Moscow Season - Ep 11, Sheftu

Depois de pedir ajuda à Samantha, questionava-se como era possível que aquele homem tivesse tanta facilidade em mantê-la fraca, em cativeiro. Ela tinha milénios de existência, deveria ter uma cura mais rápida! Seriam as emoções que tentavam brotar novamente dela? Não, isso era impossível. Mal tivesse uma oportunidade sairia dali, precisava urgentemente de se alimentar.

“Freedom” by Sheftu Nubia


Tinha perdido a noção das horas, a única coisa que sabia era que estava aqui, totalmente perdida entre este asno e a minha fraqueza. Mas que vinha a ser tudo isto?
- Agora que já estiveste eternidades a tentar matar-me de tédio podes deixar-me entrar, ou é complicado para a tua encenação de humano parvo e asqueroso? – Minhas palavras pareceram fazer efeito, ele estava com o olhar desfocado em mim, parecia haver liberdade suficiente para que eu saísse dentre o seu corpo e a mísera grade. Não precisei de olhar para trás para saber que o seu olhar vago permanecia a observar o horizonte, com suas mãos amparadas na grade. Para um ser humano, ser misterioso era uma parte que traria curiosidade. A mim simplesmente me fazia pensar que ele era mais louco do que eu pensava...
Esta seria a primeira vez em que iria pensar em tudo o que se tinha passado desde que saíra de casa desde a última vez. Nunca pensei em ter tal acto de traição, daquela a quem tanto protegi e tanto escondi de todos, principalmente daquele a quem ela agora defendia.
Sentei-me na cama. Por mais incrível que fosse, agora parecia totalmente apetecível. Encostei-me, revivendo cada parte de um passado bem próximo onde minha morte tinha sido tomada por este homem, fazendo-me fraca, tomando meu sangue e o prendendo num anel. Como vou agora matar meu criador, vil mestre sedutor de criaturas fracas, com a minha meia-irmã fazendo de seu escudo protector? Teria de arranjar um grupo, que pudesse ajudar-me a dizimar qualquer rasto destes dois. Nada seria poupado e seu sangue estaria perdido para sempre.
Estaria tão mergulhada em minha mente que pouco reparei naquele homem que tinha voltado para dentro, não tinha temido a minha fuga. Eu poderia bem ter tentado escapar, mas não. Ele estava junto a mim, novamente a olhar-me nos olhos duma forma vaga, perdido algures onde eu não sabia bem onde...
Sua pulsação permanecia normal, sua respiração estava totalmente calma e sua expressão seria a mais serena possível. O que estaria ele a ver? Como se estivesse perdido algures, mas desta vez mais longe de mim. Me levantei um pouco, ajoelhada na cama para que me pudesse aproximar mais um pouco para ler aqueles olhos vagos.
Rapidamente a sua expressão focou-se em mim, fazendo seu momento vago desaparecer tão rapidamente como havia aparecido. Já não havia nada para ver, mas seu braço já me tinha agarrado, para que não me movesse, mal meu corpo começou a voltar para onde estava. A surpresa se apoderou de minha face, sua respiração aquecia meu nariz de tão próximo que agora estava...
A mão agora se tinha apoderado de minhas costas, resgatando meu corpo como seu prémio, reclamando meus lábios como seus, marcando território onde ninguém jamais poderia tocar sem que lhe fosse dada a sentença de morte. Sim, ele iria morrer, ele teria de morrer...
Meu corpo permanecia imóvel por uns momentos, eu o controlava bem, queria mostrar-lhe cada parte do desprezo e ódio que sentia por ele. Seu dedo flutuava lentamente sobre as minhas costas, parando sem razão aparente... Não tinha eu consciência que estava agora a sustentar as minhas coxas, tinha reclamado o meu próprio prémio antes que a morte lhe chegasse, seria meu, até que a morte lhe chegasse. Até que eu lhe mostrasse a morte.
Não era um beijo simples, seu jeito seco e arrojado tinha cravado em mim uma sede, uma fome dele que não poderia controlar... Sentia um sorriso crescer em seus lábios, eu tinha tomado o controlo, eu queria tomar o controlo dele e de nós. Seu dedo voltou a mover-se em minhas costas, formando uma palavra... “Eric” era tudo o que ele escrevia com o seu dedo enquanto éramos consumidos pelas carícias que começavam a nascer entre beijos suaves, ardentes e odiosos...
- SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS DESNATURADAS… – Ouvimos alguém berrar além da porta, rapidamente estava de novo na cama de joelhos, observando Eric sair pela porta e ir ao encontro da voz, certamente da pessoa que teria pedido ajuda...
Não conseguia acreditar em tudo o que acabara de fazer, como me odiava, como era detestavelmente horrível cada segundo que lembrava agora com demasiada intensidade. Eu precisava de fugir, precisava de sair daqui o mais rapidamente possível... Não era apenas uma questão de fuga, eu precisava de liberdade. Estas quatro paredes já eram uma tortura permanente.
Era Carmen quem tinha gritado por socorro, estava com uma estaca em seu coração e incrivelmente mais fraca do que eu... Ele estaria demasiado ocupado para correr atrás de mim, seria o momento ideal para escapar. Não pensava voltar nunca mais, seria uma nova vida. Longe de tudo isto, longe de todos...
Samantha me olhava com extrema surpresa, fazendo-me recordar da conversa que tivemos há umas horas atrás... Seria o melhor, tendo pelo menos alguém que me pudesse ajudar caso ainda não estivesse forte o suficiente para andar o mais rapidamente possível sem me cansar muito. A luz! Já não faltariam muitas horas até que ela voltasse, teríamos de ser rápidas, para que pudéssemos ir o mais longe dele possível.
O que se passou de seguida foi com a maior rapidez, segurei o braço de Samantha e pedi com o olhar que saísse comigo. Ela ficou um pouco na dúvida, não sabia se devia sair ou ficar para ajudar a Carmen. Na realidade ela estava mesmo um pouco mal... Prioridade: escapar de uma vez por todas desta prisão. Sim, era isso mesmo, arrancar Samantha daqui e arranjar um pretexto para que ela venha. Não quero estar em total descontrolo perto dos humanos, seria um grande risco andar por aí a ser descoberta.
- Mas que é isto... – Disse Samantha, mal lhe agarrei o braço e tentei empurrá-la para fora da penthouse comigo, sem grande sucesso. Estava mesmo fraca, raios!
- Não fales, anda apenas comigo... – Procurei com pressa uma forma de a puder levar de lá o mais rapidamente possível. – Não queres a minha ajuda?
Ela olhou para mim espantada, com certeza eu seria a última pessoa que alguma vez a iria ajudar. E esta seria talvez a única hipótese que eu teria de escapar. Não podia esperar mais, por isso comecei a seguir em frente. Se ela não fosse comigo, então iria mesmo sozinha.
- Mas onde é que tu vais... – Disse Samantha, já a seguir-me e a entrar no elevador.
Afinal sempre conseguia tudo o que quisesse, ela não era de todo uma causa perdida.
- Chegaste a pesquisar sobre o teu passado? – Perguntei sem grande vontade, o que mais queria era escapar dali, não importando o que fosse fazer de seguida, desde que saísse dali.
- Sim, encontrei aqui perto uma biblioteca em que parece existir uma colecção rara de livros antigos. Parece que um louco qualquer rico lhe apeteceu comprar uma colecção inteira de cada país, um louco! Quantas jóias e roupas eu não compraria com o dinheiro que ele gastou em uns míseros livros!
- Miseros livros que te podem ajudar... Então será lá onde iremos! É muito longe daqui? – Fiz questão de nem começar uma guerra de conflitos intelectuais, estava com pressa... O sol não demoraria muito tempo a surgir.
- Não, não... Chegamos lá rápido. Até vais ver que gostas do sítio, é muito escurinho, tal como nós gostamos. – Deu um sorriso grande, visto que estávamos agora a caminho. Seria bom de ver a cara dos seres humanos caso ela tivesse dito que tínhamos de nos esconder do sol. Nos achariam umas fãs loucas ou acreditariam? Não me importava nada de matar uns quantos para mostrar a minha loucura, andava sedenta. Mas não poderia alimentar-me assim sem regra, traria demasiadas consequências, mais do que as que desejo.
