Moscow Season - Ep 9, Samantha
Sua mente se refugiara no passado, talvez com a esperança que o problema que agora tinha pela frente desaparecesse. Mas, a realidade é que necessitava de saber quem era aquele tal de Daniel, seria da sua família? Poderia dizer-lhe quem ela fora? Talvez alguém lhe pudesse ajudar a descobrir mais qualquer coisa. Mas, existe uma certa tensão pelo ar, algo estaria a acontecer, muito brevemente.
“Begining Of The Past Part II” by Samantha Saint
Sentei-me no parapeito da janela e olhei para a rua… Estava
novamente a nevar. Como aquela terra era linda e exuberante… Fria, sóbria e
misteriosa como eu gostava, como eu. Aquele local trazia as memórias boas e más
da minha morte. Da minha vida depois de viva.
Se havia algo que me atormentava mais do que não saber
absolutamente nada sobre a minha vida humana, era sim quem eu amava e me
causava calafrios vampíricos. Eu devia ter captado à primeira, logo sem
hesitar, que aqueles olhos maldosos me haveriam de enganar.
Eu ainda me intrigo pelo modo como ele desapareceu. Nunca
voltei a ser a mesma e, por cada canto e recanto que passava, era essa imagem
que me aparecia à frente. Aquele fogoso amor corroeu-me por dentro,
desapontou-me de tal forma que durante muitos anos ele foi a minha procura.
Corri mundo para poder novamente ver aquele olhar petrificante. Não há
arrependimento, culpa, ou ressentimento. Apenas a tristeza que me invade… E o
coração, se eu o tivesse.
Apanhou-me tão desprevenida, não estava à espera que algo
deste género me acontecesse. Mas foram boas as nossas vivências… Lembro-me como
se fosse ontem de um episódio interessante e muito, muito sensual.
Foi no início de Outubro de 1989, talvez um dos últimos
momentos felizes com ele. Nessa altura estávamos alojados num motel chamado
“Saloon” no centro de Londres. Éramos aterradores, é verdade, mas por outro
lado éramos um casal.
Eu estava no meu banho como sempre na minha rotina nocturna,
e ele estava na sala a preparar-se para ir caçar. Saí da casa de banho em pé
levezinho mas era inútil… Ele, sempre muito atento e perspicaz ouviu-me a passar
para o quarto. Levantou-se num ápice mas eu fui mais rápida. Quando ele
alcançou a porta para me apanhar já eu tinha trancado a mesma. Encostei-me à
espera de resposta:
- Não devias ter fugido Miss Saint…
- Não? E porquê? Eu faço o que quero!
- Comigo olha que nem por isso, sabes bem que arrombo esta
porta muito rapidamente… – Deu uma pequena gargalhada...
Conseguia bem imaginar a sua cara a sorrir. Mas ia ser
marota com ele…
- Irra! Estou a pingar!
- Então?
- Oh… Sabes, saí agora do banho… E ainda não me vesti, aliás
nem sei o que vista. E tenho o cabelo a escorrer-me pelas costas a baixo.
- Aiii que jeitosa! É melhor nem pensar…
- Eu, jeitosa? Hum… Pensa, pensa querido!
- Mas depois fico com desejos! – Ouvi um dedo a bater na
porta em sinal de espera.
- É isso mesmo que eu quero. Veres-me a limpar o corpo
molhado...
- Aiii, adorava ver isso e depois chegar-me a ti e beijar-te
o corpo…
- Havias de ver agora... Beijavas?
- Queria tanto ver agora…
- Mas eu estou sem roupa – Fiz-me de escandalizada. Aquele
joguinho era perfeito…
- Melhor! Sabes bem que sim.
- Nada de espreitar! Vou tirar a toalha.
- Oh… Logo agora que queria tanto ver.
- Então vê! Sê desobediente.
- Mas não estou aí... Senão já estaria a beijar-te e a
passar as mãos pelo teu corpo todo.
- Vem… Tens uma boa solução. Só não estas aqui porque não
queres…
- Oh…
- Oh? Já estás a sentir as minhas mãos e a minha boca a
percorrer o teu corpo todo antes de estares aqui?
- Uhhh… Fazes isso e sentes algo a crescer… – Lançou uma
fortíssima gargalhada, como se aquele joguinho também para ele estivesse a ser
interessante.
