Moscow Season - Ep 14, Sheftu
Agora que tinha finalmente escapado, estava determinada em manter a sua palavra quanto ao ajudar a Sam. Agora que parte da sua vida humana tinha sido decifrada, faltava procurar mais pistas sobre o que lhe acontecera. A cada nova descoberta se tornava ainda mais intrigante a sua história…
“Parllare Italliano” by Sheftu Nubia
Passamos por várias estantes de livros, certamente que
nenhuma delas teria o que nós procurávamos.
- Anda. É por aqui. – Disse-me Samantha. Segui o seu olhar
que dava para uma porta com uma placa que dizia: Ala restrita. Propriedade de
Sr. Kill.
- Sim. – Respondi-lhe.
Quando a porta se abriu e entramos na sala, era um tanto
para o quanto deslumbrante...
- Uau… – Disse Samantha com um certo deslumbre. Como isso era
possível?!
- Desculpa?? – Questionei-a extasiada com a sua expressão
perante o deslumbre pela sala. – Desde quando é que tu gostas e interessaste
por livros Samantha?
- Desde nunca. Não gosto. Aliás, eu odeio. Mas olha-me bem
para esta sala! – Olhei em volta em todo o seu redor. A claridade era
significante em toda aquela sala dourada.
- Estás definitivamente a passar-te. És uma vampira
tresloucada e inconstante!
- Olha pensa o que quiseres pouco me importa sabes?!
- Pronto enlouqueceu de vez! Eu acho que a falta de sangue e
sexo na tua vida te está a deixar variada. A quanto tempo é que não te
alimentas?
- Já perdi a noção dos dias. Depois da noite com o Daniel
nunca mais tentei caçar.
- Está explicado.
Olhei para mim com ar de agonia, mas – como era de esperar –
não se deixou abater pelo que se passava com ela. Começou a percorrer a sala à
procura da verdade que poderia estar em qualquer livro desta sala. Eu decidi
seguir a direcção oposta. Que lhe diriam o que tinha sido a sua vida humana
antes desta morte.
Primeiro comecei por observar as estantes, todo e qualquer
coleccionador costuma organizar cada colecção que tenha... Apenas teria de
saber como este a organizaria... Parecia que as estantes estariam numeradas,
cada uma delas tratando apenas de um assunto... Agora bastava encontrar uma
estante que fosse simplesmente a ideal: Linhagens Mundiais. Ainda demorei
alguns minutos até que a encontrasse, mas aqui estava “ Número 83 – Linhagens
Mundiais”.
- Samantha!!!
- O quê?? Porque estás a gritar assim? Eu oiço perfeitamente
bem! – Correu na minha direcção.
- Não sejas ridícula! Vê o que eu encontrei! – Olhou-me com
total confiança no que dizia e seu olhar simplesmente me matou lentamente em
seu pensamento. Por mais que o desejasse, era-lhe impossível agora aborrecer-se.
- Então? Já te interessa o facto de estar a gritar??
- Não vou comentar ok? – O seu jeito meio rabugento por ter
sido eu a descobrir a primeira parte da solução simplesmente divertiu-me, não
consegui conter-me e simplesmente me ri.
- Onde está a piada? – Perguntou-me um pouco aborrecida com
a minha diversão.
- Como tu me odeias quando eu tenho razão.
- É mesmo. Como eu te odeio quando tens razão.
- Então vá. Pega no livro. – Mais valia despachar isto,
antes que ela ainda mudasse de ideias ou alguém nos descobrisse lá.
Samantha ainda demorou uns momentos até se decidir em pegar
num livro espesso. Estava empoeirado por dentro apesar da sua boa aparência
exterior. Era simplesmente isso que era necessário: algo com idade suficiente
para encontrarmos algo sobre ela. Dirigimo-nos para uma mesa ali perto e ela
procurou o seu apelido mas, para minha surpresa, todo o livro era sobre a sua
família.
