Moscow Season - Episódio Extra, Claire

Estes episódios, originalmente escritos como personagens fixas da história, acabaram por ser limitados a apenas uns cinco episódios. Para saberem mais sobre esta situação visitem este comunicado que vos foi deixado pelas autoras destas duas personagens. Claire, decididamente a pessoa mais calma que mantém tudo em paz, as vampiras, a bruxa e os próprios seres humanos que se atravessem pelos seus caminhos. Uma bruxa observadora, com uma intuição invejável. Bastava saber, o que o destino ditava para ela...

"Classical Beauty" by Claire Harris


Sentada no parapeito da minha janela, olhava para o exterior. Sentia o vento a bater-me na cara levemente. Dentro do quarto ouvia-se uma melodia. Um pequeno rádio tocava música clássica. “Um violino” pensei. Mas, de repente, a minha atenção foi puxada para outra coisa. A discussão no quarto ao lado.

― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai... – Disse uma voz, que conheci como sendo a minha querida Verónica.
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser. – Outra voz retorquiu. “Carmen” – pensei – “Estas duas e as suas discussões…”. Voltei a por a minha atenção no vento que soprava lá fora e na bela vista que tinha à minha frente. Sempre fui uma amante da beleza. Das Artes. Da Natureza. A certa altura vi alguém sair pela porta da frente. Era a Carmen. “Para onde iria ela?” Pensei.
Levantei-me rapidamente e vesti-me, já que ainda me encontrava de camisa de noite. Saí pela porta das traseiras e tentei segui-la. Ela foi de carro e eu a pé, mas o meu instinto não falhava. Não com elas. Viver com elas na mesma casa deu-me a oportunidade de conhecê-las. Posso, aliás, dizer que as conheço melhor do que elas mesmas. Ficar sentada a observá-las, noites a fim, enquanto falam, discutem, planeiam… dá uma ideia boa de como elas são. Como reagem, como actuam. Gestos valem mais que palavras. O corpo não nos engana. As palavras por outro lado…