- Ainda melhor… Esse “Oh” julguei que tivesse sido um
gemido. Fiquei baralhada.
- Então e já te vestiste?
- Ainda não…
- Vê lá o que fazes para aí!
- Até parece! Não ias gostar de saber, queres ver…
- Gostava sim… Sabes perfeitamente disso.
- E se eu te disser que estou a fazer agora?
- Conta-me, conta-me! Como não sei o que estás a fazer, não
sei como vou reagir…
Perdi-me novamente com estes pensamentos sobre Mon Louis
mas o que eu precisava de ver era outra coisa. Tinha o computador no colo e
digitei Daniel Heinz Saint, apareceu-me dezenas de sites com esse nome.
Mas nas imagens que estavam facultadas não aparecia quem eu procurava. Muitas
das pessoas que apareciam já tinham morrido, ou apenas eram dadas com um dos
nomes. Assim seria complicado, mas se Claire tinha conseguido descobrir quem
ele era eu também o conseguiria!
Porém o meu problema era outro… Nunca tinha tido muito jeito
com estas novas tecnologias e até teria pedido ajuda à Carmen – pois ela sim,
tenho que admitir, é uma expert em tudo o que é pesquisa, mas sei que
depois do episódio passado ela não vai colaborar.
Vesti um novo vestido, desta vez preto e com umas botas da
mesma cor e saí do quarto para tentar ter alguma ideia e pedir ajuda à Sheftu.
Estava tensa e com mil e uma perguntas na cabeça. Confesso que pedir-lhe ajuda
não me agradava minimamente, no entanto era a minha hipótese.
Ainda não tinha percorrido todo o corredor quando vejo a
Carmen a chegar com uma cara um pouco irritada e com a ira a sair-lhe pelos
olhos.
- O que foi!? – Perguntou-me.
- Onde vais?! – Mas de onde raio tinha saído aquela
pergunta…
- A nenhum sítio do teu interesse… – Respondeu-me sem se
alargar muito. Afinal era de prever não é?
Passou por mim mas eu chamei-a.
- Carmen…
- Sim?
- Ainda tens família viva?!
Aquela pergunta apanhou-a desprevenida. Ela limitou-se a
encolher os ombros.
- Sei lá, Sam… – Numa situação normal teria barafustado por
me chamar de Sam mas não hoje. – Porquê?
- Nada… – Cruzei os braços um pouco desapontada. – Seja onde
for que vais, tem cuidado. Faltam três horas para o amanhecer.
- Não te preocupes, eu consigo tomar conta de mim…
- Eu sei que sim... Mas, mesmo assim tem cuidado.
Quando me aproximei do ao quarto de Sheftu oiço um “Ai”
vindo do quarto dela. O que seria aquilo?? Parei à frente da porta em busca de
uma resposta àquele som.
Cheirei profundamente à procura de algo e senti um aroma,
uma essência muito pouco habitual no quarto dela. Um homem? Isto não era mesmo
muito vulgar.
Hesitei antes de bater à porta, estava na dúvida se seria
uma boa ideia ou não. Afinal de contas poderia não querer ser incomodada. Mas
resolvi arriscar.
Do outro lado da porta oiço “Já vou”.
Para minha grande surpresa a resposta não foi aquela que eu
estava a espera…
- Ah, és tu? Entra, fica à vontade! – Fiquei incrédula com
tal hospitalidade… E pela pressão que estava a ser exercida no seu braço que eu
não conseguia ver do que se tratava.
- Ah, bom... Obrigado... Acho eu. – Entrei e ela tentava
arduamente fechar a porta, mas alguém a estava a travar. Até que resolvi
intervir. – A porta não te parece que precisa de um pouco de óleo? Estará
empenada não? – Fiz-lhe um ar maldoso.
- É, tens mesmo razão. Nem vale a pena me importar muito com
ela, tudo se resolve bem rápido... Hoje em dia há soluções para tudo. No nosso
caso... Até para a morte! – Abri um enorme sorriso em resposta. – Então e o que
te fez vir cá?
- Agora é que reparei, estás mais pálida... Essa cor
assenta-te que nem uma luva. – Voltei a sorrir-lhe em ar de regozijo.
