio, não é? – Seu tom arrogante fez-me revirar os olhos. Estava farta de o ver à minha frente, farta de estar no mesmo local que ele, farta de saber da sua existência.
- Não és tu aquele que estava a ajudar a Carmen? – Observei a expressão de Samantha, nem reparara o olhar matador que eu agora fitava nela. Porque tinha ela de fazer perguntas? Porquê?! Pelo menos seria o momento ideal para livrar-me dele rapidamente... Tanta tortura, tantas horas... Tinha de pensar em algo rapidamente antes que fosse impossível escapar.
- Meu caro, prefiro morrer... – Corri o mais rapidamente possível, tentando livrar-me destra cruz que agora teimava em me procurar. Mas ele não iria ter jamais o que desejava. Jamais. E eu me encarregaria disso...
- NÃO, ONDE VAIS SHEFTU?! NÃO FAÇAS ISSO!!! – Ouvi os berros de Samantha, certamente a não saber a razão pelo que eu o fazia. Também não precisava de saber.
- Aff, mulheres... Espera aqui que eu vou buscá-la, não te preocupes que eu trato dela. – Ouvi-o já de longe, certamente demoraria pouco tempo para seguir os meus rapidamente, teria de arranjar uma solução o quanto antes...
Não conhecia qualquer caminho que me levasse à salvação, se me escondesse ele certamente me encontraria... Talvez este fosse o fim da minha vida, era preferível morrer a ficar eternamente nesta prisão. Liberdade, era tudo aquilo que eu apreciava, se não a tivesse, o melhor seria mesmo acabar com o pouco que eu tinha. Um final perfeito para uma pessoa desprezível como eu. Morta por mim mesma, esperando que o meu fim me liberte.
Corri o mais rapidamente para as ruas do Vaticano, esperando que o sol acabasse comigo, que tudo isto tivesse um fim. Não importava se me veriam ou não, acabava morta de qualquer forma! Certamente pensariam em mim como uma pessoa a arder...
Respirei profundamente e dei-me ir totalmente ao destino que tinha traçado para mim. A cada passo que dava, aproximando-me da minha própria morte, aquela que eu agora mais desejava como nunca dantes na minha existência, sentia que a paz finalmente viria. Não importando o que se passasse de seguida, me livraria de tudo aquilo que me persegue aqui na terra. Livre de tudo e de todos estes desprezíveis.
- Larga-me! – Bufei, Eric tinha acabado de me conseguir alcançar e agarrava-me o braço, obrigando-me a encarar a sua face.
- Tu estás mesmo disposta a fazer esta loucura? Avançando assim sem qualquer vontade de não seguir em frente? – Largou-me o braço, cruzando-os no seu peito e esperando o próximo passo que eu fosse dar.
- Sim, desde que me livre de ti para sempre. Seria o melhor que teria na vida, livrar-me de ti. – O que eu disse quase que saiu como um sussurro, quase inaudível para um ser humano, mas pela expressão de Eric parecia que tinha sido o bastante para ele ouvir.
- Tudo bem, se queres isso segue em frente, vai! Eu não farei nada para te parar, mas estarei do teu lado. – Um sorriso saiu dos seus lábios, havia algo que ele ainda tinha na manga, mas eu não ia deixar que ele me proibisse de me livrar dele, isso jamais!
- Não me vais impedir, de jeito nenhum! – Mal disse isto, comecei a correr o mais rapidamente possível. Minhas forças tinham quase voltado, poderia correr o suficiente para que ele não me apanhasse e pudesse finalmente ter paz! Imaginava como seria bom morrer... Nem que fosse queimada pela luz do sol... Seria a melhor coisa que poderia fazer, e nada nem ninguém me impedia. Era hora de eu avançar para os raios da paz eterna! E a paz habitará em mim aquando da verdadeira morte me atingir... Um sorriso se abria a cada passo que dava em direcção ao mundo... Serei livre.

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