- Bem parece que tens uma família bem grande. – Constatei o
facto, realmente a família dela era enorme.
- É, estou a ver que sim. Isto vai dar pano para mangas.
- Ou não. Olha aqui – indiquei-lhe uns números no canto
superior esquerdo de cada página. – Não vês? São datas. Basta procurares a data
do teu nascimento humano e pronto. Vês quem era a tua família directa.
- Mas eu não sei, lembras-te? Não sei nada. Só sei o que me
aconteceu a partir do momento em que me transformei!
Revirei os olhos, simplesmente era ridículo como aquela
cabeça conseguia simplesmente ter pó lá dentro...
- Tu realmente Samantha!
- O que??!! – Disse-me, já um pouco alterada.
- Tu deves ter sido transformada com mais ou menos 22 ou 23
anos! Logo se foste transformada em 1790… Fazer as contas… – Comecei a
desfolhar o livro… – Deve ter sido em 1767 ou 68. – Comecei a desfolhar ainda
mais rápido até que encontrei a pagina 1768. – Aqui.
Naquela folha estavam todas as crianças daquela família que
tinham nascido naquele ano. Não eram muitos por isso o seu nome era facilmente
detectável, até para ela que parecia estar a dormir.
Samantha Davis Saint 1768 – 1790
Filha de Theodore Saint. Inglês, nascido em 1730 (ver
pagina 30)
Arabella Davis Saint. Inglesa, nascida em 1733 (ver
pagina 33)
Foi morta numa violenta briga entre a mãe e um homem
anti-cristão, com apenas 22 anos (não se sabe quem era esse homem).
- É assim que eu morri? Por causa de uma estúpida briga? –
Estava a começar a notar-se cada vez mais os seus nervos à flor da pele.
- Samantha tem calma. Lembra-te que os humanos não acreditam
em vampiros, bruxas ou fantasmas e a verdade e que nós somos bem reais. –
Tentei acalmá-la, sem grande efeito. Pelo menos tinha tentado!
- Mesmo assim. Deve haver aqui um fundo de verdade no meio
disto tudo.
- Não digo o contrário. Mas talvez esta briga tenha sido
para tentar-te proteger ou algo assim.
- Pois, talvez…
Folheou para trás algumas páginas na esperança que dissesse
mais algo sobre a sua família.
Arabella Davis Saint 1733 – não se sabe o ano da morte
Inglesa, casada com Theodore Saint (ver página 30)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e Samantha
Davis Saint (ver pagina 68)
Ela tinha um irmão?! Aquela história tornava-se cada vez
mais estranha.
- Com quem tão tinhas um irmão e mais velho ainda por cima.
- Isto está a tornar-se uma descoberta bem mais estranha do
que aquilo que eu estava a pensar…
- Vai ver sobre o teu pai! – Disse-lhe com entusiasmo. Era
algo extremamente revelador e curioso. Bem interessante...
- Tem calma!
Theodore 1730 – 1799
Inglês, casado com Arabella Davis (ver página 33)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e
Samantha Davis Saint (ver pagina 68).
Filho de pai templário tendo este também seguido as
pisadas do pai até a morte. Morreu a lutar contra infiéis.
Após alguns momentos de espanto, descoberta bastante
curiosa. Uma templária ao meu lado, quem diria... Um corpo morto-vivo de
futilidade, que nem nome de vampira merece ter, pertencer a tão misteriosa
história! Muito pouco se podia dizer sobre o assunto, era necessário procurar
mais afundo por pistas... E qual seria o sítio ideal? Hum...
- Já sabes quais serão os nossos próximos passos? –
Perguntei, ainda a pensar no que deveríamos fazer. Tudo teria de ser apenas uma
coisa: escapar o mais rapidamente possível disto tudo...
- O quê? Próximo passo? – A sua voz espantada apanhou-me
desprevenida... O que raio andava por aquela cabeça?! Ah, certamente uma
futilidade qualquer, como sempre...