- Sim, é isso. Ando a fazer umas dietas e a usar uns
produtos que estão a dar resultado...
- Queria era que me ajudasses a descobrir aquilo que falamos
da outra vez... – Não me quis alongar… Afinal de contas alguém estava a ouvir a
nossa conversa. Quem quer que fosse não precisava de saber dos meus assuntos.
- Olha, podias ir a uma biblioteca... Acho que o melhor é
que vás a uma em especial, que tem de tudo para ser encontrado. Vou só
escrever-te num papel o local dela...
Pegou num pedaço de papel e escrevinhou:
“Estou aqui em apuros.
Preciso que me tragas um lanche para recuperar as forças. Traz-me amanhã.
Aproveita e pesquisa-me as bibliotecas que existem pelas redondezas. Eu te
ajudarei depois de recuperar tudo.”
Mal peguei no papel já ela me estava a mandar para fora do
quarto sem mais nem menos. Fechou-me a porta na cara e eu fiquei embasbacada a
olhar para aquele estranho aparato.
Fechei-me no quarto… Sentei-me na minha poltrona e observei
com atenção o que o bilhete de Sheftu dizia.
Hum… Eu sabia que estava qualquer coisa de errado. Esta
noite seria atarefada… Caçar e pesquisar… A primeira agradava-me imensamente
pois estava faminta e ajudando Sheftu estaria a ajudar-me a mim também… A
segunda era completamente um tédio. Não tinha vontade absolutamente nenhuma de
pesquisar o que quer que fosse. Muito menos bibliotecas… Mas se quisesse
descobrir quem era aquele maldito Saint teria de mexer rapidamente os dedos.
Levantei-me velozmente e peguei no meu escorpião novamente.
Na busca de uma sombra que me auxiliasse nesta minha demanda. Voltei para a
poltrona e fiquei totalmente confortável, toquei na minha pequena preciosidade
e coloquei-a na minha perna direita. Fechei os meus olhos à procura de
inspiração. Senti o meu pequeno a subir a minha perna. Ferrei um dente canino
no meu lábio, aquele bichinho inoportuno estava a subir pela minha pele… E
fazia um formigueiro enormíssimo!
Por fim acabei por me abstrair e pensava em tudo sobre
aquela noite… Todas as recordações, na esperança de que me ocorresse algo. E no
meio de todo aquele pensamento uma frase surgiu-me à mente… E tenho nome de
santo… Nome de santo, família… Será coincidência? Ou terá algo a ver?
Peguei novamente no computado e procurei biblioteca em
Moscovo que tivesse a listagem das famílias mundiais… Todos as que vi não
tinham nada do que eu procurava. Apenas livros de escritores antigos, novos,
livros escolares, romances, terror, erótico… Tudo e mais alguma coisa sem jeito
nenhum…
- Para que é que têm tantos livros inúteis…
Revirei os olhos em sinal de tédio, até que me apareceu:
(…) senhor Kill (…) milhares de rublos gastos em
infinitas colecções (…) a nível mundial (…)
- Tanto dinheiro desperdiçado em livros… Se se dedicasse a
outras coisas…
No site constava a seguinte introdução:
Todos os magníficos livros de senhor Kill estão na
Biblioteca de Lenine em Moscovo. Foram gastos milhares de rublos gastos em
infinitas colecções. Desta fazem parte livros específicos a nível mundial. Dos
quais sobre, Santo Graal, linhagens de famílias mundiais, historias de Homero,
Virgílio e manuscritos únicos de Da Vinci, os Templários entre muitos outro da
mesma e outras categorias.
Esperamos a sua visita…
Nem precisei de ler mais! Esperem-me mesmo!! Era exactamente
aqui que eu tinha que ir! A Biblioteca de Lenine!
Mas agora é melhor dedicar-me ao que eu realmente tenho
jeito… CAÇAR!!
Peguei no meu casaco mais quente e voltei a colocar “K” (o
escorpião) no seu sítio. Iria sair rapidamente do quarto para me conseguir
alimentar antes do nascer do sol sem ter problemas nem correr riscos
desnecessários.
Volto-me para a porta e mal rodo a maçaneta quando oiço um
grito estridente e louco vindo de Carmen…
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