Segui seus passos, em que o tempo parecia ser cada vez mais difícil de suportar. A minha fome era tanta como a minha fraqueza. Eu sabia que Samantha iria por fim ao meu holocausto pelas ruas de Moscovo caso eu me lembrasse de começar. Porém as atenções ficariam em foco nesta cidade, tamanho o derrame de sangue. Ainda me lembro da época do domingo sangrento, em que poderia surgir de novo por outras razões, e acabaria por perder o controlo e não sei se alguém me conseguiria travar.
Finalmente, tínhamos chegado à biblioteca, na sua entrada estavam, dois seguranças certamente estariam mais do lado de dentro. Homens de farda, prepotentes e com certas capacidades de defesa. Em suma, um lanche perfeito para quem estava cheio de fome – como eu.
- Boa tarde, em que vos posso ser útil? – Disse um velho bibliotecário, observando atentamente cada traço de Samantha. Pelo que parecia não era apenas eu que estava cheia de fome...
- Bem, gostaríamos de ver a secção sobre as linhagens das famílias mundiais, se faz favor. – Samantha tinha estudado bem o que precisava para encontrar o que procurava.
- É uma pena minha senhora, não temos autorização para dar acesso a tais escritos. Fazem parte da secção privada do Senhor Kill e não há autorização para os ver sem que seja o próprio. – Samantha riu e fez uma pose a que um homem se desmancharia. Mas o velho era demasiado medroso, temia que sua vida estivesse em risco e seu emprego caso desse a alguém o acesso à colecção privada do dono da sua biblioteca. – Desculpe mas nada posso fazer mais.
- Então agradeço, voltaremos noutra altura para que o seu patrão nos possa dar a permissão. Fica aqui com o meu número e depois telefone-me quando ele estiver disponível para entrarmos em contacto. – Samantha já se tinha voltado para trás, mas eu não iria voltar para casa, não importa o que tivesse que fazer.
Rapidamente quebrei o pescoço do bibliotecário, vendo os dois guardas que estavam por dentro a se virarem a mim. Ouvi os passos de Samantha nas minhas costas, enquanto um dos guardas vinham em minha direcção, arrancando-lhe o coração fora com a minha mão, deixando-o passar para Samantha. O segundo guarda deu um berro de terror, chamando a atenção dos outros guardas que se encontravam lá fora. Parti mais uns pescoços, até que não sobrassem mais testemunhas... Agora poderia beber um pouco, estava fraca e cansada de tanta festa. Agora era a hora do banquete do festim.
- Olha o que tu acabaste de fazer!!! – Eu olhei para Samantha abismada, ela agora sentia pena pelos vis humanos? Rapidamente mudei de pensamentos quando a vi a olhar para o seu vestido, enquanto o homem passou por mim, deveria ter passado a mão pelo vestido dela enquanto caíra, talvez a tentar pedir ajuda. O fundo do seu vestido estava um pouco manchado de sangue. Eu sorri. – Sabes, este vestido foi muito caro! É a alta moda de Moscovo e tu mo estragas-te, não dá para sair esta nódoa dele! Tens que arranjar uma forma de o consertar, era o único vestido deste estilo no mundo!
O seu paleio de modelo já me estava a enervar, há muito tempo que não me alimentava, nem tinha noção de quantas horas foram. Estava com fome, merecia alimentar-me com calma. Mas não! Tinha que me tirar o apetite com as suas paspalhices fúteis.
- Pronto, problema resolvido! – Disse rapidamente, mal me levantei a rasguei a parte do vestido que tinha a mancha.
- EU MATO-TEEEE! – Seu grito foi loucamente interessante, arrancou-me uma gargalhada. Como era ridículo o seu jeito de ser!
- Vim aqui para te ajudar a descobrir o teu passado ou para fazer um desfile de moda? – Tentei tornar a minha voz num tom casual, mas não conseguia esconder as minhas gargalhadas.
Ela seguiu contra mim, eu arquei a sobrancelha e olhei severamente. Ela não estaria a pensar em atacar-me, pois não? Eu não estava totalmente recuperada, mas lhe traria bastante aflição caso o fizesse. Ela parou tão rapidamente como a minha expressão, aguentou uns segundos, talvez a pensar no que fazer.
- Bem, então vamos em frente descobrir o que se passou na minha vida... – Disse, caminhando em direcção à sala em que certamente estariam os livros da futura verdade.

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