Segui-a e fui parar a um bar. Fiquei a olhar pela janela, somente, enquanto ela entrava e avaliava as pessoas no interior. Fiquei ali bastante tempo a observá-la e a notar as suas acções. Após umas bebidas e uns jogos ela foi com um homem para uma carrinha Chevrolet já bastante em mau estado. Segui-a uma vez mais, desta vez o meu instinto dizia que a minha ajuda seria necessária ali.
É engraçado. Sou a mais silenciosa do grupo. Mantenho-me sempre calada, no meu quarto a ouvir música clássica ou no sofá a observá-las enquanto leio um bom livro, mas no final…
Ouvi um grito. “Já começou” Pensei. Fiquei atenta enquanto vi o mesmo homem de antes a correr pelo parque. A Carmen saiu do carro, ajeitou-se e em poucos segundos apanhou-o. Matou-o.
Os olhos dela. Culpa. Um dos piores sentimentos… e um dos poucos que o vampiro sente.
― A Culpa é horrível…  –  Disse-lhe calmamente.
― Claire…O que fazes aqui?! – Respondeu-me espantada com a minha presença. Mal ela sabia que a acompanhava desde o início da noite.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado…  –  Disse, sem prestar real atenção às minhas palavras. Olhou para o corpo moribundo por baixo dos seus pés e, mais uma vez, aquele olhar.
― Carmen, porquê que te torturas? – Aproximei-me dela. Não sou fã da proximidade, mas neste caso achei necessário. Também porque no final quem ficaria com aquele homem, a tratar dele, seria eu – Não vale a pena, aceita quem és. Deixa o teu passado de fora…
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço! – Gritou.
― Não tenho medo de ti… – Disse-lhe. Será que ela ainda não entendeu que não sinto medo? Medo… – E sei que não me farias mal, tu não és assim.
Ela pegou no corpo do homem, mas impedi-a de fazer muito mais.
― Não! – Disse – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – Respondi serenamente – Eu sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixou o corpo cair e virou-me as costas.
― Como queiras. – Respondeu, com um tom insatisfeito – Queres que te espere?
Debrucei-me sobre o corpo e tirei o meu livro do saco que me acompanhava.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro. – Respondi.
Ela começou a afastar-se e eu fiz o que tinha a fazer. Típica cerimónia que a minha avó me ensinara séculos antes.
Depois de terminada deixei o corpo do homem ali e telefonei para a polícia para que fossem buscar o corpo. Já não havia perigo e o homem merecia um funeral decente.
Saí do parque e olhei para as horas. Estava na altura de ir para casa. “Casa” pensei “Como se a penthouse de um hotel fosse uma casa…” revirei os olhos. Após uns longos minutos de caminho o meu telefone tocou. Vi o número da Verónica no ecrã e atendi calmamente.
― Verónica...
― Ajuda-me! – Respondeu o outro lado.
― Verónica? Onde estás? Verónica? Verónica? – Gritei, preocupada.
O telefone desligou-se. Comecei a correr com todas as minhas forças para casa. Assim que cheguei comecei a chamar pela Sheftu.
― Sheftu! Sheftu! – Gritei – Onde raio estás?
― Estou aqui. Calma. Nunca te vi assim tão… – Disse, mas não a deixei acabar.
― Preciso da tua ajuda, agora. Não há tempo para conversas fúteis. Vem. – Contei-lhe o sucedido.
― E porque razão vou ajudá-la? - Sheftu perguntou.
― Porque eu te peço. E isso basta. – Respondi, severamente.
Aí a Sheftu obedeceu e fez o que costuma fazer. Ela sabia o que fazia. Quatro milénios de vida tinham de servir para algo, foi o que ela sempre disse. Através dos batimentos cardíacos da Verónica ela conseguiu encontrá-la. Foi complicado de início. Os batimentos soavam fracos. Por mais estranho que parece, a Verónica estava lá em casa. No quarto dela.
Entrei a correr pelo quarto e deparei-me com a Samantha à porta, mas ignorei-a. Corri para o pé da Verónica:
― Como estás?
― Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! – Respondeu-me e olhou de forma ameaçadora para a Samantha. Não entendi o que se passou ali, mas decidi deixar para depois as perguntas. - Como me encontraste, Claire?
― Não fui eu... Foi ela. – Respondi, apontando para Sheftu.
― Como me encontraste? – Questionou Verónica, ainda fraca.
― Pelo bater do teu coração. Os batimentos são como as impressões digitais... não existem duas iguais... – Sheftu disse calmamente.
― E porque me ajudaste? – Perguntou.
― Não o fiz por ti… Por mim podias... – Foi a resposta de Sheftu mas foi interrompida pela minha voz.
― Não te atrevas! – Intervim.
Neste momento o telefone da Verónica tocou. Ela atendeu e após desligar a chamada ficou com um ar assustado.
― Vamos, temos de tratar de ti. – Ignorei o facto da chamada telefónica e apenas levantei-a levando-a até à cozinha.
― Senta-te – Ordenei. Fui até ao armário e tirei umas quantas ervas. Fiz um chá para ela acalmar-se.
― Toma. Bebe. Relaxa e depois contas-me o sucedido. – Entreguei-lhe a caneca cheia. Ela deu um golo e olhou de lado para a Sheftu. Entendendo o seu gesto, virei-me para a Sheftu e disse: – Sheftu, querida, faz-me um favor. Vai a esta loja – Escrevi o nome no papel e entreguei-o. – e traz-me Alecrim, sim? Preciso dele para os vossos chás e infelizmente ele acabou. Obrigada.
Depois de lhe pedir isto, ela pegou nas chaves de casa e saiu.
― Agora – Olhei para Verónica. – conta-me.
― Bem… Então foi assim… – Ela respondeu. Fiquei a ouvi-la contar a sua história e o sucedido. Tivemos uma longa conversa até chegar à hora do jantar.
― Alguém tem fome? – Ouviu-se uma voz na entrada. Samantha tinha entrado com uns sacos nas mãos. – Quem gosta de comida chinesa? – Sorriu.
― Dispenso. Obrigada. Vou para o meu quarto se não se importam, mas boa refeição. – Disse enquanto me ausentei. Entrei para o meu quarto, liguei a aparelhagem e voltei para o parapeito da minha janela.
A cidade encontrava-se agora toda iluminada com as luzes. Olhei para o exterior, acompanhada por uma bela melodia composta por um piano e um doce violino.
― O Mundo… Oh belo Mundo e as tuas catástrofes. – Murmurei. – Quem diria que eu, uma simples camponesa, viveria para ficar a viver numa penthouse de um dos melhores hóteis da cidade de Moscovo…
O meu telefone tocou. Peguei e olhei para o visor “Daniel”. Atendi calmamente.
― Boa Noite. – Disse.
― Boa Noite meu Anjo – A outra voz disse.
― Anjo? Não estamos simpáticos hoje? – Disse acompanhada por uma gargalhada.
Também ninguém diria que viveria até estar longe dele. Mas vivi. E continuarei a viver. Enquanto tiver a minha missão. Enquanto ela não terminar. Irei viver” – Pensei enquanto falava ao telefone com o Daniel, acompanhada uma vez mais pelo belo som clássico e a bela vista de uma cidade de beleza escondida.

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