- Sim, próximo passo... Não queres descobrir o teu passado?
Não há forma melhor do que procurar por pistas... Qual será o melhor local para
encontrar ficheiros sobre os templários...
Seguiram-se de uns momentos de silêncio... Minha vida tinha
sido longa o suficiente para estar presente em mais variados casos da
humanidade... Mas onde teria eu estado nessa época? Se bem me lembro, algures
pela Irlanda, na época em que ainda não tinha perdido o rasto do meu criador...
Se bem me lembro, havia uma criança que tinha nascido de uma mulher – tal como
minha mãe – que não se lembrava quem teria sido o seu pai. Não poderia ser o
meu criador, a criança já aparentava ter nascido há semanas, pelos seus anos de
meio-vampiro. Sabia bem da escala temporal dos nascimentos pois defendi minha
irmã até ao dia em que ela cresceu e a deixei ir... Tendo-me tentado matar há
tão pouco tempo, parecendo já mil anos de uma guerra que ainda agora começou. Era
sangue do meu passado, aquele que já não voltará mais.
- O Vaticano! – Disse Samantha, aumentando a sua voz e dando
um rápido salto. – Já sei! Talvez haja algo no Vaticano!
- Tem lá calma... Tu tens a certeza? Sabes que podem existir
por lá pessoas ao corrente da nossa existência! – Tentei não dar muita
importância ao assunto, sempre teríamos de ir para algum lugar. Qualquer que
fosse serviria para que saíssemos deste local, bem longe de tudo isto.
- Não importa, desde que consigamos descobrir alguma pista...
Vens comigo?
- Se quiseres mesmo ir... Alguém tem que te ajudar a não
estoirar com o cartão de crédito, ainda corremos o risco de decidirem-te
pesquisar pelas quantias que lá gastas... – A cara dela estava simplesmente a
dizer-me o que eu queria ouvir, estava novamente com vontade de me matar.
- QUE HORROR!!! ALGUÉM TELEFONE PARA A POLICIA! SOCORRO!!!
- Parece-me que afinal não podemos sair já... – Disse
calmamente, me levantando para observar o que se passava... Deveria ser
hilariante.
- Espera aí! Tu não estás a pensar ficar aqui o dia todo a
observar o horror e o medo que lhes provocaste com o teu trabalhinho pois não?!
Nós temos de sair daqui rapidamente antes que nos encontrem e nos queiram levar
para a esquadra! Tu sabes muito bem que ainda faltam umas quatro horas para a
noite.
- Pois, e sairemos por onde? Alguma ideia Miss Fútil
desmancha prazeres??
- Não sei... Temos de arranjar alguma forma. Também já falta
pouco para a noite vir... Mal possamos, seguimos viagem rumo ao Vaticano. Não
podemos perder tempo.
- Que tal a canalização? Nos focos de luz nós nos desviamos,
e ninguém se lembrará de ver pois estará tudo intacto e sem impressões
digitais. Vai a frente que eu trato de tudo. – Sorri alegremente ao ver a sua
cara, certamente iria desistir. Mas a realidade é que era crucial a nossa
saída, não fossem nos encontrar... – Vá, eu prometo que te compro um vestido
novo mal cheguemos a um hotel em Itália. Pode ser?
- E também tenho direito a tudo o que é necessário para que
use o vestido sem qualquer queixa ou volta atrás? – A sua expressão parecia de
outra pessoa, totalmente irreal! Bem sei que me ia arrepender, mas acenei-lhe
em tom afirmativo. – Assim já gosto mais... Então vamos! – Rapidamente desceu,
deixando-me assim livre para arrumar tudo com rapidez e juntar-me a ela...
Começamos a nossa caminhada rumo ao início de nossa viagem.
Quando o sol desaparecesse poderíamos sair destes canais subterrâneos.
- Vamos voltar para trás, isto é simplesmente nojento! – A
voz de Samantha mostrava que poupava o máximo de respiração possível para não
ter noção do real cheiro destas condutas, sorri levemente para que ela não
reparasse e voltei-me para ela.
- Não, não penses que vamos voltar atrás. – Tentei manter a
minha expressão séria ao vê-la a tentar pousar o mínimo do pé no chão, a tentar
não tocar em nada com o seu corpo. – Agora é que querias ter umas asinhas de
morcego não era? Aguenta que daqui a pouco já saímos daqui, não sejas ridícula.
Depois ficas como nova...
- Vais pagar-me muito caro por isto! – Ao dizer isto, não
reparou no passo que deu e enfiou o seu pé num buraco escondido pela sujidade –
Isto é tão nojento! Tira-me daqui... Preciso de um banho, de roupa brilhante e
a mais cara possível!!! Tu trouxeste-me para o meu pior pesadelo... – Não
consegui controlar-me e aí comecei a gargalhar, poderia ficar dias aqui com ela
só para que a ouvisse com as suas lamúrias. Totalmente irónico. - Ainda
demoramos muito a subir?
- Se quiseres morrer ao sol, subimos já. Mas tu primeiro,
claro!
- Não, obrigada... Ainda demora muito até o sol se pôr?
- Tendo em conta que ainda desceste a pouco, cerca de umas
três horas...
- Ainda? Mas já estamos aqui há tanto tempo!
- Queres que minta e que diga que já está quase?
- Não, obrigada. Preferia não estar aqui.
- Não estás aqui... Isto é tudo apenas uns momentos da tua
eterna vida. Aguenta-te.
- Tens a certeza que só estamos aqui há uns minutos?
- Sim, tanta certeza como a de que se não te calas durante
as próximas horas, estarás tramada comigo.
- Não sei o que podes fazer, ainda não recuperas-te
totalmente as tuas forças...
- Pois não, mas tenho os meus cartões de credito e tu não.
Por isso, retiro o que disse e não te deixo comprar nada.
- NÃO! Tu não eras capaz de me fazer isso!
- Tão simples como tirar um doce a uma criança... Ou melhor,
até que é mais simples. E nada podes fazer contra isso a não ser estar calada.
- Mas...
- SHIUU... Qual foi a parte do silêncio que não entendeste?!
– Nada mais foi dito, prosseguíamos rumo à saída de Moscovo. Mal o sol se
pusesse, iríamos o mais rapidamente possível para Itália, antes que o sol se
voltasse a nascer. O que nos favorecia eram os fusos horários, chegaríamos por
volta das dez horas a Itália, dando-nos bastante tempo para procurar pistas
antes que o sol voltasse...
- Trouxeste o teu telemóvel? É que eu me esqueci...
- Tinha de ser não era, mesmo ao teres ido comprar roupa de
propósito só para a viagem, ainda tinhas de te esquecer de um telemóvel! – Eu
ainda estava um pouco atordoada de tantas roupas que me tinham passado pela frente...
Por ela ficaríamos a noite toda, mas não tinha tempo, por isso agarrei numa
camisola e numas jeans e lhe dei. Queixou-se um pouco, mas rapidamente se calou
ao olhar para mim... Não tínhamos tempo para as Samanthices!
- Eu não vinha de vestido para aqui! Tinha de arranjar algo
que se adequasse ao que íamos fazer... Mas diz-me, tens ou não?
- Para que o queres?
- Para chamar o dono de uma loja para que me venha ajudar a
fazer umas comprinhas para esta noite.
- És absolutamente incrível! Não consegues ser mais
ridícula?
- Não sei se ridícula é vestir bem a cada momento da minha
vida... Mas se o for, então que seja mesmo. Tenho que estar sempre o melhor
possível, essa sou eu. Agora, passa para cá o telemóvel! – Disse, estendendo a
mão. Boa! Seria mais uns grandes minutos totalmente colocados ao lixo! O que
realmente importava é que agora estava bem longe, novamente livre! Libero e
felice male!
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